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Na perspectiva da inovação social, todo o processo de sua inovação é so-bre a criação e uso de conhecimento (MULYANINGSIH; YUDOKO; RUDITO,

2014). Inicialmente esse conhecimento é produzido nas atividades individuais, sendo transferido mediante compartilhamento e, ao final, incorporado na organização.

A classificação e definição do conhecimento têm raízes bem antigas (OECD,2000, p. 14). Aristóteles já o distinguia (LUNDVALL; JOHNSON,

1994) entre:

Epistèmè(know-why): conhecimento que é universal e teórico. Technè(know-how): conhecimento que é instrumental, específico do

contexto e relacionado à prática.

Phronesis(practical wisdom): conhecimento que é normativo, baseado na experiência, específico ao contexto e relacionado ao senso comum.

Na literatura atual ainda se percebe uma tendência de uso dos termos “informação” e “conhecimento” de forma intercambiável (MARIN-GARCIA; ZARATE-MARTINEZ,2007;BOISOT,2013). Entretanto, existem argumen-tos para a distinção:

Na literatura podemos encontrar referências que fazem uma distinção entre o que é conhe-cimento e o que não é. Alguns argumentam que a informação são dados e o conhecimento permite que as pessoas atribuam significado à informação; outros concordam que a infor-mação deve ter relevância e propósito, mas somente o conhecimento pode ser interpretado e tornar-se valioso para a tomada de decisão. Além disso, a informação deve consistir em fluxos de dados e mensagens que são organiza-dos para descrever uma condição ou situação

especial, enquanto o conhecimento são con-ceitos, crenças, julgamentos, metodologias e

know-how que tenham sido processados por indivíduos anteriormente (MARIN-GARCIA; ZARATE-MARTINEZ,2007, p. 279).

As diferentes definições do termo conhecimento encontradas durante a pesquisa estão relacionadas noApêndice B. Trata-se de um conjunto expres-sivo, mas que não pretende ser completo ou final.

De modo geral, os autores discriminam o próprio conhecimento entre o que é explícito e o que é tácito. OQuadro 5relaciona esses principais autores e suas definições.

Quadro 5 – Distinções entre o conhecimento explícito e tácito

Autor Ano Explícito Tácito

Ryle 1949 Sabe o quê. Sabe como. Polanyi 1966 Conhecimento que é

verbalizado, escrito, desenhado ou, de outra forma, articulado.

Conhecimento que não é verbalizado, intuitivo e desarticulado.

Anderson 1983 Declarativo. Procedural. Winter 1987 Simples, ensinável,

observável.

Complexo, difícil de ser ensinado e observado. Kogut e

Zander

1992 Informação. Sabe como.

Hedlund 1994 Conhecimento bem definido incorporado em produtos, serviços ou artefatos. Conhecimento mais cognitivo na forma de constructos e preceitos mentais.

Nonaka 1994 Discreto, capturado em registros. A atividade contínua de saber. Spender e Grant 1996 Objetivo. Coletivo.

Weiss 1998 Conhecimento racionalizado (Weber [1921] 1968).

Conhecimento incorporado (Granovetter 1985). Fonte: Traduzido e adaptado pelo autor a partir deBinz-Scharf(2003, p. 8).

Entre os trabalhos basilares sobre Gestão do Conhecimento (Knowledge Management), está o deNonaka e Takeuchi(1997, p. 63-65) que apresentam

2.1. Conhecimento 39

um conceito de conhecimento, baseado em Platão1, e concordam que a in-formação é um fluxo de mensagens; reforçam, ainda, que o conhecimento é criado por esse fluxo de informação, fundamentado nas crenças e no compro-misso de seu detentor. Assim, os autores apresentam um modelo, o SECI,2

para o registro do conhecimento não codificado, que é a interação entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito conforme representado na

Figura 2.

Figura 2 – Espiral da Criação do Conhecimento

Fonte: Adaptado pelo autor a partir deNonaka e Takeuchi(1997, p. 80).

ConformeNonaka e Takeuchi(1997, p. 65-67), baseados emPolanyi

(1966), o conhecimento é classificado em dois tipos: o conhecimento tácito (subjetivo), que se relaciona com a experiência individual, habilidades e técnicas que envolvem valores intangíveis, como crenças pessoais, sistema de valor; e o conhecimento explícito (objetivo), que pode ser articulado na linguagem formal. O conhecimento é criado com base na interação entre o conhecimento tácito e o explícito. O tácito é difícil de ser verbalizado ou codificado, visto que é distribuído na totalidade da experiência do indivíduo. Os autores consideram que o conhecimento explícito é apenas a ponta de um iceberg e veem o restante como sendo tácito e que está profundamente enraizado nas ações, experiências, valores e ideais de um indivíduo.

O modelo SECI está apoiado no “pressuposto crítico de que o conhe-cimento humano é criado e expandido através da interação social entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito” (NONAKA; TAKEUCHI,

1997, p. 67). O conhecimento tácito e o conhecimento explícito não são

enti-1 Conhecimento como crença verdadeira justificada (PLATÃO,1973;FANTICELLI,

2013, p. 15).

dades totalmente separadas, e sim mutuamente complementares, interagem um com o outro e realizam trocas nas atividades criativas dos seres humanos. Em contraponto à definição de Platão,Boisot(2011), ao discutir o conceito epistemológico do conhecimento, destaca que a acepção Platônica do conhecimento, sendo uma crença verdadeira justificada, é desafiada pela demonstração deGödel(1931), pois somente podemos justificar um pequeno conjunto do que é verdadeiro.Boisot (2011, p. 436) diz que, “como seres inteligentes, agimos, sobrevivemos e prosperamos com base no conhecimento que implantamos como uma resposta adaptativa à diversidade de fenômenos que encontramos e que precisamos nos adaptar”. O autor ainda considera que as intenções e expectativas são moldadas pela experiência e o conhecimento incorporado de um agente humano, bem como por seus sentimentos e sua postura ética.

Swan(2007, p. 155) corrobora ao afirmar que o conhecimento é, por-tanto, dúbio – sujeito a significados e interpretações diferentes –; dinâmico – significado aceito mudando à medida que novos atores e contextos são trazidos para suportar –; e dependente do contexto – difícil, se não impossível, separar do contexto em que está produzido.

No entendimento deBoisot(2013), o conhecimento não é uma “coisa” com contornos bem definidos, mas sim algo enraizado na organização. Contudo, podemos distinguir três formas de conhecimento, cuja divisão não é clara, mas suas integrações nos permitem dar sentido ao mundo vivenciado (BOISOT,

2011). São elas:

Incorporado: adquirido dinamicamente por meio das interações sensórias com o mundo, também chamado de fenomenológico.

Narrativo: a parte do conhecimento incorporado passível de ser articu-lado e compartilhado somente mediante verbalização.

Abstrato-simbólico: elementos do conhecimento narrativo que apresenta regularidades recorrentes, tornando possível ser formalizado e generali-zado.

De acordo com Swan (2007, p. 147), “a necessidade de inovação é frequentemente vista como um objetivo-chave para o desenvolvimento da teoria e prática em Gestão do Conhecimento”; mas esse desenvolvimento, porém, se dá sobre diferentes perspectivas, que dependem dos pressupostos acerca do conhecimento e dos processos de inovação. A autora esclarece que não há uma perspectiva necessariamente superiora, mas que “cada uma tem seu próprio conjunto de suposições, limitações e tensões em relação à natureza do conhecimento e da inovação” (SWAN,2007, p. 148).