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1.2 Valores patrimoniais e arquitetônicos de São João hoje

1.2.1 Conjunto arquitetônico

A localização geográfica de São João del-Rei aliada à vasta produção agrícola e pecuária possibilitou o crescimento da localidade diante do declínio da atividade aurífera. Já no início do século XIX, a vila se mostrou amadurecida comercialmente. Em razão disso, variados estilos arquitetônicos, referentes aos ciclos econômicos vividos pela cidade, podem ser observados em São João del-Rei.

Nela, encontramos exemplares de valor e de importância similar ao tão aclamado período colonial.

A arquitetura colonial abrange a produção do ciclo do ouro, período de domínio socioeconômico e político de Portugal, até a Independência do Brasil, ocorrida em 1822. Essa época é marcada pela uniformidade das edificações, retratando a influência e a aparência portuguesa, pelas soluções técnicas primitivas empregadas pela mão de obra escrava e pelo rigor métrico dos vãos e alinhamento das esquadrias. A arquitetura é tratada como símbolo de poder econômico. Quando

a residência apresentava mais de um pavimento, significava que a família possuía posses suficientes para manter escravos, para o transporte de mantimentos e água.

O conjunto colonial íntegro da cidade em estudo foi aclamado por representar o passado nacional.

A arquitetura religiosa colonial de São João seguiu, em sua maioria, a disposição de planta em nave, capela-mor, sacristias e corredores laterais, tendo a fachada organizada em um corpo principal ladeado por duas torres, geralmente de perfil quadrado. Quanto à ornamentação, esses monumentos obedeceram às composições do rococó. Nesse sentido, as Igrejas de São Francisco, de Nossa Senhora do Carmo e Nossa Senhora do Pilar merecem destaque.

A arquitetura civil, assim como a religiosa, adotou as estruturas em pedra, adobe e taipa, apresentando plantas de forma mais compacta. A cor branca era predominante, assim como o telhado em duas águas e cimalhas constituídas da eira e da beira, conforme o poder aquisitivo do proprietário. O casario colonial era composto por edificações térreas coladas umas nas outras e nas divisas laterais, como as edificações da Rua Santo Antônio.

Ilustração 1.30: Residências da Rua Santo Antônio.

Disponível em: <http://www.flickr.com/photos>. Acesso em: 6 fev. 2013.

Autor: Murilo Romeiro.

Data: 2008.

A tipologia de sobrados também marca este período, em que, normalmente, o andar inferior era ocupado pelo comércio e o superior pela residência. Exemplares como o descrito podem ser observados na importante via econômica de São João, até as primeiras décadas do século XX, chamada Rua Direita. As edificações dessa via acompanharam a dinâmica da cidade, o que nos permite concluir que nela há representações com diferentes materiais, alturas e períodos. Algumas descaracterizações são evidentes, como a substituição de materiais originais e a inclusão de platibandas, suprimindo os beirais. As chácaras representam outra tipologia desse período. Localizadas no meio rural, eram dotadas de jardins e varandas em meio a terrenos maiores.

Ilustração 1.31: Sobrados coloniais da Rua Getúlio Vargas.

Fonte: Queiroz, 2010, p. 30.

Autor: Desconhecido.

Data: Década de 1940.

A Corte portuguesa ao instalar-se no Brasil trouxe a valorização baseada na estética da antiguidade clássica, reagindo ao barroco. O estilo foi institucionalizado

com a chegada da missão artística francesa em 1816, passando a representar a arquitetura do Império até as primeiras manifestações do ecletismo, observadas por volta de 1870. Com base nessas matrizes culturais e nas influências neoclássicas surgiram em São João edificações mais refinadas com frontões triangulares, platibandas, colunas, pórticos, formas geométricas e materiais nobres. A residência de porão alto aparece mesclando a casa térrea com o sobrado colonial, acessada por uma escadaria. Os telhados de quatro águas foram executados aos poucos, lançando no vizinho ou mesmo adotando a solução de calha importada. Essa representação neoclássica pode ser observada na ilustração abaixo da Rua da Prata.

Ilustração 1.32: Rua da Prata em meio a edificações coloniais e neoclássicas.

Disponível em: <http://maps.google.com.br/maps>. Acesso em: 6 fev. 2013.

Data: set. 2011.

O ecletismo, com diversos e belos exemplares estampados na cidade, figurou, com a mão de obra remunerada, o aperfeiçoamento das técnicas construtivas e o advento da ferrovia. Os casarios foram recuados das divisas, seguindo novos conceitos de higienização, e a vegetação foi implantada. As vantagens da residência urbana foram unidas às das chácaras. O trem trouxe materiais inovadores que "elitizaram" as construções, caracterizadas pela simetria, busca da grandiosidade e da riqueza decorativa, com fachadas bastante ornamentadas. Exemplares como o Teatro Municipal e demais construções da Avenida Hermilio Alves, a Estação Ferroviária, edifícios da Avenida Oito de

Dezembro e da Rua Antônio Rocha são representantes dessas inovações. O conjunto da Praça Carlos Gomes, próximo à igreja do Carmo, exemplificam bem esse estilo arquitetônico.

Ilustração 1.33: Av. Hermílio Alves e suas edificações ecléticas.

Fonte: Arquivo Sávio.

Autor: Desconhecido.

A uniformidade das edificações, marca do período colonial, não mais pôde ser retratada. O cenário industrial proporcionou o surgimento de técnicas, materiais, a extensão das influências e experimentos em busca das melhores formas de aproveitamento e aperfeiçoamento das construções.

O automóvel presente na primeira metade do século XX incluiu novo ambiente nas edificações. Progressivamente, o porão habitável desapareceu e a garagem, edícula e/ou depósito ganharam espaço com acesso normalmente lateral.

Em meados do século XX, o modernismo ganhou representações em São João. Esse estilo é marcado pela presença de linhas retas, ausência de ornamentação, inovações formais, platibanda ocultando o telhado ou coberturas em laje impermeabilizada e valorização da estrutura em concreto. O edifício São João, inserido na paisagem do centro da cidade na década de 1950, rompeu com os padrões de gabarito e preservação da visibilidade dos bens tombados.

Ilustração 1.34: Edifício São João à esquerda.

Fonte: Arquivo Sávio Assis.

Data: 1960.

Ao contrário dos grandes núcleos, a multiplicação dos arranha-céus no centro histórico e suas proximidades não ocorreu em São João. Apenas casos pontuais foram executados. A partir da segunda metade do último século, medidas de preservação das visadas foram postas em prática, limitando o gabarito na área de tombamento federal, perímetro municipal e seu entorno, coibindo, assim, a verticalização. O mesmo não pode ser dito da descaracterização dos elementos arquitetônicos, prática recorrente. Nos bairros periféricos, maiores gabaritos são encontrados, embora as casas ainda reinem em absoluto.

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