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4.6 PEDAGOGIA DA DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO FÍSICA

4.6.1 Conhecimento sobre as relações étnico-raciais nos documentos legais

Muito se tem discutido a respeito da relevância dos princípios da Lei nº 10.639/2003, da Lei nº 11. 645/2008, do parecer CNE/CP nº 03/2004, da resolução CNE/CP nº 01/2004 e suas respectivas diretrizes curriculares nacionais. Assim, busca-se, a partir das diretrizes que orientam o ensino de história, cultura afro- brasileira, africana e a educação de relações étnico-raciais positivas, identificar os documentos legais que os sujeitos pesquisados acessam para auxiliar na elaboração do planejamento das aulas de educação física que tratam das relações étnico-raciais, conforme a análise do quadro 7.

Quadro 7 – Documentos legais que os sujeitos pesquisados acessam e utilizam para o desenvolvimento da educação das relações étnico-raciais na educação física

SUJEITOS ACESSO AOS

DOCUMENTOS LEGAIS QUE TRATAM DA OBRIGATORIEDADE DA EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS OS DOCUMENTOS LEGAIS QUE TRATAM DAS RELAÇÕES ÉTNICO- RACIAIS E APRESENTAM CONTRIBUIÇÕES NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA O PLANEJAMENTO DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA FOI RELACIONADO AOS “DIREITOS DE APRENDIZAGEM DOS CICLOS INTERDISCIPLINAR E AUTORAL: EDUCAÇÃO FÍSICA” (2016), DA SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO? Professora 1 Lei nº 10.639/2003; Lei nº 11. 645/2008; Parecer CNE/CP nº 3/2004.

“A contribuição está na preparação das aulas.”

“Sim. Eu utilizo esse. E utilizo o da rede estadual

[de São Paulo] que também é nessa

perspectiva.” Professor

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Não teve acesso aos documentos legais, lembra-se, apenas, da Resolução CNE/CP nº 01/2004 e da Lei nº 10.639/2003. “Não. Eu lembro da discussão sobre a obrigatoriedade do ensino da educação das relações étnico-

raciais no ensino superior”. “Sim. E, eu estou trabalhando com os alunos o planejamento participativo”. Professora 3 Lei nº 10.639/2003; Parecer CNE/CP nº 3/2004.

“[...] vou ser bem sincera, superficialmente. Eu não me aprofundei na leitura. o conhecimento da Lei nº 10.639/2003 foi discutido

no PEA, foi lido. O Parecer [nº 3/2004] foi

falado na palestra”.

“O ano passado [2017] eu utilizei no planejamento. Eu estive

na formação da DRE [Itaquera] no ano passado. E a gente viu a parte de descolonização

do currículo lá”. Continua

Conclusão

SUJEITOS ACESSO AOS

DOCUMENTOS LEGAIS QUE TRATAM DA OBRIGATORIEDADE DA EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS OS DOCUMENTOS LEGAIS QUE TRATAM DAS RELAÇÕES ÉTNICO- RACIAIS E APRESENTAM CONTRIBUIÇÕES NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA O PLANEJAMENTO DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA FOI RELACIONADO AOS “DIREITOS DE APRENDIZAGEM DOS CICLOS INTERDISCIPLINAR E AUTORAL: EDUCAÇÃO FÍSICA” (2016), DA SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO? Professora 4

Lei nº 10.639/2003. “Sim. Eu faço conhecimento da Lei nº

10.639/2003. E contribui dentro das

aulas de educação física quando existe

algum tipo de discriminação e preconceito, as intervenções, né”.

“Sim. Eu utilizei esse documento o ano passado [2017]”. Professor 5 Lei nº 10.639/2003; Lei nº 11. 645/2008.

“Eu acho que tive acesso à maioria. Por

exemplo, a Lei nº 10.639/2003 que atualizou para a Lei nº

11.645/2008. Se o professor está lá [na

escola], querendo realmente melhorar e entrar nessas práticas [práticas pedagógicas antirracistas], esses documentos ajudam

bastante”.

“Sim. Todo material [na perspectiva de combate

ao racismo] que vai subsidiar o nosso planejamento, ajuda”. Professora 6 Lei nº 10.639/2003; Lei nº 11.645/2008.

“Sim. Ajuda a pensar nas aulas”.

“Não. Eu conheço e participei da construção dele. Mas não ajudou no

planejamento das aulas e não descoloniza o

currículo”.

Fonte: elaborado pela pesquisadora

Nesse processo, observa-se que todos os docentes tiveram acesso à Lei nº 10.639/2003,que legisla a respeito do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana, inserido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Outrossim, a Professora 1, o Professor 5 e a Professora 6 ampliam o acesso para a Lei nº 11.645/2008.

A Professora 1 e a Professora 3 citam o Parecer CNE/CP nº 3/2004. Cabe destacar, aqui, a relevância do parecer CNE/CP nº 3/2004, na qualidade de política curricular que reconhece os processos sócio-históricos e antropológicos que delineiam a sociedade brasileira, enfatizando os processos de enfrentamento e resistência no combate ao racismo, preconceito racial e discriminação racial. Essa proposta busca disseminar a valorização, a formação de atitudes no enegrecimento da educação, bem como a produção e transformação do conhecimento que reeduque as relações étnico-raciais para que cidadãos e cidadãs tenham a garantia do direito à identidade e, consequentemente, orgulho de seu pertencimento étnico-racial. Em função disso, destaca-se essa orientação para construir uma educação física antirracista.

AResolução CNE/CP nº 01/2004, que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana não foi citada pelos professores entrevistados e pelas professoras entrevistadas, com exceção do Professor 2.

Retoma-se, aqui, alguns pontos da discussão na categoria formação docente. Um dos aspectos a ser desenvolvido é a importância dos documentos oficiais para orientar as práticas pedagógicas na educação física escolar, sobretudo, o Parecer CNE/CP nº 3/2004. Sendo assim, é preciso ultrapassar a ideia de uma leitura superficial para uma leitura crítica que articula, por exemplo, o Parecer CNE/CP nº 3/2004 e a educação física escolar no planejamento participativo das aulas. Ao mesmo tempo, observa-se a necessidade da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo proporcionar cursos sobre a educação das relações étnico-raciais, constantemente, pois as ações pedagógicas sobre a temática étnico-racial, racial são contínuas. Dessa maneira, é necessário ampliar a possibilidade de participação dos docentes durante o ano letivo, respeitando a construção coletiva e a participação dos mesmos nas propostas educacionais da rede municipal de ensino de São Paulo. Assim, a Professora 6 afirma:

Se a SME voltar a tomar aquela postura, de uma discussão legítima, penso que haverá grandes novidades, vindo por aí com relação a isso. Mas se ela [Secretaria Municipal de Educação] continua dando esses paliativos, que é essa formação tosca, não dá. Poxa,

levamos três anos e meio para publicar esses direitos de aprendizagem, e aí misturaram um no outro [os Direitos de aprendizagem dos ciclos interdisciplinar e autoral: Educação Física, 2016, e o Currículo da Cidade], em um ano.

A partir dessas reflexões e discussões sobre as contribuições dos documentos oficiais na prática pedagógica comprometida com a educação das relações étnico- raciais, questiona-se para os sujeitos pesquisados (especificamente os docentes) a seguinte pergunta: o planejamento das aulas de educação física foi relacionado aos documentos legais da Secretaria Municipal de Educação que tratam das relações étnico-raciais, por exemplo, os Direitos de aprendizagem dos ciclos interdisciplinar e autoral: Educação Física (2016)? Em concordância com o quadro 7, verifica-se que todos os docentes utilizaram o referido documento, no exercício letivo de 2017, com exceção da Professora 6. De outra forma, a Professora 1, o Professor 2 e o Professor 5 ainda utilizam esse documento no planejamento das aulas de educação física.

No que se refere a esse documento, a Professora 6 participou da elaboração e construção dos “Direitos de aprendizagem dos ciclos interdisciplinar e autoral: Educação Física”; dessa forma, relata que:

É os Direitos de aprendizagem, do ciclo interdisciplinar e autoral, educação física. Eu participei desse. [...] Não ajudou no planejamento das aulas. Porque, assim, apesar

de estar junto na construção dele, tem um monte de coisa ali que eu não concordo. Não vai no caminho de descolonizar o currículo. [...].

Outra questão importante é o planejamento participativo, citado pelo Professor 2 e Professor 5, assim como as rodas de conversa (que delineiam as situações didáticas) mencionadas por todos os sujeitos pesquisados. A partir disso, é importante dizer que os discursos dos discentes foram considerados na definição das tematizações, especialmente a participação dos mesmos, enquanto sujeitos centrais da trajetória curricular; nota-se nos relatos dos docentes essa preocupação.