• Nenhum resultado encontrado

As atas das reuniões pedagógicas intermediárias realizadas pelo Núcleo de Gestão Pedagógica do Campus Colatina, nos períodos de 2010/2, 2011/1, 2011/2 e 2012/1 possibilitaram traçar um perfil da turma pesquisada. Os depoimentos dos alunos ratificaram a sugestão por parte do professor e da pedagoga para a escolha da turma, tanto em relação à troca de professores quanto à dificuldade com a disciplina Matemática.

Na época, a pedagoga já solicitava que as ementas das disciplinas fossem revistas. No 1º período do curso, em 2010/2, apesar de os professores da turma NXX ressaltarem o potencial de desenvolvimento da turma, eles estavam atentos para as dificuldades apresentadas em relação à escrita e interpretação de texto.

A professora M salientou que os alunos não conseguem deduzir um texto, apresentam dificuldade extrema de interpretação. O Coordenador do Curso sugeriu que se eles fossem avaliados oralmente seria melhor, pois apresentam problemas com a escrita. (ATA 2010/2)

Os alunos relatavam muita dificuldade na disciplina Matemática devido à troca constante de professores, “temos dificuldades de aprendizagem na matéria. São

vários professores com explicações diferentes. Estamos confusos, não temos condições de fazer as atividades”. (ALUNA C)

No 2º período, apesar de ter como características responsabilidade e bom relacionamento com os professores, a turma é caracterizada como faltosa e “fraca

de conteúdo”. A dificuldade na disciplina Matemática se mantém, “a turma NXX está

sentindo dificuldade de assimilação de conteúdo e não compreende a explicação” (PROFESSOR D). O professor representante da turma dando voz à reclamação dos

alunos registra que

os alunos relataram que apresentam muita dificuldade de aprendizagem em relação a todas as disciplinas além de trabalharem e estudarem. Enfatizaram que o PROEJA precisa de metodologia diferenciada, aulas que estimulem a permanecer no curso e que com a falta de aulas se sentiram desestimulados. (A TA 2011/1)

Nesse período, as aulas no turno noturno iniciavam às 18h10min. Essa situação acabou por refletir em reprovações por falta e no número elevado de alunos evadidos. Devido a isso, o 3º período em 2011/2 inicia com o esvaziamento da turma e uma perda significativa de participação. Além disso, a turma critica as dificuldades geradas pela greve e a troca constante de professores. A Matemática continua sendo uma das disciplinas em que os alunos apresentam maiores dificuldades. No 4º período do curso, a turma ainda relata dificuldades na disciplina Matemática, mas como as aulas passaram a iniciar às 19h, as faltas diminuíram e, consequentemente, o rendimento individual de alguns alunos melhorou, tanto que no período de nossa pesquisa não tivemos nenhum aluno reprovado na disciplina Matemática. Entretanto, dos 32 alunos que iniciaram o curso, apenas sete continuaram.

Gráfico 4: Relação de Matrículas/Reprovados em Matemática na Turma N XX 32 25 15 7 6 10 5 0 0 5 10 15 20 25 30 35

1º período 2º período 3º período 4º período

Relação Matrículas/ Reprovados em Matemática na Turma NXX

Total de Alunos

Gráfico 5: E volução na Quantidade de Mat rículas da Turma NXX

Os alunos que continuaram na turma são, em sua maioria, do sexo feminino, correspondendo a um percentual de 71,43%. O sexo masculino está presente com cerca de 28,57%. A faixa etária de maior incidência foi a de 26 a 30 anos, que totalizou 42,86%. O restante dos alunos está dividido entre 18 a 25 anos, com 28,57%, mesmo percentual apresentado pelos alunos de 31 a 36 anos. O estado civil predominante é o de solteiro com 57,14%, seguido dos casados 28,57% e dos divorciados com 14,29%. Sobre a atividade profissional remunerada, dos sete alunos, apenas um encontrava-se desempregado.

A turma iniciou o 4º período em 2012/1 com nove alunos, mas logo depois, duas alunas acabaram desistindo do curso por motivos pessoais. Uma aluna trabalhava por escala em um presídio afastado do Centro de Colatina e teria que faltar às aulas constantemente, por isso preferiu desistir do curso. A outra aluna já tinha concluído o Ensino Médio e acabado de ser aprovada no Curso Superior de Assistência Social na Modalidade a Distância e, segundo ela, não daria conta de cursar os dois cursos ao mesmo tempo, optando, assim, em abandonar o Técnico em Comércio.

Dos sete alunos restantes, todos residiam em Colatina, em bairros variados, tanto próximos ao Campus, quanto bem distantes. Durante o desenvolvimento da pesquisa, procurei entrevistá-los para levantar algumas passagens de suas histórias pessoais. Descobri que apesar do curso ser voltado para alunos que não possuíam o Ensino Médio, apenas duas alunas estavam nessa condição: Alexia e Nanna.

32 25 15 7 0 5 10 15 20 25 30 35

1º período 2º período 3º período 4º período

Surgiram diferentes motivos para a escolha do curso, mas nenhum aluno declarou vontade de permanecer na área. Apesar de afirmarem que estavam há tempos sem estudar e visualizarem o curso como uma preparação para a faculdade e como oportunidade de adquirir novos conhecimentos, os alunos estranham o nome do curso -Técnico em Comércio - por acreditarem que no geral as pessoas pensam que eles estão estudando para serem balconistas.

Mas o desânimo das pessoas em continuarem na área é a falta de opção e conhecimento do próprio comércio em si. Quando você fala que tá fazendo curso de Comércio, a pessoa pensa que é só vendas, não sabe que você tem a c apacidade de administrar uma empresa ou um setor dentro da empresa (ALE XIA).

Gráfico 6: Motivos para escolha do curso Técnico em Comércio

Abaixo descrevo as características de cada aluno destacando suas expectativas e desejos:

Sonhador3 é um jovem linharense de 26 anos, caçula de 11 irmãos, casado e que

futuramente pretende ter três filhos. Já possuía o Ensino Médio, contudo estava há oito anos sem estudar quando iniciou o curso Técnico em Comércio. O fato de poder rever os conteúdos do Ensino Médio foi o que lhe chamou a atenção. Ele vê no curso uma preparação para algum concurso público. Trabalha numa empresa do ramo de confecções, todo orgulhoso, me disse que atualmente está locado no setor de estilo e adora o que faz.

3

Os nomes dos sujeitos da pesquisa são fictícios e foram escolhidos pelos próprios alunos. Alguns se identificaram por meio de apelidos e outros por características pessoais.

1 5 0 3 3 2 1 1 0 1 2 3 4 5 6

Melhoria do desempenho prof issional Adquirir novos conhecimentos Realização pessoal Estava há muito tempo sem estudar Preparar-se para a f aculdade A qualidade do ensino do IFES Preparação para concurso Preparação para o mercado de trabalho

Em sua opinião, o curso de Comércio não é muito conhecido em Colatina, e isso acarreta dificuldades para continuar na área. Por isso, após a conclusão pretende cursar o curso Técnico em Edificações, também no Campus Colatina, por achar que tem mais mercado. Além de auxiliá-lo na função que desempenha atualmente no seu trabalho.

Com uma visão empreendedora pensa em investir em imóveis de aluguel em Colatina e com a renda gerada adquirir um sítio. Como residiu no interior até os sete anos de idade pensa em daqui a 15 anos ter um sítio, com quintal grande, cheio de bichos, galinhas, bois. Descreve a sua vida como muito corrida, só vê a esposa duas vezes ao dia, ao se despedir no café da manhã e ao final da noite, quando ambos retornam para casa. Ela também é aluna do Ifes, no Campus Itapina e cursa Licenciatura em Agronomia. O tempo que reservam para ficarem juntos se resume ao final de semana. Sempre gostou de Matemática, apesar de se considerar um aluno mediano. “Meu problema sempre foi Português”. Apesar dessa opinião, na sala pude constatar que é um dos mais participativos e presentes nas aulas.

Fusquinha é uma jovem de 34 anos, divorciada, que adora assistir a filmes e que

apesar da aparência jovial tem duas filhas, uma com 16 e outra com 14 anos. A filha mais velha também é aluna no turno matutino do Campus Colatina, no curso Integrado em Administração. Ao falar sobre a filha, Fusquinha demonstrou muito orgulho pela sua conquista. Depois de 18 anos sem estudar, ela decidiu refazer as matérias do Ensino Médio, com o intuito de se preparar para o Enem, e quem sabe conseguir uma bolsa em alguma faculdade. A sobrinha ficou sabendo do curso e insistiu que ela fizesse a inscrição. Isso serviu de exemplo para a filha que entrou na escola depois da mãe.

Ela trabalha como secretária de uma autoescola. Sempre admirou as secretárias responsáveis, bem vestidas, que dominam tudo. Então , se sente realizada na profissão que escolheu. Por isso, não pretende seguir na área de Comércio. Seu foco maior é fazer um curso superior de Administração. “Então estou refazendo as

matérias que há séculos não via. Eu nem lembrava mais de PA, PG, Matrizes eu nem sabia mais como era Administração”.

Já fez o ENEM duas vezes, mas a nota ainda não foi suficiente para conseguir vaga em alguma Instituição em Colatina. Seu sonho é ser aprovada em um concurso público, de preferência em algum banco. Pela força da profissão, mexe muito com tecnologia no dia a dia. Por isso, justifica que não tem interesse em ficar navegando nas salas de bate papo. Para utilizar o computador ou a internet em casa somente com coisas úteis como descreve: “É eu trabalho o dia todo na frente do computador,

então eu... nem tempo nem muito interesse. Há não ser que tenha algo para estudar, fazer um trabalho, ou de repente inscrição para concurso, algo de utilidade. Ficar lá batendo papo e vendo foto dos outros, não”. Para ela aprender cálculo é

muito mais fácil do que gravar datas, nomes e fatos históricos.

Nanna, 29 anos é uma das duas alunas que ainda não possuía o ensino médio. É

solteira e sem filhos. Como sempre teve vontade de estudar no Ifes, vivia pesquisando sobre os cursos e após 10 anos sem estudar resolveu terminar os estudos. Entretanto, seu intuito era cursar o Técnico em Informática, mas não possuía o pré-requisito que é a conclusão do Ensino Médio. Também, não pretende continuar na área do curso. Atualmente trabalha como professora de Informática, ensinando aplicativos básicos de Informática em um Centro de Referência e Assistência Social da Prefeitura Municipal de Colatina para alunos dos 09 aos 60 anos. Mas seu objetivo é cursar Faculdade de Psicologia, pois acha muito interessante. Gostaria de trabalhar com pessoas de baixa renda. Acha Matemática a melhor disciplina de todas e relata dificuldades com Língua Portuguesa: “na

matemática x é x, Português tem vários jeitos”. Não gosta de bater papo nos sites

sociais, acha perda de tempo, prefere assistir vídeos sobre os conteúdos que precisa ministrar para seus alunos.

Ricardo tem 20 anos, é solteiro e sem filhos. Muito tímido, gera lmente se mantém

calado nas aulas. Diferentemente dos outros colegas, concluiu o Ensino Médio em 2009 e ficou apenas seis meses sem estudar até iniciar o Técnico em Comércio. Sua entrada no curso se deu de forma inusitada. Como não possui computador e acesso a internet, pediu para que uma amiga fizesse a sua inscrição para o Técnico em Informática. Depois que pagou a taxa, percebeu que tinha se inscrito para o curso errado. Como foi aprovado resolveu frequentar e gostou da matriz curricular do curso apresentada na aula inaugural. Mesmo com a possibilidade de fazer outro processo seletivo, pretende terminar esse curso para tentar Informática novamente.

Ainda não está trabalhando, por isso está aberto as oportunidades que surgirem na área de Comércio. Para ele, seus sonhos de vida são comuns: arranjar um emprego estável, ajudar a mãe e ter uma casa própria. A sua relação com a disciplina Matemática é de amor e ódio e depende do seu entendimento do conteúdo. Tem preferência por questões que envolvam fórmulas e que facilitam o entendimento. Como não tem computador em casa, não sabe lidar muito bem com os programas e a internet, mas como ressalta “tenho facilidade em aprender”.

Sophia, a mais nova entre as mulheres, tem 20 anos, namora há cinco e em 2012

oficializou o noivado. Entre o término do Ensino Médio e o início do curso EJA Comércio ficou apenas seis meses sem estudar. Viu no curso a oportunidade de preparação para o ENEM, já que não possui condições financeiras para custear um curso preparatório. “Eu vi que o curso era Integrado com Ensino Médio e é bom que

eu vou estudando, aí dá uma ajuda, um empurrãozinho”. Também não irá

permanecer na área do curso. Pretende primeiramente fazer faculdade de Direito e futuramente se tornar desembargadora. Atualmente cumpre estágio curricular optativo no Conselho Tutelar da Prefeitura Municipal de Colatina, no período matutino. Tem uma sala exclusiva e computador disponível. Como a mãe é costureira, utiliza os benefícios da tecnologia para incrementar os negócios da mãe: já fez cartão, adaptou um programa de controle de estoque para que a mãe pudesse controlar suas vendas. Apesar de não ser “viciada”, acessa salas de bate-papo como o facebook, pelo menos duas vezes ao dia. Mas, sua preferência é a leitura de informações, por meio dos jornais eletrônicos. Depois que se formar em Direito pretende cursar Teologia e Construção Civil. Pretende investir em imóveis na cidade e uma chácara na área rural, casar e ter filhos, sendo que um tem que ser adotado. Com personalidade afirma que os alunos da EJA são deixados de lado pela Direção. Além de perceber que existe diferença entre o tratamento dedicado à EJA e os outros cursos: “Resumindo, eles fazem de tudo para a gente desistir do curso”. Gosta de Matemática porque é uma ciência exata e apenas depende de prática, “é

aquilo ali e acabou”.

Cristal tem 28 anos, é solteira e sem filhos. A única da turma que além do Ensino

Médio já possui formação superior tecnológica em Design de Moda. Terminou o Ensino Superior em 2008 e resolveu fazer o Técnico em Comércio como preparação para futuros concursos: “Para me atualizar, relembrar as matérias, pois pretendia

fazer o Enem novamente e algum concurso”. Como trabalha em uma indústria de

moda, assim que terminar o curso pretende continuar nessa área. Apesar do ensino no Ifes ser rigoroso, para a aluna isso não acontece na EJA e a falta de cobrança dos professores acaba por influenciar os alunos. Sonha em se casar e ter filhos, juntamente com a realização profissional. Gosta da disciplina Matemática e acreditou que essa junção com a tecnologia poderia dar certo.

Alexia é uma mulher de 36 anos de idade extremamente vaidosa. Sempre bem

vestida seus trajes e sapatos faziam sucesso na sala de aula. É casada e não tem filhos. Teve uma vida sofrida, cheia de reviravoltas que acabaram por impedir a conclusão dos estudos. Morando no interior de Linhares, não concluiu o Ensino Fundamental na idade correta por ter contraído hepatite e teve que faltar muito às aulas. Com problemas de relacionamento com o pai acabou se casando mais como obrigação e por isso viveu quatro anos em um casamento infeliz.

Depois de separada e deprimida, mesmo assim conseguiu terminar o Ensino Fundamental em 1998 ainda em Linhares. Acompanhando o irmão, ambos vieram residir em Colatina. Como a convivência com o irmão se tornou difícil, resolveu morar sozinha e para isso exerceu várias atividades profissionais. Namorando novamente, foi muito feliz d urante quatro anos e chegou a engravidar, mas infelizmente teve um aborto espontâneo. Depois de 15 anos sem estudar, decidiu fazer o Supletivo para concluir o Ensino Médio, terminou algumas disciplinas, mas não conseguiu concluir essa etapa. Também se matriculou em uma escola regular, mas acabou desistindo. Então em 2010 iniciou o curso Técnico em Comércio com o objetivo de terminar o Ensino Médio: “Eu comecei para terminar meu 2º grau que é

meu objetivo. O curso em si, mesmo sendo da área de Comércio ele dá uma base muito boa para gente até para o conhecimento mesmo e até mesmo se algum dia eu for montar meu próprio negócio eu tenho uma base”. Mesmo assim, não pretende

continuar na área, pois depois de formada pretende seguir nos estudos fazendo o curso de Psicologia ou Direito.

Gosta do ensino do Ifes, mas acha que “os alunos da noite” não têm voz e que a evasão prejudica todos. Sonha em terminar a faculdade, ter uma casa e liberdade financeira. Não gosta de tecnologia, computador, internet e dizia que confiava mesmo é no papel. Sempre apresentou dificuldades em Matemática, tanto que já

ficou reprovada na disciplina no 1º e no 2º períodos do curso e cumpriu as dependências com muita dificuldade “eu tinha que estar aqui às 2h da tarde, 4h, às

vezes umas três vezes na semana” e só conseguiu a aprovação por que o professor

da pesquisa ajudou.

Nos depoimentos acima, os alunos descreveram as trajetórias truncadas de vida, as dificuldades que tiveram para progredir nos estudos e a série de esforços que realizaram para serem aquilo que são. Apesar de muitos já terem concluído o Ensino Médio, o fato de estarem há tempos fora da escola, contribuía para as dificuldades declaradas na disciplina Matemática.

Os fundament os das práticas pedagógicas permanecem reproduzindo modelos culturais de classes sociais diversas das dos alunos, produzindo o fracasso escolar e a chamada “evasão”. Desta forma, ainda hoje, mesmo os que chegam ao final saem sem dominar a leitura e a escrita. (BRAS IL, 2007, p. 18)

Para os alunos, o curso era visto como uma oportunidade de aprimoramento profissional ou como trampolim para formação acadêmica superior. Nesse sentido, os próprios alunos deixavam transparecer a importância dada ao curso como algo que podia possibilitar sua ascensão acadêmica e social.

Os sujeitos alunos deste processo não terão garantia de emprego ou melhoria material de vida, mas abrirão possibilidades de alcançar esses objetivos, além de se enriquecerem com outras referências culturais, sociais, históricas, laborais, ou seja, terão a possibilidad e de ler o mundo, no sentido freireano, estando no mundo e o compreendendo de forma diferente da anterior ao processo formativo. (B RASIL, 2007, p. 36).

Na turma, pode-se observar que apenas duas alunas correspondiam ao perfil do público do PROEJA, visto que os demais já tinham o diploma de ensino médio. Essa situação, para Oliveira e Machado (2011, p. 10),

[...] desconsidera as especificidades do público alvo do Proeja, jovens e adultos trabalhadores marcados pela descontinuidade de escolarização, e pelos estigmas da inferioridade e da baixa escolaridade que marcam os sujeitos da EJA, contrariando assim o Art. 1º parágrafo 2º do Dec reto no 5.840/ 2006.

Guimarães (2012) ainda levanta outra questão. Para a autora, a entrada oficial de alunos com ensino médio completo no Proeja impede a construção de uma identidade própria da escola de/para jovens e adultos, conforme disposto no Documento Base do Proeja e sentido por mim em algumas falas das entrevistas feitas para essa pesquisa. Desse modo, para autora ,

como construir a identidade de uma escola de/para jovens e adultos, reconhecendo as especificidades desses sujeitos marcados por uma escolaridade descont ínua, se a oferta está sendo voltada, recentemente, para o público que já possui formação básica completa? (GUIMARÃES, 2012, p. 115)

Nesse contexto, chamo a atenção para a história de Alexia, que juntamente com Nanna ainda não possuíam o ensino médio. Ambas eram egressas do Ensino Fundamental, com histórico de dificuldades de conclusão dessa etapa. Alexia correspondia bem ao perfil do público da EJA que Oliveira (1999) descreve: a migrante, oriunda de área rural pobre, filha de trabalhadores rurais não qualificados com baixo nível de escolarização; que buscou na cidade grande emprego e perspectivas de desenvolvimento e que teve suas tentativas de permanência no ensino regular, assim como no ensino supletivo.

Pude perceber a heterogeneidade do alunado presente na sala de aula. São homens e mulheres jovens, negros e brancos, empregados ou em busca do primeiro emprego, que veem a escolaridade como possibilidade para melhoria da sua condição socioeconômica e cultural.

Além disso, nos depoimentos esses alunos em suas diferentes histórias de vida, mas ao mesmo tempo tão iguais, demonstraram ter consciência do preconceito que sofrem, sentem-se incomodados com a falta de cobrança dos professores e não aceitam o estereótipo de incapazes e coitados que se estabeleceu na Instituição.