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A conformação das parcerias – ações femininas para a manutenção da posse dos menores

No documento Belo Horizonte, 13 de fevereiro 2017 (páginas 179-195)

Órfãos morando com as mulheres

RELAÇÃO DE PARENTESCO DO TUTOR COM O TUTELADO Grupo 1 Grupo 2 Grupo

3.2 A conformação das parcerias – ações femininas para a manutenção da posse dos menores

Dificilmente teríamos condições de identificar as diferentes motivações que levaram homens e mulheres a estabelecerem as parcerias. Como destacamos no início deste capítulo, acreditamos que elas estavam relacionadas às necessidades vivenciadas no cotidiano, tais como: a impossibilidade de levar o menor para a sua companhia, no caso dos tutores; ou mesmo em decorrência de acordos prévios que facilitavam e agilizavam a nomeação de um tutor261.

259 Inventário de Manoel Pinto Brandão. AHMINC/IBRAM. 2º Ofício, códice 40, Auto 461, 1810. 260 Sobre branqueamento, ver PAIVA (2001)

261 Apenas reforçando, devemos lembrar que, como destacamos no capítulo 2, quando uma mulher não era

nomeada pelo pai do órfão em testamento e, ainda assim, desejava assumir a tutoria do menor, ela deveria solicitar tal encargo. Para isso, dependendo do valor das legítimas, era necessário recorrer à provisão régia, o que representava despender de recursos e tempo, pois era preciso abrir um processo no qual haveria uma avaliação da capacidade da mulher para assumir ou não a tutoria. Além disso, essa possibilidade era restrita às mães e avós. Diante disso, entendemos que é possível que algumas mulheres preferissem estabelecer uma parceria, na qual ela teria condições de participar da administração dos bens e educação dos órfãos, mas sem a necessidade de recorrer aos trâmites legais. E, para isso, concordavam com as nomeações feitas pelo juiz de órfãos. Por outro lado, para aquelas mulheres cuja nomeação, feita em testamento, não foi aprovada pelo juiz de órfãos, como já destacamos, o estabelecimento das parcerias provavelmente se configurava como a única oportunidade para estar com os menores e manter os meios para o sustento próprio e da família.

180 Entretanto, para além das causas das parcerias, a partir das informações presentes na documentação podemos trazer alguns indícios sobre o modo como elas se deram, isto é, as circunstâncias que promoveram uma espécie de “contrato” entre os tutores e algumas mulheres.

Na documentação investigada, foi possível perceber que havia algumas ações femininas que acabavam facilitando essas parcerias. De um modo geral, essas ações acabavam convergindo para um mesmo resultado: a manutenção dos bens sob a responsabilidade da mulher e também o compromisso por parte delas pelo sustento, criação e educação dos menores. Podemos destacar, por exemplo, a arrematação das legítimas dos órfãos; a compra da parte dos bens que pertencia ao marido; as mulheres tornavam-se depositárias da parte que cabia aos menores, dentre outros.

Como vimos no capítulo anterior, algumas dessas mesmas práticas foram comuns também quando as mulheres assumiram a tutoria. Entretanto, se na condição de tutoras tais ações possibilitavam uma maior autonomia no exercício da função, na questão aqui analisada entendemos que elas ajudavam a criar condições para que as mulheres mantivessem ou até mesmo aumentassem a participação nas decisões sobre a educação e administração dos menores e seus bens.

Assim, buscamos mapear cada uma dessas operações. Iniciamos pela arrematação dos bens dos menores. De um total de 54 mulheres, 13 (24,07%) utilizaram essa estratégia e, detalhe importante, mantiveram os órfãos sob seus cuidados262. O

grupo em que identificamos a maior quantidade de arrematações foi no primeiro

maiores patrimônios –, em que seis (37,50%) mulheres de um total de 16 compraram a

parte de seus filhos que havia sido colocada em praça pública. No segundo e terceiro grupos – patrimônios intermediários e menores patrimônios – respectivamente, essa prática já foi menos utilizada, pois das 27 mulheres pertencentes ao grupo 2, apenas cinco (18,52%) agiram dessa mesma maneira; e no grupo 3, foram somente duas (18,18%) das 11 mulheres.

Essa mesma realidade repetiu-se quando eram tutoras, ou seja, foram as mulheres pertencentes ao grupo 1 – maiores patrimônios – que tiveram maiores condições de comprar a parte de seus filhos, impedindo que a herança do grupo familiar fosse dissipada. É possível que, como aconteceu no caso das tutoras, quando as mulheres eram partícipes, o valor dos bens daquelas que pertenciam aos demais grupos fosse um impeditivo para algumas transações, já que não seria suficiente para a

262 Na verdade, foi a manutenção do menor sob os seus cuidados que diferenciou a arrematação por parte

das mulheres, se comparada a outros arrematantes. Consideramos importante destacar esse aspecto porque a arrematação era prática comum no período, mas, ao assumir a obrigação de manter e educar o órfão, as mulheres acabavam facilitando a parceria.

181 garantia. De qualquer modo, em todos os grupos, havia mulheres que pareciam acreditar que esse tipo de estratégia garantiria a manutenção de sua família, seja no que se refere à posse dos bens, seja na conservação de todos os membros sob o mesmo teto.

Esse é pelo menos o entendimento quando nos deparamos com requerimentos como o elaborado por Dona Joana Bernarda Manso de Castro. Viúva do Sargento-mor José Luís Saião, ela era mãe de seis filhos, todos menores quando o pai faleceu. Para ocupar a função de tutor foi nomeado o tio, o Dr. Manoel Joaquim Marreiros. Dona Joana, por sua vez, interessada em arrematar os bens dos filhos, entrou com o requerimento pedindo autorização para o juiz de órfãos. Segundo suas próprias palavras, os bens estavam colocados em praça e, como seria “grande o prejuízo” caso fossem “desunidos”, era pretensão da suplicante “rematar a totalidade da meação dos bens”, pois “conservando-se juntos prometem mais segura subsistência e manutenção para os mesmos órfãos sem deterioração de suas pequenas legítimas”. Em contrapartida, ela se obrigava a sustentar seus filhos “enquanto não forem hábeis a receber as suas respectivas partes”, alimentando-os, curando-os e fazendo “todas as despesas necessárias para a criação e honesta educação dos mesmos órfãos"263.

Os bens pertencentes a esse casal eram constituídos de muitas joias, louças, quadros, liteira, moradas de casa e 40 escravos que, somados, alcançaram o valor de 9:862$341. Por causa disso, para os interesses desta pesquisa, entendemos que esse casal fazia parte do grupo 1 – maiores patrimônios. Em resposta ao desejo manifestado pela viúva de comprar a parte que cabia aos filhos, o tutor concordou e declarou ainda que permitia tal transação em decorrência da “reconhecida capacidade da suplicante".

Mas, se a possibilidade de arrematação não era uma realidade vivenciada por todas as mulheres, havia ainda aquelas que buscavam outras formas de manter todos os bens nas mãos de seu grupo familiar. Estamos nos referindo aqui àquelas mulheres que entraram com requerimentos solicitando que os bens não fossem arrematados. Ao menos duas mulheres no grupo 2 – patrimônios intermediários – fizeram esse tipo de pedido.

Dona Teresa Emerenciana Pereira, por exemplo, era viúva do Alferes Antônio Rodrigues Pereira Taborda, do qual teve dois filhos. O tutor dos órfãos era o Ajudante Miguel Dionizio Vale, que assinou o termo em 1809. Conforme requerimento feito pela viúva e existente no inventário do falecido, ela, enquanto “cabeça do casal”, havia sido citada para colocar em praça os bens de seus dois filhos, bens que deveriam ser vendidos e seu produto recolhido no cofre do juízo. Entretanto, para a viúva, ainda que

182 isso fosse “conveniente há justa causa noutras circunstâncias”. De acordo com a suplicante, tal procedimento só iria empobrecer mais o casal, “se ele ainda mais pobre pode ser” e, sendo assim, entendia que era mais justa a conservação dos bens, pois eram pessoas “nobilitadas, seguem os estudos e não tem outra renda, nem lhes chegaria para nada o juro do produto”. Diante desses argumentos, ela “implorava a piedade e justiça” do juiz de órfãos para que a venda fosse suspensa e que todos os bens fossem conservados no governo da suplicante, o que foi atendido pelo magistrado264.

Se os pedidos como esse feito por Dona Teresa acabavam possibilitando que os bens dos menores fossem mantidos no seio da família, outras práticas, como já destacamos, acabavam produzindo o mesmo efeito. Houve, por exemplo, alguns casos em que as mulheres compravam a parte que pertencia ao marido antes que estes falecessem. Identificamos essa prática nos três grupos analisados. Entretanto, ela foi mais comum entre as mulheres do grupo 1 —maiores patrimônios —, em que três delas declararam que haviam se tornado proprietárias da parte que cabia aos maridos. Já nos outros dois grupos, identificamos apenas um caso em cada um deles.

Apesar dessa pequena quantidade, entendemos que esse tipo de prática poderia ser importante para algumas mulheres, porque a possibilidade da manutenção do conjunto dos bens não dependia mais da aprovação dos juízes de órfãos. Por outro lado, a documentação confirmou um aspecto já destacado: que essas mulheres, ao realizarem esse tipo de transação, acabavam assumindo o compromisso de sustentar, educar e cuidar dos órfãos. Além disso, que a partilha das posses ficava apenas para depois da morte da mulher, garantindo assim o conjunto dos bens para a manutenção da família.

Finalmente, houve algumas mulheres que se tornaram depositárias dos bens de seus filhos. Tal situação ocorria principalmente quando os bens de raiz não eram rendosos ou eram de pouca monta impedindo a divisão265. João Mendes de Matos

Teodoro, por exemplo, era tutor dos órfãos do falecido José Rodrigues da Silva, pertencente ao grupo 3 – menores patrimônios. Segundo a sua declaração, todos os bens estavam com a viúva – Brígida Francisca de Lima – e eles eram constituídos apenas de um pequeno rancho, poucas cabeças de gado, alguns trastes de casa e um

264 Inventário de Antônio Rodrigues Pereira Taborda. AHMINC/IBRAM. 2º Ofício, códice 01, Auto 08,

1809, fl. 29.

265 Explicamos no capítulo 2 que os bens imóveis não eram colocados em praça. Eles deveriam ficar sob a

responsabilidade do tutor, que era obrigado a apresentar os rendimentos que porventura houvesse na prestação de contas da tutoria, e esses lucros eram posteriormente colocados no cofre do juízo.

183 escravo. Como essas posses não rendiam nada, elas foram entregues para a viúva no intuito de ajudá-la com as despesas266.

Micaela dos Anjos Gonçalves Lima, por sua vez, havia sido contratada pelo inventariado Florêncio José Ferreira Coutinho para cuidar de suas duas filhas naturais e, mesmo depois do falecimento dele, consta no inventário que as meninas continuaram com a cuidadora. Como elas eram menores, foi necessária a nomeação de um tutor. Francisco Ferreira Coutinho, que era tio das duas órfãs, assinou o termo em 1820. Apesar dessa nomeação e da relação de parentesco existente entre o tutor e as meninas, há a menção no inventário de que Micaela se tornou a “fiel depositária dos bens”, não ocorrendo a partilha de um monte que tinha alcançado o valor de 176$310267.

Como vimos a partir da documentação, esse tipo de prática – tornar a mulher a fiel depositária – era mais comum no grupo 3 – menores patrimônios. Acreditamos que isso se devia à própria realidade vivenciada por este grupo, que teoricamente precisava encontrar meios para a sobrevivência; e separar os bens ou vendê-los só aumentaria as dificuldades dessas famílias. Por outro lado, a maioria dessas mulheres não teria condições de arcar financeiramente com outra prática, como por exemplo, a compra dos bens.

De qualquer modo, independentemente das ações promovidas pelas mulheres e do fato de que algumas dessas práticas foram mais comuns em grupos sociais específicos, podemos dizer que elas acabavam desonerando o tutor. E, em nosso entendimento, isto acabava sendo interessante para os homens, que se tornavam uma espécie de “fiscais” das ações femininas. Já para as mulheres, determinadas práticas existentes nos inventários revelaram-se como uma oportunidade para uma maior participação das mesmas na educação e administração de seu grupo familiar.

Para além dessa questão, acreditamos que, quando existiam atitudes como essas apresentadas acima, as mulheres aumentavam seus espaços de manobra, especialmente na administração dos bens. Entretanto, mesmo entre aquelas a respeito das quais não identificamos nenhuma prática de natureza semelhantes àquelas mencionadas, ainda assim havia possibilidades de participação.

Estamos dizendo isso porque mesmo aquelas que não buscaram assumir a posse dos bens “legalmente” ainda assim tiveram oportunidades de intervenção, especialmente na educação e criação dos órfãos. Afinal, como já apontado anteriormente, de um total de 54 mulheres, ao menos 48 (88,88%) estavam com os

266 Inventário de José Rodrigues da Silva. AHMINC/IBRAM. 1º Ofício, códice 81, Auto 989, 1817. 267 Inventário de Florêncio José Ferreira Coutinho. AHMINC/IBRAM. 1º Ofício, códice 54, Auto 644,

184 menores — número muito maior do que aquelas que buscaram formas de tomar posse dos bens dos órfãos.

O compartilhamento das obrigações referentes à tutoria acabava tomando contornos particulares, conforme o tutor e a mulher envolvida, além da necessidade vivenciada. Analisando a documentação foi possível perceber que alguns homens dividiam com as mulheres as mais diferentes tarefas, como, por exemplo, a prestação de contas da tutoria ou a definição dos investimentos com vestuário, alimentação e, especialmente, a educação dos menores, dentre outros. Em outros termos, podemos dizer que ocorreu inclusive uma sobreposição de papéis tornando algumas ações, que porventura fossem entendidas de apenas uma das partes, tarefa dos dois.

A parceria estabelecida entre Dona Teresa de Jesus e o padre Antônio Ribeiro de Azevedo é um bom exemplo dessa divisão e sobreposição das tarefas. Dona Teresa era viúva do Tenente José Francisco de Sá Mourão, de quem teve cinco filhos, todos menores quando seu marido faleceu. O casal era proprietário de terras de mineração, alguns bens de raiz, joias, certos trastes de menor valor e mais 14 escravos que, em seu conjunto, foram avaliados em 9:130$622, permitindo que esta família fosse classificada como pertencente ao grupo 1 – maiores patrimônios.

Pelos indícios presentes no inventário, acreditamos que a “sociedade” entre Dona Teresa e o tutor, o padre Antônio, foi previamente acordada. O mencionado padre assumiu a função depois que Dona Teresa pediu ao juiz de órfãos que o primeiro tutor nomeado – o Tenente Diogo da Silva Ribeiro – fosse destituído do cargo por não atender a alguns requisitos importantes, na avaliação da viúva268. Segundo a declaração de

Dona Teresa, o padre, “para a beneficiar e favorecer a seus filhos, se ofereceu” para assumir a tutoria. Ela, por seu turno, entendia que o mesmo tinha todas as qualidades para ser tutor, situação que lhe traria “grande felicidade”, pois, além de ser um “sujeito de toda abonação”, ele tinha “capacidade e parentesco espiritual como compadre”. Sendo assim, ele assinou o termo em 1784269.

A partir daí, os vestígios deixados revelaram uma parceria que ao que parece deu certo. Seguindo os mesmos moldes vivenciados nesses tipos de “arranjos”, Dona Teresa ficou responsável pela criação e educação dos órfãos, mantendo os filhos sob seus cuidados, enquanto o tutor respondia pelas questões legais. Entretanto, além de vivenciarem essa espécie de combinado que, como já destacamos, foi bastante comum, vimos que essa “divisão” nem sempre foi respeitada, pois a viúva se fez presente em várias situações de contato com a justiça.

268 Trataremos sobre esse aspecto mais à frente quando faremos algumas considerações sobre as parcerias

que não deram certo.

185 Citemos aqui dois exemplos. O primeiro deles foi o consentimento por parte da viúva dos pagamentos feitos pelo tutor, aprovação que Dona Teresa teve que fazer na presença do juiz de órfãos e através de termo assinado. Já o segundo foi a prestação de contas que foi dada pelo padre e a viúva no ano de 1785. Nestas contas, além do reconhecimento dos gastos a partir da assinatura de ambos, consta que foram eles que venderam um cavalo ou que os dois haviam feito a cobrança dos devedores, dentre outras ações. A demonstração dessa união, em nosso entendimento, parecia buscar, de um lado, uma forma de dar mais veracidade para as informações prestadas, como uma tentativa de manifestar que os gastos e investimentos realizados foram necessários na opinião de ambas as partes. Mas, ao mesmo tempo, revelava que, em alguns momentos, ocorria uma sobreposição de papéis, pois a viúva se fez presente em situações que teoricamente eram de responsabilidade apenas do tutor.

Além de situações como essa apresentada, os inventários revelaram outras práticas em que as parcerias estabelecidas pareciam ser marcadas por um jogo que a todo instante era acionado conforme os interesses existentes. Esse parece ser o caso quando analisamos, por exemplo, os pedidos de dinheiro para custear os gastos feitos com os órfãos.

Como destacamos no capítulo anterior, as Ordenações Filipinas estabeleciam que o lucro da venda dos bens móveis e provenientes dos bens imóveis que ficavam sob a responsabilidade do tutor deveria ser colocado no cofre do juízo. Parte desse dinheiro seria utilizado para o sustento do menor, o que incluía: alimentação, vestuário e os gastos com ensino e saúde. Era dever do juiz de órfãos estabelecer a quantia que seria usada para isso, mas, como ressaltamos, isso nem sempre acontecia. E, mesmo nos casos em que determinado valor já tinha sido fixado pelo juiz, parecia que na prática a entrega do dinheiro não ocorria de maneira automática. Em decorrência disso, temos vários casos em que o tutor ou as mulheres entraram com uma solicitação do dinheiro existente no cofre para o sustento dos menores.

Os pedidos feitos acabaram manifestando alguns aspectos. Primeiramente, que, em muitos casos, eram as mulheres que terminavam assumindo as custas, o que, entendemos, revelava a frente ocupada por elas que, em virtude da urgência vivenciada, não tinham condições de esperar as liberações das autoridades para manter os órfãos. A já mencionada Maria Francisca da Cruz, por exemplo, estando com o filho em sua companhia, declarou em requerimento feito no ano de 1788 que desde 1784 o juiz havia estabelecido uma quantia de 15 oitavas anuais para o sustento do órfão. Entretanto, ressaltou que esse valor lhe havia sido dado apenas no primeiro ano, e,

186 desde então, era ela quem estava “alimentando, vestindo e trazendo [o filho Boaventura] na escola a sua própria custa com a ajuda de seu irmão” Felipe Rodrigues de Souza270.

Ao longo do inventário há diversos requerimentos da mãe do menor trazendo a mesma solicitação e, do mesmo modo, a informação de que era ela quem arcava com os custos, já que aquele auxílio que havia sido determinado pelo juiz nunca lhe era entregue. Acompanhando o percurso percorrido por essa mãe através desses requerimentos, observamos que de 1784 até 1799, ano do último pedido, sempre que a mesma entrava em contato com a justiça, alguma quantia lhe era dada pelo tutor. Entretanto, o valor era sempre menor do que aquele estipulado, o que representava dois aspectos: primeiro que essa mãe, não sendo reembolsada de maneira integral, acabava assumindo de modo efetivo parte dos custos que certamente não estavam nos seus planos. Ao mesmo tempo, que ela precisava acionar suas redes de sociabilidade, a começar pelo irmão, para conseguir cumprir o seu papel de responsável pela manutenção e educação do filho.

A dificuldade de recebimento de dinheiro e a consequente admissão dos custos não era uma especificidade das mães. Paula da Costa Guimarães, em requerimento apresentado no ano 1817, declarou que havia sido contratada pelo tutor – Manoel Dias Monteiro – para cuidar dos órfãos do Alferes Antônio Lopes de Oliveira, pertencente ao grupo 2 – patrimônios intermediários. De acordo com essa cuidadora, no contrato ficou estabelecido que ela deveria levar os órfãos para sua companhia, sustentando-os e curando-os em suas doenças. Tal ajuste havia dado certo até o ano anterior, quando o mencionado tutor parou de assistir com o necessário. Ela, por sua vez, estava arcando

No documento Belo Horizonte, 13 de fevereiro 2017 (páginas 179-195)