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CAPÍTULO III: FUNDAMENTOS TEÓRICOS

3. PESCA: DELINEAMENTO HISTÓRICO

3.5 A PESCA ARTESANAL: CARATECRISTICAS

3.5.4 Conflitos na pesca artesanal

A pesca artesanal é uma atividade que estão expostas a vários conflitos, podendo ser de ordem social, ambiental e institucional. Várias literaturas interpretam os conflitos como um distúrbio de natureza humana que tem criado desiquilíbrio em muitas sociedades. Podemos assim definir:

“Os conflitos são sinais de disfunção, perturbação e de desiquilíbrio da sociedade, devendo, portanto, ser resolvido” (PARENTE & BURSZTYN, 2012, p. 26). Segundo os autores os conflitos são inerentes de qualquer sistema social, funcionando como propulsores de mudança (idem.).

Segundo Lederach (1995 apud PARENTE&BURSAZTYN, 2012, p. 26) definem os conflitos como um fenômeno natural que transforma eventos, relações entre atores envolvidos e seus criadores. E na concepção de Max, os conflitos derivam da luta de classe, que é considerada como motor da história da humanidade (idem.).

A partir da definição de Max, inicia-se uma discussão dos conflitos existentes na pesca artesanal, induzindo a um contexto mais amplo da realidade entre os sujeitos e

atores envolvidos nesta atividade, tendo em conta os objetivos centrais que são o capital e a demanda pelo pescado, onde tem como campo de manifestação o meio envolvente. Segundo as perspectivas do Martins (2013) explica a origem destes conflitos na Amazônia está na competição pelos recursos e na ocupação territorial, pois:

A diversidade encontrada na Amazônia está na base de muitos conflitos, uma vez que as atividades produtivas e de subsistência apresentam certo grau de antagonismo porque competem pelos mesmos recursos naturais, humanos, sociais, de infraestrutura e institucionais. Os modelos de ocupação territorial e crescimento excludentes, sobretudo em relação ás chamadas populações tradicionais, que são mais vulneráveis (MARTINS, 2013, p. 110).

“Na Amazônia, onde a pesca é tradicional na economia das populações ribeirinhas, o impacto da captura intensiva de pescado tem gerado sérios conflitos na disputa pelos recursos pesqueiros” (LEITÃO W. M., 1996, p. 191). A maior parte dos conflitos, surge principalmente devido degradação do meio ambiente aquático e pelo desaparecimento de algumas espécies, que são causadas pela atividade de pesca industrial e de arrastro.

Atualmente, tem se notado grandes conflitos entre os setores da pesca industrial e o da pesca artesanal no Estado do Pará, especialmente no Município de Belém em Icoaraci, em que a pesca Industrial é predominante, visto que os produtores industriais têm explorado quase todo o estoque pesqueiro, ignorando extinção de algumas espécies, chegando ainda a invadir o território dos pescadores artesanais. Por isso, Furtado enaltece a ideia de que:

Em razão do crescimento de interesse industrial sobre o setor pesqueiro, especialmente em Belém e no interior do Estado, torna-se prioritário que se faça estudos sistemáticos não apenas no âmbito da biologia, porém igualmente no campo de ciências sociais, posto que não se pode dissociar o homem do ecossistema em que seus recursos aquáticos são exploráveis (FURTADO, 1990, p. 49).

A pesca industrial e comercial é seletiva, visando as espécies de valor de mercado, com frequentes repercussões negativas sobre demais espécies (DIEGUES, 2004, p. 34), provocado sobre pesca, diminuindo assim o estoque pesqueiro, que chega a afetar diretamente a pesca artesanal.

Além disso, a pesca industrial por ser seletiva também causa a poluição das águas, porque descarta todo o produto que é inútil, isto é, peixes pequenos com dimensões não aceitáveis no mercado. Estes por sua vez jogam grandes quantidades de

peixe pequenas já mortas ou machucadas para água, o que afeta de forma negativa o ecossistema e provoca a extinção muitas vezes de espécies.

O informativo Destaque Amazônia na edição de março de 2010 descreve que muitas dessas espécies que estão em extinção, são de grande valor econômico e de muita aceitação no mercado nacional e internacional.

Para além desse tipo de poluição gerado pelos barcos de pesca industrial, o estoque pesqueiro também está ameaçado pela poluição urbana e industrial, devido ao despejo de dejetos nas águas dos rios e mares, contaminando assim os peixes por causa da presença de metais pesados.

A presença de metais pesados, também pode ser encontrada nos peixes, e se os barcos de pesca industrial despejam quantidades consideráveis de óleos para os rios e mares que chegam a provocar a estiagem, isto também podem acontecer se as indústrias instaladas perto dos rios ou mar, despejarem quantidade de resíduos tóxicos, ou seja, pela emissão de poluentes que chegam a atingir quantidades suficientes capazes de contaminar o ecossistema aquático.

Autores como Diegues, também explicam esse tipo de conflito que:

A redução dos estoques pesqueiros, por outro lado, não se dá somente pela poluição, mas também pela pesca predatória realizada pelos barcos de indústrias pesqueiras que frequentemente operam em áreas costeiras onde trabalham os pescadores artesanais. Á existiram casos de conflitos entre os pescadores de barcos artesanais e industriais especialmente no Nordeste, onde os covos e redes de pescadores artesanais são destruídos (DIEGUES, 2004, p. 90-91).

Esses conflitos acontecem porque, para se instalar a indústria de pesca, usou-se argumentos convincentes de que a pesca artesanal é feita de forma predatória. Esta ideologia, foi criada para que os investidores pudessem tomar posições favoráveis para a instalação das indústrias de pesca, e, também tendo em conta as questões políticas por detrás deste negócio. Se referindo a tais fatos Furtado argumenta que:

Julgar a atividade pesqueira artesanal como predatória também faz parte da ideologia da classe dominante ligada ao setor pesqueiro que busca nessa pretensa predatoriedade, justificativa para a implantação de projetos industriais mais eficientes, como se fosse os únicos instrumentos capazes de gerar o abastecimento dos mercados compradores de peixe (FURTADO, 1990, p. 74).

A pesca artesanal enfrenta um conflito que está relacionado com o território pesqueiro, visto que os barcos de pesca industrial invadem o território da pesca artesanal, utilizando redes de arrasto.

A pesca realizada com rede de arrasto quando feita de forma irregular é considerada criminosa contra os ecossistemas aquáticos, haja vista que ela é capaz de causar a extinção de algumas espécies, e, também destrói a biodiversidade das plantas aquáticas.

Tendo em conta que a pesca industrial não abastece o mercado local, visto que a maioria da sua produção é destinada à exportação, isto é, a maioria do pescado é comercializado fora do estado, chegando até a vender fora do país; e só vende localmente no caso de sobra. Isto, tem prejudica a população e ao empresariado local, que só depende da pesca artesanal para conseguiam adquirir o pescado a um custo baixo.

Esta pesca que é realizada utilizando a rede de arrasto é considerada criminosa contra o ecossistema aquático porque é capaz de causar a extinção de algumas espécies e também destrói a biodiversidade das plantas aquáticas. Tendo em conta que a pesca industrial não abastece o mercado local, visto que a maioria da sua produção é destinada à exportação (isto é, a maioria do pescado é vendido fora do estado, chegando até a vender fora do país). Estes por sua vez, é vendido localmente no caso de sobra, o que prejudica a população e o empresariado local, que dependem da pesca artesanal para conseguiam adquirir o pescado a um custo baixo.

Esta situação, tem acontecido porque em muitos países como Brasil, incentivos mal planejados para se desenvolver a pesca industrial tiveram impacto negativos sobre a pesca artesanal, trazendo problemas crescentes de marginalização social e pobreza (DIEGUES, 1983 apud DIEGUES, 2004, p. 34).

A pesca industrial é útil e necessária, porém tem que ser revista o seu processo de implantação e atuação, a fim de que se possa manter a pesca em níveis sustentáveis de captura, para garantia da reprodução dos cardumes que, em contrapartida, beneficiem as populações que produzem, repartem e consomem o pescado na região (FURTADO, 1990, p. 94).

No que diz respeito a importância da pesca industrial em benefício da população local, há controversa, podendo ficar claro no que diz Furtado (1990, p. 21):

(...) a exploração maciça que as indústrias pesqueiras sediadas em Belém fazem do pescado que capturam tende a privar o habitante local e regional do

consumo dessas espécies. É necessário, portanto medidas de controle não apenas à pesca artesanal, porque sua possibilidade de predação à natureza é bem pequena, mas, sobretudo, à pesca de caráter industrial no sentido de evitar a depredação da ictiofauna, de graves consequências para os pequenos produtores artesanais de pescado bem como para consumo da população regional.

Devido as irregularidades acima citadas, os ribeirinhos têm criado estratégias de conservação, articulando seus interesses em torno da proteção dos recursos pesqueiros dos locais onde pescam, proibindo e limitando a entrada de pescadores que não fazem parte daquele meio e que não praticam a mesma modalidade de pesca (LEITÃO W. M., 1996).

Foi por estes motivos que, foram criados acordos de pesca, que visam definir o tipo de pesca que deve ser praticada em áreas reservadas aos pescadores artesanais e as épocas que devem pescar, atendendo o defeso. Segundo Leitão (1996), a maioria do

acordo de pesca, prevê a proibição da pesca com malhadeira durante certos períodos do

ano, que geralmente coincide com a estação seca, liberando a pesca com outros instrumentos, chegando a proibir também a pesca com barcos motorizados principalmente na época do defeso.

Esses acordos são estabelecidos pelas comunidades pesqueiras, que também fazem a fiscalização. No caso da infração, os fiscais apreendem o material e fazem a entrega das apreensões ás colônias ou associações, onde só é feita a devolução ao infrator no momento em que termina o período da estipulação da proibição de pesca.

A decisão das comunidades de estabelecer regras que limitam a pesca num determinado local implica a redução da renda do pescador artesanal, apesar disso esse é a maneira mais eficaz que esses sujeitos encontraram para mediar conflitos nesta atividade.

“Contudo, esses acordos representam a organização dos pescadores na tentativa de mediar os conflitos que o poder governamental, na falta de diretrizes, recursos ou funcionários, não resolve” (LEITÃO W. M., 1996, p. 194).

Outro conflito que a pesca artesanal enfrenta é a de apoio institucional, devido a precariedade dos apetrechos utilizados, há necessidade de modernizar as técnicas utilizadas. Porém, a falta de apoio institucional por parte do governo, desmotiva o pescador artesanal a sonhar em desenvolver e inovar as técnicas utilizadas para a

captura do pescado, e isso pode vir a contribuir para baixo nível de produção, afetando assim o comércio interno que inviabilizará o desenvolvimento local.