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A leitura do artigo 138, da Lei 6.404/76, ensina que a administração da companhia compete ao conselho de administração e à diretoria, ou somente à diretoria. E mais, o parágrafo 1º, do mesmo dispositivo, leciona que o conselho de administração é órgão de deliberação colegiada, sendo a representação da

39 companhia privativa dos diretores.

O conselho de administração é, em regra, órgão facultativo da companhia, sendo que sua existência depende de previsão estatutária. Todavia, em três hipóteses, o referido órgão é obrigatório, a saber: i) na companhia aberta; ii) na sociedade com capital autorizado; iii) na sociedade de economia mista.

A composição do conselho de administração, nos termos do artigo 140, da Lei 6.404/76, ocorre da seguinte forma: no mínimo, 3 (três) membros, eleitos pela assembleia-geral e por ela destituíveis a qualquer tempo, independentemente de declaração dos motivos de sua decisão. Cabe, ainda, à assembleia-geral, destituir somente um ou alguns dos componentes do conselho de administração, hipótese em que o conselho prosseguirá pelo período de tempo que ainda lhe restar.

Entretanto, caso ocorra a destituição de todos os membros do conselho, faz- se necessária a realização de nova eleição, para que um novo período de gestão tenha início.

É importante anotar também que somente os acionistas caracterizados como pessoas naturais, residentes no país, podem participar do conselho de administração, conforme a lição extraída do artigo 146, da LSA.

Sobre o conselho de administração, para melhor ilustrar o tema, é relevante estudar a lição de Fábio Ulhoa Coelho:

O conselho de administração é órgão deliberativo de número ímpar e plural (isto é, integrado por no mínimo três membros), eleito pela assembleia geral. Dele só podem participar acionistas pessoas naturais. Sua função é agilizar o processo decisório, no interior da companhia. Certas decisões, por sua importância, devem ser analisadas e adotadas por quem tem participação no capital social. A diretoria, que pode ser composta por não acionistas, nem sempre é o órgão da sociedade mais indicado para assumir a responsabilidade pelas deliberações de maior envergadura e repercussão. Estas cabem aos sócios, isto é, às pessoas que investiram seu dinheiro na formação da sociedade e assumiram o risco da atividade empresarial. Mas, por outro lado, nem sempre representa uma solução adequada a apreciação das mesmas matérias pela assembleia geral, porque se encontra esse órgão sujeito a formalidades e dinâmicas próprias, que podem retardar o processo decisório, prejudicando os interesses da companhia. O conselho de administração, enquanto órgão composto apenas por acionistas, mas sujeito a regras ágeis de convocação e funcionamento, atende a esses dois aspectos da questão, e proporciona rapidez à sociedade

40 anônima, no enfrentamento de assuntos de maior relevância.28

Em relação às exigências estatutárias aplicadas ao conselho de administração, o professor Modesto Carvalhosa vaticina que, no ordenamento jurídico pátrio, não é razoável a criação de requisitos suplementares àqueles previstos em lei para a eleição de membros do conselho de administração. A título de exemplo, o referido jurista cita o seguinte:

Determinação prevista no estatuto sobre a idade mínima ou o domicílio no município da sede da companhia, ou, ainda, capacitação técnico-profissional, haja vista que caracterizaria regra restritiva do pleno direito de qualquer acionista ser eleito para o conselho de administração29.

É merecedor de relevo o aspecto formal do órgão em comento. O conselho de administração possui um presidente, eleito entre os seus pares. Para tanto, o critério de escolha há de estar previsto no estatuto da companhia, juntamente com as regras de substituição, na hipótese de ausência ou vacância do cargo.

A letra do artigo 140, IV, da Lei 6.404/76, reza que as reuniões do conselho são convocadas, instaladas e se realizam conforme as regras estatutárias.

No que tange ao presidente do conselho, em regra, tem os deveres de convocar e de conduzir os trabalhos nas reuniões. Caberá ao presidente, ainda, o voto de qualidade, ou seja, o voto de desempate, sempre que houver igualdade numérica em sentidos opostos na votação de alguma deliberação.

Ainda debatendo as formalidades aplicadas ao conselho de administração, é importante ressaltar que as reuniões serão lavradas em ata, que conterá a assinatura dos membros presentes à sessão, para, em seguida, ser registrada em livro próprio, conforme ensina o artigo 100, VI, da Lei das Sociedades Anônimas.

Neste ponto, cabe ressaltar que necessitam de arquivamento, no registro de empresa e de publicação, apenas as atas que possuem as seguintes deliberações: i) decisão destinada a produzir efeitos perante terceiros (artigo 142, §1º, LSA); e ii) reuniões em que houver eleição de diretor (artigo 146, §1º) e/ou renúncia de

28 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 2: direito de empresa / Fábio Ulhoa

Coelho. – 11. ed. rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2008, p. 216.

29 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à lei de sociedades anônimas, vol. 3. São Paulo: Saraiva,

41 conselheiro (artigo 151)30.

Noutro giro, para a eleição dos membros do conselho de administração, o legislador pátrio adotou a possibilidade de utilização do sistema de voto múltiplo. Este consiste em atribuir a cada ação tantos votos quantos sejam os cargos do conselho, permitindo-se ao acionista o direito de cumular os votos em um único candidato ou distribuí-los entre vários. A finalidade é proteger o grupo de acionistas minoritários com direito a voto, a fim de lhes garantir representação no conselho de administração31.

Noutro prisma, ainda sobre a composição do conselho de administração, também cabe destacar a possibilidade de eleições em separado, apenas permitida nas companhias abertas. Trata-se de um processo destinado a assegurar a proporcionalidade no preenchimento dos cargos do conselho de administração, sem a participação do acionista controlador, visto que a lei já garante a este o direito de eleger a maioria dos membros do conselho de administração sempre que forem adotados, cumulativamente, os processos do voto múltiplo e das eleições em separado.

O conselho de administração é órgão de competência ampla, pois muitas

30 COELHO, Fábio Ulhoa, Curso de direito comercial, volume 2, cit., p. 228.

31 No que tange à instalação do sistema de voto múltiplo, é válida a lição de Fábio Ulhoa Coelho:

Para ter direito à instalação do processo de voto múltiplo, o acionista minoritário (ou grupo de acionistas) deve atender duas condições: a) titularizar, nas companhias fechadas, pelo menos, 10% do capital votante, e, nas abertas, de acordo com o capital social, de 5% a 10% (Inst. CVM n. 165); b) solicitar a adoção do processo pelo menos 48 horas antes da assembleia geral. Além disso, deve-se cuidar de composição do conselho de administração, isto é, de eleição para a renovação do órgão como um todo. O processo de voto múltiplo não pode ser solicitado quando se trata de eleição para preenchimento de um ou mais cargos vagos (por morte ou renúncia de membro, por exemplo). Ainda sobre o sistema de voto múltiplo, o referido doutrinador faz a seguinte crítica:

Em outros termos, se todos os acionistas estão devidamente informados sobre o voto múltiplo, e fazem a distribuição de seus sufrágios na medida racional, não haverá diferença nenhuma entre o resultado da eleição pelo processo múltiplo e o que resultaria do voto proporcional não múltiplo. Por essa razão, o aspecto do voto múltiplo que representa, de verdade, uma medida de proteção ao minoritário não é propriamente a multiplicação dos votos, mas, sim, a garantia da proporcionalidade no preenchimento do conselho de administração (cf. Toledo, 1997:31; Mascheroni-Muguillo, 1986:168). Isto é, se o acionista com a participação mínima exigida, por lei ou pela CVM, exercita, no prazo, a faculdade de pedir a instalação do processo de voto múltiplo, afasta a possibilidade de adoção da votação majoritária. Mesmo que estabelecida esta última nos estatutos, ao acionar o mecanismo ao art. 141 da LSA, o minoritário impõe a eleição do conselho de administração pelo sistema proporcional e, assim, pode eventualmente eleger representante seu no órgão. Em vista disso, o melhor, na minha opinião, seria abolir o voto múltiplo, cujo funcionamento desperta muitas controvérsias e dúvidas. Bastaria, para a completa proteção dos minoritários votantes, assegurar-se a modalidade proporcional da votação, quando solicitada esta nas condições mencionadas na lei. Quando racionalmente utilizado por todos os acionistas, o voto múltiplo conduz ao mesmo resultado da eleição proporcional. Por isso, sua importância está na garantia da proporcionalidade na composição do conselho de administração. Ele só é instrumento de conquista de controle pela minoria quando o controlador não age de modo racional. (COELHO, Fábio Ulhoa, Curso de direito comercial, volume 2, cit., p. 220/222).

42 das suas funções são oriundas da assembleia geral, em razão do desinteresse por tal reunião.

Em relação às deliberações do conselho de administração, este órgão, em regra, pode decidir sobre qualquer matéria de interesse da companhia, salvo as hipóteses de competência privativa da assembleia geral. Por tal motivo, é permitido ao referido conselho deliberar, por exemplo, sobre as políticas econômica e social da companhia. Outra importante função do órgão em comento é a de agilizar a tomada de decisões no interior da companhia.

O artigo 142, da Lei 6.404/76, aponta as atribuições do conselho de administração, quando constituído. Em suma, compete ao conselho de administração: a) estabelecer a orientação geral dos negócios da sociedade anônima; b) eleger, destituir e fixar as atribuições dos diretores da companhia, observadas as regras estatutárias; c) fiscalizar a gestão da companhia, inspecionar os livros e registros contábeis, requerer informações sobre as relações contratuais mantidas pela companhia, dentre outros atos; d) convocar a assembleia-geral; e) apresentar manifestação sobre as contas e a administração da companhia; f) deliberar sobre a emissão de ações ou de bônus de subscrição, desde que haja previsão estatutária para tanto; g) se houver permissão estatutária, autorizar a alienação de bens dos ativos permanente e do não-circulante, a constituição de ônus reais, a prestação de garantias a obrigações de terceiros; h) escolher e destituir os auditores independentes, se houver.32

Ainda sobre as deliberações do Conselho de Administração, é importante frisar que o voto será sempre aberto, pois isso é indispensável para determinar as responsabilidades de cada um.

E mais, sobre as decisões tomadas pelo conselho, é indispensável a obediência às regras estatutárias de convocação e instalação, sob pena de nulidade, haja vista que as decisões do órgão em debate são colegiadas. Em outros termos, é nula toda e qualquer decisão isolada tomada por qualquer membro do conselho. Contudo, o caráter obrigatoriamente plural das deliberações do conselho não obsta a atividade individual dos seus membros de fiscalizar os atos dos diretores. Não se trata de direito, mas de dever intrínseco dos conselheiros, incluindo-se no conceito amplo de controle de legitimidade dos atos dos diretores.

Desse modo, eventual tentativa do conselho de impedir o exercício do poder

43 individual de diligência do conselheiro, caracterizaria uma ilicitude e, por conseguinte, acarretaria na responsabilização dos seus membros, de acordo com o artigo 158, da Lei 6.404/76.

As decisões do conselho de administração podem ser tomadas pela maioria absoluta dos presentes à sessão, o que permite perceber que a reunião desse órgão não exige a presença de todos os seus titulares. Contudo, nada impede que seja criado um quórum qualificado de deliberação, desde que as hipóteses sejam especificadas no estatuto. Daí porque será nula qualquer decisão tomada em desacordo com as exigências do processo deliberativo do órgão.

Sobre a destituição dos conselheiros, como se trata de cargo de confiança, ela pode ocorrer a qualquer tempo, em decisão tomada pela maioria dos votos dos acionistas presentes na reunião. Por outro lado, o conselheiro tem a faculdade de pedir desligamento da função a qualquer momento, sem necessidade de justificativa.

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