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2. REVISÃO TEÓRICA ANALÍTICA SOBRE O PROCESSO INOVATIVO E A RELAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA

2.3 Contribuições neo-schumpeterianas

2.3.4 Conhecimento e aprendizagem no processo inovativo

Pelo grande progresso tecnológico e pela necessidade constante de se buscar e selecionar soluções, com o intuito de gerar inovações, as empresas adotam medidas que permitem constantemente identificar e avaliar as oportunidades tecnológicas que surgem. Nesse processo de busca e seleção de rotinas estão inseridas as noções de aprendizagem e conhecimento, cuja compreensão é essencial para caracterização do processo inovativo. È importante destacar a grande conectividade entre ambas, onde a aprendizagem é grande fonte de acumulação de conhecimento. Com isso, é necessário destacar as formas de gerar e armazenar conhecimento, além de descrever as formas internas e externas de aprendizagem

ligadas às empresas. Essas descrições são vitais para o pleno entendimento do processo inovativo.

O conhecimento deve ser tomado como algo cumulativo, assim como a tecnologia. Em outros termos, graças a conhecimentos anteriores, é possível desenvolver novos conhecimentos. NONAKA e TAKEUCHI (1997, p.61) salientam que ao se realizar inovações, as empresas “[criam] novos conhecimentos e informações, de dentro para fora, a fim de redefinir tanto os problemas quanto as soluções e, nesse processo, recriar seu meio”. Esses autores contribuem enormemente para a “conceituação” do conhecimento, ao criarem a noção de “conhecimento organizacional”. Esse é desenvolvido a partir de duas dimensões, a ontológica e a epistemológica. A primeira diz respeito às formas de gerar conhecimento, que de modo geral é criado pelo indivíduo, uma vez que as empresas são formadas por diversas pessoas. Sendo assim, o conhecimento é gerado diretamente e indiretamente pelos indivíduos. Já a segunda dimensão é composta por duas formas de conhecimento, tácito e explícito. Tem essa teoria, como ponto principal, a diferenciação dessas formas, observa-se em NONAKA e TAKEUCHI (1997, p.65) que o “[conhecimento] tácito é pessoal, específico ao contexto e, assim, difícil de ser formulado e comunicado. Já o conhecimento explícito ou ‘codificado’ refere-se ao conhecimento transmissível em linguagem formal e sistêmica”.

Para facilitar o entendimento da teoria, Nonaka e Takeuchi (1997), desenvolvem a “espiral do conhecimento”. Essa envolve os pressupostos discutidos anteriormente (dimensões ontológica e a epistemológica) e tem como premissa adicional, a “conversão do conhecimento”. Consoante que se convertem os conhecimentos tácito e explícito dentro da dimensão epistemológica, pode-se avançar na dimensão ontológica, partindo do individual para as outras categorias colocadas anteriormente, gerando o “conhecimento organizacional”. Com isso, cria-se conhecimento e gera-se inovações. Nonaka e Takeuchi (1997) descrevem quatro formas não independentes de converter o conhecimento, apresentados no Quadro 2.

Modos de

Conversão Forma Característica

Tácito para

Tácito Socialização

O conhecimento tácito é lastreado na obtenção de experiência. Assim sendo, quando se compartilha a experiência, tem-se a conversão de conhecimento sob forma de socialização.

Tácito para

Explícito Externalização

Para esta conversão de conhecimento é essencial uma boa articulação entre o conhecimento tácito e o explícito. Esta articulação pode ser realizada através de metáforas, analogias, conceitos e etc. NONAKA e TAKEUCHI (1997, p.63) destacam esta forma, pois “dentre os quatro modos de conversão, a externalização é a chave para a criação do conhecimento, pois cria conceitos novos e explícitos a partir do conhecimento tácito”.

Explícito para

Explícito Combinação

Consiste na sistematização dos conhecimentos ou conceitos. Esta forma surge através de reuniões, conversas ao telefone, entre outras maneiras. Tem como objetivo, melhorar os conceitos em relação aos anteriores.

Explícito

para Tácito Internalização

Esta forma se relaciona ao aprender fazendo. Consiste em transformar conhecimentos codificados em tácitos, havendo necessidade de incorporar as três formas anteriores ao individuo, possibilitando a ele a criação de um modelo mental ou Know-how técnico.

Fonte: elaboração própria com base em NONAKA; TALEUCHI (1997).

Quadro 2 - Conversão dos Conhecimentos Tácito e Explícito.

Assim, de acordo com NONAKA e TAKEUCHI (1997, p.79), entende-se que o conhecimento organizacional nada mais é do que “[a] interação contínua e dinâmica entre o conhecimento tácito e o explícito”. Essa interação se dá por meio da “espiral do conhecimento”. É extremamente importante notar que na dimensão epistemológica o conhecimento tácito é de fundamental importância para inovação, ao apresentar diversas conversões com o objetivo de ampliá-lo organizacionalmente. À medida que se faz às conversões de conhecimento tácito e explícito, avança-se na dimensão ontológica, ocorre, então, a transformação do conhecimento individual em organizacional, tornando a base de conhecimento maior, à medida que os níveis ontológicos avançam. A Figura 1 demonstra claramente a relação descrita, tendo-se no eixo vertical a dimensão epistemológica e no eixo horizontal a dimensão ontológica.

Fonte: NONAKA; TAKEUCHI (1997, p.82).

Figura 1 - Espiral de criação do conhecimento organizacional.

Conforme as empresas aumentam o seu nível de conhecimento, obtém-se maiores vantagens competitivas. O sucesso do aumento (acúmulo) do conhecimento consiste, portanto, na combinação entre o conhecimento explícito e tácito, configurando uma maior base de conhecimento que permite a realização de inovações. Na esfera tecnológica, pode-se observar que quanto maior for a base de conhecimento sobre as tecnologias, menores serão as incertezas ao adotar determinadas tecnologias. Por este motivo, observa-se a importância do conhecimento na seleção e busca por novas tecnologias, a fim de obter maiores vantagens competitivas e reduzir os riscos e incertezas inerentes ao processo inovativo.

Visto a importância do conhecimento no processo inovativo sob as formas tácita e explicita, VARGAS (2002, p.34 apud ALMEIDA, 2007, p.34) descreve quatro formas de conhecimento, que representam modelos mentais ou habilidades:

(i) Know-what: refere-se ao conhecimento sobre os fatos e pode ser chamado de informação no sentido de que é facilmente divisível e armazenável; (ii) Know-why: refere-se ao conhecimento cientifico sobre princípios e leis naturais, sociais ou morais e pode ser organizado, produzido e reproduzido por instituições, como universidades; (iii) Know-how: refere-se às capacitações que permitem fazer algo e pode ou não estar vinculado com um processo de produção e tende a se desenvolver e manter internamente nas empresas e (iv) Know-who: refere-se a um conjunto de diferentes qualificações, inclusive aquelas de natureza social, e envolve um tipo de informação sobre “quem sabe o que” e “quem sabe como fazer o que”, permitindo um uso eficiente do conhecimento na sociedade.

O conhecimento é obtido, geralmente, por meio do processo de aprendizado, formal ou informal. Dizemos que é formal quando o aprendizado é em grande parte codificado, permitindo a apropriação por parte de diversas empresas. Já o aprendizado informal diz respeito ao aprendizado interno à empresa, ou seja, existe grande fonte de conhecimento distribuído internamente no empreendimento, o que dificulta a sua apropriação por outras

organizações, já que o nível de codificação do conhecimento é baixo. Pode-se dizer que o conhecimento tácito está para o aprendizado informal, assim como o conhecimento explícito está para o aprendizado formal. Dessa forma, é importante destacar que o processo de aprendizado é convertido em conhecimento acumulado, de forma tácita ou explicita. Assim, existem diversas possibilidades de aprendizado organizacional que podem ser consideradas como rotinas. As formas de aprendizado são descritas no Quadro 3 de acordo com a caracterização realizada por Vazquez (2007), com base em autores neo-schumpeterianos4:

Formas de aprendizado Características

1.Learning by doing (aprender fazendo)

Consiste em um aprendizado interno à empresa, sendo adquirido através do processo produtivo e relacionado com o conhecimento tácito, permitindo assim, a melhora na produtividade.

2. Learning by interacting