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SUCESSÃO: PATRIMONIALISMO OU UMA QUESTÃO DE HERANÇA?

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Diagrama 5: Pirâmide da composição social de poder e dominação da ADMM

3.2. SUCESSÃO: PATRIMONIALISMO OU UMA QUESTÃO DE HERANÇA?

A prática da sucessão do poder dentro das ADs no Brasil não é um fato ou dinâmica recente, pelo contrário essa questão já foi motivo de grande tensão na história do movimento. Que não pode ser considerado como um fenômeno particular das ADs, mas uma prática humana antiga, uma vez que desde o surgimento da propriedade privada, e consequentemente da possibilidade de acúmulo daquilo que denominamos nessa pesquisa de “recursos escassos”, a questão da sucessão traz consigo conflitos, tensões e privilégios aos grupos que o disputam. Um bom exemplo é o surgimento da figura do rei na Antiguidade e Idade Média, que passa a ser visto como uma figura divinizada, ou representante dela, criando toda uma estrutura hierarquizada de poder, a fim de se manter separado do restante da sociedade e assim garantir que sua linhagem se mantivesse no topo da relação.

Nas ADs a sucessão se tornou importante na medida em que o movimento deixou de ser meramente carismático e passou a se tradicionalizar. Assim, a primeira disputa de sucessão dentro da ADs no Brasil, se deu entre os missionários e a geração de pastores nativos que foi surgindo no decorrer do desenvolvimento da igreja. Isso ocorreu na medida em que os missionários escandinavos, que se mantinham no topo da organização desde a fundação do movimento ainda no início da década de 1910 (ARAÚJO, 2007), passaram a sofrer questionamentos em relação à posição de comando e controle das igrejas pelos pastores brasileiros (ALENCAR, 2013) a partir década de 1930.

É neste contexto que na Convenção Geral do ano de 1937 (na qual o Pr. Paulo Leivas Macalão foi eleito presidente), vai ser debatido pela primeira vez a questão da sucessão. A pergunta que surgiu nessa assembleia foi, “como escolher o

sucessor à frente de um trabalho?” e partiu do pastor brasileiro Heitor Viera, e que segundo Daniel (2004) foi resolvido da seguinte maneira,

A primeira coisa a fazer o pastor que vai transferir a igreja ao seu colega é orar muito a Deus nesse sentido, até que receba do Céu, por qualquer meio, a direção divina, como os nossos irmãos da antiguidade. Portanto, depois de Deus ter mostrado ao tal pastor quem será o seu substituto, ele o apresentará ao ministério da igreja, e se este também sentir a vontade de Deus, vendo que tal escolha vem do Senhor, o escolhido será apresentado à igreja, que também, estando na vontade de Deus, reconhecerá essa decisão. (DANIEL, 2004, p.134)

Ao analisarmos a resolução da Convenção Geral de 1937, existiria um processo a ser seguido para a sucessão, que vai desde uma “revelação do oráculo” carismático, que pode ser o próprio líder que será sucedido (WEBER, 2012, p.162), até a confirmação do possível sucessor entre o “quadro de especialistas” e a própria comunidade de membros participante, os quais todos deveriam ter a resposta de aceitação da parte do próprio Deus (DANIEL, 2004). Esse processo nos é apresentado pela transcrição do autor, como uma questão na qual demandaria o envolvimento e a participar de toda a comunidade em questão.

Entretanto essa prática pode ter funcionado enquanto as estruturas ainda estavam tomando forma, uma vez que o “tamanho” da igreja e a movimentação financeira não eram tão expressivos. Porém uma coisa é analisarmos esse fenômeno em 1937, outra coisa é analisarmos nos dias atuais com todas as demandas que envolvem o “estar à frente” de um Campo, um Ministério, ou mesmo de uma Convenção. Pois o poder econômico gerado por um “Ministério Assembleiano” atualmente é riquíssimo e, que ao mesmo tempo está concentrado nas mãos de uma “oligarquia diretiva”, que não apenas monopoliza o poder se aproveitando das benesses produzidas pela dinâmica do movimento, mas também passa a distribuir a quem quiser (de preferência aos amigos mais próximos e aos membros da família) cargos e benefícios, em contrapartida a carência de boa parte de sua “membresia” (CORREA, 2014) que se localiza na base dessa relação. Que fique claro, que o fenômeno da sucessão não se restringe a ministério A ou B, mas está presente, em praticamente todas as igrejas que trazem a “logomarca” das ADs no Brasil. E por que não afirmar, que este fenômeno esteja presente também em outras vertentes do movimento pentecostal brasileiro, não só o assembleiano.

A primeira tentativa de sucessão familiar que encontramos na história das ADs no Brasil ocorreu ainda na década de 1960, no Estado do Ceará. Quando da

morte do Pr. José Teixeira Rego, seu genro o Pr. Luis Bezerra da Costa (ou como era comumente conhecido como Luis Costa), que a época já era o vice-presidente deste ministério assembleiano, tentou assumir o posto de Presidente em lugar de seu sogro. Dizemos que tentou, pois a sua estada na presidência durou pouco mais de um mês, sendo substituído por outro pastor. Esse assunto se arrastaria ainda por mais dois anos e com contornos muito traumáticos para a “obra” e para os próprios membros dessa igreja. Até que no ano de 1963 foi oficializado o “cisma” na igreja cearense, que deu origens então a dois ministérios, o Ministério do Templo Central e o Ministério de Bela Vista, este último liderado pelo então Pr. Luis Costa115 (ALENCAR, 2013, CORREA, 2014).

Certo que a sucessão é inevitável! E não queremos entrar em um “sofisma” sobre como ela deve ocorrer, ou qual seria o modo mais justo e ideal. Nossa questão central é procurar explicar porque ela ocorre nestes moldes atuais. E ainda mais, buscar uma resposta que explique a atua aceitação por parte da igreja (aqui se inclui o quadro de especialistas e os membros da base) da prática de sucessão familiar. Esta por sua vez levanta outra questão importante, pois não verificamos, exceto algumas exceções como no caso cearense, o interesse das duas primeiras gerações de filhos de pastores em assumir as igrejas presididas pelos seus pais.

Assim sendo como se explica esse fenômeno atual? Dois fatores nos ajudam entender esse fenômeno e concomitantemente a responder essa pergunta. O primeiro seria uma mudança na visão em relação à igreja, pois a mesma na atualidade não seria vista como uma “entidade espiritual”, na qual a vocação e o serviço ao sagrado seriam a questão primordial do indivíduo. Porém ela agora passa a ser entendida como uma empresa, ou propriedade de cunho familiar, que está de posse de uma determinada família, a qual ocupa a posição diretiva já há algumas décadas. O segundo fator estaria ligado diretamente ao primeiro, pois uma vez que a igreja é uma propriedade/empresa familiar há a necessidade da profissionalização da função do Pastor-presidente (CORREA, 2014, p. 105). Pois o mesmo não desempenha mais a única função de “pastorear o rebanho” ele é um administrador, gestor, construtor, organizador do Campo, ou Ministério que está à frente (ver quadro 1). Esse acúmulo de funções traz uma nova configuração a figura do Pastor-

115 O Pr. Luiz Costa não conseguiu se legitimar como sucessor de seu sogro nesta ocasião, mas ao

falecer cerca de 30 anos depois de fundar oficialmente o Ministério de Bela Vista, o pastor foi sucedido de forma pacífica por seu filho o Apóstolo José Teixeira Rego Neto.

presidente (não que os das gerações anteriores não desempenhassem esses mesmos papéis), o de garantir domínio e permanência da família sobre todos esses recursos que foram adquiridos ao longo dos anos.

Essa afirmação pode ser confirmada em nossas entrevistas, nas quais a maioria dos nossos entrevistos quando perguntamos a eles sobre a questão da sucessão familiar, fizeram apontamentos diretos a questão argumentada anteriormente. Durante as entrevistas procuramos dividir a pergunta em duas partes, sendo a primeira se eles concordariam com essa prática atual de sucessão familiar, e, a segunda, o que motivaria a procura dos filhos de um pastor-presidente a seguir a carreira do pai, uma vez que tanto na primeira e segunda geração não temos essa relação vista com frequência.

Quadro 3: Quadro comparativo sobre a questão da sucessão familiar na ADMM

Você concorda com a atual forma de sucessão familiar da

ADMM

Por que os filhos da primeira e segunda geração não seguiram os

passos dos pais

O que explicaria a atual aceitação por parte dos filhos em seguir a carreira de pastor Pr. P-A Sim; Deve-se encaminhar o seus filhos para o pastorado.

Devido a não querer sofrer o que seus pais sofreram no

decorrer de sua história ministerial. Decepção como

o ministério Acaba não respondendo! Pr. P-B Sim e Não, a sucessão deve depender principalmente da vocação do indivíduo.

Geração mais temerosa a Deus; Não estavam apegados aos bens materiais; Igreja não era vista como um “Reino”, ou

propriedade. A possibilidade de abandono depois da aposentadoria; Ela é um “Reino” ou propriedade; Profissionalização do pastorado. Pr. P(ex)-A

Até concorda, desde que o filho tenha uma

história de fidelidade com a igreja.

Não havia por parte dos pais incentivo para que os filhos assumissem em seu

lugar

O medo do pai em ser retirado da igreja de perder rendimentos; Forma de manter o padrão socioeconômico. Pr. P(ex)-B

Não, “sou totalmente contra!”

Porque não entendiam ser a igreja um negócio, ou propriedade. A transformação da igreja em um negócio familiar; Patrimônio herdado. Pr. C-A Não Peso e responsabilidade pelo cuidado “as almas”; Sofrimento dos pais pelo cuidado com a igreja.

Nepotismo; O encanto gerado pelo poder; Patrimonialismo; Igreja-

Pr. C-B Não

Não se olhava para igreja como um negócio; A visão era geral para todos os obreiros que faziam parte do Campo e ajudaram no seu desenvolvimento.

Um clã; Um negócio Uma hierarquia

familiar;

O que podemos perceber ao observar o quadro acima, é que quanto mais afastado o indivíduo está do poder diretivo, maior é a sua recusa em aceitar a sucessão familiar. O qual é visto por estes indivíduos como uma forma de negócio, propriedade, clã, patrimônio, ou seja, uma forma de exclusivismo do poder pela classe diretiva. Alencar (2013) e Correa (2013) já apontavam em suas pesquisas para essa questão de um “patrimônio familiar” (ALENCAR, 2013, p. 228).

Já os pastores que ainda ocupam uma presidência e os pastores que ocuparam no passado, tem uma percepção mais ou menos moderada. O que nos possibilita a fazer uma importante análise de duas respostas, pois ao observarmos a resposta do Pr. P-A que é, não apenas favorável, mas em sua fala faz um apontamento de que o Pastor-presidente “deve encaminhar os filhos ao pastorado” (Entrevista em áudio, gravada no dia 08/07/2016), pois para ele os pais da primeira e segunda geração acabaram não tendo essa preocupação com os seus filhos e muitos deles acabaram nem mais sendo “crentes”. Em contra partida, o Pr. P(ex)-B ao responder essa questão, foi categoricamente enfático e contrário à sucessão familiar, pois atualmente esses pastores em sua visão, transformaram a igreja em um negócio rentável. Ele mesmo chegou a fazer um trocadilho dizendo “pequenas igrejas, grandes negócios” (Entrevista em áudio, gravada no dia 14/07/2016).

Pois bem, para o pastor-presidente em exercício, ou seja, que está na ativa do movimento é necessário manter a relação incentivando os filhos, uma vez que pra ele “estamos tratando da obra de Deus”, já o pastor dissidente entende que esta relação apenas se dá porque houve um “desvio no percurso”, demonstrando ser essa uma questão muito complexa. Poderíamos indagar a seguinte questão, se mudados os papéis entre os entrevistados, as impressões seriam as mesmas, ou cada um tenderia apenas a legitimar suas ações a partir de onde estivessem falando? Uma pergunta difícil de ser respondida! Mas que expressa claramente que não é uma unanimidade a questão de sucessão familiar entre essas personagens importantes da história da ADMM.

Cabe aqui ainda mais uma análise, a partir de uma mesma fala dos pastores Pr. P-B e Pr. P(ex)-A, os quais tocaram em um ponto muito interessante. Refiro-me a questão de que muitos pastores-presidentes incentivam o seus filhos a ocuparem a sua posição visando manter sua renda depois do seu “jubilamento” (ou aposentadoria), como a profissão de pastor não existe legalmente no Brasil, estes depois de deixarem à presidência são sustentados pela última igreja que passaram. Dessa forma, ao colocar um parente próximo na presidência, o mesmo garantiria que seu padrão de vida não fosse afetado, pois segundo a fala do Pr. P-B, na atualidade existe inúmeros casos de pastores que foram abandonados pelas antigas igrejas e hoje vivem em um estado de miséria total (Entrevista em áudio, gravada no dia 09/08/2016). Essa resposta nos ajudaria entender um dos lados desse prisma tão complexo, que é a sucessão dentro da ADs no Brasil.

Podemos então perceber que formatação patrimonialista atual das ADMM é sim, baseada em uma condição hereditária de garantia não apenas da sobrevivência, mas, e, principalmente por manter a posse de toda a riqueza que essa organização gera no decorrer de seu funcionamento. Mesmo que a riqueza estatutariamente seja ligada a igreja e não ao pastor o mesmo acaba por usufruir das benesses e de todo o “capital social” que se produz.

Porém vale aqui mencionarmos a existência de muitos pastores, os quais não se resumem apenas aos que entrevistamos durante nossa pesquisa, que buscam viver de forma justa e sem “ostentar” uma vida luxuosa, pelo contrário o que podemos perceber é que estes homens se sentem constrangidos com a situação atual da ADMM e das igrejas em geral. Entretanto é inegável que muitos queiram chegar à ponta da pirâmide com a intenção de se beneficiar de toda a situação que essa posição oferece. E segundo o Pr. P-B, o grande responsável pelo atual nepotismo não apenas, dentro ADMM, mas dentro das ADs no Brasil é o Bp. Manoel Ferreira (Entrevista em áudio, gravada no dia 09/08/2016), que desde sua ascensão ao principal cargo diretivo da instituição, trouxe consigo os seus filhos e em muitos casos também os “aliados”. Por este motivo vamos agora nos debruçar na explicação da ascensão e chegada dos filhos do bispo ao poder diretivo da ADMM e, como os mesmos gradualmente foram firmando a sucessão familiar como uma prática não apenas aceitável, mas justificável “por uma ação divina”.

3.2.1. Os Filhos do Bispo como Pastores-Presidentes: “Os Mais Ungidos?”.

Em sua trajetória ascendente dentro da ADMM, o Bp. Manoel Ferreira nunca escondeu a satisfação em conduzir seus filhos a posições de destaque dentro do Ministério. Assim desde que o bispo assumiu o posto de presidente da CONAMAD, seus filhos passaram a desfrutar de uma condição prestigiosa que os legitimaram a ocupar postos destacados dentro da organização. E que foram aumentando gradativamente até os dias atuais nos quais “demandariam algum tempo” para descrevermos nesta pesquisa a quantidade de ocupações dos mesmos. Optamos por fazer uma tabela na qual está demarcado cada uma das funções dos filhos e neto do bispo atualmente e que ajuda a demostrar essa condição prestigiosa que afirmamos.

Tabela 4 - Principais postos e funções ocupados por parentes do Bp. Manoel Ferreira na ADMM116

Nome Presidente em: Grau de

parentesco Outras funções Magner de C. Ferreira Marechal

Hermes – RJ Filho

2º vice-presidente da CONEMAD – RJ

Abner de C. Ferreira Madureira – RJ Filho

3º vice-presidente da CONAMAD, Presidente da CONEMAD – RJ, Gerente de publicações da Editora Betel. Presidente do IBE – Instituto Bíblico Ebenézer.

Samuel Cássio Ferreira Brás – SP Filho

Presidente Executivo da CONAMAD; 1º vice-presidente da CONAMAD; Presidente da CONEMAD – SP; Secretário Executivo e do Conselho deliberativo da Editora Betel

Manoel Ferreira Netto Campinas – SP Neto

Até o momento apenas a presidência de ADMM em Campinas

Fontes: CONAMAD; CONEMAD SP e RJ.

116 Dos cinco filhos do bispo apenas dois Vagner Ferreira e Vasti Ferreira Aranha (ambos dois

pastores, [CABRAL, 2002, p. 162]) não ocupam posições diretivas dentro do Ministério de Madureira. Entretanto, além dos filhos e neto aqui registrados, duas de suas netas foram consagradas como as primeiras Evangelistas do Ministério pelo próprio avó o Bp. Manoel Ferreira. São elas Nátaly Ferreira, filha do Pr. Magner Ferreira e Marinna Costa Ferreira, filha do Pr. Samuel Ferreira. Disponível em:

http://pastorguedes.blogspot.com.br/2013/09/bispo-manoel-ferreira-consagra-duas.html. Acesso: 01/09/2016.

Ao observarmos o quadro em questão, todos os três filhos e o neto do bispo são pastores-presidentes de Campos importantes do Ministério de Madureira. Os três filhos são presidentes, ou vice-presidentes de convenções estaduais, sendo dois deles, Abner e Samuel Ferreira presidentes das convenções estaduais do Rio de Janeiro e São Paulo respectivamente e ocupam ao mesmo tempo, a posição de vice-presidência da CONAMAD. Atualmente o Pr. Samuel Ferreira é o Presidente- Executivo da mesma, ou seja, é ele que preside a Convenção Nacional. Se isso não bastasse, ambos ainda ocupam cargos diretivos dentro da Editora Betel, órgão criado no ano de 1991 “com o objetivo de produzir Literatura Cristã, materiais para o Ensino Bíblico Dominical, livros, Bíblias e Harpa Cristã” (PRATES; FERNANDES, 2012, p. 122) e o jornal oficial da instituição “O Semeador”.

O que explicaria a concentração de tanto poder nas mãos dos filhos e neto do Bp. Manoel Ferreira? E ainda mais, o que explicaria a aceitação (se não uma aceitação ativa, pelo menos passiva) dos membros da ADMM dessa concentração de poder nas mãos “dos Ferreiras”? Segundo Bourdieu,

Na luta simbólica pela produção do senso comum ou, mais precisamente, pelo monopólio da nomeação legítima como imposição oficial – isto é, explícita e pública – da visão legítima do mundo social, os agentes investem o capital simbólico que adquiriram nas lutas anteriores e sobretudo todo o poder que detêm sobre as taxinomias instituídas, como os títulos. Assim, todas as estratégias simbólicas por meio das quais os agentes procuram impor a sua visão das divisões do mundo social e da sua posição nesse mundo podem situar-se entre dois extremos: o insulto, idios

logos pelo qual um simples particular tenta impor o seu ponto de

vista correndo o risco da reciprocidade; a nomeação oficial, ato de imposição simbólica que tem a seu favor toda a força do coletivo, do consenso, do Estado, detentor do monopólio da violência simbólica

legítima. (BOURDIEU, 2003, p. 146)

Ou seja, esse grupo tem a posse de um considerável capital simbólico, que foi adquirindo ao longo de sua trajetória (explicitamos isso no capítulo anterior, quando focamos sobre a ascensão do bispo dentro da ADMM), o qual passa a se impor dentro da instituição, por meio das “nomeações oficiais” (BOURDIEU, 2003) e quando necessário pelo uso da “força” também. Não foram poucas às vezes, que ouvimos ou em off, ou mesmo nas entrevista sobre a postura truculenta “dos Ferreiras”, sempre que buscavam legitimar uma de suas ações.

“Os Ferreiras” foram criando as condições necessárias para uma “legitimação prestigiosa”, pois como este grupo está no poder, seus atos são legitimados dentro

da “força do coletivo”, ou “do consenso” mútuo, conseguindo impor a ideia de que eles são os “herdeiros” legítimos dessas posições, que os colocaria em uma posição de destaque pela “escolha divinizada”. O que difere do Pr. Paulo Leivas Macalão, no qual o seu carisma era o agente legitimador e prestigioso de sua dominação117, já “os Ferreiras”, necessitam da imposição por meio da tradição para se legitimarem em suas posições.

Dessa forma a escolha dos filhos do bispo, é sim, pelo fato dos mesmos serem “os mais ungidos”. E não apenas por disporem de um capital simbólico e social adquirido, que lhe é conferido o “reconhecimento por uma instância oficial” (BOURDIEU, 2003, p. 148) que é a Igreja, mas também por serem eles escolhidos pelo “próprio Deus” para este serviço. Podemos perceber isso, na fala do bispo no ano de 1999, quando em uma matéria do jornal oficial da ADMM, “O Semeador” ele discorre sobre a satisfação dele em ver os seus filhos (Abner e Samuel) ocuparem a presidência de dois Campos importantes do ministério, o Campo da igreja-mãe do ministério que é o de Madureira no Rio de Janeiro e o Campo de Campinas, interior de São Paulo. Assim afirma o Bp. Manoel Ferreira,

Exatamente nesse tempo, nossa família vive momentos de indescritíveis regozijos, visto que experimentamos memoráveis e inesquecíveis dias – quando tivemos “singular ocasião” de empossar nossos queridíssimos filhos: pastor Samuel Cássio Ferreira, como presidente da igreja evangélica Assembleia de Deus em Campinas – São Paulo, 26 de março de 1999; e o pastor Abner Cássio Ferreira, como presidente da igreja evangélica Assembleia de Deus em Madureira, Rio de Janeiro, em 10 de abril de 1999! Aleluias!!! (O SEMEADOR, maio de 1999).

A explicação apresentada pelo bispo para a “nomeação oficial” de seus filhos foram os múltiplos compromissos que o mesmo assumira ao longo dos últimos anos

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