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2. REVISÃO TEÓRICA ANALÍTICA SOBRE O PROCESSO INOVATIVO E A RELAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA

2.3 Contribuições neo-schumpeterianas

2.3.3 Noções de rotina, busca e seleção

As inovações não ocorrem ao acaso, portanto é necessário analisar como fatores explicativos para que haja mudança técnica as noções de rotina, busca e seleção. Esses fatores são determinantes em um estudo econômico, podendo-se fazer uma análise micro e macro. A primeira refere-se ao comportamento individual das firmas em meio ao processo inovativo, enquanto o segundo representa o reflexo da ação conjunta das empresas bem sucedidas no processo inovativo. Inicialmente serão colocadas as principais características das noções de rotina, busca e seleção.

Segundo Nelson e Winter (2006), a rotina consiste em todo padrão de comportamento que seja previsível ou regular dentro de uma firma. Os autores a colocam como um gene, pois a mesma pode expressar o possível comportamento da firma, dado que a rotina se torna uma espécie de herança, considerada a memória da empresa. Com isso, a rotina expressa o que a firma faz, seja reflexo das condições internas ou externas, o que leva Nelson e Winter (2006) a distinguir três classes: a primeira caracteriza um comportamento operacional e tem relação com o que a empresa pode fazer a qualquer momento, sem alterar os fatores produtivos disponíveis; a segunda descreve a mudança do estoque de capital da firma como fator fundamental na tomada de decisões sobre investimentos, isto é, a variação do estoque de capital altera o comportamento da firma. A terceira faz menção às mudanças que ocorrem nas

firmas ao longo do tempo, uma vez que o surgimento de novas perspectivas apontam para diferentes caminhos, o que leva as empresas a revisões e alterações do seu comportamento.

As rotinas são encontradas comumente através do processo busca, ou seja, as empresas realizam “[uma] caracterização de uma população de modificações de rotinas ou de rotinas novas que podem ser encontradas por meio da busca” (NELSON; WINTER, 2006, p.38). Frente a isso, o processo de busca consiste na procura da rotina que melhor expresse tudo que se torna fácil realizar dentro da empresa.

Todo esse enfoque é baseado nas mudanças que ocorrem no ambiente natural. Na evolução da biologia, buscam-se os genes (características das espécies) que melhor se adaptam às novas condições do ambiente, nas quais os mais bem adaptados são selecionados por possuírem as características “exigidas” pelo ambiente. Na esfera produtiva ocorre da mesma forma: com as mudanças que ocorrem no ambiente, novas rotinas (genes) são buscadas, procurando identificar as que melhor se adaptam, selecionando-as.

Nota-se que o processo de busca e seleção são sistêmicos, pois ao mesmo tempo em que se procura a melhor rotina, seleciona-a como comportamento organizacional das firmas no futuro. É importante ter em mente o caráter dinâmico desse processo, pois assim como na biologia, tem-se como característica o fator evolucionário. À medida que deixam de ser utilizadas antigas rotinas, buscam-se outras que melhor se adaptam às novas necessidades.

No entanto, NELSON e WINTER (2006, p.233) destacam esse processo de busca por sua lentidão, assumindo alguns pressupostos:

Em primeiro lugar, supondo que a firma busca ativamente, o resultado da busca é definido em termos de uma distribuição probabilística das rotinas que serão encontradas na busca, talvez condicionadas pelas suas rotinas vigentes. Em segundo, independente das rotinas vigentes, há uma probabilidade positiva de que outro par composto por técnica e regra de decisão possa ser encontrado na busca. Em terceiro, há uma probabilidade positiva de que uma empresa que busca não encontre quaisquer rotinas novas e, portanto, mantenha necessariamente suas rotinas vigentes.

No ambiente de seleção econômica, Nelson e Winter (2006) enfatizam a importância de distinguir os processos de seleção, dividindo-os em interno (ex-ante) e externo (ex-post) à empresa. As empresas passam por um processo interno de busca e seleção de rotinas, já descrito acima, almejando fontes promissoras, que convirjam para inovações em processos ou produtos lucrativos. Contudo, será realizada uma seleção ex-post, na qual o mercado fará uma nova seleção, proporcionando às empresas bem-sucedidas em suas escolhas bons resultados. Assim, através do processo concorrencial, obter-se-á empresas lucrativas e não-lucrativas que são determinadas pela seleção de mercado. As lucrativas terão maiores possibilidades de

encontrar novas rotinas que proporcionem novas inovações, uma vez que possuem melhores condições financeiras para compra de insumos, maior nível de conhecimento sobre a tecnologia empregada e outros fatores produtivos necessários à mudança de seu comportamento frente à mudança do ambiente econômico. Entra-se assim em um novo ambiente de seleção, proporcionado pela mudança técnica provocada pelas empresas- lucrativas.

Como em Schumpeter (1982) verifica-se a dinâmica concorrencial, com a teoria neo-

schumpeteriana, há um complemento com as definições de paradigma tecnológico e

trajetórias tecnológicas, que são bem observados a partir das noções de rotina, busca e seleção. Também é possível observar que as inovações surgem dentro de uma empresa já estabelecida no mercado, e não como descreve Schumpeter (1982), a partir do surgimento de novas empresas, por meio dos empresários motivados pelo lucro. Não há, portanto, a extinção de uma empresa antiga frente a empresas novas, a não ser pelo processo de falência, mas sim vantagens adquiridas por meio das soluções propostas pelas empresas já existentes, tornando algumas empresas mais competitivas e outras menos.

Pode-se agora, voltar à análise micro e macro abordada inicialmente. Na esfera micro são realizados, em termos tecnológicos, processos de busca e seleção de rotinas, baseadas na escolha individual de diferentes tecnologias por parte das empresas. As empresas que selecionarem as melhores tecnologias promoverão as melhores soluções dentro do paradigma proposto, definindo assim uma trajetória dentro do mesmo. A partir disto, tem-se o progresso tecnológico que é observado na esfera macro através do crescimento proporcionado pelo somatório das firmas bem sucedidas em suas escolhas.