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Conhecimento disciplinar

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DOCENTES DISCIPLINAS MINISTRADAS FORMAÇÃO ESPECIFICA NA ÁREA DA DISCIPLINA MINISTRADA OU ÁREAS AFINS

4.4 Conhecimento disciplinar

Nesta categoria, estão reunidas as compreensões expressas pelos participantes da pesquisa acerca do domínio do conhecimento específico das disciplinas e sua importância para o ensino no curso de farmácia. Nesse sentido, todos os professores expressaram que o conhecimento disciplinar é fundamental e está embasado em conhecimento teórico e apreensão teórica dos conteúdos, como exemplificado a seguir:

O conhecimento das disciplinas que ministro está em cima de um bom conhecimento teórico que tenho, e entendo que esses conhecimentos disciplinares são fundamentais para o exercício docente em qualquer nível de ensino [...] (D12).

[...] conheço em profundidade as disciplinas que ministro, pois boa parte da minha vida foi dedicada e apreensão teórica de seus conteúdos através de leituras nacionais e principalmente internacionais, e são imprescindíveis para minha atuação como professora no curso de farmácia (D9).

[...] o professor ter domínio da disciplina que irá ministrar é essencial para ingressar no ensino superior, pois isso irá trazer segurança para sua prática e qualidade ao ensino (D11).

Em seção anterior deste capítulo, mostrou-se que todos os professores participantes da pesquisa possuem formação na área específica da disciplina, mas não têm ou consideram ser insuficiente a sua formação pedagógica e didática. No entanto, expressam claramente uma compreensão acerca da importância desses conhecimentos e seus depoimentos ressaltam o que diversos autores da área pedagógica e didática defendem: o domínio dos conhecimentos como um elemento que caracteriza a atividade de professor.

Nessa perspectiva, compreende-se que a atividade docente é complexa e exige formação em aspectos fundamentais como: o conhecimento disciplinar com aprofundamento teórico, dominar as relações que a área de conhecimento tem com as demais áreas do curso, sua origem, sua história, e como interage com as concepções da ciência que compõem as interfaces do ensino e da aprendizagem, e o conhecimento pedagógico com sua natureza, constituição e finalidade.

Candau (1997, p.46) destaca que o domínio de conhecimentos de determinada área requer “adequada compreensão da construção do seu objeto, dos diferentes enfoques metodológicos possíveis e suas respectivas bases epistemológicas, de sua lógica e sua linguagem”. Freitas (2016a, p. 402) identifica em Davydov importante contribuição a essa questão. Ao interpretar o pensamento de Davydov, a autora aponta a organização da atividade de estudo do aluno como “a conexão entre percurso investigativo científico e percurso de estudo do objeto pelo aluno”. A autora explica o pensamento de Davydov:

Na investigação do objeto, o pesquisador se apropria de seus detalhes, analisa suas diversas formas de desenvolvimento e estabelece seus nexos. Porém, na exposição do resultado da investigação, apresenta o movimento real que lhe permitiu chegar a esse resultado. Na investigação científica, a análise inicia-se pelo objeto em suas manifestações particulares, tal como se apresenta na realidade social ou natural, para chegar à descoberta de sua base interna universal e abstrata. Na exposição dos resultados parte-se dessa base universal e abstrata para chegar à reprodução mental do objeto concreto. Em síntese, a exposição do conhecimento resultante da investigação científica se realiza por um movimento de pensamento que parte da análise do objeto mediado pela abstração para explicá-lo em sua forma concreta e real.

Essa consideração ressalta a importância do conhecimento disciplinar, que abarca a dimensão epistemológica do objeto, e do conhecimento pedagógico, que envolve a dimensão do seu ensino, bem como da integração de ambos como base

para o professor organizar a atividade do aluno no estudo de um objeto. No ensino de graduação, em especial no curso de farmácia, essa compreensão se reveste de especial importância para a qualidade da formação, pois diz respeito aos meios de assegurar uma sólida formação científica nas bases epistemológicas e investigativas desse campo de conhecimento. Por conseguinte, o conhecimento disciplinar e pedagógico provê o exercício docente de várias possibilidades, que vão além do domínio de conteúdos teóricos articulados ao domínio das técnicas de transmissão.

Nas análises das entrevistas também se observam relatos das fontes do conhecimento disciplinar e suas várias formas de aquisição. As experiências na área de atuação e a literatura científica foram citadas como provedoras da aprendizagem do conhecimento disciplinar:

[...] os conhecimentos da disciplina foram adquiridos através das minhas experiências profissionais nessa área que sou docente e do aprofundamento em livros (D5).

Aprendi na minha prática profissional e com buscas em periódicos e livros (D8).

O conteúdo dessa disciplina aprendi através de leituras em livros, realizei pesquisas para identificar os melhores autores que já escreveram sobre o assunto e que a crítica científica entende como os melhores da área, e assim adquiri os livros e estudei sobre o assunto (D2).

O estágio realizado na área da disciplina foi apresentado também como uma das formas de aprendizagem profissional do professor;

[...] tive acesso aos conhecimentos também através do estágio que fiz na área dessa disciplina, depois eu sai e fui trabalhar em outra área, e depois ficou vaga a cadeira dessa disciplina que ministro na faculdade e como eu já tinha uma experiência prévia do longo período de estágio que fiz, assim, eu me propus a ministrar a disciplina (D1).

A graduação e a pós-graduação stricto sensu foram apontadas como provedoras da aprendizagem do conhecimento disciplinar.

Na verdade eu adquiri a formação básica das disciplinas nas minhas graduações, e no mestrado também continuei a me atualizar em relação aos conhecimentos das disciplinas que ensino (D6).

A atividade de extensão apareceu como uma forma complementar de aquisição de conhecimentos específicos da disciplina.

Também complementei as informações em relação à disciplina [...] através participação em cursos de extensão, realização de cursos de extensão online e outros (D2).

A pesquisa tem correlação com atualização, busca, evolução, com melhoria, e também foi citada como ferramenta que colaborou com a aprendizagem do conteúdo disciplinar pelo professor:

As informações de algumas disciplinas que ministro veio de pesquisas que eu já fazia desde a época da graduação e ela se estendeu para o mestrado, então vieram dessa forma (D4).

Aprendi com as pesquisas científicas do doutorado e mestrado que estão nessa área que atuo como docente, para fazer minha dissertação e tese pesquisei e estudei muito esses conteúdos. Considero que a pesquisa científica que foi responsável pelo meu aprendizado dos conteúdos das disciplinas, e muitos professores não fazem dessa forma e aprendem as disciplinas sem base científica (D10).

Nota-se na fala de professores um entendimento de pesquisa e busca de conhecimentos em literatura científica para obter conhecimentos, como algo que faz parte do cotidiano profissional. De acordo com Gatti (2000), essa busca pelo conhecimento de determinados assuntos ou temas dos conteúdos disciplinares caracteriza esse tipo de pesquisa como uma atividade constante e cotidiana dos professores. Esse pressuposto explica a fala dos docentes que expressam a constante busca de conhecimento por pesquisa na literatura científica. Entretanto, o docente D10 enfatizou a pesquisa científica, que é também geradora de conhecimentos.

A partir da análise das falas apresentadas pelos professores, percebe-se que, conforme destaca Souza (2008, p.147) “cada indivíduo percebe o processo de formação de maneira particular, singular”. Assim, a partir disso, reforça-se que a aprendizagem dos conteúdos disciplinares e da profissão pode se concretizar de diversas formas, ambientes, usando ferramentas de estudos e situações distintas.

Nesse contexto, evidencia-se que os professores têm os conhecimentos disciplinares oriundos de diversas fontes, no entanto, expressam ter poucos conhecimentos pedagógicos. O professor do ensino superior tem sua identidade valorizada pelos conhecimentos específicos da sua área de atuação profissional, pela pesquisa que desenvolve ou pela prática da profissão, em detrimento de conhecimentos pedagógicos do processo de ensino e aprendizagem. Junto a isso, se observa a crescente busca pelo exercício da docência nas universidades, o que é

fruto da dinâmica do mundo do trabalho que está em constante transformação, confrontada com a preparação insuficiente para esse profissional atuar no ensino (PIMENTA; ANASTASIOU, 2010).

Diante dessa constatação, a percepção de que o domínio do conhecimento disciplinar é suficiente para atuar como professor no ensino superior e que dessa forma consegue-se conduzir o processo de ensino-aprendizagem pode colocar o profissional numa condição de tranquilidade e acomodação frente à necessidade de ter formação pedagógica.

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