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A CONJUNTURA DE CRESCIMENTO ECONÔMICO E DE TENTATIVA DE MAIOR

CAPÍTULO 2 – O TEMPO DE TRABALHO NO BRASIL NOS ANOS 2000

2.1 A CONJUNTURA DE CRESCIMENTO ECONÔMICO E DE TENTATIVA DE MAIOR

Em 2003, o PT ascende ao poder sob o comando de Lula, contando com uma base ampla de alianças com a burguesia e setores bastante retrógrados, fortemente marcado por um discurso moderado programático e cioso por cumprir a promessa do crescimento econômico, do respeito aos contratos e da firmeza do ajuste fiscal. Em um governo notadamente de coalizão irrestrita, o PT procurou se apoiar, a princípio, na manutenção do tripé macroeconômico neoliberal (taxa de câmbio flutuante, regime de metas de inflação e superávit primário), aliando essa política de estabilidade com a perseguição da redução das desigualdades sociais, principalmente por meio de um conjunto de programas distributivos. Algo que, de fato, só começou a surtir efeitos desejáveis a partir do “susto” com a crise do mensalão em 2005, que propiciou, aliás, uma inflexão dessa política econômica.

Não obstante, em 2004 o Brasil ingressa em um ciclo de crescimento mais expressivo do PIB vis a vis às condições mais favoráveis da economia mundial. Mesmo auferindo taxas muito menores do que aquelas verificadas nos demais países periféricos, as contas nacionais indicam crescimento médio da ordem de 4,6% ao ano, no quinquênio 2004-2008, gerando implicações importantes às condições de vida dos brasileiros. Ademais, nesse mesmo ínterim assistiu-se também a virtuosa combinação entre a expansão do PIB e o piso salarial legal que expressou ganhos reais em torno de 4,8% ao ano (QUADROS, 2010).

Desde 2003, com a situação da economia mundial especialmente melhor para os países periféricos, a despeito da continuidade da política econômica ortodoxa até meados de 2005, o

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Brasil conseguiu alcançar níveis inflacionários baixos, sendo que, principalmente entre 2006- 2008, pode-se observar finalmente a promoção de um crescimento econômico mais intenso do PIB.

A retomada do crescimento do PIB se dá através do incremento do volume de exportações, ainda que acompanhada do aumento expressivo das importações e da manutenção dos estímulos à entrada de capitais que, se bem serviu como aporte para a realização de grande acúmulo de reservas internacionais, por outro lado contribuiu sobremaneira ao processo de revalorização do câmbio, a partir de 2004.

Desta forma, a inflação começou a declinar e o crescimento do PIB se acelerou em grande medida devido aos impactos positivos em termos da ampliação do consumo e do investimento. Atuando de modo decisivo nesse modelo, o governo promove uma forte expansão do crédito ao consumo, que pode ser visto claramente na proporção elevada das vendas dos bens duráveis. Nesse contexto, as empresas efetivaram novas decisões de investimento na ampliação da capacidade produtiva ao mesmo tempo em que o governo procurava estimular a retomada do investimento em infraestrutura e sustentar o ciclo de crescimento apoiado no mercado interno (BALTAR et al., 2010).

Cumpre frisar também o papel dos programas de transferência de renda e da política de valorização sustentada do salário mínimo, fundamentais às melhorias nas condições de vida de grande parte da população brasileira. Ressalta-se ainda, especialmente a partir do segundo governo Lula, certo alívio com relação ao aprofundamento do ajuste fiscal, explicitando-se uma perspectiva de tentativa de retomada do investimento público que possibilitou, dentre outras coisas, o lançamento de programas mais robustos como o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) e o movimento de capitalização do BNDES, cuja ideia reside em articular estrategicamente a formação de grandes grupos empresariais nacionais e fortalecer o país no mercado internacional (BALTAR et al., 2010).

Com a crise mundial ocorrida em 2008, o governo brasileiro - apesar da demora em esboçar uma reação prontamente e depois de tomar a decisão de aumentar a taxa de juros, quando

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em todo o mundo a tendência era contrária - utilizou-se de inúmeras políticas no sentido de contornar os seus efeitos maléficos para a economia.

Em linhas gerais, essa ação se mostrou mais consistente no início de 2009, momento em que se consolida a compreensão de que a esperança havia vencido o temor e o Banco Central começou a reduzir a Selic e a relaxar o depósito compulsório dos bancos. No entanto, o atraso na política monetária foi de certa forma compensado pela política fiscal anticíclica. Segundo Baltar et al (2010), o governo

usou as reservas internacionais para garantir o financiamento das exportações; reduziu temporariamente o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos bens duráveis de consumo (automóveis, eletrodomésticos, materiais de construção, móveis e outros produtos); lançou um programa de construção de habitações populares (Minha Casa, Minha Vida); reduziu o Imposto de Renda da classe média; usou os bancos públicos para garantir o atendimento da demanda de crédito e incorporar instituições financeiras fragilizadas pela crise e garantiu crédito dos bancos ao segmento constituído pelas micro e

pequenas empresas (BALTAR et al., 2010, p. 8).

Sendo assim, ao longo de 2009 a economia brasileira voltou a crescer graças às ações efetivas do governo e da própria evolução da situação internacional, contrariando as expectativas mais pessimistas (BARBOSA & PEREIRA, 2010). Nessa conjuntura política, econômica e social mais favorável, o mercado de trabalho refletiu um conjunto de alterações significativas.

Em primeiro lugar, verificamos no período 2004-2008 um aumento da taxa de participação das pessoas em idade ativa, sobretudo das mulheres adultas, revelando um movimento de maior absorção da população e gerando consequentemente uma menor taxa de desemprego. No que diz respeito à estrutura ocupacional, assistimos a uma redução do peso do empregado sem carteira, do trabalho por conta própria e do trabalho não remunerado e a um aumento considerável do emprego assalariado formal e da formalização das empresas e dos contratos de trabalho (BALTAR et al, 2010).

De acordo com Baltar et al (2010), a tendência de elevação do emprego formal no país se deu em todos os grupos etários, principalmente entre os jovens, e ocorreu de modo generalizado em todos os setores de atividade econômica e em quase todos os grupos de ocupação, além de apresentar também elevadas taxas de expansão nas grandes empresas.

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Tratou-se, assim, de um movimento que implicou numa maior tendência à formalização das empresas e dos contratos de trabalho simultaneamente à elevação substantiva do emprego formal, seja por força das alterações positivas ocorridas na estrutura produtiva nacional, seja - ainda que em menor parte - pelo papel cumprido pelos órgãos de fiscalização, a exemplo do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Justiça do Trabalho (BALTAR et al, 2010).

Por sua vez, em relação aos rendimentos provenientes do trabalho no período analisado, foi possível perceber uma recuperação da renda média dos trabalhadores e de suas famílias. Observou-se nesse sentido o impacto da política de valorização do salário mínimo, fazendo com que houvesse a elevação das remunerações dos setores de menor renda, onde a renda média é menor do que a média geral da economia (BALTAR et al, 2010).

Sem embargo, num quadro de baixo desemprego, o peso relativo do aumento do assalariamento, da formalização dos contratos de trabalho e do aumento dos rendimentos, acompanhado do movimento de retomada da ação sindical, principalmente em suas grandes conquistas em prol da elevação dos salários, foram determinantes para o aumento do poder de compra dos trabalhadores e de suas famílias, acarretando assim um ciclo virtuoso que, articulado à ampliação do crédito, permitiu que se estabelecesse a realização de um alto nível de consumo massificado no país (BALTAR et al, 2010).

Em suma, como bem sintetizou Baltar et al (2010), nessa conjuntura marcada pela elevação das taxas médias de crescimento da economia brasileira,

o mercado de trabalho apresentou mudanças significativas que, no conjunto, resultaram em importantes melhorias: redução das taxas médias de desemprego; expansão do emprego assalariado formal (protegido pela legislação trabalhista, social e previdenciária brasileira); crescimento do emprego nos setores mais organizados da economia (inclusive na grande empresa e no setor público); redução do peso do trabalho assalariado sem registro em carteira (ilegal) e do trabalho por conta própria na estrutura ocupacional; elevação substantiva do valor real do salário mínimo; recuperação do valor real dos salários negociados em convenções e acordos coletivos; importante redução do trabalho não remunerado; intensificação do combate ao trabalho forçado e redução expressiva do trabalho infantil (Baltar et al, 2010, p. 10).

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Nos seus contornos gerais, o período em questão notabilizou-se por alterações importantes também na regulação do trabalho, principalmente por meio da atuação do MTE - que melhorou seu sistema de fiscalização, recompondo o quadro de auditores fiscais -; do Ministério Público do Trabalho - que exerceu um papel mais atuante na vigilância do cumprimento da legislação social, sobretudo a trabalhista - e da Justiça do Trabalho - que se fortaleceu e se tornou mais favorável às teses contrárias à flexibilização dos direitos (BALTAR et al., 2010).

Outro elemento relevante se deu com a distribuição de renda, onde se verificou uma leve queda na desigualdade - o índice de GINI foi de 0,58 em 2003 para 0,55 em 2008 - e uma expressiva diminuição da pobreza (de 34,3% em 2003 para 21,9% em 2008) e da miséria extrema (14,6% em 2003 para 7,3% em 2008). Além disso, se reconhece o grande impacto da política de valorização do salário mínimo e das políticas de transferência de renda (BALTAR et al., 2010).

Fez-se notório ainda a mudança ocorrida nas negociações coletivas, seja em termos da contribuição para a recuperação do poder de compra dos salários, seja no discreto aumento da taxa de sindicalização (de 16,7% em 2001 para 18,2% em 2008) (BALTAR et al., 2010), seja finalmente no estabelecimento de uma agenda comum incluindo as principais centrais sindicais (GALVÃO, 2010).

Por sinal, tais modificações na conjuntura econômica, política e ideológica propiciaram, em grande medida, uma recuperação do sindicalismo, sobretudo entre 2004 e 2007, ainda que depois da crise de 2008 o movimento sindical tenha se pautado muito mais num caráter propositivo do que crítico.

Galvão et al. (2009) enumera alguns indicadores que ajudam a sustentar essa hipótese: houve uma elevação do patamar do número de greves e de grevistas, sendo que as mesmas revelaram uma disposição mais ofensiva, especialmente em relação às conquistas por ganho real de salário e/ou majoração da PLR, embora tal ofensividade seja algo mais comum a setores específicos, como os dos trabalhadores da indústria.

Por sua vez, se reconhece o fortalecimento das negociações coletivas no sentido de se avançar em novas conquistas e observa-se uma maior amplitude das greves nacionais e de métodos de luta mais agressivos tais como atos públicos, passeatas, piquetes e ocupações. Não

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obstante, é nítida a continuidade da predominância das greves realizadas pelo setor público, com novidades de mobilização de algumas categorias, seguido pelo maior volume de greves em setores historicamente mais combativos (GALVÃO et al., 2009).

Entretanto, essa tentativa de retomada do movimento sindical - na busca por ganhar maior protagonismo na sociedade - esteve demarcada, por um lado, pela postura um tanto ambígüa do governo Lula frente à flexibilização dos direitos e das relações de trabalho (KREIN et al. 2011) e, por outro lado, pela alteração na relação entre o movimento sindical e o governo (GALVÃO, 2010).

Ao longo de seus dois mandatos, a administração petista manteve em sua plataforma governamental a proposta de realizar uma reforma sindical e trabalhista, criando para isso um organismo tripartite, o Fórum Nacional do Trabalho (FNT), do qual seria o palco das discussões e dos debates. Muito embora tal objetivo não tenha sido concretizado de modo eficaz, especialmente devido às inúmeras divergências envolvidas no processo de uma reforma do modelo de organização sindical e da legislação trabalhista, algumas medidas tiveram certos impactos junto aos sindicatos e à ação sindical.

Do ponto de vista da reforma trabalhista, as medidas realizadas seguiram ora na direção da flexibilização, ora na de fortalecimento da regulação pública de trabalho (KREIN et al. 2011). Os sinais contraditórios ficam mais evidentes quando olhamos as medidas concretas que foram encaminhadas pelo Executivo Federal ao Congresso Nacional, conforme podemos observar nos quadros 4 e 5.

Quadro 4 – Principais medidas flexibilizadoras das relações de trabalho no Brasil (2003-2010)

TEMAS INICIATIVAS

Crédito consignado (Lei nº 10.820/03)

Autoriza a concessão de empréstimos, pelos bancos, a empregados e aposentados, mediante o desconto salarial a ser processado pelo empregador ou Previdência Social. A inovação afronta o princípio da intangibilidade salarial.

1º Emprego (Lei nº 10.748/03 e 10.940/04 e Decreto nº 5.199/04)

Concede incentivos fiscais para as empresas que contratam jovens, permitindo a contratação de jovens por prazo determinado, desde que por um período mínimo de 12 meses. Recomenda que as empresas devem evitar a substituição de trabalhadores. Limita a 20% do seu quadro de pessoal os

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contratados pelo programa.

Reforma previdenciária (EC nº 41/03)

Extingue o regime de previdência pública para os servidores públicos admitidos a partir da publicação da EC, com o fim da integralidade e da paridade, fixação do limite a ser percebido a título de proventos de aposentadoria, de acordo com o teto do regime geral do INSS, e determinação de que fossem instituídos os fundos de pensão. Também taxou os inativos, aumentou o limite de idade e fixou condições mais duras para o servidor alcançar a aposentadoria.

Nova Lei das Falências e da Recuperação Judicial (Lei nº 11.101/05)

A CLT estabelece que, na falência, a totalidade dos salários e indenizações devidos aos trabalhadores seriam créditos privilegiados; mas a nova lei reduz o limite de preferência do crédito trabalhista para o valor de 150 salários mínimos. Ao contrário do que ocorria no regime anterior, com a nova lei, no caso de recuperação judicial da firma, os empregados deixam de receber seus créditos trabalhistas durante um ano e passam a discutir sua forma de pagamento com os demais credores, em Assembléia Geral; e, na venda dos ativos da sociedade falida, não há mais a sucessão trabalhista, de modo que a empresa arrematante não está obrigada nem a permanecer com os empregados nem a pagar a dívida trabalhista.

Super Simples (LC 123/06)

As micro e pequenas empresas continuam dispensadas de: fixar quadro de Trabalho em suas dependências; de anotar as férias dos empregados no livro ou ficha de registros; de matricular aprendizes nos cursos de Serviços Nacionais de Aprendizagem; da posse do Livro de Inspeção do Trabalho; de comunicar a entidade fiscalizadora quanto à concessão de férias coletivas. Perante a Justiça do Trabalho, o empregador poderá fazer-se substituir por representante legal.

Nova regulação para o trabalho em atividades de cunho intelectual (Lei nº 11.196/05)

Estabelece que, mesmo apresentando todos os elementos que delineiam um assalariado, a pessoa física que presta serviços intelectuais pode ser materialmente concebida como uma pessoa jurídica. Passa-se, assim, do campo das regras trabalhistas para o das civis e comerciais. Tanto para o empreendimento tomador quanto para o prestador de serviços há redução de tributos, mas o último deixa de contar com os direitos laborais.

Empregados domésticos (Lei nº 11.324/06)

Garante a estabilidade provisória à empregada grávida, férias anuais remuneradas de 30 dias e vedação a descontos por fornecimento de alimentação, vestuário ou higiene aos empregados domésticos. Entretanto, o presidente vetou a obrigatoriedade do FGTS, a multa rescisória de 40%, o salário família e o seguro desemprego, com o argumento de que poderia contribuir para o aumento da informalidade e o desemprego. Com isso, o veto do presidente impediu a equiparação integral com os direitos dos trabalhadores amparados pela CLT.

Trabalho em atividades de transporte rodoviário de cargas

(Lei nº 11.442/07)

Considera que não há vínculo de emprego, mas apenas relações de natureza comercial, entre o motorista transportador de cargas e a empresa do referido setor, pelo fato de se exigir do trabalhador que ele seja proprietário do veículo de carga. Essa categoria perde os direitos trabalhistas.

Intervalo intrajornada (Portaria nº 42 do MTE/07)

Autoriza a redução do intervalo intrajornada por meio de negociação coletiva de trabalho, dando prevalência ao negociado sobre o legislado. Trabalho dos comerciários aos

domingos

(Lei nº 11.603/07)

Ratifica o trabalho aos domingos para os comerciários. Mas colocou dois limites: a permissão de trabalho em feriados e domingos nas atividades do comércio passa por convenção coletiva, desde que observada a legislação municipal.

Contrato de trabalhador rural por pequeno prazo

(Lei nº 11.718/08)

Autoriza a contratação de empregados rurais sem registro na Carteira de Trabalho, para serviços de curta duração (até dois meses). Os direitos trabalhistas serão pagos diretamente ao trabalhador, mediante adição à remuneração acordada.

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Quadro 5 –Medidas contrárias à flexibilização das relações de trabalho no Brasil (2003-2010)

TEMAS INICIATIVAS

Retirada do Senado do Projeto de Lei (PLC 134/01)

Retirada do projeto de lei que previa a prevalência do negociado sobre o legislado. Projeto aprovado na Câmara dos Deputados que estava em regime de urgência no Senado Federal. O projeto permitia que a legislação trabalhista pudesse ser alterada pela vontade autônoma das partes.

Política de Valorização do Salário Mínimo (2005)

A política de valorização do salário mínimo prevê um reajuste de acordo com o INPC do ano anterior acrescido de um aumento real correspondente à variação do PIB de 2 anos anteriores. A política está sendo aplicada, mas ainda não foi aprovada no Congresso Nacional.

Estágio

(Lei nº 11.788/08)

Regulamentação do estágio, buscando criar algumas regras para a sua adoção, tais como o limite de jornada de 6 horas diárias e o pagamento de férias.

Veto à Emenda 3 da Super Receita

Veto presidencial à “Emenda 3da Super Receita”, que proibia o auditor fiscal multar as empresas que estabeleciam uma relação de emprego disfarçada. Na prática estimula a propagação da contratação como PJ (Pessoa Jurídica), que burla a legislação do trabalho.

Seguro Desemprego Ampliação das parcelas de seguro desemprego para 7 meses aos setores maia atingidos pela crise econômica de 2008/2009.

Cancelamento dos subsídios para contratação por prazo determinado (2003)

Eliminação dos incentivos para a contratação por prazo determinado por meio do cancelamento de subsídios nas contribuições sociais. Era uma medida provisória criada para estimular a adoção da contratação por prazo determinado (Lei nº 9.601/98).

Revogação da Portaria 865/1995 A revogação da portaria do MTE que impedia a fiscalização dos auditores das cláusulas constantes dos contratos coletivos de trabalho.

Pagamento da licença maternidade Cancelamento das alterações da licença maternidade feitas em 1999, que estabeleciam o pagamento do salário maternidade diretamente pelo INSS e não mais pelo empregador, que era depois ressarcido.

Período de experiência

(Lei nº 11.644) Proíbe que o período de experiência exigido seja maior de 6 meses. Micro Empreendedor Individual

(MEI), 2009

Reduz o valor da contribuição previdenciária do autônomo ou do micro empreendedor individual.

Fonte: NUNES (2010) apud KREIN et al. (2011, p. 43)

Desta forma, torna-se explícito o caráter ambígüo da atuação dos Governos Lula frente ao processo de flexibilização das relações de trabalho no Brasil. Entretanto, segundo apontou Galvão (2010), esse movimento contraditório - tanto de refreamento quanto de avanço da regulamentação dos direitos trabalhistas - não se trata de algo generalizado na sociedade enquanto tendência.

De acordo com a autora, fica claro que a flexibilização está voltada especialmente para públicos específicos (a exemplo dos jovens, da pessoa jurídica e das micro e pequenas empresas),

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sobretudo tendo em vista a maneira majoritária de encaminhamento desse processo, a partir de alterações pontuais via legislação ordinária. Portanto, são movimentos que revelam, em verdade, as próprias tensões imanentes sobre as quais a sociedade brasileira se deparou diante de um governo proveniente de uma forte base sindical e popular, mas que foi optando por ações e políticas contraditórias nos marcos da manutenção da ordem instituída.

Acontece que, mesmo com as medidas positivas efetivadas pelo governo, o padrão vigente de regulação social do trabalho continuou apresentando alto grau de flexibilidade. A flexibilização continua a avançar com a terceirização, a subcontratação, a contratação como pessoa jurídica, a permanência da alta ilegalidade, informalidade e rotatividade51 (BALTAR et al, 2010), assim como também com a remuneração variável, a flexibilização da jornada de trabalho e as formas de contratação atípicas (KREIN et al., 2011).

Todavia, é possível admitir ao menos que aquelas teses conservadoras identificadas ao processo de desregulamentação e flexibilização dos direitos e das relações de trabalho, radicalmente presentes nos anos 1990, foram paulatinamente perdendo força nesta conjuntura mais favorável da economia e das próprias lutas sindicais e sociais52. Há, assim, um enfraquecimento no país deste prognóstico conservador e isto pode ser observado, dentre outras referências, na tentativa de retomada de protagonismo do movimento sindical (KREIN et al., 2011; GALVÃO, 2010).

51 De acordo com Baltar et al. (2010), “do total da população economicamente ativa, 31,2% ainda estavam ocupados

como trabalhadores por conta-própria, empregadores, trabalhadores não-remunerados, trabalhadores na produção agrícola para o consumo próprio e na construção da casa própria. Assim, o emprego assalariado não abrangia mais

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