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A expressão Corporate Governance, em tradução livre, pode ser entendida como Governança Corporativa. De forma bem simples, é um conjunto de regras que orienta a melhor forma de administrar uma sociedade ou empresa.

A governança corporativa não possui uma definição estritamente jurídica. Em verdade, tal instituto envolve uma série de normas de gestão que são intrínsecas à administração profícua e geradora de capital em longo prazo, com controle das contas e transparência dos atos praticados.

O professor Adalberto Simão Filho, ao tratar do tema, elucida que:

A governança corporativa aplicada à atividade empresarial é resultante da adoção de princípios tidos por norteadores da conduta dos administradores, com reflexos diretos na gestão, na empresa e na sua relação interna corpóris, entre acionistas e com o mercado, lastreando-se tal conduta em princípios éticos aceitos como ideais pelos praticantes.38

A concepção de Governança Corporativa surgiu com o propósito de consolidar a atuação dos administradores das companhias, a fim de garantir uma gestão responsável, eficiente e duradoura, bem como aplicar condutas moralizadoras, sempre visando a conquistar a credibilidade do mercado de valores mobiliários. Isso porque a imagem das empresas perante o mercado é de fundamental importância para o seu negócio, especialmente para as que atuam no comércio público de ações.

O professor Antonio Menezes Cordeiro leciona que os princípios da governança corporativa são: (i) regras jurídicas societárias de conduta dos administradores e com preceitos relativos à prestação de contas; (ii) regras gerais de

38 SIMÃO FILHO, Adalberto. Nova empresariedade – uma visão reflexa da ética na atividade

empresarial no contexto da gestão e da sociedade da informação: 2002, p. 103 – tese (doutorado em direito das relações sociais). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.

56 ordem civil; (iii) princípios e normas de gestão, de tipo econômico; (iv) postulados morais e de bom senso, sempre suscetíveis de interferir na concretização de conceitos indeterminados39.

Em outras palavras, a governança corporativa serve como um facilitador das relações mantidas entre os administradores da companhia, o conselho de administração, os acionistas e os demais interessados.

Sobre a origem do instituto em debate, traz-se à baila o pensamento de Fabio Ulhoa Coelho:

As raízes desse movimento se encontram na iniciativa do American

Law Institute (ALI), adotada em 1978, de estimular a discussão sobre

a maneira mais adequada de gerir negócios explorados em sociedade. Uma série de eventos e estudos foi desenvolvida em decorrência dela, que motivou e mobilizou diversos juristas, advogados e entidades profissionais estadunidenses. Em 1994, a ALI publicou, como resultado dos esforços desenvolvidos ao longo de dezesseis anos, os Principles of corporate governance. Dois anos antes, porém, no Reino Unido, foi publicado o documento mais conhecido e tido por pioneiro no movimento, o relatório Cadbury, que concluiu os trabalhos de uma comissão instituída em 1991 pela Bolsa de Londres, com o apoio de entidades profissionais, empresariais e do Banco da Inglaterra. Esse relatório, que leva o nome do presidente da comissão, tinha, em anexo, um projeto de “Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa”; foi revisado em 1998.

A partir de suas manifestações originárias nos países de common

law, o movimento da governança corporativa estendeu-se, ao longo

dos anos 1990, aos de tradição jurídica romana, expressando-se, por exemplo, em França (com os informes Vienot I e II), Itália (com o código de autodisciplina Preda, da Bolsa Italiana) e Espanha (único país em que o governo tomou a iniciativa de promover a discussão das regras de governança corporativa) (Tunc, 1994; Farrar- Hannigan, 1985:301/307; Davies, 1954:66/69; Olivencia, 2001)40.

Em relação ao início da governança corporativa no Brasil, o jurista afirma que:

No Brasil, o movimento se manifesta inicialmente em 1999, com a criação do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e a publicação do primeiro Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa. Este documento dava ao funcionamento do Conselho de Administração uma importância acentuada e não abrangia temas caros ao movimento. Um impulso decisivo é representado, sem

39 CORDEIRO, Antonio Menezes. Os deveres fundamentais dos administradores das sociedades.

Revista da Ordem dos Advogados. Lisboa. Setembro 2006, p. 481.

57 dúvida, pela criação do Novo Mercado da BOVESPA, em 2000. Essa listagem segregada de companhias abertas tem seus fundamentos fortemente inspirados nos preceitos do movimento de Governança Corporativa. Em 2001, o IBGC lançou, na BOVESPA, a edição revista e ampliada do Código de Melhores Práticas. É, ademais, inegável que a Lei n. 10.303/2001, que reformou a LSA, sofreu forte influência dos valores prestigiados pelo movimento, com a reintrodução do direito de saída conjunta (LSA, art. 254-A), a obrigatoriedade da oferta pública de aquisição de ações por preço justo, no fechamento da companhia (art. 4º-A), e o aumento do prazo para a convocação de Assembleia Geral das sociedades abertas (art. 124, § 1º, II)41.

Diante disso, percebe-se que a governança corporativa pode ser interpretada como um exercício diário de condutas que visa a melhorar o desempenho da companhia, para favorecer o ingresso de capital, bem como propiciar um melhor relacionamento entre o conselho de administração, acionistas, diretoria, conselho fiscal (se houver) e auditoria independente.

Em outras palavras, a governança corporativa viabiliza a administração estratégica do negócio e o melhor acompanhamento dos trabalhos desenvolvidos pela diretoria executiva, mediante o monitoramento realizado pelo Conselho de Administração, pela Auditoria Independente e/ou pelo Conselho Fiscal.

Daí porque é de fundamental importância a simplificação das relações mantidas entre todas as partes interessadas na boa gestão da companhia.

Adalberto Simão Filho cita alguns exemplos sobre as melhores práticas de governança corporativa:

a) o presidente do conselho não deve ser o da diretoria;

b) deve haver maioria de conselheiros externos sobre conselheiros acionistas;

c) profissionalização da presidência através da contratação no mercado;

d) avaliação anual de diretores, presidentes e de conselheiros; e) ausência de conflito de interesses entre conselheiros externos e a empresa42.

Assim, nota-se que a prática das regras de governança corporativa visa a alcançar o objeto social da companhia, utilizando-se de um exercício de gestão contemporâneo e eficiente.

41 COELHO, Fábio Ulhoa, Curso de direito comercial, volume 2, cit., p. 322.

42 SIMÃO FILHO, Adalberto. Nova empresariedade – uma visão reflexa da ética na atividade

empresarial no contexto da gestão e da sociedade da informação: 2002, p. 103 – tese (doutorado em direito das relações sociais). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.

58 Por tal motivo, a administração da sociedade anônima necessita ser transparente, diligente e leal, a fim de garantir credibilidade moral e mercadológica aos negócios realizados pela empresa.

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