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NEOLIBERALISMO E TEMPO DE TRABALHO NO BRASIL (1990-2003)

CAPÍTULO 1 O TEMPO DE TRABALHO NO BRASIL NOS ANOS 1990

1.2 NEOLIBERALISMO E TEMPO DE TRABALHO NO BRASIL (1990-2003)

Ao partirmos das considerações levantadas na subseção anterior, é importante analisar agora como se deu as transformações no padrão de determinação do tempo de trabalho ocorridas no Brasil após a consolidação do neoliberalismo. Nesse sentido, semelhante ao que se verificou com o tempo de trabalho em muitas nações, na atual acumulação flexível do capital, é possível admitir que no Brasil foi também implantada uma jornada de trabalho mais adensada, mais fluida e muito mais flexível em relação àquela que vigorou no processo de industrialização do país (1930-1980), seja através das alterações nas normas legais e na negociação coletiva, seja ainda no aumento do poder dos capitalistas em estabelecer, de forma unilateral – e, em grande vulto, sob a anuência dos próprios sindicatos - as condições que regem o uso do tempo de trabalho em suas três dimensões fundamentais.

Conforme já indicamos, existiam no país inúmeros mecanismos que permitiam a flexibilização do tempo de trabalho, alguns deles até mesmo inalterados pela Constituição Federal de 198827. Somados a esses elementos históricos, sobretudo a partir da segunda metade da década de 1990 verifica-se a ocorrência de um movimento pontual de contrareforma no âmbito das medidas legislativas, tendo como foco a flexibilização da jornada de trabalho, das quais podemos destacar, principalmente: o banco de horas (“modulação anual da jornada de trabalho”) e a liberação do trabalho aos domingos.

27 Registre-se, por exemplo, a combinação da redução da jornada com a redução salarial, através de negociação

coletiva; a irrestrita facilidade de demissão; a negociação de turnos ininterruptos de revezamento, a utilização das horas extraordinárias e, finalmente, a concessão de férias coletivas (CARDOSO, 2009).

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Além destas medidas legais, há também as novidades trazidas à baila pelo processo de reestruturação produtiva28, causadoras de impactos severos ao tempo de trabalho no Brasil. Não obstante, Krein (2007) ressalta ainda a constituição de uma agenda hegemônica no quadro do TST favorável a esse movimento flexibilizador. Assim, todas essas inovações e alterações fazem parte de uma mesma lógica social e, por isso, cada uma delas acaba por afetar todas as demais (KREIN, 2007).

De maneira geral, ao fazer um balanço das principais medidas legislativas atinentes à questão da jornada de trabalho no Brasil, ao longo dos dois governos de FHC, Krein (2007) destaca que o banco de horas e a compensação individual da jornada; a liberação do trabalho aos domingos; a recomposição dos turnos ininterruptos de revezamento e o descumprimento do descanso intrajornada expressam sobremaneira estratagemas que ganharam grande dimensão com a exacerbação da flexibilização da jornada de trabalho. Mais do que isso, elas revelam o papel fundamental que adquiriu o Estado neoliberal - sob o apoio e a sustentação da classe patronal e de alguns setores do próprio sindicalismo - no processo de contrareforma trabalhista, particularmente em relação à temática do tempo de trabalho.

Se o Estado legitima tal processo, por sua vez, em se tratando dos capitalistas, os interesses em flexibilizar as relações de trabalho, em especial, a jornada de trabalho, também tomam maior proporção no início dos anos 1990, sendo inclusive fruto de inúmeras pressões junto aos sindicatos, no plano das negociações coletivas. Num contexto marcado pelo baixo e instável crescimento econômico, pelo alto desemprego, pela desestruturação do mercado de trabalho e pela fragilização da ação sindical, os empresários buscaram, por um lado, exacerbar as tendências históricas constitutivas das relações de emprego no país: usaram abusivamente do recurso às horas extras, à alta rotatividade e informalidade e aos baixos salários e, por outro lado, passaram a incorporar os elementos surgidos a partir do bojo da reestruturação produtiva, tais como: a terceirização, o just in time, a polivalência e a PLR, e ainda aqueles específicos à questão da jornada de trabalho, a exemplo do banco de horas e da compensação individual da jornada; da

28 Novidades presentes na tecnologia da informação (TI) e na microeletrônica; no kanban, just in time e distintos

controles de qualidade; na terceirização, subcontratação; na polivalência, trabalho em grupo e participativo e na Participação nos Lucros e Resultados (PLR) e nos programas de metas. Enfim, elementos que emanam dos processos e da organização de produção e da própria organização e gestão do trabalho (CALVETE, 2006; CARDOSO, 2009).

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liberação do trabalho aos domingos; da recomposição dos turnos ininterruptos de revezamento; do descumprimento do descanso intrajornada; da descaracterização do regime de sobreaviso, dentre outros (CALVETE, 2006; CARDOSO, 2009).

Indubitavelmente, o banco de horas (“modulação anual da jornada de trabalho”) tornou-se a mais significativa medida de flexibilização do tempo de trabalho no Brasil. Em termos conceituais, ele implicou na passagem de um sistema de compensação restrita das horas trabalhadas por horas de descanso ao cabo de um período de referência dentro da mesma semana para um de compensação ampliada da jornada ao longo de todo o ano. Ou seja, a nova lei passou a permitir com que os empregadores pudessem compensar as horas laboradas por horas de não trabalho num período de referência muito mais longo e, além disso, previu também aos mesmos a não obrigatoriedade de efetuar os pagamentos devidos à realização de horas extras computadas no regime de banco de horas (KREIN, 2007).

A despeito de a lei garantir a sua introdução somente a partir da negociação coletiva, e ainda que não haja nenhuma contrapartida para esta adoção, fica estabelecida então uma forte disputa entre a classe patronal e a classe trabalhadora no sentido de sua implementação. Aos capitalistas esta medida representa a possibilidade de utilizar o tempo de trabalho dos trabalhadores de maneira mais flexível, sem incorrer em nenhum custo adicional, especialmente no que diz respeito ao pagamento das horas extraordinárias. A classe trabalhadora, por seu turno, procura apoiar-se na dependência de sua própria capacidade de organização e resistência, já que existe uma total liberdade de implantação de tal regime, desde que haja simplesmente a concordância do sindicato29.

Segundo Dal Rosso (2003), o processo de implantação do sistema de compensação ampliada de horas no Brasil apresentou quatro momentos distintos: (i) a pressão empresarial pela flexibilidade de horas, as propostas dos trabalhadores e os acordos que antecederam a alteração legal de 1988; (ii) a intervenção do Estado por meio de lei e de medida provisória, que alterou substancialmente as normas de compensação de horas; (iii) a rápida difusão da compensação ampliada de horas por setores da economia brasileira; e, por fim, (iv) a reação dos sindicatos e dos trabalhadores ao sistema.

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Antes mesmo da promulgação da legislação, a adoção do banco de horas aparece no caso do setor automotivo, por meio do sindicato dos metalúrgicos do ABC, através de uma negociação mais ampla que previa a redução da jornada de trabalho de 44 para 42 ou 40 horas com a garantia de manutenção do emprego e dos níveis de remuneração. Diante das imensas dificuldades passadas pelo setor nos anos iniciais da década de 1990, eram frequentes nas montadoras a execução das férias coletivas e das fortes ameaças de demissões. O fato é que, apesar da tentativa do sindicato em estabelecer algumas contrapartidas com a introdução do banco de horas, as empresas em grande medida descumpriram paulatinamente todas as garantias acordadas. Não obstante, tal experiência serviu de exemplo singular no âmbito da discussão na Câmara dos Deputados, que acabou por aprovar a sua regulamentação através da Lei 9.601/98 e da MP 1.709/98, ainda que com uma margem de votos muito pequena, devido as enormes insatisfações dos trabalhadores com tal regime (KREIN, 2007).

Logo após a sua regulamentação, verifica-se uma expressiva expansão desse sistema30, que passa a aparecer de modo cada vez mais relevante no plano das negociações coletivas. Um dos nichos mais comum de sua adoção se trata, principalmente, da média e grande empresa, dado a alta complexidade de sua gestão e operacionalidade. No caso das micro e pequenas empresas o que se constitui é o instrumento que permite a compensação individual da jornada de trabalho entre a empresa e o trabalhador, sem a necessidade de normatização nos acordos coletivos. A compensação individual se torna, portanto, uma opção bastante eficaz para a utilização flexível dos capitalistas de maneira mais adequada à realidade de suas atividades empresariais (KREIN, 2007).

Em resumo, podemos afirmar que tanto o banco de horas quanto a compensação individual se inscrevem no quadro de flexibilização da jornada de trabalho no Brasil promovida pelo neoliberalismo. De acordo com Krein (2007), elas representam a tendência de acentuação da racionalização da utilização do tempo de trabalho, “possibilitando que as empresas lancem mão, quando necessitam, de uma jornada maior sem efetuar um pagamento adicional ao trabalhador. Racionaliza a utilização do tempo e rebaixa o custo da remuneração do trabalho” (Krein, 2007, p.

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228). Como veremos a seguir, estes regimes foram alvo de muitas contestações por parte da classe trabalhadora, devido ao grande impacto que eles causaram em suas vidas.

Outro elemento flexibilizador do tempo de trabalho que ganhou expressão nos anos 1990 foi a liberação do trabalho aos domingos no comércio. Sua implementação aparece inicialmente no governo Collor. Nesse momento, ficou estipulado que a possibilidade de sua liberação estava condicionada ao estabelecimento da negociação coletiva, embora a regulamentação estivesse sob a alçada das Câmaras municipais. De fato, em 1997, a lei é regulamentada prevendo a realização do trabalho no comércio para todos os dias da semana, sem a necessidade de negociação coletiva, e perante discricionariedade do próprio empregador, com a única ressalva de que, pelo menos uma vez por mês, o descanso semanal se realize no domingo (KREIN, 2007). Sem dúvida,trata- se de mais um aspecto importante inserido na lógica de flexibilização do tempo de trabalho no país, uma vez que acaba servindo de exemplo para o discurso capitalista que visa transformar todos os dias da semana em dias normais de trabalho, além de contribuir também para a precarização daqueles trabalhadores específicos desta atividade econômica e para a irradiação da cultura do consumismo na sociedade.

Krein (2007) ressalta ainda um relevante movimento empreendido pelos capitalistas, neste quadro geral de flexibilização, advindo com a recomposição dos turnos ininterruptos de revezamento. A questão que se coloca reside na forte pressão empresarial para alterar a jornada de trabalho que, segundo prevê a Constituição Federal de 1988, sua duração fica estipulada em 6 horas, ainda que seja admitida sua alteração mediante negociação coletiva. Em face dessa lacuna aberta pela própria Carta Magna, a classe patronal nos anos 1990 pressionou por adotar uma jornada de trabalho específica para cada setor ou empresa. Krein (2007) identifica dois tipos de estratégias utilizadas pelos empregadores nesse campo de disputa: há um primeiro avanço no sentido de descaracterizar os turnos ininterruptos, estabelecendo jornadas de 8 horas fixas, com concessão de 2 dias de descanso por semana; em segundo lugar, principalmente nas empresas de processo contínuo, observa-se a ocorrência da perspectiva de alteração do sistema das horas distribuídas, através da reintrodução das 8 horas. Isso possibilitaria à empresa elevar a jornada média de 33,3 para 36 horas semanais e ao mesmo tempo se livrar do pagamento da sétima e oitava hora como adicional. Embora o TST entenda a obrigatoriedade desse cumprimento pelo

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empregador, o Tribunal o atribui como alvo de negociação coletiva, deixando assim aberta muitas lacunas a serem disputadas (KREIN, 2007).

Para Calvete (2006), por sua vez, não restam dúvidas quanto às inúmeras opções, cada vez mais crescentes, criadas pelas empresas em relação a essa questão dos turnos. A adoção de mais um turno, de turnos noturnos ou de turnos ininterruptos de revezamento, em distintos setores da atividade econômica, começam a se exacerbar por se tratar de meios eficientes de aumento do período de utilização do capital constante. O caso do avanço do sistema de turnos ininterruptos de revezamento é algo perceptível desde meados dos anos 1980, em empresas de grande porte onde é elevada a composição orgânica de capital. Nestas empresas, “o uso prolongado do capital é importante para o retorno mais rápido dos recursos financeiros investidos e para acelerar a depreciação evitando que ele se torne obsoleto” (Calvete, 2006, p. 91).

Finalmente, outro aspecto demarcado no âmbito deste processo mais geral de flexibilização do tempo de trabalho diz respeito ao descumprimento do descanso intrajornada. Muito embora a legislação preveja que o descanso no intervalo do almoço seja de no mínimo 1 e no máximo 2 horas31, quando a jornada é de 8 horas diárias e, de 15 minutos, para as jornadas de

6 horas, ela admite ao mesmo tempo que a ampliação do intervalo pode se dar mediante negociação coletiva. O que se observa então no contexto da consolidação do neoliberalismo no país é o levante da classe patronal no sentido de estipular tanto curtos intervalos de descanso, em sua maioria compensados ao final do mesmo dia, quanto de buscar reduzi-los ao mínimo de 30 ou até 15 minutos (KREIN, 2007).

Além destas formas de flexibilização analisadas por Krein (2007), existem ainda inúmeras alternativas utilizadas pelos capitalistas, muito específicas às distintas categorias profissionais e demais setores da atividade econômica, que registraram variados regimes de (re)composição do tempo de trabalho, oriundas tanto de negociação coletivas ou da própria gestão discricionária dos empregadores. No entanto, o mais importante a reter é que, seguindo a lógica da reprodução do capital em escala global, a classe patronal brasileira desencadeou um forte movimento pela

31 O intervalo menor do que uma hora necessita de autorização do Ministério do Trabalho e Emprego (KREIN,

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transformação dos sete dias da semana em dias normais de trabalho e pelo funcionamento, ao longo das 24 horas do dia, de todas as suas atividades empresariais, mantendo os trabalhadores à disposição da empresa em qualquer hora do dia, em qualquer dia da semana e do ano, e remunerando-os apenas na efetividade da realização do labor. Ou seja, os capitalistas no Brasil se veem premidos pela necessidade de ajustar o uso do tempo de trabalho segundo o corolário das sazonalidades das atividades econômicas e da demanda efetiva da economia (CALVETE, 2006; KREIN, 2007).

De fato, no bojo da luta de classes travada entre os capitalistas e os trabalhadores nos anos 1990, muitos desses ensejos foram alcançados pelo lado do capital, como por exemplo, indicam a literatura: a exacerbação da flexibilização da jornada de trabalho, a distribuição mais adequada do tempo de trabalho às flutuações da demanda, a ampliação das horas que o trabalhador fica à disposição do capital, a eliminação da porosidade nos processos de trabalho, a sofisticação do controle dos capitalistas sobre a jornada de trabalho e, finalmente, o aumento da intensificação do ritmo de trabalho32.

Com a ação efusiva da classe patronal em franco apoio ao Estado neoliberal, do lado da classe trabalhadora organizada, ao longo desse período mais rude do neoliberalismo no país, a atuação primou-se por uma enorme fragilização, da qual se investia basicamente, ainda que com grandes dificuldades, na tentativa de limitar ou de reduzir a duração do tempo de trabalho, deixando-se em segundo plano todos os demais elementos relacionados ao tempo de trabalho. Nos marcos do sindicalismo propositivo dos anos 1990, Cardoso (2009) realiza as seguintes considerações acerca da ação sindical voltada à questão da flexibilização do tempo de trabalho, com base na Tabela 01 abaixo, elaborada pelo Dieese:

(i) no final de 1995, ocorre uma primeira reação do movimento sindical através da tentativa de retomada da discussão sobre a redução do tempo de trabalho. Parte das Centrais Sindicais do país (CUT e FS) chegam a uma proposição de redução da duração do trabalho de 44 para 36 horas semanais, em troca da redução dos salários em 5%, ainda que com a redução de encargos e renúncia fiscal. Nesse ano, as duas centrais promovem uma campanha de negociação coletiva sobre essa temática, no setor metalúrgico do Estado de São Paulo, que acabou refletindo

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no aumento do percentual de greves sobre a jornada no ano seguinte. Em 1996, das 167 greves ocorridas, 141 tiveram como foco a redução da jornada para 40 horas semanais. No entanto, apenas nos anos de 1999 e 2000, o total de greves sobre a jornada de trabalho volta a ter algum destaque, alcançando patamares muito insignificantes nos demais anos (CARDOSO, 2009);

Tabela 01 - Total anual e distribuição das greves segundo reivindicações selecionadas, Brasil - 1990-2002

Ano Total de Greves (A)

Reivindicações relativas a jornada

Total de Greves sobre Jornada (B) Manutenção de Jornada Redução de Jornada Extinção de Horas Extras (1) Não-flexibilização da Jornada

% sobre (B) % sobre (B) % sobre

(B) % sobre (B) % sobre (B) 1990 1789 66 3,7 4 6,1 40 60,6 1 1,5 0 0,0 1991 1054 29 2,8 3 10,3 12 41,4 0 0,0 0 0,0 1992 556 15 2,7 1 6,7 8 53,3 0 0,0 0 0,0 1993 644 29 4,5 2 6,9 11 37,9 1 3,4 0 0,0 1994 1043 47 4,5 3 6,4 23 48,9 8 17,0 1 2,1 1995 1056 60 5,7 7 11,7 30 50,0 7 11,7 0 0,0 1996 1242 167 13,4 1 0,6 141 84,4 1 0,6 0 0,0 1997 633 31 4,9 2 6,5 13 41,9 0 0,0 1 3,2 1998 536 30 5,6 12 40,0 9 30,0 3 10,0 1 3,3 1999 507 51 10,1 15 29,4 17 33,3 5 9,8 4 7,8 2000 526 61 11,6 2 3,3 42 68,9 2 3,3 4 6,6 2001 420 36 8,6 5 13,9 19 52,8 3 8,3 0 0,0 2002 304 19 6,3 3 15,8 7 36,8 3 15,8 1 5,3

Fonte: CARDOSO (2009, p. 115). Elaboração: CARDOSO (2009). (1) Inclui redução do número de horas extras

(ii) em relação às greves pautadas sobre a “manutenção da jornada”, destacam-se, sobretudo, os anos 1998 e 1999, demonstrando se tratar de um movimento de caráter propriamente mais reativo da ação sindical diante da pressão patronal. Há uma diversidade de categorias que tiveram a “manutenção da jornada” como ponto de pauta de reivindicação das greves, motivados principalmente pela iniciativa patronal de aumentar a jornada de trabalho, mas também de reduzir a jornada e os salários, como previstos pela legislação (CARDOSO, 2009);

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(iii) no caso das greves realizadas sobre a flexibilização da jornada de trabalho, verifica-se uma lenta tentativa de reivindicação sindical no ano de 1997, anterior à implementação legislativa do banco de horas. Somente em 1999 e 2000, isto é, após a sua regulamentação, torna- se um pouco maior o percentual das greves, ainda que de forma muito inexpressiva (CARDOSO, 2009);

(iv) chama a atenção, ademais, a baixa incidência de greves que enfatizaram a questão da extinção da hora extra, ou até mesmo a sua limitação. Isso sinaliza, claramente, a opção do movimento sindical em reivindicar tanto o aumento do adicional de horas extras, quanto de se posicionar contrário à tentativa patronal de reduzi-lo (CARDOSO, 2009) e,

(v) finalmente, no que diz respeito à negociação do regime “banco de horas”, a despeito de sua alta relevância nos acordos coletivos, muitas dificuldades se colocam tanto no sentido de sua implementação, quanto no que tange a garantia de algumas contrapartidas mais favoráveis aos trabalhadores. Em grande medida, o caráter descentralizado da negociação - através de acordos majoritariamente feitos por empresas e inexistentes nas convenções coletivas -, a ausência de regras legais para a sua utilização, a baixa participação do movimento sindical dentro dos locais de trabalho e o quadro marcado pelo forte desemprego, são alguns dos fatores que ajudam a explicar a ação exitosa da classe patronal em prol da instauração deste regime. Todavia, a sua introdução está carregada de muitos problemas, segundo a avaliação dos próprios sindicatos, tais como: a falta de controle sobre as horas trabalhadas a mais ou a menos; a dificuldade de utilizar horas positivas - sob alegação patronal de que a produção não pode parar; o descumprimento da empresa com os trabalhadores perante os acúmulos de grande saldo positivo no banco de horas – da qual emana a alegação de que não se pode ficar longe do trabalho por muito tempo - e, na maior parte dos acordos negociados, a estipulação de uma hora trabalhada a mais equivalendo a uma hora trabalhada a menos, sendo que, pela legislação, uma vez caracterizada a execução de horas extraordinárias, há a obrigatoriedade do pagamento majorado, com a inclusão do adicional (CARDOSO, 2009).

Ainda de acordo com a autora, o debate sindical encontra-se dividido em relação a essa temática: por um lado, existe um grupo dos que acham que vale a pena negociar o banco de horas desde que o acordo contenha cláusulas de contrapartida, a exemplo da garantia do emprego, da

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redução da jornada de trabalho ou da redução do número de horas extras; por outro lado, há um grupo que acha que os riscos em negociar a introdução do banco de horas são grandes, consequentes à elevação da jornada de trabalho semanal e da intensificação, que podem ocasionar o surgimento de doenças profissionais e ao provável aumento do número de acidentes de trabalho. Não obstante, há preocupações também com a redução da remuneração, devido ao fim do adicional de hora extra; com a maior dificuldade de planejar o tempo livre; com a eliminação dos tempos de descanso dos trabalhadores (tempos mortos), com o aumento da intensificação do ritmo de trabalho, dentre outros elementos (CARDOSO, 2009).

Na mesma direção, aponta Krein (2007), para quem existem no movimento sindical, sobretudo nos setores mais organizados, dois movimentos que refletem um esforço de oposição em relação ao banco de horas. Em primeiro lugar, são muitos os sindicatos que, apesar de

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