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1 INTRODUÇÃO

2.5 Conhecimento: o coadjuvante da gestão

NONAKA e TAKEUCHI (1997, p. 23-24) analisam os pressupostos fundamentais sobre o conhecimento e como ele surge. Neste estudo sobre as diferentes abordagens epistemológicas, teoria da criação do conhecimento organizacional, entre a tradição intelectual ocidental e japonesa, os autores constataram que, enquanto na filosofia ocidental há uma rica tradição epistemológica, reflexão em torno da natureza, etapas e limites do conhecimento humano, o mesmo não se verifica na cultura japonesa, o que refletiria as diferentes maneiras pelas quais as culturas encaram o que venha a ser conhecimento.

Na leitura desses autores, o conhecimento estaria vinculado na cultura ocidental como uma construção filosófica fruto de reflexões sobre a existência, o eu, o sujeito e a mente, decorrente do postulado de Descartes, que estabeleceu a divisão cartesiana, que separa o sujeito que conhece do objeto conhecido. Destas reflexões filosóficas ocidentais constata-se um dualismo, duas tradições epistemológicas ocidentais dominantes e opostas, ainda que complementares. A primeira é o racionalismo, que preocupa-se com o mundo dos fatos, onde o conhecimento é adquirido por dedução, através do raciocínio, recorrendo-se a construtos mentais como conceitos, leis ou teorias, a outra é o empirismo, que diz ser possível adquirir conhecimento por indução, a partir de experiências sensoriais específicas (NONAKA e TAKEUCHI, 1997, p.23-25).

O pensamento japonês, por sua vez, teria como característica mais importante, a “unidade do homem e da natureza”, onde os japoneses, segundo Yujiro Nakamura, filósofo japonês contemporâneo, não conseguiram estabelecer a separação e objetificação do eu e da natureza. A visão flexível de tempo e espaço ilustram claramente a tendência japonesa de lidar com movimentos emocionais sensíveis e não se submeter a qualquer visão de mundo ou metafísica fixa. A unidade do corpo e da mente, outra tradição intelectual do Japão, estabelece que o conhecimento significa sabedoria adquirida a partir da perspectiva da personalidade como um todo, proporcionando uma base para a valorização da experiência pessoal e física em detrimento da abstração indireta e intelectual. Por fim, a unidade do Eu e do Outro, implica em considerar o você e o eu como duas partes de um todo, trabalhar para os outros significaria trabalhar para si mesmo. A realidade é vista por intermédio da interação física com a natureza e outros seres humanos (NONAKA e TAKEUCHI, 1997, p. 31-36).

Com a discussão lembrada no trabalho de NONAKA (1997), verifica-se que o conhecimento humano é um misto de realidade e abstrato que acaba de algum modo influenciando as ciências da administração. Todo este esforço induz à citação sobre a importância do conhecimento. Porém, necessário se faz saber qual a relação do conhecimento, enquanto uma construção teórica, com a gestão do conhecimento.

SVEIBY (1998, p. 42-43), relaciona o significado de conhecimento, termo que possui diversas conotações, com a palavra competência, empregando-a com o significado de competência individual, diferenciando-a do uso genérico do termo em teorias e estratégias organizacionais, que é a capacidade que uma organização tem de agir em relação a outras organizações. Para o autor a competência de um indivíduo pode ser dividido em cinco elementos mutuamente dependentes conforme figura 03:

ELEMENTO SIGNIFICADO Conhecimento

explícito Envolve conhecimento dos fatos e é adquirido principalmente pela informação, quase sempre pela educação formal Habilidade Esta arte de “saber fazer” envolve uma proficiência p rática – física e mental – e é adquirida sobretudo por treinamento e prática. Inclui o conhecimento de regras de procedimento e habilidades de comunicação

Experiência A experiência é adquirida principalmente pela reflexão sobre erros e sucessos passados.

Julgamentos de

valor São percepções do que o indivíduo acredita estar certo. Eles agem como filtros conscientes e inconscientes para o processo de saber de cada indivíduo

Rede Social É formada pelas relações do indivíduo com outros seres humanos dentro de um ambiente e uma cultura transmitidas pela tradição

FIGURA 03 : Elementos de competência e seus significados

Fonte : SVEIBY (1998, p.42)

Se o conhecimento é o fator responsável pelas conquistas e avanços humanos, segundo SVEIBY (1998), ele também deve ser conduzido, isto é, gerenciado. O conhecimento é inventado pelo homem e utilizado para melhorar as condições da vida humana. Aplicado na área da administração, o conhecimento passa de uma dimensão filosófica (laboratório) para uma efetivação prática, tornando-se em gestão do conhecimento, a expressão do conhecimento orientado para a ação. Por isso, para NONAKA (1997, p.31) “(...) idéias não têm valor exceto quando passam para as ações que rearrumam e reconstroem de alguma forma, em menor ou maior medida, o mundo no qual vivemos”.

De acordo com SVEIBY (1998), o conhecimento é a expressão de experiências individuais e pessoais, tácitas, que são registradas na mente e podem se tornar material para a gestão empresarial na medida em que abandona o campo abstrato e transforma-se em fatos.

(...) Para descrever a maneira como adquirimos e geramos novos conhecimentos aplicando às nossas percepções sensoriais as capacidades e os fatos que já possuímos, Michael Polanyi usa o termo processo de saber. Inspirado pela psicologia gestáltica, Polanyi vê o processo de saber como um processo de reunião de pistas fragmentadas, por intermédio de percepções sensoriais e a partir de lembranças, e agrupamento das mesmas em categorias. Em outras palavras, conferimos sentido à realidade categorizando-as em teorias, métodos, sentimentos, valores e habilidades que podemos utilizar de forma tradicionalmente válida (SVEIBY, 1998, p. 37-38).

AZEVEDO e BARTHÈS (2002), afirmam que a evolução da informática criou condições para que inúmeras tecnologias fossem concebidas e utilizadas afim de representar e tratar o conhecimento, permitindo abordagens cada vez mais elaboradas do problema, e apontam os vários tipos de representação do conhecimento.

TIPOS DE CONHECIMENTO CARACTERÍSTICAS

Algorítmico - representados em programas de computador, buscavam capitalizar uma parte do conhecimento. Permite boa representação de situações onde a tomada de decisões era feito dentro de contextos com números reduzidos de variáveis. Em situações complexas, o aumento do tamanho e da complexidade cria dificuldades de manutenção.

Declarativo - relacionados aos problemas do métier não encontrados em livros ou manuais. Os profissionais detentores deste tipo de conhecimento são por eles denominados de especialistas. Quando, além da experiência profissional, detiverem conhecimentos acerca das teorias de um domínio, o qual explica e tenta prever o comportamento de um sistema, passa a ser considerado expert pois, além de conhecerem as ações a serem tomadas, sabem os motivos que a justificam.

Descritivo - Evidenciado pelo estudo do raciocínio empregado por experts para a resolução de problemas, os quais utilizavam somente uma fração do conjunto de conhecimentos sobre o domínio em questão. Deu origem a uma nova forma de raciocínio denominada de raciocínio baseado em casos ou “ Case- Based Reasoning – CBR”. O desenvolvimento de sistemas de base de dados possibilitou a organização de bibliotecas para descrever a experiência das organizações sob a forma de casos. A utilização de um CBR estaria sustentada no fato de que as situações ligadas a determinados tipos de problemas tendem a se reproduzir com uma certa regularidade, além de sua capacidade de poder raciocinar sobre casos particulares.

Textual estruturado - Amparada pela tecnologia de hipertextos tenta estruturar a massa de documentos afim de facilitar o acesso a informação. O leitor passa de um documento a outro navegando num mar de informações.

Indexado de formato múltiplo - Consiste na identificação de um modelo de representação do conhecimento que leva em conta os conhecimentos construídos ao longo do projeto. Implica na conformidade de conhecimentos que precisam ser preservados e quando se faz importante, no desenvolvimento de projetos cujos tempos de vida ultrapassam o período de participação dos profissionais nos projetos, que os ciclos de vida dos mesmos não sejam perdidos.

FIGURA 04 : Tipos de representação do conhecimento

“(...) Mais recentemente surgiu o conceito de trabalho corporativo. Numa empresa, a comunicação e a disseminação de informação devem ser eficazes. Desta forma, o objetivo é de aumentar as trocas de informações entre os atores de um processo para facilitar tal disseminação, dinamizando a tomada de decisão e sua aplicação” (AZEVEDO e BARTHÈS, 2002, p.8).

À medida que a gestão do conhecimento ultrapassa as fronteiras dos laboratórios, fica claro que as contribuições advindas deste campo de estudo devem ser, e de fato têm sido, apropriadas pelos teóricos organizacionais. O conhecimento deixa de ser um abstrato filosófico e transporta-se para a dimensão da prática empresarial.