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Ensino de farmácia frente às novas diretrizes curriculares

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.3 Ensino de farmácia frente às novas diretrizes curriculares

Observa-se que a mudança curricular não implicou, necessariamente, em mudança na prática pedagógica docente. Frente a tal realidade, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) elaborou, em 2008, um “Modelo referencial de ensino para uma formação farmacêutica com qualidade”, a partir do qual desenvolve ações conjuntas favorecendo a inserção do farmacêutico no mercado, em consonância com as reais necessidades de saúde e bem-estar dos brasileiros (BERMOND et al, 2008). O domínio do conteúdo específico é condição preponderante para o exercício do magistério, porém o saber pedagógico também deve ser condição básica para o desenvolvimento do ensino-aprendizagem, ou seja, é preciso ter conhecimento pedagógico sobre como, por exemplo, ser claro e objetivo ao expor o conteúdo, ser um facilitador da aprendizagem, saber selecionar recursos e escolher metodologias adequadas, saber avaliar, saber planejar, enfim, saber ensinar.

No currículo mínimo do curso de farmácia, preconizava-se que o aluno, ao se formar, encerrava um ciclo de aprendizagem e estava pronto para o exercício profissional. As DCNCGF, ao contrário, concebem a formação do farmacêutico como um processo contínuo, autônomo e permanente. Nos currículos mínimos, tem-se como produto um profissional “preparado”, já nas DCNCGF concebem um profissional “adaptável” a situações novas e emergentes (ARAÚJO; PRADO, 2011).

Araújo e Prado (2011) ainda pontuam que as DCNCGF estão em sintonia com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e também estão apoiadas nos pressupostos teóricos descritos no Relatório para a United Nations Educational,

Scientific and Cultural Organization (UNESCO) da Comissão Internacional sobre

Educação para o século XXI. No entanto, ainda temos, no país, um grande número de cursos de farmácia que mantém currículos sem alteração em sua essência, inviabilizando a operacionalidade social. Isso demonstra que as mudanças têm sido mais cosméticas do que de conteúdos (BERMOND et al, 2008).

O processo educacional se materializa no ensino e é importante analisar o papel do bom ensino na formação dos alunos. A respeito desse papel, uma das maiores contribuições é oferecida pela teoria histórico-cultural do psicólogo russo de Lev S. Vigotski. Esse autor explicou que os processos psicológicos humanos se originam na complexidade das relações sociais em que se insere o indivíduo, isto é,

a base do pensamento é o processo de relações sociais e históricas (VIGOTSKI, 2000).

Para Vigotski (2000), a atividade do ser humano ocorre como um processo histórico de criar, produzir mental e materialmente o que é necessário para a vida em sociedade. Essas criações de gerações precedentes compõem a cultura humana que se encarna nas relações sociais e vai sendo apropriada e incorporada por novas gerações.

Neste processo, os seres humanos vão se apropriando das atividades produzidas por gerações anteriores, encarnadas na cultura e nas formas de relações sociais. O autor considera que esse processo de apropriação é fundamental para o desenvolvimento humano, pois, ao apropriar-se da dos conhecimentos e práticas, por meio da comunicação e da linguagem, da participação nas atividades humanas, nas relações sociais, na vida social, nos contextos socioculturais, o ser humano vai formando novas capacidades que de outro modo não ocorreriam (VIGOTSKI, 1988).

Para Freitas (2012a), na teoria histórico-cultural o ensino deve ser um processo que proporciona aos alunos as possibilidades de recriação crítica da cultura (ciência, arte, ética, estética, técnica e toda espécie de criação humana intelectual e prática), sendo que essa teoria contribui para a superação, no ensino, de dualismos que separam mente e cultura, produção e reprodução social da cultura, significado objetivo e sentido subjetivo, intersubjetividade e agência do indivíduo no processo de aprender.

No processo educacional formal e sistematizado, o papel do professor é proporcionar os meios para que os alunos se apropriem de conhecimentos e práticas de natureza científica e cultural e, desse modo, influenciar no desenvolvimento dos alunos. Pode-se considerar que essa premissa decorrente da compreensão vygoskiana é válida para todos os níveis de ensino e, portanto, também para o ensino de graduação, inclusive o de farmácia. Assim, o papel do central do professor, na formação do aluno do curso de graduação em farmácia, é promover a apropriação da cultura científica e ética dessa área pelos alunos e, com isso, o seu desenvolvimento como profissionais.

A cultura específica da área de farmácia, acumulada historicamente como conhecimentos a serem apropriados pelos alunos, abrange não só conhecimentos como também valores. Segundo as DCNCGF de 2002, o professor deve ser capaz de ampliar sua forma de compreender e ensinar os conteúdos, e de transcender as

paredes da sala de aula. Isso se deve ao novo perfil do formando egresso, profissional farmacêutico, que deve ter uma formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor científico e intelectual. Sendo assim, não é mais possível mostrar ao aluno apenas um conhecimento técnico e isolado, é necessário que os conhecimentos sejam apresentados de forma integrada.

De acordo com as DCNCGF de 2002, durante o processo de ensino, é necessário estimular transformações e reorientar os valores de forma que a formação seja generalista e pautada em princípios éticos e na compreensão da realidade social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo a futura atuação para a transformação da realidade em benefício da sociedade. Nesse sentido, a formação generalista prepara o farmacêutico para atuar, de forma interdisciplinar e multiprofissional. O profissional também é levado a compreender o paciente de maneira ampla e integrada (CECY, 2011).

2.4 Formação dos professores e o desafio do ensino de qualidade no curso de

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