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O TOMBAMENTO DOS BENS ARQUITETÔNICOS E URBANÍSTICOS DE SÃO JOÃO DEL-REI:

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FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

ARQUITETURA E URBANISMO

MARCELLA FRANCO DE ANDRADE

O TOMBAMENTO DOS BENS ARQUITETÔNICOS E URBANÍSTICOS DE SÃO JOÃO DEL-REI:

EMBATES EM TORNO DA PRESERVAÇÃO E DO PROGRESSO

São Paulo

2013

(2)

Marcella Franco de Andrade

O tombamento dos bens arquitetônicos e urbanísticos de São João del-Rei:

embates em torno da preservação e do progresso

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Orientador: Prof. Dr. José Geraldo Simões Júnior

São Paulo

2013

(3)

Marcella Franco de Andrade A553t Andrade, Marcella Franco de

O tombamento dos bens arquitetônicos e urbanísticos de São João del-Rei : embates em torno da preservação e do progresso. / Marcella Franco de Andrade – 2013.

224 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2013.

Bibliografia: f. 216 - 224.

1. São João del-Rei. 2. Patrimônio cultural. 3.

Identidade nacional. I. Título.

CDD 720

(4)

O tombamento dos bens arquitetônicos e urbanísticos de São João del-Rei: embates em torno da preservação e do progresso

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Aprovada em:

Banca examinadora

____________________________________________

Prof. Dr. José Geraldo Simões Júnior – Orientador Universidade Presbiteriana Mackenzie

____________________________________________

Profª. Dra. Cecília Helena Godoy Rodrigues dos Santos Universidade Presbiteriana Mackenzie

____________________________________________

Profª. Dra. Heliana Comin Vargas

Universidade de São Paulo

(5)

Agradecimentos

Agradeço ao professor Dr. José Geraldo Simões Júnior por orientar e ensinar.

Às professoras membros da banca examinadora, Dra. Cecília Helena Godoy Rodrigues dos Santos e Dra. Heliana Comin Vargas, pelas sugestões e comentários.

Aos professores, funcionários e colegas da pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, pela troca acadêmica.

Aos meus pais, irmãos e ao Jô pelo incentivo na realização deste sonho e apoio nos momentos difíceis.

E aos amigos e familiares que contribuíram direta ou indiretamente para a elaboração desta dissertação.

Muito obrigada a todos!

(6)

Resumo

Este trabalho aborda o processo de tombamento arquitetônico e urbanístico instituído em São João del-Rei, considerando as deliberações e a abrangência dos atos de salvaguarda em nível federal, estadual e municipal, assim como a reação da população perante o patrimônio dentro de um contexto de transformações urbanas associado à busca pelo progresso econômico. O campo de conflito criado em torno da fronteira de tombamento federal e dos interesses locais envolvendo os agentes comerciais e técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional também é analisado. Ao estender a temática até hoje, um cenário transitório se configurou, marcado inicialmente pelo descaso da população para com o patrimônio, avançando para a valorização da memória coletiva e, recentemente, atrelando-o à possibilidade de desenvolvimento econômico.

Palavras-chave: São João del-Rei. Patrimônio cultural. Identidade nacional.

(7)

Abstract

This study approaches the process of urban and architectural preservation instituted in Sao Joao del Rei, the resolutions and the extend of the acts of protection at municipal, state and federal levels, as well as the population`s attitudes with the heritage in a setting of urban transformations and quest for economic progress The conflict between the federal preservations laws and local interests will be analyzed, involving the commercial agents and the technicians of the Institute of National Historical and Artistic Heritage. Nowadays, this thematic sets up a transient scenario, marked initially by neglect of people with the patrimony, then by the appreciation of the collective memory and, recently, by the possibility of association with the economic development.

Keywords: Sao Joao del-Rei. Cultural heritage. national identity.

(8)

Sumário

Introdução...10

1 Antecedentes históricos, desenvolvimento urbano e comercial...18

1.1 Evolução urbana do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar...21

1.1.1 Elevação à Vila de São João del-Rei, expansão ao longo da origem primitiva e do Morro da Forca...23

1.1.2 Século XIX: de Vila à Cidade – expansão em direção à linha férrea...35

1.1.3 Século XX: ideais de modernização e embelezamento...49

1.2 Valores patrimoniais e arquitetônicos de São João hoje...60

1.2.1 Conjunto arquitetônico...60

1.2.2 Conjunto urbanístico...65

2 São João del-Rei e a proteção patrimonial...72

2.1 Aspectos sobre a proteção patrimonial no Brasil...73

2.1.1 Criação do IPHAN...77

2.1.2 Os estudos de tombamento das seis cidades mineiras (1938)...82

2.1.3 Considerações sobre o tombamento desses conjuntos mineiros ... 112

2.2 O tombamento Federal de São João...115

2.2.1 Delimitação da proteção (1947)...115

2.2.2 Bens tombados isoladamente...125

2.3 O tombamento Estadual...131

2.4 O tombamento Municipal (1983)...132

2.4.1 Conselho Municipal...133

2.4.2 Poligonal de tombamento e seu entorno...139

2.4.3 Bens tombados isoladamente...147

3 Articulações entre o IPHAN e o setor comercial em torno da preservação e do progresso...149

3.1 Pedidos de revisão do tombamento...155

3.1.1 O caso do trecho comercial da Rua Marechal Deodoro...157

3.1.2 O edifício comercial da Rua Artur Bernardes...161

3.1.3 Propostas de reratificação da área de protegida...164

(9)

3.1.4 O caso do casarão do Comendador Mourão...172

3.2 Atuação do IPHAN...175

3.3 Um novo olhar sobre o patrimônio...180

3.3.1 Diretrizes de preservação do Plano Diretor...183

3.3.2 Turismo e mercantilização do patrimônio cultural...191

Considerações Finais...195

Anexos...201

I Ofício 376 - Pronunciamento de Sylvio de Vasconcellos sobre Serro...202

II Informação 110 acerca do pedido de revisão do tombamento de Serro...203

III Pedido de elevação de Tiradentes a cidade Monumento...204

IV Retorno de Rodrigo M. Franco de Andrade ao pedido de elevação de Tiradentes a cidade Monumento...205

V Parecer de Lia Motta a cerca da redefinição do tombamento de Ouro Preto...206

VI Notificação 45-A de delimitação do tombamento de 1947...209

VII Carta 221/47 acusando o recebimento da notificação n 45-A pela Prefeitura....210

VIII Lista de bens tombados isoladamente pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural de São João del-Rei...211

IX Ofício enviado pelos proprietários do comércio situado na Rua Arthur Bernardes, número 64 a 72, ao presidente da república...215

Bibliografia...216

(10)

Introdução

Tema

Este trabalho aborda o processo de tombamento arquitetônico e urbanístico da cidade de São João del-Rei (MG) e o campo de embates criado em torno da fronteira de preservação federal e dos interesses locais, envolvendo técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e os representantes sociais.

Introdução ao tema

O município de São João del-Rei está localizado a sudeste do estado de Minas Gerais, apresentando uma área de aproximadamente 1.463,59 km² e uma população de 84.918 mil habitantes, segundo o censo IBGE de 2011. A história de ocupação da cidade em estudo está diretamente ligada ao ciclo do ouro, visto que sua formação foi resultado da aglutinação de pequenos núcleos surgidos junto aos locais de mineração. A vasta produção do setor agropecuário e agrícola, demanda das linhas de abastecimento e trocas comerciais, possibilitou o contínuo crescimento da localidade apesar do declínio da atividade aurífera. Por ser sede da comarca e apresentar uma localização privilegiada em meio a diversos caminhos, tornou-se, no século XIX, um verdadeiro centro comercial que abastecia toda a região.

A interligação entre as capitais da região sudeste trouxe dificuldades para a atividade mercantil de São João no século XX. A ferrovia propiciou o desenvolvimento de novas localidades e a ligação direta com o Rio de Janeiro e demais centros. A produção industrial, desenvolvida no eixo Rio-São Paulo-Belo Horizonte, abalou as fábricas de pequeno e médio porte implantadas na cidade.

A importância de São João como centro polarizador foi progressivamente

reduzida, mas o anseio pela recuperação econômica, feito histórico, e a expansão

(11)

urbana, resultado do excedente populacional dirigido ao município, continuaram ocorrendo. A cidade passou por transformações urbanas e arquitetônicas ao longo da primeira metade do século XX, influenciadas pelos ideais de mudança e de melhoramentos. Em meio a esse cenário de recessão e busca por desenvolvimento econômico, o conjunto arquitetônico e urbanístico de São João del-Rei foi tombado, criando um campo de conflito em torno da fronteira de preservação federal e dos interesses da população local.

Tal tombamento abrangeu, na ocasião, toda a área da cidade, de modo similar aos outros cinco conjuntos mineiros preservados concomitantemente com São João em 1938. Seus perímetros e entornos, em um primeiro momento, não foram delimitados, e tampouco foram estabelecidos os critérios de ocupação do solo e a expansão dos municípios. Esses sítios urbanos mineiros foram eleitos pela integridade e uniformidade de seus conjuntos coloniais, tidos como traços representativos do Brasil primitivo, da arquitetura ‘’autêntica’’ da nação, verdadeiros representantes da primeira expressão brasileira diante da influência das construções portuguesas, fontes de inspiração para a arquitetura moderna.

A sociedade são-joanense, representada na maioria dos relatos encontrados por agentes comerciais, defendia um projeto de modernização para a cidade, colidindo com o anseio de salvaguardar as raízes artísticas nacionais encampadas pelo IPHAN. O tombamento federal foi recebido pelo senso comum como um entrave ao progresso econômico, marcando um período de tensões, descaracterizações e demolições do patrimônio. O setor terciário, ao defender seu interesse de remodelação e melhor aproveitamento dos pontos comerciais, coincidentes com a área tombada, foi o principal agente desses embates, representando e procurando aliar-se aos cidadãos e aos grupos detentores do poder. Os registros evidenciados são liderados pelos comerciantes, pelos agentes da especulação imobiliária e pelos vereadores da Câmara.

O IPHAN, nas primeiras décadas de implantação, não tinha como política o

diálogo com os representantes da comunidade, nem a prática de ações de

conscientização dos cidadãos sobre a importância em preservar a história e a

identidade local, tampouco possuía meios efetivos para fiscalizar as áreas

tombadas, incluindo São João del-Rei. As primeiras décadas de funcionamento do

órgão do patrimônio expressaram um período de articulações, descaracterizações,

(12)

anseios e efetivas demolições na cidade em estudo, assim como novas construções, contrariando a política de tombamento dos bens.

Objeto da pesquisa, delimitação espacial e temporal

Esta dissertação analisa o tombamento de São João del-Rei, ação inovadora em nível nacional por englobar toda a cidade, e sua correlação com os outros cinco conjuntos mineiros tombados no mesmo período. Além disso, examina também a abrangência de tal ato de salvaguarda, instituído em 1938, sua contextualização e posterior delimitação de 1947, bem como as tensões e conflitos gerados até 1970, estendendo a discussão até os tempos atuais.

As outras esferas de tombamento, estadual e municipal, também serão abordadas. Suas respectivas deliberações e abrangência, além da relação dos atos isolados de salvaguarda, serão ainda discutidas com a finalidade de reunir um panorama atual da preservação de São João del-Rei e consolidar a delimitação federal de 1947 com os limites municipais de tombamento do centro histórico e seu entorno. A implantação do Conselho Consultivo Municipal do Patrimônio Histórico e Artístico de São João del-Rei, em 1984, e reinstituído em 1998, trouxe a discussão para a sociedade, uma vez que a mesma detém representantes ativos no órgão. A conscientização da população aos poucos pode ser observada, vinculada à percepção do potencial da atividade turística, despertada pelo patrimônio e o desejo de ascensão econômica. Como resultado, na última década, inúmeros tombamentos municipais isolados foram realizados na cidade e em seus distritos.

O estudo dos antecedentes históricos, do desenvolvimento urbano e

comercial de São João tornou-se necessário para entender a escolha da área

tombada em nível federal, coincidente com parte do núcleo primitivo, centro histórico

e comercial até certo período. Recorreu-se ainda aos antecedentes históricos para

compreender a abrangência da poligonal de preservação municipal, reunindo áreas

não inclusas na proteção de 1938, mas de valor arquitetônico, e regiões resultantes

da expansão urbana com representações de estilos mais recentes retratando ciclos

econômicos vividos pela cidade. A pesquisa da ocupação comercial em meio à

(13)

malha urbana fez-se crucial para a percepção da localização e da importância dos edifícios e áreas comerciais que tanto foram pautas dos diversos manifestos contra as medidas de salvaguarda, em razão do desejo de modernização das fachadas e da verticalização.

Inúmeras foram às iniciativas, locais, públicas ou particulares, para a revisão dos limites de preservação federal e destombamento de determinados trechos urbanos ou bens isolados. Muitas dessas ações estavam ligadas, direta ou indiretamente, à atividade comercial. Neste sentido, analisa-se o campo de conflito e de articulações criado em torno do tombamento federal e dos interesses do setor terciário.

Objetivos

Os precedentes históricos de São João del-Rei foram amplamente explorados por pesquisadores. O tombamento do conjunto arquitetônico e urbanístico da cidade, no entanto, despertou interesse por um estudo mais detalhado em razão das poucas publicações sobre o tema.

Dessa forma, a análise visou desvendar:

A contextualização e a justificativa para a escolha do conjunto arquitetônico e urbanístico de São João como representação de um passado nacional, o processo de decisão quanto à seleção e à valorização de tal bem;

A correlação da cidade com os outros cinco sítios históricos mineiros também preservados em 1938, assim como a área de abrangência desses tombamentos e posterior delimitação;

A demarcação dos logradouros e imóveis isolados incluídos no tombamento do conjunto de São João ocorrido em 1947. Assim como as propostas para tal limite, sua interligação com a formação histórica e urbana da cidade e os conflitos e negociações gerados entorno da mesma;

O motivo pelo qual diversas iniciativas locais, ocorridas nas décadas

seguintes à delimitação do tombamento, desejavam a revisão deste limite de

(14)

preservação. Assim como qual setor da sociedade estava por trás da grande maioria dessas revindicações;

A exclusão, na retificação do tombamento, de áreas importantes no processo histórico e econômico da cidade;

Os tombamentos estaduais e municipais de São João e qual o panorama atual de preservação.

Justificativa / Abordagem teórica

O presente estudo visa contribuir para o entendimento do processo de preservação de São João del-Rei, desde as primeiras manifestações oficiais, em 1938, até os dias de hoje, procurando destacar as ações de salvaguarda dos bens imóveis, a reação da população perante o patrimônio e a contextualização inerente a esse trâmite.

Os dados históricos utilizados para elaboração deste trabalho foram fundamentados nas obras de historiadores como Antônio Gaio Sobrinho, Fábio Nelson Guimarães e Geraldo Guimarães. Outros artigos, de diversos autores, publicados nas revistas do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei também nortearam esta pesquisa, assim como o acervo da Fundação João Pinheiro, de Belo Horizonte, que em muito contribuiu com obras contendo dados estatísticos sobre a cidade.

O tombamento de São João e dos outros cinco conjuntos mineiros datados do

mesmo ano foram pesquisados em fontes primárias, coletadas no Arquivo Central

do IPHAN, na seção Rio de Janeiro (arquivo Noronha Santos), na Superintendência

Estadual do IPHAN de Belo Horizonte, no Escritório Técnico II do IPHAN do

município de São João del-Rei e em jornais locais e estaduais de época. Em razão

da escassez de fontes secundárias que abordem a implantação dos atos de

preservação e seus limites, este trabalho traz, pela primeira vez, a reunião detalhada

e crítica das três esferas de tombamento, federal, estadual e municipal. Além disso,

contribui também com a descrição e a correlação dos cinco conjuntos mineiros

tombados concomitantemente com São João.

(15)

Em relação ao tema do crescimento comercial e a sua expansão no território urbano, essencial para o entendimento de sua correlação com a área tombada e diversas reivindicações deste setor contrárias à proteção, foi fundamental o trabalho do historiador Antônio Gaio Sobrinho intitulado História do Comércio em São João del-Rei. Este estudo pioneiro na cidade, encomendado pelo Sindicato do Comércio Varejista, disponibiliza material iconográfico de grande valor histórico, assim como o trabalho fotográfico do Studio Moura, disponibilizado em CD-ROM, que sobrepõe fotografias antigas e novas, permitindo a análise das transformações ocorridas na cidade ao longo dos anos.

Para a compreensão dos diversos aspectos do desenvolvimento urbano e dos tombamentos de São João foi necessário consultar parte do relatório técnico encomendado pelo órgão do patrimônio, de autoria de Vanessa Borges Brasileiro, além de contar com a contribuição de André Dangelo e seus esclarecimentos acerca da cidade. Durante esse processo, foi notória a dificuldade de acesso aos estudos em andamento do IPHAN e a ausência de bibliografia ampla envolvendo a cidade mineira.

Em relação ao tema da história da cidade e do urbanismo, o campo de referências bibliográficas adotado abrange publicações de Benedito Lima de Toledo, Candido Malta Campos Filho, Flávio Villaça, Heliana Comin Vargas, José Geraldo Simões Júnior, Leonardo Benevolo, Sylvio de Vasconcellos, entre outros.

No campo da preservação foram relevantes os estudos de Beatriz Mugayar Kuhl, Cecília Helena Godoy Rodrigues dos Santos, Lauro Cavalcanti, Lia Motta, Maria Cecília Londres Fonseca, Nabil Bonduki, Sylvio de Vasconcellos, entre outros.

Metodologia

A metodologia deste trabalho foi composta por levantamento de dados e

pesquisa em fontes secundárias, como dissertações, teses, livros e artigos

publicados sobre o tema da preservação e do desenvolvimento urbano. Muitas

dessas informações foram coletadas junto aos arquivos e bibliotecas da

Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de Minas Gerais

(16)

(UFMG), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e da Universidade Presbiteriana Mackenzie. O resultado das pesquisas sobre as fontes primárias específicas a respeito do tema do desenvolvimento urbano, políticas de preservação, projetos e iconografia é fruto do trabalho realizado diretamente nas cidades de São João del-Rei, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

Parte dessas investigações foram realizadas junto aos arquivos da cidade em estudo da Câmara Municipal, IPHAN, Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural, Universidade Federal de São João del-Rei, Biblioteca Municipal

"Baptista Caetano d’Almeida", IBGE e Associação Comercial e Industrial. Com tou- se ainda com o arquivo Noronha Santos, IPHAN (seção Rio de Janeiro) e Superintendência do IPHAN de Belo Horizonte. Entrevistas com pesquisadores, historiadores e funcionários da administração pública, envolvidos com a temática, foram realizadas, assim como visitas de reconhecimento em campo.

Observada a metodologia para a realização deste trabalho, vale ainda destacar de que maneira ela é aqui apresentada.

No primeiro Capítulo, contemplam-se os antecedentes históricos de São João del-Rei e a dinâmica econômica e cultural que levaram a cidade a reorganizar suas relações sociais e arranjos territoriais, configurando assim o processo de expansão urbana. O estudo da formação urbana e histórica de São João se fez necessário para a compreensão da área colonial delimitada no tombamento de 1947 e das demais regiões não inclusas no ato. Essa pesquisa ainda é útil para o entendimento da abrangência territorial da poligonal de preservação do centro histórico, tombada em nível municipal. O desenvolvimento comercial será enfatizado e correlacionado com a sua ocupação na malha urbana e na área tombada, a fim de interpretarmos os diversos registros do setor comercial, contrários ao tombamento, e a sua localização em meio ao espaço urbano salvaguardado. Neste sentido, vale lembrar que publicações sobre a história da cidade são vastas, mas raros são os trabalhos, pretensão deste texto, sobre a formação urbana de São João.

O segundo Capítulo abrange, de forma detalhada e pioneira, o tombamento

de São João, tanto na esfera federal, quanto na estadual e municipal. Relata ainda

uma prática de defesa e de conservação de sítios históricos que pretendeu

salvaguardar não só a cidade em estudo, mas o conjunto composto por Serro,

(17)

Tiradentes, Ouro Preto, Mariana e Diamantina, em razão da integridade e uniformidade colonial. O Capítulo reúne também os diversos atos de preservação de São João, demarcando-os no território, e evidencia a atuação recente e constante do Conselho Municipal, demonstrando um novo olhar da população perante o patrimônio.

Já o último Capítulo engloba as articulações e os conflitos observados entre a

política de preservação patrimonial e os interesses de comerciantes associados a

grupos locais. Nas três décadas após o tombamento federal, o cenário encontrado

foi o de total repúdio às diretrizes restritivas da instituição. Em contrapartida, no final

do século XX, um novo olhar acerca do patrimônio foi mundialmente configurado,

assim como a conscientização da sociedade são-joanense sobre o valor da

memória. As últimas décadas apresentaram um terceiro posicionamento em que é

possível atrelar a preservação do patrimônio à possibilidade de desenvolvimento

econômico.

(18)

1

Antecedentes históricos,

desenvolvimento urbano e comercial

(19)

Este Capítulo pretende abranger os antecedentes históricos e a evolução urbana e comercial de São João del-Rei, assim como as alterações ocorridas no espaço em decorrência da expansão da cidade ao longo da sua origem primitiva e para a direita do Córrego do Lenheiro. Tal análise torna-se fundamental para o entendimento da área tombada em nível federal, estadual e municipal, tema do próximo Capítulo, e para a contextualização dos embates em torno da preservação e do progresso, pauta da terceira parte deste trabalho.

Minas Gerais foi uma região inicialmente de sertão, onde tribos nativas nômades viviam da caça e da pesca. A procura por índio e, posteriormente, esmeralda, ouro e prata, atraiu os paulistas para a localidade. Esse período foi marcado por expedições ao sertão em busca de riqueza, que, por sua vez, levou a um povoamento rápido e desordenado após a descoberta do ouro, como se pode observar nas palavras de Guimarães (1996, p. 35): "A consequência imediata dos ricos descobertos foi um povoamento rápido e desordenado desses sertões. Os caminhos se encheram de aventureiros de variadas castas e origens, vindos de todas as partes".

Ilustração 1.1: Diversas expedições na futura Minas Gerais em busca de riqueza.

Fonte: Dangelo, 2006, p. 70.

Data: 1681 a 1700.

(20)

A ocupação das proximidades de São João del-Rei data do final do século XVII e início do XVIII, quando Tomé Portes del-Rei instalou-se à margem esquerda do Rio das Mortes, à beira do caminho Geral do Sertão, posteriormente, Caminho Velho, e adquiriu o direito de cobrança de passagem dos viajantes a partir de 1702.

Esta região é denominada Porto Real de Passagem e está situada no atual bairro de Matosinhos. Possui uma localização favorecida por ser a única via de acesso às minas, tanto para os que vinham de São Paulo como para os que chegavam do Rio de Janeiro.

Historiadores mineiros hesitam em apontar, com presteza, quando se deu a instalação do núcleo de abarracamentos, autores sanjoanenses divergem nas possíveis datas em que à beira do Rio das Mortes estanciara Tomé Portes del-Rei. (DANGELO, 2006, p. 13)

Ilustração 1.2: Porto Real, localidade onde os viajantes pagavam pelo direito de passagem.

Fonte: Dangelo, 2006, p. 72.

Data: Final do século XVII e início XVII.

O Caminho Velho ligava São João a Baependi, Pouso Alto derivando o

percurso até São Paulo, após passar por Taubaté, ou Rio de Janeiro, posteriormente

a Parati. Este caminho chegava a São João pela Rua Santo Antônio, o que justifica

(21)

a sinuosidade da mesma e os casórios fora do prumo. Por ser passagem de tropas, fez-se necessário ora alargar-se ora estreitar-se a beira do morro em curva de nível.

Tomé Portes comercializava com os viajantes a colheita de sua lavoura e a criação de animais, à margem do Rio das Mortes, no Porto Real de Passagem, dando início à atividade comercial na região. O termo Rio das Mortes, segundo Antonil (1714), se deve ao fato de morrerem nele homens que passaram nadando e outros que se "mataram às pelouradas", brigando pela repartição dos índios que traziam do sertão.

1.1 Evolução urbana do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar

A descoberta de ouro às margens do Rio das Mortes trouxe muitos aventureiros para a região. No ano de 1702, Antônio Garcia da Cunha, que por morte de seu sogro, Tomé Portes, sucedeu-o em Guarda-mor, distribuiu as terras a várias pessoas que começaram a explorar as margens do ribeirão. Em 1704, o português Manoel José de Barcelos encontrou ouro na encosta sul da Serra do Lenheiro, atual morro das Mercês. Naquele local, estabeleceu-se o núcleo de povoamento que daria origem ao Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar, mais tarde Arraial Novo do Rio das Mortes e São João del-Rei.

Nos primeiros anos de arraial "não havia organização administrativa nem justiça" (CÂMARA, 1974/1975, p. 23). A igreja desempenhou papel importante para a moderação dos costumes em meio a uma sociedade "dominada pela anarquia geral e tumultuária, insuportável" (ibid.), como lembra ainda Câmara. As primeiras construções do arraial eram rústicas e primárias, na sua quase totalidade, com quatro esteios de pau, paredes de pau a pique, piso de terra e cobertura de palha.

Muitas ficavam bem próximas às minas de ouro, como forma de garantir a

segurança das mesmas. A primeira igreja erguida, construída em material precário,

assim como as demais moradas, foi dedicada à Nossa Senhora do Pilar e

frequentada por todas as classes e etnias. A planta quadrada evolutivamente se

dividiu em cruz, apareceram às esquadrias e a demão de cal nas paredes.

(22)

O ouro atraiu muitos forasteiros, emboabas, para o arraial. Estes passaram a dominar os paulistas em número e organização, resultando em um conflito de ambições pelo domínio do território e, consequentemente do mineral. Em meio à guerra dos emboabas, todas as primitivas moradas, incluindo a igreja, foram destruídas por um incêndio, iniciado pelos mesmos como recurso de guerra. O arraial foi arruinado, apesar dos paulistas derrotados já terem se retirado. Os emboabas se deslocaram para um local próximo. Passada a guerra e confirmada a existência do ouro em abundância, o arraial voltou a ser povoado em razão de sua proximidade com as minas. Progressivamente, com a ascensão econômica do ciclo do ouro, novas moradas foram construídas com materiais melhores, ocupando a lateral e a parte posterior do terreno.

O desdobramento das atividades domésticas, a melhoria das condições econômicas, a crescente complexidade da vida, a presença de escravos na casa, o progresso geral, enfim, levam o dono a construir casa nova, já com pé direito de até 3.50 metros e alicerces mais sólidos e altos. A pedra começa a ser usada em construções de alvenaria e nas escadas externas, portais, umbrais e outras partes. Havendo ainda muito espaço disponível, a casa segue a linha horizontal, ao comprido, ao lado das ruas, tortuosas quase todas, dados os acidentes do terreno. (CÂMARA, 1974/1975, p. 23)

A primeira divisão ocorrida no arraial foi de raças. A Confraria do Rosário foi a precursora por ter sido destinada aos negros, construção iniciada em 1708, ou seja, a Igreja começou a funcionar regularmente antes do Estado.

O arraial de São Joao del-Rei foi formado inicialmente por um "modelo

tradicional" mineiro de ocupação, como bem relata Renato Venâncio (2001), cujos

cidadãos estabeleciam-se em busca do mineral e passavam a demandar linhas de

abastecimento. Num segundo momento da extração do ouro, os povoamentos de

Minas Gerais ampliaram a comercialização e o abastecimento do setor agrícola e

pecuário, aumentando a rede econômica ao integrar outras localidades. Em uma

terceira fase de desenvolvimento do território mineiro, após o declínio da mineração,

novas localidades abastecedoras ou intermediárias foram desenvolvidas, criando

uma trama de trocas comerciais que se interceptavam. Minas Gerais, ao longo dos

séculos XVIII e XIX, "fora a região mais populosa e mais urbanizada do país, sendo

que os níveis de urbanização e a dinâmica demográfica se aproximaram aos da

Europa e do Novo Mundo.” (Diagnóstico Urbano, 2009, p.13).

(23)

1.1.1 Elevação à Vila de São João del-Rei, expansão ao longo da origem primitiva e do Morro da Forca

Em 1713, a próspera localidade foi elevada à vila e recebeu o nome de São João d’el-Rey em homenagem a Dom João V, rei de Portugal. No ano seguinte, obteve o posto de sede da Comarca do Rio das Mortes, apresentando a extensão ilustrada abaixo que, correlacionada aos dias de hoje, abrangeria os vários municípios descritos, fato de importância não só política, mas sobretudo econômica.

Consta no Auto de Levantamento da Villa, que Dom Brás Balthazar da Silveira [...] apelidou com o nome de São João d’El-Rey, e mandou que com esse titullo fosse de todos nomiado em memória do nome El-Rey.

(REVISTA DO ARCHIVO PÚBLICO MINEIRO, 1897, p. 88)

Ilustração 1.3: Extensão da Comarca do Rio das Mortes nas Minas Gerais de hoje.

Fonte: Guimarães, 1996, p. 42.

(24)

A Comarca do Rio das Mortes limitava-se ao norte com a Comarca do Rio das Velhas, hoje Sabará, e com a Comarca de Vila Rica. Ao sul, fazia fronteira com a Serra da Mantiqueira e o Rio Paraíba, atualmente São Paulo e Rio de Janeiro, e ao leste, fazia divisa com Vila Rica.

Em 1713, o pelourinho, símbolo de autoridade, foi instalado na margem direita do Córrego do Lenheiro, levando a crer ser o atual bairro do Matola. Esse lugar foi escolhido pelo governador Dom Brás Baltazar da Silveira por ser o local "mais capaz e conveniente" para continuar a vila, “visão de urbanista, prevendo o crescimento da futura urbe” (CÂMARA, 1974/1975, p. 20). O mesmo, no entanto, foi realocado para a Prainha, na praça da rodoviária velha, por causa do não deslocamento da população para a região de expansão indicada. A forca foi instalada no morro que levou o seu nome, Morro da Forca, atual Bonfim.

Em razão do desenvolvimento da vila, os terrenos disponíveis diminuíram. As casas foram construídas coladas umas nas outras, com frentes estreitas e compridas para o fundo do terreno, seguindo o alinhamento das ruas.

Pode-se afirmar com segurança que durante o período colonial a arquitetura residencial urbana estava baseada em um tipo de lote com características bastante definidas. Aproveitando antigas tradições urbanísticas de Portugal, nossas vilas e cidades apresentavam ruas de aspecto uniforme, com residências construídas sobre o alinhamento das vias públicas e paredes laterais sobre o limite do terreno. (REIS, 1987, p.

22)

Progressivamente surgiram os sobrados, com dependências no térreo para animais, ferramentas, mantimentos e senzala para escravos. Comumente, o térreo era destinado a atividades comerciais.

A produção e o uso da arquitetura e dos núcleos urbanos coloniais baseavam-se no trabalho escravo. Por isso mesmo, o seu nível tecnológico era dos mais precários. As vilas e cidades apresentavam ruas de aspecto uniforme, com casas térreas e sobrados. (REIS, 1987, p. 21)

Até 1718, a vila de São João tinha sob sua jurisdição toda a área territorial da

comarca. A partir da criação da Vila de São José del-Rei, atual Tiradentes, esta

passou a administrar quase a metade de todo o território. A divisão entre as duas foi

feita pelo Rio das Mortes e pelo Rio Grande, como ilustrado na imagem a seguir.

(25)

Ilustração 1.4: Desmembramento do território da Vila de São João del-Rei, após a criação da Vila de Tiradentes (São José del-Rei).

Fonte: Guimarães, 1996, p. 45.

Data: Século XVIII.

A ocupação da Vila de São João del-Rei ocorreu de forma desordenada e irregular, em harmonia com a paisagem natural, estendendo-se com mais densidade à área próxima à extração do mineral, à esquerda do Córrego do Lenheiro.

Desdobrou-se ainda da Igreja do Rosário à Igreja do Carmo, galgando a encosta do

morro das Mercês até o Largo da Câmara, Praça Barão de Itambé, onde hoje está

situado o Hospital das Mercês. As ruas eram caminhos entre o local de extração, a

moradia e a entrada e saída da vila. As vias mais tradicionais, apesar da

configuração irregular da malha urbana, estavam ligadas por um caminho principal

(26)

denominado Rua Direita, atual Rua Getúlio Vargas, via que ligava a Igreja do Rosário à Igreja do Carmo. Além de espacializar um maior número de serviços do entreposto, exercia a função inicial de distributiva e integradora do arraial com outras regiões.

O povoado cresce como lhe convém, espicha e encolhe, conforme seu estágio de desenvolvimento; ameniza os aclives com traçados coleantes, absorve os terrenos mais favoráveis e rejeita os impróprios, participando da vida dos seus habitantes, como uma entidade também viva e livre das contenções determinadas por regras fixas ou tentativas de racionalização divorciadas da realidade. (VASCONCELLOS, 2004, p.147)

O diagnóstico urbano e os parâmetros propositivos para intervenções no centro histórico bem descrevem a área denominada Quatro Cantos como o centro comercial mais antigo da cidade. Estabelecido, originalmente, no cruzamento da Rua do Curral, posterior à Rua do Comércio e a atual Rua Marechal Deodoro, com a rua que vai para a Intendência, atual Rua Arthur Bernardes. Vias interligadas à Rua Direita, representando o centro comercial de São João, coincidindo com o histórico, até o advento da ferrovia no final do século XIX. O centro histórico referido está associado à origem do núcleo urbano ao passo que o centro comercial associa-se ao lugar de trocas comerciais, de encontro e de abastecimento.

A direita do Córrego do Lenheiro havia outra encosta chamada de Morro da Forca, atuais bairros do Bonfim e Matola, sem registros de existência de ouro. "Pela posição estratégica em relação ao local de exploração do mineral foram erguidas confortáveis residências de cidadãos ligados ao controle e administração da Coroa"

(MALDOS, 1997, p. 2), sob a exigência de serem cobertas de telha. Outro braço de ocupação surge, marcado por lotes mais generosos e regulares. Maldos ainda menciona que há registros de editais da Câmara, em 1714, que apresentavam medidas proibitivas quanto às construções próximas à mina ou com cobertura de palha, em razão da fragilidade desse material. Apesar da ação de incentivo às novas edificações do lado direito do córrego, a aglomeração continuou a crescer ao redor da Serra do Lenheiro.

A conclusão da obra da Igreja do Rosário data de 1719, a da Matriz do Pilar

ocorreu em 1721, a do Carmo, em 1733 e a da Mercês, em 1751, à margem

esquerda do rio Lenheiros. Segue ainda a conclusão da Igreja de São Francisco, em

1749, a Capela de Bonfim, em 1769 e a de São Gonçalo, em 1786. As velhas pontes

(27)

de madeira foram construídas em 1719, ligando as partes sul e norte da cidade. Em 1798 e 1800, essas pontes foram substituídas por outras duas, dessa vez, de pedra, e foram chamadas de ponte da Cadeia e ponte do Rosário. Essas obras até hoje são de importante função viária e urbanística.

Com o passar do tempo, a vila expandiu-se ao longo de sua origem primitiva.

O crescimento foi constatado por meio do prolongamento da Rua Santo Antônio e da Rua do Carmo, que, antes da reforma da Igreja, era uma continuação da Rua Direita. Em seguida, verificou-se o mesmo processo em direção à Prainha, Pau d'Angá e Barro Vermelho. A Igreja do Morro da Forca e a construção da primeira ponte de madeira sobre o Córrego do Lenheiro motivaram a tímida expansão para o outro lado. Surgem, desse forma, a Rua da Prata, atual Rua Padre José Maria Xavier, a Rua São Francisco, atual Dr. Balbino da Cunha, e a Rua do Morro da Forca, atual Ribeiro Bastos. Foram construídas ainda as casas de Fundição e da Intendência, onde hoje está a Escola Maria Teresa, bem como a primeira Capela de São Francisco (1742) e o hospital da Terra Santa (1743). Em 1783 foi fundada a Casa da Caridade, hoje Santa Casa, na Rua da Conceição, que passou a ser conhecida como Rua do Hospital.

Do ponto de vista da organização espacial urbana, podemos dizer

que, acima de tudo, a mesma foi condicionada em função da situação

topográfica, que em virtude do acompanhamento do curso natural do

córrego/vale Lenheiro forjou a longitudinalidade do assentamento. Deste

modo, é fácil percebermos como os arruamentos originais, que estruturam

um dos principais “caminhos-tronco” que definiam nos tempos antigos a

entrada e a saída da cidade fundada por Antônio Garcia da Cunha por volta

de 1705, seguiam paralelos ao leito do rio: Rua Santo Antônio, Rua Direita,

Prainha e Rua do Barro-Vermelho. A existência do Córrego do Lenheiro

determinou ainda, como vimos, a necessidade de pontes sobre seu leito e

percebemos que, a cada momento histórico-econômico vivido, a cidade se

encarregou de estabelecer tais ligações. (DANGELO, 2007, p. 26)

(28)

1 Capela N. S. Mercês 2 Igreja N. S. Carmo 3 Casa da Câmara 4 Igreja Matriz N. S. Pilar 5 Cadeia

6 Capela N. S. Piedade

7 Ponte Nova ou da Intendência 8 Fonte João Congo

9 Capela Santo Antônio 10 Igreja N. S. Rosário 11 Capela S. Caetano 12 Ponte do Rosário 13 Chafariz

14 Casa de Bárbara Eliodora 15 Igreja S. Francisco de Assis 16 Igreja Matriz N. S. Pilar (velha) 17 Casa da Caridade (Santa Casa) 18 Chafariz do Matola

19 Capela N. S. Conceição 20 Casa de Caldeira Brant 21 Ponte do Hospital 22 Casa da Intendência 23 Igreja de S. Gonçalo 24 Casa de Fundição 25 Fonte da Biquinha

Ilustração 1.5: Demonstração topográfica de SJDR, no século XVIII, expandindo-se ao longo do curso natural do Córrego do Lenheiro.

Fonte: Dangelo, 2006, p. 91.

Autor: Geraldo Guimarães, 1995.

(29)

A partir do Matola, havia um caminho para o Porto da Passagem. Com exceção da Rua do Tejuco, as margens do Córrego do Lenheiro não foram ocupadas no século XVIII. A vila permaneceu pouco densa até o século XX, em razão das várias saídas e da expansão em direção aos subúrbios, local de chácaras.

Uma vasta produção mercantil de gêneros alimentícios desenvolveu-se em São João, abastecendo a população desde os seus primórdios. Sua localização em meio a vários caminhos, somada à próspera atividade agropecuária, possibilitou o contínuo crescimento da vila e sua reação econômica. A mesma não sofreu grandes perdas com o esgotamento das minas de ouro, fato recorrente em toda a Capitania das Minas Gerais a partir de 1750.

Além da agricultura e da pecuária, surgiram outros setores médios da sociedade dedicados a atividades ligadas ao "artesanato, à construção, ao serviço militar, à burocracia administrativa, aos ofícios mecânicos e, lógico, ao comércio.”

(SOBRINHO, 1997, p. 24). O alto poder aquisitivo dos habitantes, proveniente dos recursos do ouro, possibilitou o enriquecimento dos comerciantes locais. Com a venda de aguardente, ferramentas e comestíveis rapidamente muitos deles conseguiram acumular fortuna.

A fuga da mineração e os pedidos de sesmarias foram intensificados em meados do século XVIII. Grandes áreas para atividades agropastoris, especialmente ao longo do Caminho Novo, foram ocupadas. São João, por ser sede da Comarca e localizar-se no meio de diversos caminhos, tornou-se centro comercial da região, como bem demonstra Guimarães:

A vila de São João del-Rei, cabeça da Comarca, pela sua posição favorável como entroncamento dos vários caminhos, tornou-se centro de intercâmbio comercial entre outras regiões da capitania e o Rio de Janeiro.

(1996, p. 45)

Foi o comércio, e não o ouro ou outros minerais e pedras preciosas, o fundamento principal e direto dos povoados mineiros. "Ainda que o ouro tenha sido a causa remota e base econômica da criação dos aludidos povoados, é o comércio que os objetiva, os alimenta” (VASCONCELLOS, 2004, p. 146).

A atividade aurífera entrou em decadência durante o processo de

desenvolvimento da colônia. Em razão dos pesados impostos cobrados pela Coroa

Portuguesa, setores da sociedade, representados por intelectuais, militares, padres,

(30)

entre outros, conspiraram contra a metrópole desejando a liberdade comercial e a separação política. Em curto período de tempo, o movimento nacionalmente conhecido como Inconfidência Mineira ganhou proporção e simpatizantes nos arraiais e vilas das Minas Gerais. Um dos planos da Conjuração Mineira especulou uma nova capital cuja sede seria a Vila de São João del-Rei. Em 1789, porém, o movimento foi interrompido pela denúncia do coronel Joaquim Silvério dos Reis em troca do perdão de suas dívidas à família real.

São João teve seu território novamente desmembrado na última década do século XVIII, devido à criação da Vila de Barbacena, no Arraial da Igreja Nova.

Mesmo perdendo grandes áreas territoriais, a vila de São João del-Rei, por ser cabeça da Comarca do Rio das Mortes, permaneceu como centro político e jurídico dos mais importantes do estado.

Ilustração 1.6: Desmembramento do território da vila de São João del-Rei pela fundação da Vila de Barbacena.

Fonte: Guimarães, 1996, p. 45.

Data: 1799.

O esgotamento das minas de ouro trouxe a demanda por outra atividade

econômica. O setor agrícola e pecuário, em próspera produção desde os primórdios

de São João e região, atraiu adeptos em busca de rendimento. O projeto Fórum

Documenta, realizado pelo Laboratório de Conservação e Pesquisa Documental do

Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São João del-Rei

(UFSJ), após identificação, conservação, divulgação e pesquisa de acervos

(31)

judiciários dispersos pelo território, relata que o crescente desenvolvimento de tais atividades do setor primário foi responsável pelo ‘‘deslocamento da população para a região sul’’, diante da crise da atividade aurífera. A Comarca do Rio das Mortes, ao sul do estado, vivenciou o aumento triplo de sua população, "passando de 82.781 habitantes em 1776, para 154.869 em 1808 e 213.617 em 1821". Já Vila Rica, passou pelo êxodo populacional. A Comarca do Rio das Mortes, situada em posição privilegiada, oferecendo prósperas possibilidades comerciais, atraiu não só conterrâneos do estado e do país, mas também imigrantes europeus em busca de enriquecimento.

Como já exposto, desde sua fundação, o cultivo agropecuário para abastecimento foi uma atividade presente. Com a vinda da família real para o Rio de Janeiro, em 1808, a prosperidade do setor primário e a boa localização fez com que a produção fosse direcionada para o abastecimento da Corte. O comércio, consequentemente, foi ampliado e dotado de novos atrativos, os gêneros importados.

A posição geográfica privilegiada, sobretudo no triângulo formado pelas vilas de São João, Barbacena e Campanha, principais entrepostos comerciais, fazia com que a região fosse o corredor pelo qual circulavam todas as mercadorias. Desse modo, as vilas se transformaram em centros de redistribuição dos produtos importados trazidos do Rio de Janeiro, amplificando suas atividades comerciais. A posição estratégica da região foi reforçada pela política joanina de integração da região centro-sul que visava, em seus objetivos econômicos, garantir a produção e o abastecimento da Corte. (ACERVOS DOCUMENTAIS DA COMARCA DO RIO DAS MORTES, p. 1)

O ouvidor da Comarca do Rio das Mortes ordenou que a partir de 1808 todas as tropas seguissem exclusivamente para o Rio de Janeiro a fim de transportar os produtos para prover a Corte.

[...] não disponham viagem alguma com as suas tropas sem licença minha e

sem que seja para conduzirem para o Rio de Janeiro todos os gêneros que

devam em tempo transportar-se para a mesma cidade, que deve estar

fornecida de todo o preciso à chegada de um tão poderoso, tão

amabilíssimo e tão respeitável e adorável Príncipe e Monarca Lusitano que

vem fazer a felicidade deste tão afortunado País; devendo para o dito fim ter

suas tropas invernadas e prontas. (O Repórter, 1808 apud SOBRINHO,

1997, p. 18)

(32)

O extenso percurso entre o Rio de Janeiro e Minas exigiu a criação de uma estrada mais curta, chamada de Caminho Novo, estreitando a relação econômica com as três comarcas. Essa nova estrada partia do Rio de Janeiro, cruzava o Rio Paraíba, acompanhava o Rio Paraibuna, chegando a Barbacena e encontrando o Caminho Velho, próximo a Conselheiro Lafaiete. Os moradores do Rio das Mortes em pouco tempo criaram três vias de ligação ao Caminho Novo.

Ilustração 1.7: Convergência dos principais caminhos das Minas Gerais (detalhe).

Fonte: Guimarães, 1996, p. 48.

Autor: Geraldo Guimarães.

Data: 1995.

A primeira via de acesso ao Caminho Novo partia do Caminho Velho, passava pelo Arraial de Prados, prosseguia pelos divisores das vertentes do rio Carandaí e do ribeirão Alberto Dias, chegando à Ressaca. Saint Hilaire, em seus relatos sobre os costumes e paisagens brasileiras do século XIX, descreveu sua chegada à vila em estudo:

Para ir a São João continuei a atravessar o plano onde fica o rancho

da Marçal e cheguei a um vale que se prolonga perpendicularmente a esse

plano. Aí gozei a vista mais risonha que se me ofereceu depois que viajava

na província de Minas. Frequentemente havia admirado belezas

majestosas, mas sempre ásperas e selvagens; pela primeira vez depois de

quinze meses, tive os olhos postos em uma paisagem que tem qualquer

(33)

coisa desse ar de alegria e que as paisagens da França devem tantos encantos. (SAINT-HILAIRE, 1974, p. 109)

A segunda via, conhecida como Caminho do Meio, era a mais curta. Saía do Porto Real, passava pelo Elvas, Barroso e encontrava o Caminho Novo no Registro, atualmente Dr. Sá Fortes.

A terceira e mais longa delas começava no Morro da Forca, prosseguia pelo Arraial do Onça, Montividio e Ilhéus, até encontrar o Caminho Novo na região onde mais tarde seria fundado o Arraial da Igreja Nova, Barbacena. Tal ligação é utilizada até os dias de hoje, apresentando algumas variações.

Já o maior e mais ousado caminho criado pelos moradores do Rio das Mortes, como bem relata Geraldo Guimarães (1996), foi a Picada de Goiás. Este título lhe foi dado por causa de sua vasta extensão e por propiciar a ocupação dos sertões do oeste, São Tiago, Bom Sucesso, Oliveira, Formiga, Arcos, derivando em outros caminhos até Pitangui, Bambuí, Araxá, entre outros povoamentos, região ocupada por nativos do próprio Rio das Mortes.

No início do século XIX, São João del-Rei possuía uma população urbana em torno de cinco mil habitantes, com cerca de mil edificações.

Ilustração 1.8: Estimativa de população e edificações da vila de São João.

Fonte: Fundação João Pinheiro, 1983, p. 23.

Autor: Geraldo Guimarães, 1995.

(34)

Ilustração 1.9: Primeiro Registro de SJDR, adensamento próximo às minas de ouro.

Fonte: http://www.saojoaodelreitransparente.com.br/. Acesso em: 10 nov. 2011.

Autor: Aquarela de Rugendas. Expedição Langsdorff ao Brasil.

Data: 1824.

Ilustração 1.10: Porto real, atual bairro de Matosinhos, local de cobrança pela passagem.

Fonte: Arquivo de Sávio Assis.

Autor: Aquarela de Rugendas. Expedição Langsdorff ao Brasil.

Data: 1824.

Em 1822, o abastecimento de água era feito por meio de um chafariz, localizado no Largo de São Francisco. "Sua adução que, pelos processos de então, se fazia em calhas abertas e nas depressões do terreno em bicas apoiadas em suportes de madeira, a que chamavam andaimes, era dispendiosa conservação."

(VIEGAS, 1948, p. 79). Já em 1833, o aqueduto foi ampliado para abastecer

também o Chafariz da Legalidade, localizado no Largo da Praia, mais tarde

chamado de Largo Tamandaré (hoje Praça Severiano de Resende), estendendo-se

até a Ponte do Rosário, à esquerda do Córrego do Lenheiro. Esse último era

chamado de Chafariz dos Arcos por ser construído sobre arcarias, feito de pedras e

(35)

tijolos. Em 1887, o abastecimento passou a ser feito por meio de tubos de ferro fundido. Em 1895, o aqueduto foi demolido e, posteriormente, reconstruído na atual Praça dos Andradas.

Ilustração 1.11: Aqueduto, à esquerda, próximo a Praça Severiano de Resende.

Fonte: Flôres, 2007, p. 145.

Autor: Museu Regional de São João del-Rei.

Data: Final do século XIX.

1.1.2 Século XIX: de Vila à Cidade – a expansão em direção à linha férrea

Segundo Reis (1987), "os sinais de evolução podem ser reconhecidos quase sempre – senão sempre - em primeiro lugar no plano arquitetônico e só depois no urbanístico, onde são frutos de uma adaptação mais lenta." (p. 22).

São João del-Rei, já no começo do século XIX, mostrou-se amadurecida

comercialmente, ocupando posição de destaque perante as demais vilas

mineradoras da época. Lojas instaladas em elegantes edificações disponibilizavam

variados produtos, desde os gerados na comarca até os importados. O movimento

de passantes, caixeiros-viajantes, mulheres e crianças circulando pelas ruas

conferem-lhe um aspecto alegre e colorido. Também é precoce o surgimento da

(36)

imprensa, assinalado pela fundação, em 1827, do Astro de Minas, o segundo jornal de Minas Gerais na época.

Nas suas anotações sobre São João del-Rei, feitas por volta de 1820, Saint-Hilaire destaca o agradável aspecto urbano e paisagístico da vila, com uma população estimada em 6.000 habitantes, na maioria brancos, fato que lhe conferia singularidade entre as demais vilas mineiras. As ruas já eram, em geral, calçadas e largas, predominando na arquitetura as casas baixas, mas com ocorrências de muitos sobrados, entre os quais se salientavam as casas do Ouvidor e da Intendência. Todos os prédios pareciam vistosos e bem cuidados, geralmente caiados, com as portas, janelas e esquadrias pintadas de verde, cinza ou imitação de mármore. Não havia casas em ruínas, como em outras partes da província, e tudo apresentava aspecto vivo e animado na vila, que, além dos serviços institucionais de sede de grande comarca e de recursos de equipamento urbano-social, já possuía considerável movimento de comercio de importação e exportação, principalmente com a cidade do Rio de Janeiro. (SAINT-HILAIRE, 1937 apud FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 1983, p. 4)

O baixo custo de produção das mercadorias locais, somado à autossuficiência e à mão de obra escrava, trouxe o acúmulo de capital nas fazendas produtoras de alimentos e a elevada capacidade de resistir a situações futuras desfavoráveis.

Ilustração 1.12: Vista de uma São João del-Rei pujante comercialmente, com povoamento denso para a época.

Fonte: Robert Walsh. Notícias do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1985. v. 2.

Data: 1828.

Essa vila, além de comércio de ouro, desfruta de considerável

quinhão no comércio do país. Consistem as importações principalmente de

artigos ingleses, e não somente o valor deles atualmente é grande, como a

sua procura terá que aumentar paralelamente a população, a cultura e a

riqueza do distrito, que exige roupas pesadas e está aprendendo a gostar

do conforto doméstico. [...] Antigamente, o comércio com o Rio resultava em

(37)

balança desfavorável à vila e comarca [...]. Desde, porém, a vinda da Corte, o valor dos produtos aumentou tanto que não só a dívida se liquidou como a região se tornou credora da Capital, em avultada quantia. (LUCCOCK, 1975, p. 312)

Em 1838, a Vila de São João del-Rei tornou-se cidade, detendo um amplo desempenho comercial.

Em 1859, os belos casarios eram presença marcante na cidade, dentre os quais oitenta eram exemplares assobradados e com vidraças, 64 "casas de negócios" e três colégios, dois para o sexo feminino e um para o masculino (RODRIGUES, 1985, p.77). Já em 1864, a cidade possuía dez praças ou largos, "S.

Francisco, Formosa, Municipal, Legalidade, Independência, Rosário, Collegio, Carmo, Prainha e Mercês" (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 1983, p. 8-9), e cerca de 1.600 casas, distribuídas em 24 ruas, a citar:

Direita, Praia Formosa, Santo Antônio, Flores, Commercio (antiga Rua do Curral), S. Miguel, S. Roque, Santa Teresa, Carmo, Nova, S.

Francisco, Ponte, Municipal, Prata, Alegria (Rua da Cachaça), Rosário, Independência, Cruz, Bonfim, Misericórdia, Collegio, Senhora da Graça, Lage e Prainha; todas calçadas e algumas extensíssimas, com inúmeras travessas e becos. (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 1983, p. 8-9)

No final do século XIX, São João possuía um cemitério público fora do centro urbano, um hospital da Santa Casa e o Hospício dos Irmãos da Terra Santa. Além disso, a cidade também possuía biblioteca pública, fundada em 1824; sede da Câmara e cadeia, realocada, em 1849, para o atual edifício da prefeitura; a primeira casa para guardar dinheiro de Minas, Banco Almeida Magalhães S/A, fundado em 1860; Teatro Municipal, construído em 1893; escolas públicas, além de serviço de correio, presente desde 1789, e iluminação pública a querosene, disponível a partir de 1866. Edifícios de importantes funções foram construídos na margem direita do Córrego do Lenheiro, demonstrando o início da expansão da centralidade ocorrido no final do século XIX.

Nesta época, os arredores da cidade, como Matosinhos e Colônia do Marçal, eram ocupados por chácaras e fazendas, evidenciadas na Ilustração 1.13.

Rugendas descreve o povoado de Matosinhos, em 1824, fazendo menção a um

futuro promissor: "Nas imediações de São João existe uma aldeia muito agradável: o

arraial de Matosinhos. Sua bela situação e a vizinhança do Rio das Mortes [...]

(38)

permitem prever para essa aldeia um futuro mais próspero que o das cidades vizinhas" (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 1983, p. 23).

O mapa abaixo, datado do final do século XIX, ilustra a localização privilegiada da cidade em estudo, onde diversas estradas de grande fluxo, evidenciadas em vermelho, derivam dela. O traçado da ferrovia (1881) é representado pela linha contínua preta. A densa ocupação da margem esquerda do Córrego do Lenheiro, próxima às minas de ouro, é evidenciada, assim como o braço ao sul, menos povoado. A expansão ao longo da origem primitiva torna-se notável, quando seguimos o curso longitudinal do Córrego e da ferrovia. Porto de Passagem, em Matosinhos, demonstrado e rodeado de chácaras, assim como a Colônia do Marçal.

Ilustração 1.13 (a): Legenda

Fonte: Site do Arquivo Público Mineiro.

Disponível em:

<http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/grandes_formatos_docs/photo.php?lid=304>. Acesso em: 10 jul. 2012.

Data do mapa: 1895.

(39)

Ilustração 1.13 (b): Cidade de São João del-Rei no século XIX, situada na convergência de diversos caminhos.

Fonte: Site do Arquivo Público Mineiro. Disponível em:

<http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/grandes_formatos_docs/photo.php?lid=304>. Acesso em: 10 jul. 2012.

Data do mapa: 1895.

(40)

Nos grandes centros, a primeira metade do século XIX foi marcada pelo pouco envolvimento do poder público na organização do espaço. Já na segunda metade ocorreu a alteração dos hábitos e dos novos usos das edificações. A preocupação pela organização do espaço urbano foi posta em pauta em razão da necessidade de mudanças nas condições insalubres de habitação. Nesse sentido, são válidas as considerações de Antônio Bonet Correra (1989) ao afirmar que o Urbanismo é considerado como uma ciência que nasceu no final do século XIX para estudo, organização e intervenção no espaço urbano, como prática das transformações necessárias à realidade caótica das condições de habitação e de insalubridade em que viviam os habitantes de grandes cidades europeias, na época da Revolução Industrial. Dessa forma, novos hábitos construtivos e de implantação no lote puderam ser observados em São João a partir do final do século XIX.

Se no período colonial o alinhamento das edificações era obrigatório, já no final do século XIX novos hábitos construtivos impunham o afastamento das edificações, primeiro lateralmente, depois o frontal, aparecendo os jardins e as fachadas com movimentos. Os lotes, antes estreitos e compridos, tiveram suas quadras, onde estavam implantados, divididas, desaparecendo as servidões e os becos de serviços. (MALDOS, 1997, p. 5)

São João del-Rei consolidou-se comercialmente ao longo do século XIX, atraindo ferrovia e indústrias, descritas a seguir, para os seus limites. A inauguração, em 1881, da seção da Estrada de Ferro, ligando a cidade ao Rio de Janeiro e a outros importantes ramais da Estrada de Ferro Central do Brasil, impulsionou o desenvolvimento econômico e o aumento dos índices demográficos. A ferrovia trouxe o progresso e diversas edificações surgiram com elementos arquitetônicos e construtivos mais requintados. Novos equipamentos, transportados por trens ou barcos, foram empregados em vastas regiões do país. Novidades tecnológicas passaram a serem utilizadas na construção.

Somente no final do século XIX e início do XX, com a introdução de

novos usos e costumes da sociedade, é que este núcleo sofre ampliação

significativa, numa concepção urbanística diferenciada e obedecendo ao

traçado retilíneo das ruas, onde podemos destacar a ocupação de áreas ao

longo do Córrego do Lenheiro, sentido à jusante, e cercanias do Complexo

Ferroviário da Estrada de Ferro Oeste de Minas, que diga-se de passagem

torna-se, com a sua criação em 1881, o maior elemento catalisador do

desenvolvimento deste período. (LIMA, 2009, p. 2)

(41)

O capital agrário aplicou seus recursos na área urbana, evidenciado pela abertura de indústrias, armazéns e pelo aumento do número de construções. Hotéis foram implantados, denotando o aumento do fluxo de viajantes entre São João e cidades vizinhas dotadas de ferrovia.

O progresso chegava pelos trilhos, modificando a paisagem e o cotidiano dos moradores. As estruturas de ferro da imponente estação, em estilo eclético, proporcionavam um certo ar europeu. A chegada do trem, o movimento de passageiros e mercadorias agitavam este novo ponto de encontro da cidade. Era comum a presença dos donos de hotéis e pensões, oferecendo seus estabelecimentos e suas charretes para os prováveis hóspedes. Em 1898, do outro lado do Lenheiro, era inaugurado o Hotel Brasil. (BRASILEIRO, 2007, p. 84)

Imigrantes, sobretudo italianos e alemães, desembarcam na cidade, inovando hábitos e costumes e dinamizando a economia da região. Novas edificações surgem com técnicas construtivas aperfeiçoadas. A ferrovia possibilitou e incentivou a vinda de mão de obra europeia.

Só estas estradas resolvem o problema da colonização, vital para a nossa prosperidade, pela revolução social produzida pela Lei Aurea. Os Europeus, que justamente preferimos para colonização, acostumados á rápida locomoção e ao contacto imediato como os grandes mercados, não se resignam a viver no quase isolamento em que se acha nossa população, exigem taes meios de transporte pelo grande e certo resultado e dar valor a toda sorte de producção ainda a mais significante. (O Arauto de Minas. Ano I, ed. 5, 8 abr. 1877)

Com o fim do tráfico de escravos, em 1850, e a lei do ventre livre, de 1871, a elite dirigente teve rapidamente que alterar a realidade social, fundamentada até então na mão de obra escrava. Já prevendo a implantação da lei Áurea, em 1888, o governo brasileiro atraiu imigrantes europeus, em guerra, para a pequena propriedade agrícola.

Com a decadência do trabalho escravo e com o início da imigração europeia, desenvolve-se o trabalho remunerado e aperfeiçoaram-se as técnicas construtivas. [...] Surgem nessa época as casas urbanas com novos esquemas de implantação, afastados dos vizinhos e com jardins laterais. (REIS, 1987, p. 43)

A intenção das autoridades são-joanenses com a vinda dos imigrantes era de

formar núcleos coloniais, como a Várzea do Marçal, habitar áreas pouco povoadas e

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