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presidente vitalício da AD em Brasília, Distrito Federal87” (DANIEL, 2004, p. 356), ficou acertado que os dois líderes deixariam as rusgas de lado em benefício da “obra de Deus”. Apesar de Macalão não conseguir manter a exclusividade de Brasília, aceitou os termos decididos pelos atos convencionais e em dois “festivos” cultos, um em São Cristóvão e o outro em Madureira, os dois líderes colocaram “uma pedra” na questão.

Podemos considerar que o período que envolve a vida e o percurso do Pr. Paulo Leivas Macalão dentro da história das ADs no Brasil foi marcado por tensões, debates e disputas no processo de institucionalização desse movimento. Na história da igreja de ADMM em São Paulo muitas foram às vezes que Macalão se deparou com obreiros que tinham o “espírito” tão independente quanto o dele e, o mesmo não se privou em usar todo o seu poder patrimonial para manter a chamada “unidade” do ministério. Houve um caso da AD Brás, que o mesmo pediu a um General e deputado para intervir contra um processo de divisão que estava ocorrendo naquela igreja88 (FERREIRA, s.n.t). Polêmico em algumas vezes, em outras um “ferrenho cumpridor” do que estava “legalmente instituído”, denotam a postura de quem busca “jogar o jogo” na tentativa de manter sobre sua posse o máximo possível, daquilo que podemos denominar de “capital escasso”. Sempre que possível se vale da legitimação de seu carisma, mas ao mesmo tempo e principalmente quando necessário lança mão de seu prestígio instituído.

2.2. A ERA DE MANOEL FERREIRA – “O SUCESSOR MAIS INDICADO”?

No ano 1982 um fato ocorrido com as principais figuras da ADMM mudaria por completo os rumos diretivos e até mesmo organizacionais da instituição. Este ano foi “emblemático”, pois as duas principais figuras de “autoridades” constituídas das ADMM, o Pr. Alípio da Silva (vice-presidente) no dia 5 de agosto e o próprio Pr. Paulo Leivas Macalão no dia 26 de agosto faleceram (ALMEIDA, 1983), deixando um vácuo de poder dentro da organização. Vale lembrar, que uma outra figura muito importante na história das ADs no Brasil falecera nesse mesmo ano. Foi o Pr. Cícero Canuto de Lima, da AD Belém – SP, mas diferente do caso de Madureira no qual os

87 Episódio ocorrido na Convenção Geral de 1964 em Curitiba – PR. (DANIEL, 2004)

88 Caso que trataremos quando falarmos do Bp. Manoel Ferreira, pois o mesmo foi segundo ele

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dois líderes faleceram vinte e um dias um após o outro (ALMEIDA, 1983, MACALÃO, 1986), no caso da igreja de São Paulo, Canuto já havia sido “jubilado89” e, em seu lugar assumira o Pr. José Wellington Bezerra da Costa, que ainda hoje se mantém no posto de presidente dessa igreja (OBREIROS, ANO 23, Nº 13, p. 41- encarte especial).

A morte tanto de Macalão, quanto de Canuto pode ser caracterizado como o fim de um período ou de uma “Era” (FAJARDO, 2015) no qual o poder, o prestígio e a dominação de certa forma se haviam polarizado entre o eixo Rio – São Paulo. Que apesar de disporem de ministérios consolidados e importantes, disputaram o prestígio e a influência nas ADs no Brasil por um período de aproximadamente trinta e cinco anos. Resultando no fim de uma geração de líderes nacionais, que por meio de seu carisma se consolidaram como figuras prestigiosas do movimento, uma vez que o mesmo deve muito a coragem e ao “empreendedorismo” desses homens. Porém ao mesmo tempo é o início de uma nova geração de líderes, que apesar de “viver à sombra” desses personagens em seu início, passam a desenvolver uma experiência nova para as ADs, a qual será abordada a partir da perspectiva do objeto de nossa pesquisa, as ADMM.

No caso de Madureira a morte dos dois líderes provocou uma espécie de vácuo institucional, pois nem o mais pessimista ou precavido membro desta organização poderia ter “previsto” essa situação. Aqui se evidência uma das principais características do poder nas ADs no Brasil, em especial, na ADMM, a centralidade do poder e o personalismo característico da figura do Pastor-presidente. O qual no caso do Ministério de Madureira havia causado um problema, uma vez que não se havia um sucessor legitimado e que tivesse suficiente prestígio, que lhe pudesse garantir o domínio da organização. O “general religioso” (ALMEIDA, 1983, p. 83), como era conhecido Macalão havia constituído uma AD “interregionalizada”, uma vez que já era possível encontrar uma de suas igrejas em diferentes regiões do Brasil. Esse sistema completamente atípico do modelo adotado pelas ADs ligadas a missão, no qual o regionalismo é um ponto central.

O problema era quem seria capaz nesse momento de substituir “o grande líder” que morrera sem indicar um sucessor. Situação que se complica ainda mais,

89 Uma forma de aposentadoria do pastor, no qual a igreja continua cuidando do mesmo, mas ele não

exerce nenhum tipo de poder legal nesse momento, apenas dispõe de um prestígio frente aos anos de trabalho dispensados nessa igreja.

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pois o sucessor mais indicado para tomar o lugar de Macalão também estava morto. O interessante é que segundo a história oficial do movimento, no ano de 1979, em um relatório produzido pela igreja de Madureira, constava que a mesma dispunha dos seguintes números:

[...] 200 pastores, 500 evangelistas, 2000 presbíteros, 5000 diáconos, 4000 auxiliares de trabalho (conhecidos como cooperadores), 6000 músicos, 600 igrejas autônomas, 1000 congregações e 3000 subcongregações. O total de membros era calculado em torno de 500 mil. (ALMEIDA, 1982, p.224)

Se apenas considerássemos os números dos denominados ministros (pastores, evangelistas e missionários), que segundo o atual estatuto poderiam ser os únicos a participar de um processo de eleições, teríamos o número em torno de 700 possíveis candidatos a sucessão do principal posto diretivo da instituição. Porém quem disporia de um carisma prestigioso, ou mesmo de um “capital social” capaz de subjugar a todos os outros possíveis concorrentes na corrida sucessória, a fim de manter a organização unida e evitando possíveis dissidências, uma vez que existe um vácuo de poder constituído?

Essa era a grande questão no momento, a qual foi resolvida com a realização de uma Convenção extraordinária da CNMEADMIF (atual CONAMAD) entre os dias 4 e 15 de setembro de 1982, ao qual elegeu uma nova mesa diretora. A composição ficou assim, presidente foi eleito o Pr. Lupércio Vergniano, para vice-presidente o Pr. Nicodemos José Loureiro, para secretário o Bp. Manoel Ferreira (que neste período era ainda pastor) e para tesoureiro o Pr. Carlos Malafaia. Em que o próprio Bp. Manoel Ferreira afirmava ser uma reunião com os “pastores-presidentes de maior representatividade” no Ministério de Madureira (FERREIRA, s.n.t, p. 146-147), ou seja, a “oligarquia” diretiva constituída. Essa Mesa Diretora ficaria até maio de 1983, quando seriam feitas novas eleições para o cumprimento correto do tempo determinado da gestão.

Já na igreja de Madureira ficou como pastor-presidente o Pr. Orosma Dagoberto dos Santos e tendo como 2º vice-presidente o missionário Paulo Brito Macalão, filho do falecido Pr. Paulo Leivas Macalão (MP de dezembro de 1982, p. 10). Esse ato era muito mais um reconhecimento da figura do “Macalão pai”, do que

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possíveis qualidades de “Macalão filho”, que mais tarde deixaria de constar nesse, ou em qualquer outro cargo diretivo da igreja90.

Neste ponto da pesquisa recorreremos novamente aos conceitos weberianos para nos auxiliar na compreensão do fenômeno da sucessão do poder dentro de uma organização social, em nosso caso da ADMM. Segundo Weber (2012) a legitimidade da dominação carismática depende de sua capacidade em conseguir fazer com que os dominados reconheçam a exclusividade do carisma e esse reconhecimento deve proceder dos próprios dominados, que ignoram o seu estado de dominados. Assim, quem teria esse carisma prestigioso para assumir o lugar de Macalão? Quem seria o sucessor mais indicado? Em meio à pesquisa uma questão se nos apresentou muito intrigante, pois nessa sucessão como explicar a chegada do poder e da dominação dentro da ADMM as mãos do Bp. Manoel Ferreira, na época pastor-presidente da AD Campinas? Pois em nenhuma das biografias, ou materiais disponíveis conseguimos encontrar alguma referência que apontasse que ele seria o sucessor91. E ainda no quadro da eleição em caráter emergencial ele aparece como secretário da Convenção, não se pode negar que seja um cargo importante, mas que não tem o mesmo prestígio necessário como o do Pr. Lupércio Vergniano, que assume a presidência do ministério neste mesmo período (MP de dezembro de 1982, p. 10).

O conceito de “rotinização do carisma”, nos ajuda a explicar como ocorre a sucessão do poder dentro de uma relação social. O autor nos apresenta a dominação carismática como extracotidiana e de relação estritamente pessoal, determinada pelas qualidades pessoais do dominador em sua forma mais pura (WEBER, 2012, p. 161), mas esse tipo de dominação é de caráter provisório, depois de um tempo e se tornando em uma relação permanente a mesma deve “modificar substancialmente seu caráter”, ou seja, ela se tradicionaliza ou se racionaliza (2012, p. 162) para manter-se frente ao grupo dominado. É aqui que o conceito nos ajuda a entender como a sucessão ocorre, pois para ele dois são os motivos que levam isso a ocorrer, 1º) a vontade dos adeptos em que a comunidade continue existindo e ou

90 Atualmente o neto de Macalão, o Pr. André Macalão é pastor-presidente na ADMM em Caldas

Novas – GO, mas o mesmo não dispõe de nenhum prestígio na diretoria da CONAMAD, por ser neto do fundador. Pois como a geração passou, são os filhos do bispo que aparecem prestigiosamente em destaque no ministério.

91 Encontramos na biografia produzida pela esposa de Macalão uma pequena menção de

agradecimento e incentivo a pessoa de Manoel Ferreira e sua esposa, em meio a muitas outras nesse mesmo tom (MACALÃO, 1986, p. 66). Entretanto nada indicando algo de especial ou de diferente que se possa usar como prerrogativa de ser ele o sucessor indicado.

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2º) a vontade do quadro administrativo para manter a estrutura vigente funcionando (2012, p. 162).

Ele especifica cinco formas que a sucessão carismática pode ocorre: 1ª) a escolha de um “novo profeta” seguiria as orientações da liderança circunstancial. Esse “novo profeta” trará consigo uma nova tradição que não existia na gestão anterior. A 2ª) seria escolhido por meio de uma revelação (oráculo, sorteio), mas a legitimação desse novo líder estaria condicionada em sua habilidade técnica de confirmar a legalização do seu carisma; já na 3ª) seria segundo Weber o caminho mais comum, pois o sucessor seria previamente designado pelo profeta, ou seja, sua legitimação é transmitida e aqui o carisma já não é tão importante para quem está assumindo o posto designado. Na 4ª) o sucessor seria escolhido pelo quadro administrativo carismaticamente qualificado, no qual traz a ideia de justiça, pois a figura escolhida é a mais indicada para assumir a posição e a 5ª) escolha se daria de forma hereditária, sem a necessidade de reconhecimento prévio dos outros, pois a sua legitimidade é própria do indivíduo (WEBER, 2012, p. 162-163).

No caso das ADs, em especial, a ADMM é muito difícil dizer qual seria a melhor forma que se procede à sucessão, uma vez que encontramos as diferentes formas juntas na hora de se decidir quem será o sucessor. Para melhor exemplificar o que afirmamos segue o relato feito pela esposa de Macalão, a irmã Zélia Brito Macalão sobre “uma revelação” que o Pr. Lupércio Vergniano havia tido logo que chegou a São Paulo, após o sepultamento do líder de Madureira. Diz ela,

[...] Conta ele (o Pr. Lupércio) que se achava em uma sala, onde tudo resplandecia, e aparecia uma mesa, fulgurante, onde estava um varão de vestes também resplandecentes. Possuía esse varão em sua linda veste, de mangas talares, punhos com desenhos nunca vistos, a nada semelhante e esse varão, cujo rosto resplandecia, bradava: “Lupércio! Olha a minha arma!”(referindo ao Pr. Paulo Leivas Macalão)92, mostrando algo que brilhava à semelhança de pequeno revólver, e prosseguia: “Esta é a minha arma, que levarei comigo, porém a munição ficará com vocês”. Lupércio, embora não pudesse fitar a sala linda e o rosto do varão, envolvido em luz, viu muitas balas espalhadas pelos cantos da resplendente sala, e entre essas, três balas de ouro. (MACALÃO, 1986, p. 115)

Nem ela e nem o próprio Lupércio dizem quem seriam essas três “balas de ouro”, mas deixa muito claro que o sucessor já estaria indicado pelo próprio Deus para ocupar essa posição. De certa forma, o “sucessor assembleiano” acaba perpassando as cinco formas, lembrando que as mesmas são tipos-ideias puros,

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entretanto gostaríamos de enfatizar duas, a terceira e a quarta forma de rotinização, pois elas indicam muito, o que ocorreu e, ainda ocorre em grande parte hoje sobre a questão da sucessão. Weber (2012) afirma quando pontua a quarta, que ela não se dá pelo uso das eleições (que segundo ele deveriam ser analisados posteriormente), mas sim, por uma forma de justiça que estaria implicado nas ações realizadas anteriormente pelo sucessor e que é a escolha mais certa. Já a terceira indica a transferência do carisma ao sucessor e nesse sentido o sucessor não é só a escolha mais justa, porém a escolha ideal, pois o sucessor acumularia em si mesmo todas as prerrogativas necessárias para a sucessão.

Encontramos em uma pequena biografia sobre a história da ADMM em São Paulo um relato sobre a trajetória do Bp. Manoel Ferreira, a qual nos ajuda a entender como ele alcança o poder dentro do ministério e como ele se perpetua nessa posição. Assim feita à inserção do conceito weberiano de sucessão, analisaremos agora a sua trajetória, a fim de identificarmos quais foram as ações e condições socioculturais que deram ao personagem em questão as prerrogativas necessárias, para se legitimar como o sucessor do Pr. Paulo Leivas Macalão. Desbancando nesse momento o próprio Pr. Lupércio Vergniano, que além de ocupar a segunda “mais importante” igreja do ministério de Madureira, fora escolhido como o presidente do Ministério de Madureira no ano de 1982.

2.2.1. O Bispo Manuel Ferreira: breve biografia.

O Bp. Manoel Ferreira nasceu em 30 de Maio de 1932, na cidade de Arapiraca no Estado da Alagoas e ainda criança seus pais se mudam com toda a sua família para o interior de São Paulo (MACHADO, 2006). Em sua infância e juventude acompanha o pai nas atividades agrícolas, até que se alista no Exército Brasileiro na cidade de Lins. Após cumprir seu tempo no serviço militar, vai à cidade de Bauru e se alista na Polícia Militar daquela cidade93. Opta pelo serviço no Corpo de Bombeiros e se muda no ano de 1954 para a cidade de São Paulo (FERREIRA, s.n.t, p. 133). Casa-se aos 25 anos com Irene da Silva Ferreira (ou Bpa Irene, pois em 2009 foi consagrada a esse cargo) no dia 02 de Maio de 1957, depois de se recuperar de um acidente no quartel do Corpo de Bombeiros da Praça da Sé em

93 Neste período não havia a necessidade de prestar concurso público para ingressar à polícia,

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São Paulo. Do casamento tiveram cinco filhos vivos: Wagner (1958), Magner (1960), Abner (1963), Vasti (1965) e Samuel (1968) e um que falecera com seis meses de vida por nome Lucas (1967) (FERREIRA, s.n.t).

Realizou seu curso primário em sua terra natal, mas ao se deslocar para outros centros, buscou continuar seus estudos. Seu curso ginasial foi realizado mais tarde, quando servia às forças armadas do Estado de São Paulo na cidade de Lins. Segundo informações obtidas nas revistas de EBD da Editora Betel; orelhas de livros escritos pelo autor e sites de ADs filiados a Madureira94, o Bp. Manoel Ferreira se formou em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo, Sociologia pelaFaculdade Toledo Pizza de Bauru, Direito pela PUC - SP. Exerceu a função de advogado95 por um tempo, mas deixou a carreira jurídica para seguir a “vocação pastoral”, sendo atualmente sua titulação mais alta a de doutor em Divindade pelo Bible College (EUA). Também exerceu a presidência de diversas instituições e movimentos religiosos como o Conselho Nacional de Pastores do Brasil (CNPB), a CGADB (1983-1985) e a Conferência Pentecostal Sul-Americana. Ocupa atualmente a cadeira de número 03 da AELB96.

2.2.1.1 Sua trajetória e ascensão ministerial dentro da ADMM

Sua conversão se deu nas ADs em Cangaíba – SP, pouco tempo antes do nascimento de seu segundo filho Magner em 1960, sendo batizado na AD do Brás que já se situava na Rua Major Marcelino, entretanto segundo ele não existia o templo, pois a igreja ainda estava em construção. Foi ordenado pastor em 1962, pela igreja ADMM sem ter exercido as funções de diácono e presbítero respectivamente, uma vez que segundo o próprio Ferreira, desde muito cedo ele já atuava como “evangelista ‘ad hoc’” em cultos ao ar livre, em programa radiofônico e em atividades itinerantes nas cidades vizinhas de Dracena – SP (FERREIRA, s.n.t, p.136). Tornou-se pastor das seguintes igrejas das ADs: Parapuã (SP), Capão Bonito (SP), Garça (SP), Bauru (SP), Vila Alpina (SP), Brasília (DF), Campinas (SP)

94 Entre eles ver:

http://ad-madureirascc.blogspot.com.br/2011/07/biografia-do-bispo-manoel-ferreira.html

95 Segundo o entrevistado Pr. P-B o Bp. Manoel Ferreira chegou a prestar prova para juiz federal e foi

aprovado, mas ao ser designado pelo Pr. Macalão para cidade de Brasília ele desistiu da função que havia alcançado. Encontramos essa mesma fala no jornal “O Semeador” de setembro de 2001, na seção “Suplemento Especial”, p. 02.

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e Madureira (RJ), a partir da terceira igreja ele passou a exercer a função de pastor-presidente. De posse de um “capital cultural” privilegiado o Bp. Manoel Ferreira pôde ascender rapidamente a funções de grande prestígio dentro das ADs no Brasil, em especial na ADMM, que segundo as palavras do Pr. P-B, sua história é marcada pela proximidade ao Pr. Paulo Leivas Macalão, uma vez que nesse período poucos são os membros que tem formação universitária, principalmente na área do Direito (Entrevista em áudio, gravada no dia 09/08/2016).

Assim como perguntamos sobre a importância do Pr. Paulo Leivas Macalão aos nossos seis entrevistados, fizemos a mesma pergunta agora com respeito à figura e importância do Bp. Manoel Ferreira para ADMM. E as respostas que obtemos foram bem diferentes das repostas sobre Macalão, pois enquanto o primeiro é reconhecido por todos como uma figura de fundamental importância para a existência do Ministério de Madureira, as respostas sobre o Bp. Manoel Ferreira, vão desde uma figura comparável aos fundadores das ADs no Brasil até um “adversário que deveria ser evitado” (Pr. P(ex)-B, Entrevista em áudio gravada no dia 14/07/21016). O quadro abaixo nos ajuda a entender de forma mais clara como as visões sobre estes dois personagens são bem diferentes entre si, pois quanto mais próximo à pessoa está do bispo a visão tende a se tornar bem mais “simpática”, caracterizando uma forma institucionalizada de proximidade. Enquanto aqueles que estão mais afastados na hierarquia, ou mesmo que romperam com a instituição já não são tão simpáticos com a figura do mesmo.

Mas uma resposta em especial nos chamou a atenção para compreendermos como o bispo adquire o prestígio e a legitimidade necessária para assumir a direção das ADMM, frente aos outros possíveis sucessores de Macalão. O Pr. P-B menciona que devido a sua formação universitária e cultural, Manoel Ferreira consegue se aproximar ainda bem cedo em sua carreira ministerial do Pr. Paulo Leivas Macalão, essa aproximação estava relacionada a diversos problemas de “rebeliões” que estavam ocorrendo em algumas igrejas de São Paulo. E certamente a sua formação jurídica “cai como uma luva” para a ação racional-burocrática da administração de Macalão.

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Quadro 2: As diferentes visões sobre a importância entre o Pr. Paulo Leivas Macalão e o Bispo Manoel Ferreira.

Pr. Paulo Leivas Macalão Bp. Manoel Ferreira

Pr. P-A Apóstolo; Figura histórica;

Fundador; Patriarca das ADMM.

Sua importância é comparável aos fundadores das AD no Brasil; Tornou

conhecida a ADMM ao país.

Pr. P-B

Apóstolo; Evangelista; Ensinador; Poder de atração; Soube fazer

discípulo; Fundador de muitas igrejas das ADMM.

História interna de proximidade com Pr. Macalão; Conseguiu manter a unidade do ministério e criou órgãos

importantes como a Editora Betel. Criou o nepotismo nas ADMM

Pr. P(ex)-A

Ícone; Fundador; Organizador; Referência como pastor-presidente; Homem que Deus

usou!

Tem a sua importância após a saída da ADMM da CGADB; Soube

centralizar o poder.

Pr. P(ex)-B

Apóstolo; Doutrinador; Suporte da igreja.

Oposto do Pr. P.L.M; Adversário; Figura a ser evitada; Aquele que abandonou as práticas primeiras da

ADMM

Pr. C-A

Foi tudo, Fundador; Homem de Deus, Figura fundamental das

ADMM

Administrador diferente da gestão anterior; Centralizador do poder; Não

tem a mesma importância de Macalão. Distante dos membros

Pr. C-B

Pastor; Apóstolo; Assistente social; Pastor que não pedia aplausos; Pacificador; Exemplo; Legado de

amor à obra e a música.

Carismático; Representante da ADMM; Aquele que mantém ADMM

equilibrada.

Assim sua “carreira ministerial” vai ser construída, segundo ele mesmo, pela sua habilidade em resolver problemas na diferentes igrejas pelas quais passou ao longo de sua trajetória dentro do ministério. Ele mesmo relata que por muitas vezes o Pr. Paulo o chamou para que ele pudesse resolver um determinado problema que estivesse acontecendo em uma igreja (FERREIRA, s.n.t). Na biografia produzida em comemoração ao centenário da ADs, no capítulo intitulado “Uma viagem através do tempo com o Bispo Manoel Ferreira” são expostos alguns acontecimentos narrados pelo próprio bispo sobre sua carreira dentro das ADMM (FERREIRA, s.n.t). Segundo outra obra sobre o centenário das ADs no Brasil, os autores narram assim a figura do Bp. Manoel Ferreira,

“Tudo quanto vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças...” (Ec. 9.10). Esse versículo reflete a atitude do bispo Manoel Ferreira, homem que nunca negou o chamado de Deus para trabalhar em Sua Obra. O bispo Manoel Ferreira sempre seguiu as orientações do pastor Paulo Leivas Macalão, a quem considerava mais que um líder, e nunca negou um pedido seu para ir onde quer que fosse, pastoreando diversas igrejas nos Estados de São Paulo,

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Rio de Janeiro e no Distrito Federal, às vezes duas ao mesmo tempo. (PRATES; FERNANDES, 2012, p. 163)

Essa forma utilizada pelo bispo, a fim de justificar sua história dentro da ADMM se aproxima ao conceito weberiano de sucessão, ou “rotinização do carisma”, pois em sua fala, ele não foi apenas um obreiro fiel e escolhido por Deus para essa vocação, mas também é a figura mais indicada para assumir o lugar de Macalão por justiça, em relação aos serviços prestados ao longo dos anos e de sua trajetória no ministério, marcando aqui uma tentativa de legitimar sua chegada ao posto de maior prestígio da igreja. Uma vez que a sua história é construída por essa fidelidade e habilidade em casos muitas vezes delicados na estrutura diretiva das ADMM, há uma necessidade de habituar os indivíduos de que sua “carreira ministerial” é sólida e verdadeira.

A Tabela 3, traz um resumo dos principais passos dados pelo bispo entre os anos de 1960 até 2000, e nela podemos identificar como ele justifica que a sua escolha era sem dúvida a mais “justa” (WEBER, 2012) para a continuidade da ADMM. O fato central que ajuda a explicar essa justificativa (e a proximidade com Macalão) é por ele mesmo relatado em sua biografia e, ocorre ainda em sua gestão no campo de Vila Alpina – SP, quando em uma tentativa de alguns pastores, entre os quais citados pelo próprio bispo estão os “Pr. Álvaro Maceió, José Carlos, Perácio Grili, Antônio Ianone”, que pretendiam autonomizar (dividir) as igrejas de São Paulo ligadas ao Brás. O próprio pastor-presidente do Brás Antônio Ianone era uma “das cabeças” envolvidas e, esses pastores haviam produzido “12 Estatutos” para a emancipação do que o bispo se refere a “12 setores” (FERREIRA, s.n.t, p. 144), que na realidade se tratava de alguns Campos, entre eles, o próprio Brás. O Bp. Manoel Ferreira diz que recebeu a ligação do Pr. Paulo Leivas Macalão pedindo para ele ir o mais rápido para a igreja-mãe em Madureira – RJ. Entretanto o que nos chamou a atenção é que Macalão pergunta se ele “conhece alguém ai em São Paulo que tenha força e que possa mover uma ação, chegar aí no Cartório para impedir e suspender essas autonomias” (FERREIRA, s.n.t, p. 144). De imediato, o bispo lembra-se de um General chamado Marcondes97 que era político do Estado de São

97 Encontramos em nossa pesquisa o General Sebastião Marcondes da Silva, que no mesmo período

do ocorrido era general e deputado estadual em São Paulo. Eleito pelo MDB no ano de 1974 assume a 8ª Legislatura (1975/1979). O mesmo foi membro efetivo da Comissão de Constituição, Justiça e Redação e suplente nas Comissões de Agricultura e Pecuária e de Serviço Civil. No biênio 1977/79, foi membro efetivo da Comissão de Agricultura e Pecuária e suplente nas comissões de Constituição

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Paulo, o qual atende ao pedido do bispo e os dois seguem para subúrbio carioca. Depois de conversarem com Macalão e com o Pr. Alípio, voltam a São Paulo e o General segue ao Cartório. No Cartório o General da à ordem de revogar a oficialização dos 12 Estatutos, segundo a biografia essa foi a fala do General,

Esse grupo que está aí é um grupo suspeito, eles estão querendo se apossar de uma coisa que não é deles, que a origem é essa aqui o senhor está vendo, esse aqui é o Presidente e a palavra que está vindo aqui é dentro do documento já reconhecido com tudo o Estatuto que deve permanecer é este e o senhor afasta todos estes outros. (FERREIRA, s.n.t, p. 144)

Quem em pleno período ditatorial no Brasil (esse fato ocorreu entre os anos de 1974-1976) se oporia a uma ordem direta de um general e deputado eleito? Podemos verificar aqui, em suas devidas aproximações, prevalecer o conceito de pessoa e indivíduo no qual a ideia do você “sabe com que está falando” se realiza e, cujo conhecimento das “pessoas” certas proporciona conquistar privilégios frente aos “indivíduos” (MATTA, 1997). Revelando aqui uma rede de interesses criados por grupos específicos e, que no caso das ADs no Brasil é uma realidade, pois o que importa é manter a qualquer custo os “recursos escassos” (SOUZA, 2015) que são e tão valiosos, mesmo que meramente chamados de “mundanos”. O que mais explicaria a disposição do General em prestar auxilia a uma causa tão particular de um grupo de “religiosos” e, em contra partida, temos também a demonstração da proximidade de um pastor (ou vários) com o poder meramente “mundano”, nos quais com certeza se materializava uma relação social de ajuda mútua entre ambos.

É claro que o importante aqui para um político é o apoio que esse grupo daria para o mesmo no período eleitoral e, do grupo em questão nas necessidades como a apresentada a pouco em nossa pesquisa. Freston afirma que “o mercado evangélico é visto não apenas como uma boa área de negócios especializados, mas como fatia significativa do mercado nacional cujas sensibilidades não devem ser ofendidas” (FRESTON, 2006, p. 26). Pensando ainda nesses processos sociais que muitas vezes estão separados das relações sociais tidas como comuns, Matta diz,

É essa transformação de pessoa em indivíduo por períodos maiores do que aqueles autorizados pelo nosso mundo rotineiro e cotidiano que deve constituir a bases dos processos sociais de renúncia do mundo e de criação de modos alternativos de existência social. (MATTA, 1997, p. 255)

e Justiça e na de Segurança Pública. Faleceu em 28 de junho de 2004 em São Paulo. Disponível em

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Isso explicaria a necessidade do bispo em se reafirmar como o sucessor mais justo (WEBER, 2012), uma vez que o mesmo não é uma “pessoa comum”, mas sim, um “indivíduo escolhido”, “provado e aprovado” na obra de Deus pelos muitos desafios que a ele se apresentaram durante toda a sua carreira. Sendo o mesmo escolhido pelo próprio Deus para ir para Capão Bonito (ver Tabela 3) e o qual também tinha a confiança do Pr. Paulo Leivas Macalão, demonstrando desde muito cedo habilidade para conduzir o “rebanho”. Porém o principal argumento dele era que a própria esposa do falecido o aceitava como sucessor mais indicado, uma vez que ao ser indicado a concorrer à presidência da CGADB (FERREIRA, s.n.t, p. 147), não existia outro igual para essa demanda.

Tabela 3: Carreira ministerial do Bp. Manoel Ferreira de 1960 até 2000.

IGREJAS PERÍODO SITUAÇÃO/PROBLEMA

Parapuã

(SP)98 1961-1962

Deu início a igreja naquela cidade, fazendo os cultos em uma Igreja Metodista que cedeu o espaço nos dias que não tivessem atividades. Relata uma situação em que um irmão causou um problema que acabou em uma briga, esse caso foi parar na delegacia da cidade.

Capão Bonito

(SP) 1962-1965

Através de uma revelação que o Pr. Benedito Constâncio teve com ele, foi designado para aquela igreja que estava desativada, devido uma divisão que ocorrera na mesma. Muitas dificuldades para reativar o trabalho e financeiras também. Nasce o 3º filho Abner Ferreira (1963). A igreja melhora e há chegada de novos membros.

Garça (SP) 1965-1968

Primeira igreja a ser designada pelo próprio Pr. Paulo Macalão. A mesma enfrentava dificuldades com o pastor que lá estava, pois o mesmo queria tornar a igreja independente da ADMM. Conseguiram manter a propriedade, mas muitos membros acompanharam os dissidentes. Nesse período morre seu filho Lucas, maiores dificuldades financeiras e nasce sua filha Vasti.

Bauru (SP) 1968-1972

Novamente designado por Macalão para resolver problemas de divisão na igreja. Perdem as propriedades para o Pr. Antonio Pinto Cavalcante, que se integra a AD Ipiranga. Nasce o filho caçula Samuel. Adquirem um terreno abandonado, em que os donos faleceram e não havia herdeiros, por um acordo com o prefeito e uma ordem judicial conseguem manter a posse do terreno (usucapião).

Vila Alpina

(SP) 1972-1976

Devido a problemas na igreja é transferido novamente. A situação melhora, pois passam a receber salário depois de 13 anos trabalhando. Ganha um veículo zero km da igreja.

Vila Industrial

(SP) 1973

Devido à postura autônoma do Pr. Aristides Alves da Silva, Macalão o manda intervir na igreja e assumir a presidência do campo. Tem problemas com um pastor chamado Álvaro Maceió, o qual recebe a igreja do Planalto. Vai ao Campo de São Caetano do Sul resolver um possível foco de divisão neste mesmo período, o qual se resolve com maior facilidade em relação aos outros.

98 No Jornal “O Semeador” de setembro de 2001, diz que a primeira igreja que o bispo esteve à frente

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Brasília (DF) 1975-1976

Assume a igreja depois da morte do Pr. José Lacerda para continuar a construção da Igreja da Baleia. Provisoriamente acumula por duas vezes, dois campos, primeiro o de Vila Alpina, depois o de Campinas.

Campinas

(SP) 1976-1999

Campinas já havia sofrido um processo de divisão na gestão do Pr. João Prata Viera no mesmo período do problema em Bauru. Agora esse outro trabalho sofria com um novo foco de divisão e o Pr. Paulo o manda pra resolver o problema. Assume no mesmo período que estava em Brasília. Interinamente fica o Missionário Celso Lopes. É eleito presidente da CGADB em 1983. A ADMM é desligada da CGADB em 1989. Assume a Presidência da CONAMAD em 1987. Em 1999 entrega a igreja para o seu filho Pr. Samuel Ferreira.

Madureira

(RJ) 1990-1999

Já é presidente da CONAMAD e assume o campo, mesmo sendo ainda presidente de Campinas, após a morte do Pr. Orosma Dagoberto. Pela segunda vez é presidente de dois campos. Passa essa igreja para o seu filho Pr. Abner Ferreira.

(FONTE: FERREIRA, s.n.t)

2.2.1.2. Presidente de duas Convenções: da CGADB à CONAMAD

O acontecimento narrado anteriormente é a chave que encontramos em nossa pesquisa para explicar como se deu a ascensão do Bp. Manoel Ferreira para o posto diretivo mais importante da ADMM. Pois com a “crise na ADMM de São Paulo” (na década de 1970) levou o Pr. Paulo Leivas Macalão a centralizar ainda mais o poder em si mesmo, uma vez que já era o presidente vitalício da Convenção de Madureira, agora estava assumindo a presidência de mais um Campo, fato que se apresentou como um fenômeno quase que rotineiro em nossa pesquisa, pois em iminência de sofrer com a ação autônoma de um determinado obreiro, Macalão usava de sua “força institucional” intervindo na determinada igreja/ou campo que estivesse buscando sua emancipação. Confirmando a descrição feita por Tércio sobre a forma que Macalão atuava com o seus subordinados, pois quando percebia que um dos

[...] obreiros de seu ministério demonstrasse personalismo e um mínimo de independência eram severamente repreendidos, às vezes punidos com transferência para outra igreja ou simplesmente excluídos. (TÉRCIO, 1997, p. 109)

Na presidência do Campo do Brás estava o Pr. Antônio Ianone e o Pr. Lupércio era o seu vice-presidente, o mesmo estava à frente de uma igreja no bairro de São Mateus (FERREIRA, s.n.t), hoje um Campo tendo como presidente o Pr. Deiró de Andrade. A biografia que dispomos do Bp. Manoel Ferreira deixa a entender que o mesmo foi chamado pelo Pr. Paulo Leivas Macalão por ser o único com experiência para resolver o problema, entretanto ela não explica porque ele não

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é escolhido para assumir o ADMM no Brás, já que ele era o obreiro “mais hábil”. O quadro diretivo do Brás ficou composto assim, Macalão era o presidente e comandava a igreja diretamente do Rio de Janeiro, na vice-presidência ficou Pr. Lupércio Vergniano (FERREIRA, s.n.t). Por quê? Se o bispo era o mais bem preparado, por que ele não assume pelo menos a vice-presidência? Essa situação no mínimo indica que o mesmo não dispunha de tamanho carisma e prestígio necessários para colocá-lo nesse posto, como ele mesmo tenta dizer que tinha. Uma vez que a eficácia de um prestígio legítimo não necessita de uma “auto justificação”, o que explica a ênfase desta fala do Bp. Manoel Ferreira e, de outras situações narradas por ele mesmo depois de passados quase quarenta anos em que o fato ocorreu? A necessidade de reafirmar-se como sucessor legítimo, o solidificando neste posto não pelo seu carisma, mas pelo poder patrimonial institucionalizado.

Mesmo depois da morte de Macalão não é o Bp. Manoel Ferreira que assume a CONAMAD e nem a igreja-mãe do Ministério de Madureira, como já mencionamos anteriormente em nossa pesquisa (PRATES; FERNANDES, 2012, p. 111). Novamente quem está em cena é o Pr. Lupércio, demonstrando que a figura mais prestigiosa, pelo menos em tese, não era a do bispo e sim a de Lupércio. Ele mesmo apenas compõe a Mesa Diretora, que não é pouco, porém não o “qualifica” como o sucessor mais indicado de Macalão. Mas então o que explicaria sua ascensão ao posto diretivo da ADMM? Primeiro sua habilidade em resolver questões políticas, sem dúvida! Segundo o “vácuo de poder” de 1982, pois com a morte dos dois principais líderes da igreja repentinamente não se havia um sucessor pronto, assim os “mais hábeis” levam sempre vantagem nessa “corrida”. Terceiro, um órgão chamado de “Unidade Fraternal do ABCDMR” (diagrama 3), que era uma espécie de “convenção informal” de campos da ADMM ligados a Grande São Paulo, principalmente no ABCD paulista.

Esta entidade, que segundo o Pr. P-B “nunca foi reconhecida pelo Pr. Lupércio” surgiu no final da década de 1980 e era “um espinho no pé do Pr. Lupércio”, pois não aceitavam o mesmo e, todo assunto tratado em uma reunião no Brás, por exemplo, que não agradasse os membros dessa “Fraternal”, eles se dirigiam a Campinas para falar com o bispo (Entrevista em áudio, gravada no dia 09/08/2016). Assim esse grupo se tornou uma “mola propulsora” para a ascensão do Bp. Manoel Ferreira, pois muitos dos pastores-presidentes ligados a essa organização ocupavam cargos importantes na CONAMAD e, em 1987, em uma

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eleição o bispo assume a presidência da CONAMAD. Ao mesmo tempo, essa organização era um entrave ao Pr. Lupércio, pois minavam sua autoridade e muitas vezes nem reconheciam o prestígio dele em ocupar a presidência da Convenção de Madureira. E em último lugar, uma palavra que em uma das entrevistas (esta com o Pr. P(ex)-A), surgiu e me chamou a atenção, pois se referindo à pessoa do Pr. Lupércio Vergniano, o entrevistado disse ser ele “uma pessoa muito humilde” (Entrevista em áudio, gravada no dia 25/07/2016), porém a expressão de humildade aqui está muito mais para passividade do que para uma pessoa simples e sem um capital cultural, que não é o caso do referido pastor. Entretanto é nessa falta de “intrepidez” do Pr. Lupércio Vergniano, somado a sua “passividade” que leva o Bp. Manoel Ferreira a se projetar como o sucessor legítimo para a ADMM.

Isso ocorre no ano de 198399, na 27ª Convenção Geral em Vila Velha – ES, pois ao invés do próprio Lupércio sair com a indicação para disputar à presidência da CGADB, ele cede o lugar para o então Pr. Manoel Ferreira da ADMM em Campinas. Que não apenas vence as eleições, mas consegue que toda a diretoria eleita nessa convenção fosse de pessoas ligadas ao Ministério de Madureira. Segundo o próprio bispo, sua escolha para concorrer a CGADB havia sido feita anteriormente em uma reunião com a “cúpula oligárquica” instituída naquele momento posterior à morte de Macalão na ADMM. Em um ar de muita apreensão de todos que lá estavam, pois não sabiam o que iria acontecer com a ADMM, muitas vozes se levantaram e pessoas foram indicadas, até que o Pr. Carlos Malafaia pediu a palavra e, na sua fala citou o seu nome. Segue abaixo a fala do pastor nas “memórias” do Bp. Manoel Ferreira,

Irmãos eu quero a palavra, eu quero a palavra. Aí o Carlos levantou e disse: “Olha, deixa eu dizer uma coisa aqui, nós temos que partir não dos que querem, mas daqueles que estão credenciados pelo ministério, credenciados pela sua história, credenciados pelo trabalho, pelo reconhecimento do pastor Paulo, pela intimidade do irmão Paulo e aqui tem um nome. Esta noite eu estava orando e num certo momento eu escutei como que o Espírito Santo falando em voz audível e eu escutando. E sabe qual é o homem que o Espírito Santo já escolheu para presidir a CGABD e para ser o nosso candidato? O pastor Manoel Ferreira. (FERREIRA, s.n.t, p. 147)

Ou seja, ele agora não é apenas a escolha mais justa, é também a escolha do “próprio Deus” por meio do oráculo (WEBER, 2012) e, que recebe o aval final

99 Vale lembrar que o Ministério de Madureira ainda fazia parte da CGADB, seu rompimento com a

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(segundo o bispo) da “lembrança viva” de Macalão no recinto, pois “a irmã Zélia Macalão disse: ‘Oh irmãos, se o Paulo estivesse vivo, ele ia escolher o nome do irmão Manoel Ferreira” (FERREIRA, s.n.t, p. 147). Se os eventos ocorreram ao pé da letra como narrado não temos como confirmar, entretanto a forma como essa “memória coletiva” (HALBWACHS, 1990) é construída mostra que o bispo foi ganhando força e o Pr. Lupércio apenas assistiu “humildemente” aos ocorridos sem ser considerado em nada. Não é sem motivos que o Pr. P-A (ver quadro 2), se referindo ao bispo diz que ele “tornou conhecida a ADMM ao país” (Entrevista em áudio, gravada no dia 08/07/2016), enaltecendo a figura do bispo como uma pessoa habilidosíssima, não só para resolver problemas, mas como capaz de criar a sua própria tradição dentro do ministério (WEBER, 2012).

No ano de 1985 ele é aclamado naquilo que ficou conhecido nessa Convenção Geral como “Chapa de Consenso” a vice-presidente (DANIEL, 2004, p. 501), pois as tensões entre pastores ligados a CGADB com relação ao Ministério de Madureira e sua Convenção já eram mais do que aparentes. E no ano de 1987 já na presidência da CONAMAD, o Bp. Manoel Ferreira enfrenta uma forte oposição, pois esse ano é marcado por disputas turbulentas para à presidência da CGADB, uma vez que, segundo o bispo existia um acordo mútuo para a composição mista da diretoria da mesma, sendo firmada em uma reunião em João Pessoa – PB. Acordo, este, que segundo o mesmo não foi cumprido pelos pastores integrantes as ADs de Missões (FERREIRA, s.n.t, p. 148).

Essa situação levou a presidência da CGADB o Pr. Alcebíades Vasconcelos (AD do Amazonas) e o vice o Pr. José Wellington Bezerra da Costa (AD Belém – SP) e com a morte do presidente em 1988, assume o vice que no ano de 1989. Na 1ª Assembleia Geral Extraordinária da CGADB, ocorrida no dia 5 de setembro deste ano, se levanta a questão das ADMM terem uma Convenção de caráter nacional e abrir convenções estaduais, o que segundo os requerentes feria o estatuto da CGADB. Foi então aprovado o desligamento de todas as igrejas filiadas ao Ministério de Madureira da CGADB, com a perda dos direitos de todos os ministros (pastores e evangelistas) ligados à mesma (DANIEL, 2004, p. 526-528).

Assim começa então uma nova fase para as ADMM, uma vez que agora eles eram um “ministério independente” das ADs no Brasil. Nessa fase o Bp. Manoel Ferreira é obrigado a empreender para não perder as igrejas ligadas a sua convecção, o qual faz com muita propriedade segundo Cabral (2002), pois cria a sua

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própria editora em 1991 (PRATES; FERNANDES, 2004, p. 122), a Editora Betel que era responsável por todo o material de educação cristã do ministério e pelo jornal “O Semeador”, periódico criado na igreja de Madureira em 1960, porém que agora ganha projeção nacional. É nesse período também que seus filhos passam a se destacar, pois o pai começa a “incentivá-los ao ministério”, sendo o Pr. Abner Ferreira o primeiro a ser pastor-presidente no campo de Vila Alpina – SP de 1990 até 1991 (FERREIRA, s.n.t, p. 280). No ano de 1991, ele assume a igreja de Madureira como vice-presidente, pois o bispo era o presidente tanto do campo de Campinas (1976), quanto o de Madureira (1990) ao mesmo tempo.

2.2.2. O político Manoel Ferreira.

Alegando muitas atividades dentro do Ministério de Madureira, como a presidência da CONAMAD, do CNPB (órgão criado em 1993 e que buscava a inserção política da ADMM no cenário nacional [MARIANO, 1999]) e o Projeto Portas Abertas para o Oriente, que tinha como objetivo a evangelização (CABRAL, 2002) do povo russo “pós-comunismo” e a construção da primeira igreja das ADMM na Rússia, levaram o Bp. Manoel Ferreira no ano de 1999 a pedir o seu jubilamento da presidência das ADMM em Campinas - SP e de Madureira – RJ. As quais ficaram de posse de seus dois filhos, os pastores Samuel Ferreira e Abner Ferreira (sobre esse tema falaremos no próximo capítulo de nossa pesquisa).

Sobre o pretexto de uma ameaça a vida religiosa vinda dos rumos políticos da nação brasileira, pois “a influência satânica na vida política” (FERREIRA, 2000, p. 143) era mais que evidente o Bp. Manoel Ferreira buscou entrar na vida pública. Assim na década de 2000, o bispo da ADMM dedicou-se a sua carreira política, participando da eleição a senador em 2002 pelo Rio de Janeiro (MACHADO, 2006), em 2004 à vice-prefeito da capital carioca na chapa de Luís Paulo Conde e a deputado federal pelo PTB do Rio de Janeiro em 2006100. Sendo ele apenas eleito nesta última eleição com 80.016 votos válidos e que segundo seus informes nesta eleição gastou cerca de R$ 228.499,02, para conseguir ser eleito. Nesta mesma eleição apoia abertamente a candidatura de reeleição do então presidente Lula,

100 Disponível em:

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dizendo “que iria pedir aos fiéis da igreja para votar em Lula”101. Prática já bem comum de sua gestão à frente das ADMM.

O que explica seu interesse na política? A obtenção de um prestígio agora frente à sociedade brasileira, uma vez que ele já havia percebido o “grande valor” dos evangélicos para as pretensões políticas (FERREIRA, 2000, p. 147). Mas apesar de ser o único presidente de uma convenção assembleiana a ocupar um posto político, seu carisma e prestígio nunca o ajudaram muito, pois se analisarmos sua carreira política é somente na terceira tentativa de se eleger que o líder de Madureira consegue os votos para isso. Coisa que o mesmo já identificara algum tempo atrás e, escrevendo ao jornal “O Semeador” sobre o título “Irmão deve votar em irmão”, ele se “queixava” do desinteresse dos evangélicos assembleianos em relação à política, ou mesmo da não militância para os deputados evangélicos e que muitas vezes era feita para “os ímpios contra os irmãos” (FERREIRA, 2000). O qual ele diz,

Infelizmente há os que se omitem, em termos de política. Nada fazem, como cristão. Assim agem, por várias razões: não se preocupam em conhecer mais profundamente os problemas nacionais, desconhecem o quanto a Igreja pode fazer para amenizar os problemas brasileiros, e não aplicam o “poder da Igreja”, em favor do Brasil. (FERREIRA, 2000, p. 149)

Demonstrando que mesmo ele ocupando o posto mais alto da ADMM, seu prestígio não alcançava o “coração dos membros” e, assim, ele não era considerado como uma opção válida a carreira de “representante do povo evangélico” na vida pública. O que leva ele a criar o CNPB, este órgão era uma versão mais ou menos parecida com CNBB católica, o qual pretendia ser uma voz pública desse grupo de evangélicos (BAPTISTA, 2007) no cenário político nacional. O qual mesmo se utilizando do CNPB, entidade criada junto com o Bispo Macedo da Universal (BAPTISTA, 2007) não conseguiu adquirir o prestígio necessário para se consolidar como uma “voz política” dos evangélicos brasileiros. Vale destacarmos que a criação do CNPB, em conjunto ao Bp. Edir Macedo da igreja Universal foi duramente criticado pelos adeptos do seu próprio ministério. Caso que levou o bispo a escrever um artigo no jornal “O Semeador”, no qual ele tenta explicar a importância do CNPB,

O CNPB prega que devemos respeitar as diferenças das igrejas. Somos unidos em nossas semelhanças e povo. A igreja deve manter sua unidade, defendendo seus direitos adquiridos e conquistando

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novos direitos que as constituições e a vida prática nos permitem adquirir e tomar posse. Há muito o que conquistar... A igreja não pode cruzar os braços! Compete a ela, como um todo, agenciar o Reino de Deus nessa terra!

Que jamais paire qualquer dúvida quanto a unidade da igreja, pregada pelo CNPB! (FERREIRA, 2000, p. 39)

Segundo ele a “igreja” tem uma decisiva atuação para vida política. O que não fica claro em suas falas são as questões de laicidade e da separação entre Estado e Igreja, entretanto sua postura deixa muito claro que a “igreja” deve estar diretamente ligada à vida pública. Como ele mesmo diz, “temos que exigir um lugar ao sol com participação efetiva e ativa, independente de possíveis corrupções” (FERREIRA, 2000, p. 154). Como afirma um de seus filhos, o Pr. Abner Ferreira falando sobre a questão da participação política, diz,

Os membros das igrejas e os adeptos de qualquer confissão religiosa fazem política com muita frequência, mesmo não tendo consciência disso. As religiões mais bem sucedidas em fazer convertidos e prosélitos e em modificar o comportamento social, são aquelas em que os membros são ensinados a viverem de modo que exerça influência sobre o meio em que vivem e isso, de certo modo, é fazer política. (FERREIRA, 2010, p. 118-119)

O Bp. Manoel Ferreira sem dúvida alguma conseguiu ser o sucessor de Macalão, o qual imprimiu a ADMM a sua própria tradição, sendo ela aceita por alguns e criticada por outros. Sua gestão ocorre uma igreja que precisa se reinventar a medida que perde seus principais líderes de uma só vez e, vê a sua unidade ser ameaçada pela CGADB. Nisto o Bp. Manoel Ferreira é de fundamental importância, pois não só conseguiu se ascender ao posto mais importante, mas também de “recriar” a igreja em meio a sua própria tradição instituída. Caso que analisaremos no próximo capítulo dessa pesquisa, no qual trataremos sobre as principais características da ADMM e suas diferenças. Também discorreremos sobre como se tem articulado a perpetuação do poder “dos Ferreiras” na instituição.

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CAPÍTULO 3

O MINISTÉRIO DE MADUREIRA: Características, Sucessão e

Perpetuação do poder.

Neste terceiro capítulo nos debruçaremos na atual forma organizacional da ADMM e o que diferencia a mesma do restante das ADs no Brasil, principalmente as ligadas a CGADB. Quais são suas principais características organizacionais que ajudam a explicar esse modelo atual de sucessão e perpetuação do poder nos principais postos diretivos e que não se viu nas primeiras décadas dessa instituição. Interessa-nos aqui compreender como a gestão atual conseguiu não apenas, legitimar-se como a sucessora “mais justa” (WEBER, 2012), mas também empregar aquilo que constatamos em algumas de nossas entrevistas como um modelo “ferreirista” de organização. Também quais são as tensões geradas internamente ao longo da fundamentação e consolidação desse modelo entre aqueles que não concordam, ou não coadunam com as práticas que foram instituídas ao longo dessa gestão.

Por ser uma igreja “autenticamente” brasileira e “interregionalista” desde sua origem, ainda na década de 1930, ela foi obrigada a desenvolver uma forma de organização diferente das outras ADs, que se mantinham sobre o domínio dos missionários suecos/ e ou pastores nordestinos, pois as mesmas eram regionalizadas. Uma “instituição como padrão de controle, ou seja, uma programação da conduta individual imposta pela sociedade” (BERGER; BERGER, 1980, p. 193) tende a se acomodar de acordo com os processos e relações sociais produzidas internamente pelo grupo, onde estão inseridos socialmente. Assim para manter-se coerente com o meio onde está inserida a mesma deve produzir uma linguagem que tem como função a objetivação da realidade (BERGER; BERGER, 1980)102. Essa linguagem tende a dar as condições necessárias para que os indivíduos possam interpretar dentro de seu “microcosmo” social, os papéis que lhe são “introjetados”, para que os mesmos possam fazer parte da “sociedade” (BERGER; BERGER, 1980, p.195) a qual estão sendo inseridos.

102 Os autores tendem a falar da linguagem como processo de socialização da criança à realidade

objetiva que está inserida, ou seja, a internalização dos códigos, normas e processos a ela disposto no ambiente determinado, para que a mesma consiga se enquadrar e reproduzir esses mesmos valores. (BERGER; BERGER, 1980, p. 194-195).

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Dessa forma e, em suas devidas aproximações, afirmamos que a ADMM (e as outras ADs) produzem uma forma de “linguagem organizacional” que tendem a acomodar os seus indivíduos, que segundo sua crença, os mesmos “nasceram novamente”103 pela confissão de Cristo e pelo Batismo em Águas. Compreender essa “linguagem organizacional” é de fundamental importância para uma análise da realidade social produzida por essa organização, pois como afirma Berger “a representação dos sentidos humanos se torna mimesis dos mistérios divinos” (1985, p. 51). Assim para o adepto da organização, a linguagem ali processada não é meramente humana, mas uma “reprodutibilidade” da “organização espiritual” e sendo isso para o dominador de fundamental importância, uma vez que, quanto mais “inculcado” estiver essa forma de “linguagem organizacional”, menor será o risco de uma possível “sublevação” (BOURDIEU, 2013, p. 70-71) de sua dominação. Optamos por esta tarefa de desnaturalização dessa “linguagem organizacional” produzida pela ADMM, por entender que “as interações simbólicas que se instauram no campo religioso devem sua forma específica à natureza particular dos interesses que aí se encontram” (BOURDIEU, 2013, p. 82). Conquanto a organização de uma instituição se deva pela obtenção dos chamados “recursos escassos” e de como eles são necessariamente disputados, principalmente pela “oligarquia instituída”, que luta para conseguir sempre se manter no topo dessa pirâmide “sócio-organizacional”.

Esse tipo de busca acaba por gerar, muitas vezes, um processo de tensão/conflito dentro da instituição entre os diferentes grupos que ali se constituem, o que acaba muitas das vezes em processos de divisões/ ou autonomias de determinados indivíduos/ e ou campos, devido à centralização do poder. Podemos verificar que esse tipo de situação ocorreu tanto na gestão do Pr. Paulo Leivas Macalão, quanto na atual gestão do Bp. Manoel Ferreira.

3.1. CARACTERÍSTICAS DO MINISTÉRIO DE MADUREIRA.

Para que possamos melhor visualizar e compreender como é o funcionamento atual da ADMM, nos ateremos nessa seção em três aspectos gerais

103 Baseado no texto bíblico de João capítulo 3, dos versículos de 1 a 21, no qual Jesus em um

diálogo com um fariseu chamado de Nicodemos, fala que “lhe é necessário nascer de novo” (Bíblia – ARC).

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da organização que são: a CONAMAD; o CAMPO; e a formatação hierárquica da organização, comumente chamada na teologia cristã de “Governo da Igreja”. De forma geral as ADs no Brasil tem uma forma de organização muito semelhante entre si, porém existem algumas “particularidades” que demarcam certa diferenciação significativa no funcionamento e andamento da organização em questão. Podermos perceber que em algumas pesquisas sobre as ADs no Brasil acabam por apresentá-la como uma unidade organizacional homogênea e sem uma determinada especificidade entre elas. Os quais podem ser visto nas pesquisas de Souza (1969), Novaes (1985), Rolim (1985), Leornad (1988), Freston (1993, 1994) uma vez que estes pesquisadores acabam por apresentar as ADs como uma organização única e uniforme.

A resposta para este desconhecimento está no fato de que todos os pesquisadores estavam falando do fenômeno pentecostal como um todo, sendo assim muito difícil perceber certas especificidades de cada vertente pentecostal existente. Também pelo fato do movimento aparecer nos censos com um crescimento considerável a época que produziram os seus estudos científicos, levando os mesmos a não considerar a possibilidade de estarem se defrontando com um fenômeno de características heterogêneas. Podemos perceber esse fato com a tipologia grafada por Freston (1993), que para tentar resolver este problema conceitual sobre o movimento pentecostal, o pesquisador elaborou um esquema de compreensão conhecido como as “três ondas”, no qual, na visão do autor, o movimento pentecostal teria se desenvolvido de forma “estanque” em três momentos distintos de sua história. Tendo como função na pesquisa em questão ser uma primeira tentativa de se perceber o fenômeno pentecostal como um movimento em transformação, acabou por encobrir as próprias contradições produzidas pelo mesmo, uma vez que as características por ele determinadas como “marcador das ondas”, podia ser encontrada em diferentes igrejas do movimento pentecostal indistintamente ao seu período de classificação.

Assim, é necessário para a compreensão do fenômeno pentecostal assembleiano sempre observar o movimento a partir das dialéticas produzidas dentro do próprio, a fim de se ter uma compreensão mais próxima da realidade objetiva do mesmo. Berger afirma que,

O termo “dialética” é útil precisamente para evitar essa falsa interpretação. As legitimações religiosas nascem da atividade

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humana, mas uma vez cristalizadas em complexos de significados que se tornam parte de uma tradição religiosa, podem atingir um certo grau de autonomia em relação a essa atividade. (BERGER, 1985, p. 55)

A advertência de Berger serve para ver a forma com as ADs se organizam dentro de suas próprias tradições, uma vez que apesar desse movimento ser apresentado no discurso oficial de seus líderes como uma organização singular e homogênea, na realidade o que temos é uma pluralidade heterodoxa de “assembleanismos”. Devemos destacar o surgimento de pesquisas que buscaram compreender o “fenômeno assembleiano”, a partir da dialética por ele produzida ao longo de sua história, entre os pesquisadores destacamos Alencar (2010; 2013), Correa (2006; 2013) Sousa (2010), Costa (2011), Gomes (2013), Fajardo (2015), entre outras pesquisas produzidas nestes últimos anos pelas mais diferentes universidades brasileiras. Mas o que esta pesquisa traz de novo, que pode diferenciar das anteriores? O olhar para a forma de organização da ADMM.

a) a CONAMAD.

Apesar de sua fundação ser na igreja-mãe em Madureira – RJ no ano de 1958, a CONAMAD, ou Convenção Nacional das Assembleias de Deus Ministério de Madureira é a herdeira da CNMEADMIF - Convenção Nacional dos Ministros Evangélicos da Assembleia de Deus em Madureira e Igrejas Filiadas e, desde 2003 (PRASTES; FERNANDES, 2012, p. 140) tem a sua sede e foro localizados a avenida W 5 Sul, Quadra 910, Lotes 33 e 34, Plano Piloto, na cidade de Brasília. Segundo a história oficial da organização era de desejo do Pr. Paulo Leivas Macalão que isso ocorre (CABRAL, 2002), mas não encontramos na biografia do mesmo qualquer menção sobre esse desejo de transferência.

Durante a pesquisa pudemos verificar a existência de uma diferença da CONAMAD em relação às outras convenções “assembleianas”, como a CGADB, pois a mesma, não pode ser caracterizada como uma “associação de pastores”. Assim enquanto as ADs ligadas à missão estão organizadas em vários Ministérios interligados por uma Convenção Nacional (CGADB) e diferentes Convenções Estaduais (CONFRADESP104, por exemplo), dependendo de características

104 Convenção Fraternal e Interestadual das Assembleias de Deus no Ministério de Belém. A mesma

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particulares e regionalizadas, a ADMM está organizada em diferentes Campos, porém todos eles estão ligados diretamente a CONAMAD, que apesar de trazer a ideia de ser uma Convenção de igrejas, ela carrega em si mesma, a condição de “órgão máximo hierárquico, deliberativo, legislativo, gerenciador e articulador da unidade e integração” das igrejas ADMM (ESTATUTO CONAMAD, Art1º, 2013).

A partir do diagrama abaixo podemos verificar que o centro de toda a organização da ADMM é a CONAMAD, que diferente da CGADB, ela mantém um controle centralizado do Ministério e apesar da existência de vários Campos, os mesmos não são autônomos em si (em tese e de acordo ao Estatuto da instituição), devendo sempre se reportar as diretrizes estabelecidas por este órgão diretivo. Um bom exemplo que podemos mencionar é o Art. 6º do estatuto da CONAMAD, o qual afirma que “o Estatuto das Igrejas Filiadas não será reformado ‘in partum’ ou ‘in

totum’, sem autorização expressa da Mesa Diretora da CONAMAD”.

Diagrama 3: Forma de organização da ADMM

Fonte: Autor.

Neste sentido podemos observar uma primeira diferença entra a organização da CONAMAD, em relação à CGADB, pois a primeira exerce não apenas influência,

Para maiores informações ver Anexo I Convenções nacionais – CGADB e CONAMAD na obra de ALENCAR, 2013.

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mas sim, uma dominação regimental sobre a igreja e os pastores-presidentes, uma vez que segundo o Art. 5º de seu estatuto “intervirá nas Igrejas” quando houver casos relacionados a cisões, perturbações da ordem interna, desrespeitos às normas estatutárias. Assim ao observar o diagrama identificamos que todo o Ministério de Madureira está diretamente ligado a CONAMAD, se diferenciando da CGADB, pois enquanto ela centraliza em si mesma, todas as diretrizes de funcionamento das ADMM, a CGADB é apenas uma “associação de pastores” (CORREA, 2013), que tem como função criar uma espécie de “identidade assembleiana”.

E como as estruturas de poder dentro da ADMM estão sobrepostas umas as outras, precisamos identificar que em cada nível hierárquico temos a constituição de um quadro diretivo organizado de cima para baixo, o que chamamos na pesquisa de quadro de especialistas (WEBER, 2012). Sendo todos compostos pelo presidente, vice-presidentes, secretários, tesoureiros e relator. Já a eleição para a escolha da Mesa Diretora é realizada em um período de quatro em quatro anos, não tendo um limite estabelecido para a reeleição de qualquer membro, apenas o presidente atual ocupa a posição de vitaliciedade, mas que segundo o estatuto na morte do mesmo os próximos deverão passar por eleições. Portanto a maior posição da ADMM é a presidência da CONAMAD, hoje ocupada pelo Bp. Manoel Ferreira.

O Art. 96º, diz que,

É vedado a CONAMAD remunerar, por qualquer forma, os cargos da Mesa Diretora, Conselho Fiscal, Comissões ou Conselhos; distribuir lucros, bonificações ou vantagens a dirigentes, mantenedores ou membros, sob nenhuma forma ou pretexto; salvo pagamento efetuado a terceiros por contratos de serviços técnico-profissionais prestados a CONAMAD. (ESTATUTO CONAMAD, 2013)

Como todos os membros são, ou foram Pastores-presidentes de um determinado Campo, a questão da não remuneração se resolve, pois os mesmo recebem salários de seus campos no caso dos presidentes em atividade, ou uma espécie de aposentadoria para os pastores jubilados, que é o caso do Pr. Josué de Campos que na atual gestão ocupa a função de 1º secretário da CONAMAD. E apesar de parecer que quem ocupa este posto esteja prestando um serviço “voluntário”, ou de “vocação”, o que impulsiona a participação no quadro de especialista é o prestígio oferecido por esta posição, pois como já dissemos a CONAMAD centraliza tudo em torno de si, até mesmo as propriedades, como

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registra o Art. 3, parágrafo XVIII, cabendo à mesma administrar todo o patrimônio do ministério.

Dessa forma, estar no topo dessa pirâmide traz para o indivíduo muito prestígio, uma vez que o patrimônio atual das ADMM é riquíssimo, se considerarmos todas as igrejas espalhadas pelo país e seus ativos físicos. Sem considerar o capital simbólico que se produz a quem tem sob seu controle toda essa estrutura. E podemos assim explicar o desejo de uma grande maioria de pastores em ocupar essa posição. Ainda nesse sentido precisamos diferenciar um Pastor-presidente de Campo do Pastor/Bispo-presidente da CONAMAD, pois o primeiro apenas representaria a figura máxima de poder da igreja que é presidente e das igrejas filiadas ao seu campo (que não é pouca coisa); já o presidente da CONAMAD é a figura de máximo poder do ministério não tendo ninguém acima dele, ao não ser o “próprio Deus”105.

Ainda sobre a presidência e sua importância, vale mencionarmos que apesar do Bp. Manoel Ferreira ocupar a posição de presidente vitalício, no site da instituição106, pôde-se verificar que o seu filho mais novo, o Pr. Samuel Ferreira atualmente ocupa não apenas a 1ª vice-presidência, mas também a Presidência Executiva da instituição, que mais tarde foi constatado na pesquisa de campo a veracidade dessa informação, com o depoimento de dois de nossos entrevistados. Caso que demanda desde já em uma espécie de “sucessão mesmo ainda em vida”, uma vez que o referido pastor é o que toma a frente nas assembleias do ministério, segundo os mesmos entrevistados. Porém o que nos chamou a atenção foi o fato de que no Estatuto da CONAMAD de 2007, no Art. 95 e, em seu parágrafo único, afirmar que o cargo de 1º vice-presidente também era vitalício e que na época era ocupado pelo Pr. Lupércio Vergniano, o qual seria mudado apenas com a morte do mesmo.

Conquanto, apesar de o pastor ainda estar vivo, em uma reforma estatutária ocorrida em 2013, podemos perceber que foi removido à vitaliciedade do cargo de 1º vice-presidente, retirando o mesmo de sua posição e, em seu lugar ficou o então Pr. Samuel Ferreira. Essa ação parece ter sido um “ato violento” jurídico cometido pela “classe dirigente” atual da instituição, que não respeitou o Pr. Lupércio, pois o

105 Essa relação de autoridade e prestígio de certa forma valeria também para o presidente da

CONEMAD, que tem sob sua jurisdição um certo controle dos Campos a ele subordinados, porém o mesmo está abaixo na escala hierárquica em relação ao presidente da CONAMAD.

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mesmo ainda está vivo, mesmo que incapacitado pela sua doença. Essa violência procura dar legitimidade burocraticamente à figura do filho do Bp. Manoel Ferreira e, inevitavelmente fazendo com que o mesmo perca a legitimidade carismática. Assim podemos perceber que o reconhecimento “do filho” na instituição não é tão unânime quanto se procura afirmar, uma vez que os questionamentos sobre essas ações foram aparecendo nas entrevistas realizadas para a nossa pesquisa.

No atual estatuto (2013) em seu Art. 93, parágrafo único, apenas o presidente ocupa a posição de vitaliciedade, que, entretanto não exerce mais sua função, uma vez que o Pr. Samuel Ferreira é que tem “dado as ordens”. Assim se demonstrando que, ocupar esse posto é de fundamental importância, principalmente para os da família “dos Ferreiras”, que pode até parecer em um primeiro momento como algo aceito por todos, porém como já mencionamos, podemos constatar a existência de uma tensão dentro do ministério com esse fato de “empoderamento violento” da família do Bispo.

Uma segunda característica da CONAMAD é a questão das chamadas Convenções Estaduais, as quais recebem um nome genérico de CONEMAD107 - Convenção Estadual dos Ministros Evangélicos das Assembleias de Deus Ministério de Madureira, mais a grafia do estado, ou país onde ela se localiza. Este órgão se vincula a ser um braço extensor da CONAMAD em cada país, ou estado da federação; não sendo permitido que os Campos filiados a Madureira se registrem em outras Convenções. Também não podem existir mais de uma CONEMAD no mesmo estado, exceto nos casos do Pará e Amazonas devido as suas extensões territoriais (ESTATUTO CONAMAD, Art. 8º § 1º). Esse órgão tende a facilitar a centralização do poder da CONAMAD, pois o mesmo não pode fazer nada sem a prévia orientação e supervisão da instância superior, existindo apenas para facilitar na contenção de problemas regionalizados, devido ao tamanho e dimensão alcançados pelo Ministério de Madureira no território nacional.

Assim percebemos que as estruturas se sobrepõem apenas para reforçar o poder e a dominação da “oligarquia” constituída, mas que ao mesmo tempo possibilita a formação de “oligarquias” regionalizadas, nas quais estas devem se submeter aos que estão no topo dessa pirâmide. Dessa forma as Igrejas do

107 No dia 20 de julho de 1959 foi fundada a primeira Convenção Estadual da ADMM, no Estado de

Goiás. Estavam presentes nesse evento os pastores Paulo Leivas Macalão, Antonio Inácio de Freitas, Divindo Gonçalves dos Santos, entre outros (PRATES; FERNANDES, 2012, P. 85).

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