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In IV CONGRESSO DAS MISERICÓRDIAS, Lisboa, 1959 C actas do IV Congresso das Misericórdias Lisboa, 1959 p 54C63.

585A Misericórdia tinha um hospital subCregional, cujas novas instalações tinham sido inauguradas em 1957, graças às doações de proprietários rurais e à comparticipação do Estado. A capacidade era de cinquenta e três camas de internamento divididas entre obstetrícia, internamento homens e mulheres e quartos particulares. Além dos serviços de internamento e serviço de cirurgia, tinha ainda a funcionar um dispensário consulta, consulta externa e tratamento e serviço de urgência durante vinte e quatro horas. in Apontamento feitos a propósito da vinda a Alcácer do Sal de um grupo itinerante de estudos sobre a administração da saúde pública da Organização Mundial de Saúde, em 24 de Abril de 1958: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE ALCÁCER DO SAL C U J

J O 1 Alcácer do Sal: Santa Casa da Misericórdia de Alcácer do Sal, 1958. 586 Entrevista a Nazaré Graça

587 Apontamento feitos a propósito da vinda a Alcácer do Sal de um grupo itinerante de estudos sobre a administração da saúde pública da Organização Mundial de Saúde, em 24 de Abril de 1958: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE

ALCÁCER DO SAL C U J J O 1 Alcácer do Sal:

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outros técnicos, inadequados equipamentos e instalações, escassez de recursos financeiros e falta de preparação técnica dos seus profissionais.588

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Fonte: Foto de Américo Ribeiro.

Muitas das Misericórdias, devido à exiguidade de recursos, tentavam que ordens religiosas femininas garantissem os cuidados de enfermagem nos seus hospitais, a baixo custo, com a vantagem de que estas religiosas garantiam também outros serviços, como a gestão efetiva dos hospitais.589

Nas Misericórdias, a falta de enfermeiros obrigavaCos a fazerem horas suplementares sem qualquer remuneração. Adriano Campos, que iniciou a sua vida profissional como enfermeiro na

Misericórdia de Braga, relata que : + $ 8 %

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&C;B Nazaré Graça reforça a propósito que: $

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588 SAMPAIO, Arnaldo C $ < 2 . In IV

CONGRESSO DAS MISERICÓRDIAS, Lisboa, 1959 C actas do IV Congresso das Misericórdias. Lisboa, 1959. p. 293C 299 e NINA, Cristiano – < ) D 1 In IV CONGRESSO DAS MISERICÓRDIAS, Lisboa, 1959 C actas do IV Congresso das Misericórdias. Lisboa, 1959. p. 300C317

589 SILVA, Maria Helena Ferreira da Silva C Do curandeiro ao diplomado: história da profissão de enfermagem em Portugal (1886C1955). Braga: Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho. 2010. Tese de doutoramento em História Contemporânea.

590 Entrevista a Adriano Campos. 591 Entrevista a Nazaré Graça.

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Os baixos salários pagos aos profissionais de saúde não contribuíam para que se conseguissem alocar os recursos humanos tecnicamente exigidos. Em 1931 uma enfermeira recebia 40$00 mensais, enquanto, no mesmo ano, um barbeiro recebia 50$00. Também alguns provedores estavam conscientes destas debilidades, pois confessavam estarem estas instituições com tais dificuldades financeiras que os poucos recursos não lhes permitiam “ 8

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Para além dos cuidados hospitalares, as confrarias desenvolveram a sua ação através de dispensários maternoCinfantis, lactários, dispensários e consultas para tuberculosos, creches, escolas, consultas e tratamento domiciliário para doentes pobres. No exercício da assistência aos mais desfavorecidos, até pela sua dimensão em termos de recursos, destacouCse a ação das Misericórdias de Lisboa, Porto e Braga, que chegaram a ter escolas de Enfermagem.

Pioneira na assistência maternoCinfantil, a Misericórdia de Lisboa foi também a primeira instituição a introduzir no nosso país a vacinação antivariólica em crianças e a criar lactários e subsídios para aleitamento a mães carenciadas, ainda no século XIX.593

Com a reorganização dos seus serviços, em 1942, foiClhe delegada a responsabilidade pela assistência à maternidade e infância na cidade de Lisboa. Em 1943, dirigia seis dispensários e uma casa de consulta, situados no Largo Trindade Coelho, na Calçada da Tapada, na Rua de Santa Marta, no Campo de Santa Clara, na Estrada de Benfica e na Ajuda, além de lactários e serviços de saúde para adultos carenciados.594 Já nos anos sessenta cabiaClhe garantir e coordenar, em Lisboa, a assistência à família, à infância, à maternidade e assistência farmacêutica, além de deter alguns serviços hospitalares e de reabilitação.595

Foi também a Misericórdia de Lisboa que liderou, desde o final dos anos cinquenta do século XX, o movimento de criação de centros de saúde na capital, projeto encabeçado pelo seu provedor à época, o Dr. José Guilherme de Mello e Castro, que tinha anteriormente exercido o cargo de Subsecretário de Estado da Assistência Social.596 Em 1963, a par dos seus dispensários

592 PALMEIRO, Joaquim Augusto Saraiva C K 2 L J 1 In IV CONGRESSO DAS MISERICÓRDIAS, Lisboa, 1959 C actas do IV Congresso das Misericórdias. Lisboa, 1959. p. 64 – 68.

593 SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA C A.A L ( ) +A,@/+,.-. Lisboa: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, [sem data].

594 DECRETO Nº 32255. “Diário do Governo. Série I.” 214 (1942C09C12) 1173C1178.

595 SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA C A.A L ( ) +A,@/+,.-. Lisboa: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, [sem data].

596 BRAGA, Moreira C D D & K

( 1 In IV CONGRESSO DAS MISERICÓRDIAS, Lisboa, 1959 C actas do IV Congresso das Misericórdias. Lisboa, 1959. p. 335C342.

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maternoCinfantis, dos serviços de saúde domiciliários, dispensários clínicos e postos farmacêuticos, inaugurou o Centro de Saúde e Assistência Dr. José Domingos Barreiros, para servir uma população de 50 mil habitantes. Este Centro de Saúde prestava cuidados de saúde a adultos, assistência à maternidade, à infância e à família. Nem as várias alterações políticas e legislativas interromperam a sua atividade assistencial.597

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Para além das instituições que temos vindo a apresentar muitas outras, também privadas, se desenvolveram durante o Estado Novo. Desde o exemplo de empresários industriais, que criaram para a assistência aos seus empregados e famílias serviços de saúde específicos, até à iniciativa de particulares. A intervenção solidária na saúde e assistência foi um campo de ação essencialmente feminino, como bem sublinham Irene Pimentel e Anne Cova.598

Se o investimento público na saúde não correspondia às reais necessidades, é contudo de destacar o empenho de organizações femininas públicas e privadas que pretendiam colmatar as necessidades na área. TratouCse, segundo Irene Pimentel, de uma elite incentivada pelo Estado Novo, que acabou por servir os interesses do regime.599 A Organização das Mães para a Educação Nacional (OMEN), a Mocidade Portuguesa Feminina e associações da Igreja Católica são exemplos dessa intervenção, mas existiram muitos, nomeadamente através de atividades individuais. Um exemplo disso mesmo foi o de Sílvia Cardoso Ferreira da Cunha, de Paços de Ferreira. A ela se deve a fundação do Hospital da Misericórdia de Paços de Ferreira na primeira década do século XX e também, na mesma localidade, de uma creche para crianças pobres em 1921.Já durante o Estado Novo continuou a sua ação de beneficência/assistência através de instituições de acolhimento para crianças órfãs e/ou abandonadas em Espinho, Amadora, Barcelos, Penafiel e Porto. Subsidiou também Sopas dos Pobres e contribuiu para a criação de dispensários maternoCinfantis.600

Sofia de Mello Breyner Andresen na década de 1960, caricaturava de forma bastante assertiva o envolvimento destas mulheres através do exemplo de )" a:

597 SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA C A.A L ( ) +A,@/+,.-. Lisboa: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, [sem data].

598 PIMENTEL, Irene Flunser – < K 2 T V 3 D 1 Lisboa: Temas e Debates, 2001; COVA, Anne; PINTO, António Costa – O Salazarismo e as Mulheres: uma abordagem comparativa. Penélope. 17 (1997) 71C94.

599 PIMENTEL, Irene Flunser – 2 ) 3 D . Lisboa: Círculo dos Leitores e Temas e Debates, 2011.

600 CAMARA MUNICIPAL DE PAÇOS DE FERREIRA C K 1 D * D )

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Este texto, era uma crítica violenta. Mas era inquestionável, no entanto, o facto das más condições de trabalho e os baixos salários colocarem em risco a sobrevivência dos trabalhadores e das suas famílias602, colocandoCas à mercê do apoio caritativo.

Não podendo este estudo abarcar todo o trabalho desenvolvido pelas instituições privadas não lucrativas, que trabalharam neste contexto, optouCse pela referência a algumas que se destacaram pela inovação. Muitas delas humanizaram, dignificaram e transformaram a vida das pessoas a quem deram apoio.

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A obra social e de saúde desenvolvida por Bissaya Barreto no distrito de Coimbra, desde a década de 1930 até à sua morte, e prolongada pela ação da sua Fundação, é um exemplo da tenacidade de um homem que estava empenhado em difundir os seus ideais humanistas. Bissaya Barreto detinha os diplomas de Filosofia, Matemática (engenharia) e Medicina pela Universidade de Coimbra. Foi líder dos estudantes republicanos na mesma cidade e deputado à Assembleia durante a Primeira República entre 1911 e 1915, tendo ingressado nessa altura na maçonaria.603 Desiludido com a política604, optou pela carreira académica e pelo exercício da cirurgia em Coimbra, ingressando como professor na Faculdade de Medicina com apenas 28 anos. Rico e reconhecido, tornouCse o maior benemérito do distrito e grande defensor dos princípios higienistas e de saúde pública, com especial relevância para a defesa da saúde e bemCestar das crianças. Amigo próximo de Salazar, apesar de ser vigiado de perto pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), foi das mais influentes personalidades do Estado Novo. Jorge Pais de Sousa vê neste relacionamento do médico com o ditador uma % & que permitiu a Bissaya Barreto

601 ANDRESEN, Sofia de Mello Breyner C F 1 3ª edição. Lisboa: Contemporânea/Portugália, 1970, p.115 e 119.

602 SOUSA, Jorge Pais de C " G " / 2 . Coimbra: Minerva, 1999. 603 ARNAUT, António C Q & 1 5ª ed.. Coimbra: Coimbra Editora, 2006.

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desenvolver a sua obra social.605 Figura contraditória, era politicamente tolerante e gozava da amizade de vários opositores ao regime, a quem várias vezes protegeu606.

Usando da sua influência e dos seus bens, convocou amigos, conhecidos e a sociedade em

geral para a sua causa, pois 0+ $ +

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& 607 Presidente da Junta Geral do Distrito de Coimbra de 1927 a 1936 e da

Junta de Província da Beira Litoral desde 1937 até 1959, afirmou que no desempenho dos seus

cargos o guiaram duas estrelas: 6 6 &:BE

Sob a sua presidência, e por sua iniciativa, a Junta de Província da Beira Litoral fundou no distrito de Coimbra sanatórios para tuberculosos e dispensários concelhios antituberculosos. Em Coimbra ergueu um dispensário central, um dispensário de profilaxia das doenças venéreas, a Delegação do Instituto Maternal, jardinsCdeCinfância, colónias de férias, escolas, maternidade, bairros sociais e asilos. A sua ação estendeuCse também aos distritos de Leiria e Aveiro, com a criação de jardinsCdeCinfância, escolas e asilos609. Foram também de sua iniciativa o estabelecimento da Escola Normal Social de Coimbra, para formação de assistentes sociais, e os cursos de enfermeiras puericulturas do IM na mesma cidade.610Era seu propósito que as experiências implementadas em Coimbra, servissem de "

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e, por um lado, não hesitava em pedir a Salazar apoio para as suas obras, também não

coibia de denunciar a falta de colaboração quando não lhe eram dados os meios para as desenvolver. FêClo por exemplo num evento público, referindo que a obra feita em Aveiro era muito

modesta, porque $ $ % !

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605 Idem.

606 SOUSA, Jorge Pais de C " G " / 2 . Coimbra: Minerva, 1999.

607 BARRETO, Bissaya C # K D C D " ( 1 Coimbra: Junta de Província da Beira Litoral, 2 de Dezembro de 1940.

608 BARRETO, Bissaya C 3 < 2 D D b &

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de Província da Beira Litoral, Dezembro de 1959. 609 Idem.

610 PEDROSA, Aliete – A Enfermagem Portuguesa: Referências Históricas. Referência. 11 (Março de 2004) 69C78.

611 BARRETO, Bissaya C 3 < 2 D D b &

C D " ( F 1 Coimbra: Junta

de Província da Beira Litoral, Dezembro de 1959. 612 Idem.

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A sua preocupação, expressa múltipla vezes, era a prestação de cuidados de qualidade que integrassem as questões técnicas e uma assumida ideologia éticoCmoral que privilegiava o respeito pelos mais vulneráveis, o cumprimento escrupuloso dos deveres profissionais e as preocupações educativas.613 Em 1964 o Ministério da Saúde e Assistência fundou o Centro de Saúde MaternoC Infantil do Doutor Bissaya Barreto,614 dependente do Instituto Maternal, mas com uma ampla autonomia e integrou nele a maior parte das instituições de assistência à grávida e criança criadas pelo médico. Após a sua morte, em 1974, os seus bens reverteram para uma fundação que continuou a sua obra assistencial.

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O Centro de Enfermagem de Assistência à Maternidade e à Infância foi fundado em 1945 por Sofia Abecassis, assente num modelo assistencial inspirado na experiência do Centro de Saúde de Lisboa. À data da sua fundação, integravam o seu Conselho Técnico, além da fundadora, dois elementos da equipa do Centro de Saúde de Lisboa, o seu diretor João Maia de Loureiro e a enfermeira Tito de Morais, além de uma outra enfermeira, Fernanda Alves Diniz e um pediatra,

Moreira Braga. O objetivo da instituição era % -

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Para esta instituição privada contribuíam vários benfeitores, subscrevendo uma quotização anual. A partir de 1948, o Estado atribuiClhe, um subsídio do Fundo de Socorro Social, que se caraterizava pela irregularidade com que era pago. De 1948 a 1951, o subsídio desceu de 40 000$00 para 15 000$00.616 AcrescenteCse que Sofia Abecassis tinha enfrentado sérias dificuldades na concretização do seu desejo de construir este centro.617

Esta era uma instituição de assistência e beneficência que vivia da boa vontade da sua fundadora e dos seus colaboradores. Das suas atividades fazia parte, a prestação de cuidados de saúde médicos e de enfermagem às grávidas e crianças, incluindo vacinação, saúde ocupacional de grupos específicos, saúde oral, visitação domiciliária de enfermagem, cuidados de enfermagem

613 Preocupações claramente colocadas por Bissaya Barreto em vários discursos e obras publicadas. 614 DECRETOCLEI Nº 45591. “Diário do Governo”. Série I.” 53 (1964C03C03) 380C382.

615 LOUREIRO, João Maia de C Finalidades e directrizes. In CENTRO DE ENFERMAGEM DE ASSISTÊNCIA À MATERNIDADE E À INFÂNCIA C # K D +,A./+,A?1 Lisboa, 1949. p.13C14.

616 CENTRO DE ENFERMAGEM DE ASSISTÊNCIA À MATERNIDADE E À INFÂNCIA C # K D +,A,/+,R+1 Lisboa, 1949.

617 GARCIA, Maria Gabriela Mouga Fernandes C Visita domiciliária ontem e hoje : aptidão de enfermeiros e médicos um estudo exploratório. Lisboa: Univ. Cat. Portuguesa. 1995. Tese de Mestrado em Ciências de Enfermagem.

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curativos e saúde mental infantil, atividade chefiada por João dos Santos, um inovador pedopsiquiatra.

Foi também um centro de estágio privilegiado para estudantes da Escola Técnica de Enfermeiras e da Escola de Enfermagem de S. Vicente de Paulo. Contou também com o trabalho de um grupo de voluntárias que apoiaram as atividades das enfermeiras nas tarefas administrativas e de apoio.

A área de influência do centro correspondia a parte das atuais freguesias do Santo Condestável e de Santa Isabel em Lisboa e até as pessoas que eram seguidas por médico privado poderiam recorrer aos serviços de enfermagem do centro. Isto era considerado pelas enfermeiras bastante positivo, pois proporcionava o estabelecimento de contacto entre pessoas com diferentes

níveis de vida, , &:/E

RefiraCse ainda a prática inovadora para a época dos registos médicos e de enfermeira no processo do utente, uma rotina difícil de implementar nos centros de saúde, após 1974.619

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Fonte: Documento cedido por Isabel Azevedo Costa.

A instituição foi dirigida durante muitos anos por uma enfermeira, Rosélia Ramos, que após o curso de visitadora sanitária fez o Curso de Enfermagem na Escola Técnica de Enfermeiras e a pósCgraduação em Enfermagem de Saúde Pública nos Estados Unidos. Discípula de Palmira Tito de Morais e de Maria Monjardino, Rosélia Ramos marcou a vida e a intervenção comunitária do

618 CENTRO DE ENFERMAGEM DE ASSISTÊNCIA À MATERNIDADE E À INFÂNCIA C # K D +,A,/+,R+1 Lisboa, 1949. p. 45.

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Centro, de tal forma, que, muitos profissionais o denominavam o “4 3" "& diminutivo pelo

qual era conhecida.620 Depois de demoradas negociações, o Centro foi cedido ao Ministério dos Assuntos Sociais, após 1974, com a condição de continuar a prestar cuidados de saúde às mulheres e às crianças. Veio a tornarCse no Centro de Saúde Sofia Abecassis.

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A Fundação Nª Sr.ª do Bom Sucesso foi fundada em 1951 e teve os seus estatutos publicados em sete de Março do mesmo ano. O mentor do projeto e seu principal benfeitor foi Manuel Queiroz Pereira, que se rodeou de um conjunto de profissionais de saúde que incluíam, como membros do Conselho Técnico médicos como José Cutileiro, que foi diretor do Centro de Saúde de Lisboa após a morte de João Maia de Loureiro, Castro Caldas, Mário Cordeiro e Ducla Soares, além das enfermeiras de saúde pública Mello Correa e Louise da Cunha Telles, professoras da Escola Técnica de Enfermeiras, e a enfermeira Alves Diniz.

Desde a sua fundação o seu objetivo foi a assistência às grávidas, mães e crianças da freguesia de Belém, mais propriamente da área residencial do Restelo, na forma de assistência médica, farmacêutica e alimentar das crianças até ao ano de idade, tendo sido posteriormente alargada a assistência a crianças até aos seis anos. O trabalho era essencialmente desenvolvido pelas enfermeiras que se constituíram como elemento pivô na instituição. A equipa iniciouCse com médicos obstetras, pediatras e enfermeiras, mas na década seguinte integrava já um psiquiatra e um epidemiologista, nos anos 70 contava também com um sociólogo, oftalmologistas, otorrinolaringologistas, estomatologistas e um cardiologista pediátrico.

Ao mesmo tempo, as atividades e programas diversificaramCse, passando a integrar em 1970, os programas de saúde da visão, saúde mental, planeamento familiar, ortodôncia e outros. 621

A Instituição, cuja presidente do Conselho de Administração foi durante muitos anos a Enfª Louise Cohen da Cunha Telles, foi espaço privilegiado para estágio de médicos e enfermeiras e exemplo de uma forma diferente de organizar a prestação de cuidados de saúde não hospitalares. Os cuidados de Enfermagem foram organizados por área geográfica e por enfermeiro responsável,

620 Entrevista a Fernanda Dias.

621 FUNDAÇÃO NOSSA SENHORA DO BOM SUCESSO C R0e D U * J " 1 Lisboa, 2001.

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que assegurava a ligação entre os vários profissionais de saúde e a proximidade quer às famílias, quer às instituições comunitárias, desde as escolas às IPSS e ONG.

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Jean Watson622

Após termos sublinhado a forma como no Estado Novo surgiram e se organizaram os serviços de saúde de cuidados de proximidade, num processo que entrecruzou ideologias, poderes, conhecimentos e política de saúde, com especificidades próprias, alargamos agora o nosso olhar sobre a enfermagem comunitária procurando clarificar as suas origens, percursos e práticas e o modo como o processo evolutivo dos cuidados de proximidade foi vivenciado pelas enfermeiras neste espaço temporal.

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A prática dos cuidados de enfermagem confundeCse com a história das mulheres e é, provavelmente, uma das mais antigas ocupações femininas.623 Colliére afirma que, desde a sua origem, a enfermagem foi um saber dominado por mulheres dirigido essencialmente aos mais fracos e excluídos624. Na Europa, foram as mulheres, especialmente as consagradas que, nas ordens religiosas desempenharam um papel de relevo, embora discreto, na prestação de cuidados aos doentes e pobres. Vários autores são unânimes em considerar que até ao final do século XIX, no mundo ocidental, a enfermagem era, essencialmente, ocupação de religiosas, sendo a função negativamente considerada quando era remunerada.625 A falta de conhecimentos, a negligência e o baixo nível social do pessoal de enfermagem não religioso, são retratados por Dickens nos seus

622 WATSON, Jean – 3 2 ) L < 3 2 1 Loures: Lusociência, 2002. p.88.

623 COLLIÉRE, MarieCFrançoise – D : 1 Lisboa: Lidel, 1999.

624 Idem e NUNES, Lucília C $ J ) 3 2 2 M+@@+/+,,@N1 Loures: Lusociência, 2003.

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romances, atravessando todos os países e influenciaria negativamente a imagem das enfermeiras laicas.626 É nos finais do século XIX, graças à ação de Florence Nightingale, que a enfermagem deu os primeiros passos em torno da organização profissional e formativa, mantendo, no entanto, uma dupla filiação, religiosa (voltada para um ideal, uma vocação, atendendo à herança religiosa da profissão) e técnica, essencialmente voltada para o cumprimento das solicitações médicas, numa clara submissão à autoridade médica. 627

Nascida em 1820, Florence Nightingale foi uma mulher de cultura notável, educada num ambiente liberal e de fortes princípios religiosos. Aos 30 anos decidiu dedicar a sua vida à enfermagem e assumiu funções como enfermeira superintendente num pequeno hospital em Londres. Em 1854 ofereceuCse como voluntária para a Guerra da Crimeia e foi nomeada para organizar e chefiar os serviços de enfermagem dos hospitais militares na Turquia. Com a equipa de enfermeiras que a acompanhava conseguiu diminuir significativamente a mortalidade nos hospitais militares. Os relatórios que elaborou tornaramCse documentos relevantes para a consciencialização da necessidade de alterar as condições ambientais e de assistência nos hospitais militares.628 Foi recebida no final da guerra como heroína, passando a ser conhecida como “Dama da Lâmpada” ou “Anjo da Crimeia”. Este ideal romântico vitoriano ia ficar associado à imagem da enfermeira.

Com a ajuda de donativos da população britânica, em 1860 Florence Nightingale fundou, a