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2.1 Conhecendo o território:

2.1.2 Conhecendo o espaço da pesquisa:

A Associação de Educação Infantil Florescer é uma organização sem fins lucrativos, existente desde dezembro de 2001. Sua área de atuação foi escolhida pelos agentes da instituição devido à grande concentração de comunidades carentes apresentadas na área do Rio Comprido (Complexo do Turano, Comunidade Paula Ramos, Morro do São Carlos, Morro dos Prazeres, Falete, Fogueteiro, Sumaré, Querosene, dentre outras), e adjacências, estando sua população situada na linha de pobreza ou em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

Outro fator que levou a escolha da região pela escola foi a identificação de uma região com forte demanda de programas de proteção e apoio socioeducativos destinados a crianças, adolescentes e suas famílias oriundas de população comunitária e de baixa renda. Para Mesquita (2012) os complexos mecanismos proteção social acessados pelas famílias pobres foram sendo construídos (historicamente) tanto pela articulação da esfera privada (vizinhança, ONGs, instituições religiosas e filantrópicas, etc) quanto da esfera pública (de mecanismos

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58 ofertados pelo Estado), de práticas formais e informais, não apenas no que concerne os modelos de proteção vigentes, mas no papel que a família desempenha neste processo.

A escola (que também é creche) visa promover o conhecimento e estimular a capacidade física e intelectual de cerca de 100 crianças de 18 meses a 5 anos de idade (em idade de creche e pré-escola) visando seu desenvolvimento integral em parceria com as famílias, orientando-as em relação ao primeiro ciclo de vida e à educação das crianças. Para Barros (2008) a educação infantil, reconhecida pela Constituição de 1988 como direito da criança, opção da família e de dever do Estado, a partir da aprovação da Lei de diretrizes e bases da educação nacional, de 1996, passa a ser reconhecida como a primeira etapa da educação básica. Assim, ela deixa de ser vinculada apenas a assistência social e passa a ser integrada às políticas de educação. Para o autor, a mudança da concepção da educação infantil obriga as instituições a obedecerem às normas e diretrizes de regulamentação exigindo a necessidade de um projeto pedagógico, profissionais de formação, materiais próprios e espaço físico adequado (BARROS, 2008).

Entretanto, muitas crianças ainda não têm o acesso à creche e pré-escola gratuita e de qualidade em tempo integral. Atuando na Florescer e observando o perfil de famílias pobres com crianças pequenas é possível observar que seus responsáveis acabam por deixá-las com outras pessoas, principalmente mulheres, para que possam trabalhar. Estas cuidadoras, que costumam ser vizinhas e moradoras das comunidades próximas aos familiares, em muitos casos, não possuem infraestrutura necessária para os cuidados com crianças pequenas e chegam a cuidar de várias delas ao mesmo tempo. É comum no atendimento profissional direcionado a essas famílias, o relato de acidentes sofridos pelas crianças deixadas com essas “babás”. Neste sentido, é possível perceber através das falas dos próprios familiares, que as creches acabam por assumir um papel de segurança para as crianças, pois é notável a preocupação além da angústia de famílias pobres que, para poderem trabalhar, se veem na obrigação de deixar os filhos, muitas vezes, com pessoas e/ou em ambientes inapropriados e inseguros.

Outra questão observada através das falas dos familiares é de que as creches da prefeitura costumam ser “depósitos de crianças”, que não possuem um cuidado específico com os alunos, além de se localizarem em regiões perigosas das comunidades, deixando os pais aflitos. A Associação de Educação Infantil Florescer se localiza no asfalto, mais precisamente na Avenida Paulo de Frontin, o que tranquiliza os pais em relação à violência das comunidades. Os familiares dos alunos da “Florescer” costumam dizer também que a

59 creche comunitária se assemelha a “uma escola particular”, sendo referência na área da educação e dando certo status às crianças que conseguem estudar nela, pois a escola/creche realiza um processo seletivo de seus alunos. De fato, a escola é bem organizada, possui uma estrutura adequada, tanto de profissionais quanto de espaço físico, e dispõe de um projeto pedagógico acordado com os conselhos de educação, além da preocupação em realizar um trabalho com as famílias das crianças. Estes fatores acabam encantando as famílias pobres da região, tão “acostumadas” a uma educação que, muitas vezes, não cria abertura para a participação familiar.

Dentre as atividades realizadas com as crianças matriculadas na Associação de Educação Infantil Florescer podemos destacar:

 Aulas de Artes

 Aulas de Capoeira

 Prática Psicomotora

 Atividades Culturais: música, teatro, literatura e passeios

 Reforço escolar

 Sala de multimeios

 Palestras para os familiares

 Reunião de pais

 Atendimento individual à criança e à família na área pedagógica e de serviço

social

Já dentre as práticas da instituição levantamos como objetivos principais:

 Aumentar a autoestima das crianças e seus familiares;

 Garantir a inclusão e permanência da criança na escola, prevenindo a evasão

e o “fracasso” escolar;

 Prevenir o abuso e a violência contra as crianças;

 Promover hábitos saudáveis para crianças e familiares (higiene, saúde e

alimentação);

 Auxiliar na superação das dificuldades emocionais e de aprendizagem;

 Promover o desenvolvimento psicomotor das crianças;

 Fortalecer vínculos familiares e a cultura local

Pode-se dizer que a participação das famílias no processo socioeducativo de crianças matriculadas em creche perpassa dimensões educativas, biológicas e cognitivas e levanta questões no âmbito emocional e social, trazendo um olhar diferenciado em relação à criança. O desenvolvimento de estratégias de intervenção social planejada junto às famílias, com o objetivo de garantir maior participação destas na vida escolar de seus filhos, favorece o encontro entre a escola e a comunidade, fortalece identidades e reconstruindo vínculos familiares. As atividades principais da Florescer realizadas com as famílias são:

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 Realização de atendimento individual e/ou coletivo, compreendendo a

demanda, garantindo o acesso às informações e orientando quanto aos encaminhamentos no que tange questões ligadas a proteção social básica.

 Realização de entrevistas para renovação de matricula, com o objetivo de atualização de cadastros e conhecimento de novas demandas dos casos.

 Elaboração de Estudos de Caso com o objetivo de acompanhar as famílias atendidas e suas demandas.

 Distribuição de folhetos explicativos com dicas mensais aos pais sobre

alimentação, hábitos alimentares, saúde e higiene.

 Palestras educativas para as famílias das crianças com diversas temáticas

 Trabalhar questões relativas ao cuidado, higiene, prevenção de doenças,

alimentação saudável, escovação e primeiros socorros. Os assuntos abordados têm como objetivo a conscientização do cuidado com a saúde visando uma melhor perspectiva e qualidade de vida para todos os membros da família.

A Associação de Educação Infantil Florescer dispõe de 21 profissionais em seu quadro de funcionários dentre eles: diretora pedagógica, coordenadora pedagógica, assistente social, nutricionista, técnica de enfermagem, cozinheira e auxiliar de cozinha, professoras, recreadoras e auxiliares pedagógicas e auxiliar administrativo. Vale ressaltar que, atualmente, todas as profissionais são mulheres com exceção do professor de capoeira. Quando há a existência de profissionais homens, estes atuam na função de auxiliar de serviços gerais sendo responsáveis, além da limpeza, pelo carregamento de materiais, consertos, serviços de rua, dentre outros.