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Conhecendo a filosofia do curso EJA da escola pesquisada

ALUNOS PARTICIPANTES

A) Conhecendo a filosofia do curso EJA da escola pesquisada

De acordo com dados retirados do Regimento Escolar da EJA da escola investigada, na filosofia do curso está descrito que é uma “Filosofia integrada com a construção da cidadania”. (Regimento Escolar da EJA, 2017, p. 5).

Em relação à reflexão sobre a expressão “construção da cidadania”, se faz necessário, primeiramente, ter o entendimento sobre o significado dos vocábulos “cidadão e cidadania”, para que, assim, possamos buscar alternativas direcionadas à compreensão da construção de cidadania. O documento analisado não define estes termos.

Ao nos reportarmos ao termo cidadão, podemos entendê-lo como alguém que é “habitante de uma cidade. Indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado. Quanto à palavra cidadania, é expressada como “qualidade de cidadão” (MICHAELIS, 2009, p. 187).

Para que um indivíduo se desenvolva como cidadão, se faz necessário não apenas que haja o engajamento em uma prática que vá muito além do cumprir deveres e adquirir direitos, mas sim, lhes sejam asseguradas as possibilidades de exercer valores que contribuam para que lhe seja proporcionada uma boa convivência em sociedade. Ela deverá ser guiada pela cooperação, pela responsabilidade, pelo comprometimento de cada um em contribuir com a sua parte na construção de um mundo mais digno, onde todas as pessoas, independente de classe social, possam ter o direito de viver com dignidade, e ter a esperança de que o mundo pode ser renovado por novas perspectivas, nascidas da força de vontade e iniciativa de um povo capaz de construir e reconstruir sua caminhada no mundo no qual encontra-se inserido. Segundo Lodi e Araújo (2007):

Aprender a ser cidadão e a ser cidadã, é entre outras coisas, aprender a agir com respeito, solidariedade, responsabilidade, justiça, não-violência, aprender a usar o diálogo nas mais diversas situações e comprometer-se com o que acontece na vida coletiva da comunidade e do país. Esses valores e essas atitudes precisam ser aprendidos e desenvolvidos pelos estudantes e, portanto, podem e devem ser ensinados na escola. (LODI e ARAÚJO, 2007, p. 69).

Na sequência, serão analisados trechos de falas dos participantes EPS, PRH, PA, PI, em que percebe-se o esforço dos profissionais da EJA da escola em estudo, em desenvolver o potencial e a autonomia individual e coletiva dos estudantes. Nota-se que há a preocupação em conduzir o aluno à conscientização de que, como cidadãos, podemos e devemos ter participação na edificação da sociedade que almejamos. Os profissionais estão falando acerca do diálogo, mas aqui, estes trechos estão sendo analisados na linha da filosofia da instituição contida no seu regimento.

“As aulas no geral, na grande maioria, o diálogo, é muito presente. E o adulto tem uma característica muito peculiar, que ele gosta muito de contar a sua vivência. É um dos nossos princípios a questão do desenvolvimento do indivíduo, do cidadão. [...] o cidadão que entrou aqui e o cidadão que saiu é outra pessoa, a grande maioria, felizmente. Acho que é isso que motiva a gente. Apesar do salário!” (EPS).

“[...] e o educador com essa ponte é esse mediador para esse conhecimento formal estabelecido, mas preocupado também com a condição cidadã do sujeito. O interessante na nossa escola também, Mariluci, é que nós temos uma gestão democrática. Os alunos, eles se sentem à vontade, têm o direito de expressar seus pensamentos, suas opiniões em relação à escola, aos professores. Eu acredito que existe esse espaço de diálogo fomentado pela EJA, principalmente pela EJA.” (PRH). “Então, é a experiência, a vivência. É a troca, a conversa. Cada um traz a sua vivência, eu trago a minha vivência e a gente vai ao longo das aulas desenvolvendo o diálogo.” (PA).

“Nós aqui na EJA, principalmente eu, tenho esse objetivo. Fico muito feliz quando vejo um aluno que me superou. Me superou em educação, boas maneiras. Superou financeiramente. Me superou na carreira, na vida social dele. Como isso gratifica a gente! Porque aquela pessoa alcançou um objetivo.” Sendo que, de repente, a minha obrigação, entre aspas, a minha função seja conduzir essas pessoas para uma autoestima mais elevada e reconhecimento das suas potencialidades, do que somos capazes, independente do meio em que vive. Então foi a forma que achei de passar para eles, que eles podem alcançar um crescimento em vivência e se tornarem melhores. [...] numa forma holística, falar desta questão de amar, do se respeitar, do sonhar. Sonhar, mas com os pés no chão... Então, esse resgate desse conhecimento, dessa realidade, eu tento fazer com eles”. (PI).

Percebe-se nos fragmentos das falas dos profissionais acima citados, o esforço e a dedicação dos professores, equipe pedagógica e gestora, em tentar proporcionar momentos dialógicos para que o aluno possa desenvolver seu potencial e autonomia, buscando estimulá- lo, através da troca de experiências, a refletir sobre princípios que conduzam à cidadania.

Um dos aspectos bastante interessante encontra-se na fala do entrevistado PRH, na qual ele comenta que na escola há uma gestão democrática, onde os alunos têm o direito de expressar suas opiniões, e seus pensamentos, principalmente sobre as ações pedagógicas.

Encontram-se nestas falas, evidências de que ao sendo desenvolvidos na EJA momentos dialógicos, que proporcionam aos alunos a participação nas aulas com autonomia, no sentido de haver espaço para expressar seus pensamentos, por intermédio de trocas de experiências entre alunos e professores, alunos-alunos, alunos e equipe gestora e pedagógica, estimulando-os também no desenvolvimento da autoestima, tornando-os capazes de confiar em sua potencialidade para ser mais. Neste último ponto, pode-se observar na fala da PI um entendimento liberal de “desenvolvimento das potencialidades independentemente do meio em que se vive”, o que não se aproxima do entendimento freiriano e nem do de cidadania aqui colocados. E também a ideia de que alguém possa superar outra pessoa diverge destes sentidos. A partir do entendimento freiriano, só podemos pensar que uma pessoa possa superar a si mesma. No entanto, a entrevistada também alude a uma forma holística de educação, a partir do que se pode entender de um ser humano multifacetado, quando fala em sonhar e em resgatar um conhecimento a partir da realidade.

A autonomia é um dos princípios essenciais pronunciados por Freire. Para o autor, ela conduz à curiosidade, à libertação, ao direito que o sujeito tem de participar na construção de uma sociedade mais democrática e justa. “No fundo, o essencial nas relações entre educador e educando, entre autoridade e liberdade, entre pais, mães, filhos e filhas é a reinvenção do ser humano no aprendizado de sua autonomia.” (FREIRE, 1996, p. 94). Sendo assim, nesta análise encontram-se aspectos que se aproximam da concepção freiriana.

B) Analisando objetivos que norteiam a modalidade de ensino EJA da escola