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Conselho Curador da EBC: histórico, origem e missão

PARTE 3 – ANÁLISE E DESCRIÇÃO

5. CONSELHO CURADOR DA EMPRESA BRASIL DE COMUNICAÇÃO – EBC

5.1 Conselho Curador da EBC: histórico, origem e missão

O Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação foi criado pela Lei 11.652 de 7 de abril de 2008 e extinto em setembro de 2016, por meio da Medida Provisória 744, posteriormente transformada na Lei 13.417 de março de 2017, sancionada pelo presidente da República, Michel Temer. Convém reforçar aqui, as origens do nascimento deste mecanismo de participação social e de como a sua criação e existência flertam intrinsecamente com a criação e o nascimento da própria Empresa Brasil de Comunicação.

Conforme dito anteriormente, em 2007, um dos principais momentos que contou com a participação da sociedade e do Governo Federal para um debate aprofundado sobre a comunicação pública brasileira foi o 1º Fórum Nacional de TVs Pública, realizado em Brasília,

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em maio deste ano. Resultado do Fórum, a “Carta de Brasília” reuniu importantes eixos para a criação do Conselho Curador da futura EBC. Nela consta o embrião do que viria a ser o órgão: “As diretrizes de gestão, programação e a fiscalização dessa programação da TV Pública devem ser atribuição de órgão colegiado deliberativo, representativo da sociedade, no qual o Estado ou o Governo não devem ter maioria” 45.

Em seguida, foi montado pelo Governo Federal um Grupo de Trabalho Interministerial para formatar o modelo jurídico da empresa em que a nova TV pública seria formada. Um dos principais pontos de discussão envolvendo a sociedade civil naquele momento foi a forma que se daria a estruturação de um Conselho Curador que seria responsável pela fiscalização e gestão de conteúdos da futura empresa.

Franklin Martins, na época ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, sempre defendeu que o Conselho Curador deveria ser formado por pessoas de notório conhecimento em diferentes áreas do conhecimento e a escolha seria feita diretamente pelo Presidente da República. Laurindo Leal Filho, também integrante do Grupo de Trabalho, era crítico a esta opção e defendia que os conselheiros deveriam partir desde o primeiro momento de indicações feitas por consulta pública junto aos movimentos sociais e entidades ligadas ao campo da democratização das comunicações (VALENTE, 2009).

Naquele momento, para reforçar a posição de Leal Filho, foi lançado um documento “Pela Gestão Democrática da TV Pública”, com a assinatura de ONGs, associações vinculadas ao campo da comunicação e outros movimentos sociais populares, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Conforme já mencionado neste trabalho, o texto defendia que com “um conselho indicado pelo presidente, a TV pode já nascer sem autonomia e independência, objetivo maior de uma emissora que se pretende pública” e que não seria a “mera existência de um órgão gestor que confere à emissora este caráter” sem que este fosse “representativo, preservando a independência em relação a governos e ao mercado, funcionando com base na gestão democrática e participativa” 46. Por fim, o manifesto sugeria que o governo devia buscar em outras estruturas do Estado exemplos

45 Disponível em: <http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Direitos-Humanos/Leia-na-integra-a-Carta-de-

Brasilia/5/13076> Acesso em: 05 set. 2019

46 Pela Gestão Democrática da TV Pública. Documento disponível em: <http://www.ciranda.net/Manifesto-pela-

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para a composição do conselho, como nos Conselhos Nacionais de Saúde e de Cidades, escolhidos através de eleições diretas ou em Conferências.

Para o Coletivo Intervozes e para Lalo Leal (in VALENTE, 2009) esse modelo de indicação direta também limitaria o acesso de grupos com poder minoritário ao órgão, principalmente em momentos onde o Governo Federal fosse coordenado por uma coalizão de força organicamente não vinculada a grupos subalternos no país (p. 148). Dessa forma, os autores defendem que os conselheiros e conselheiras fossem sempre resultado de um processo de consulta pública junto às entidades da sociedade civil.

Por fim, prevaleceu o projeto defendido por Franklin Martins e o Conselho Curador teve seus primeiros membros todos escolhidos diretamente pela Presidência da República (com exceção do representante dos empregados da EBC) com nomes de notório saber dentro de diferentes áreas do conhecimento e de atuações na sociedade. Após amplo tensionamento no Congresso Nacional e na sociedade civil para a formulação da lei que daria origem à EBC e ao Conselho Curador, a redação final da norma descreveu os objetivos do colegiado e definiu que a renovação do mandato dos conselheiros representantes da sociedade civil se daria por Consultas Públicas. Também devido aos debates no Congresso Nacional foram adicionadas mais duas vagas ao colegiado: um representante indicado pela Câmara dos Deputados e um representante indicado pelo Senado Federal, num total de 22 vagas no Conselho Curador.

O debate envolvendo a forma de indicação de novos representantes da sociedade civil no Conselho Curador iria ainda ser motivo de grandes discussões ao longo das reuniões do colegiado nos anos que viriam. Principalmente, nos momentos de definições sobre como deveriam ser os editais e de que forma se daria a participação da sociedade civil no processo de escolha de seus representantes. Também foi motivo de debate o limite legal imposto pela lei sobre a autonomia do processo de Consulta Pública para definir os próximos representantes. A forma como ficou expressa na lei, segundo avaliação jurídica solicitada pelo Conselho Curador47, abria margens para a interpretação de que caberia ao Conselho somente organizar a Consulta Pública, mas, que a designação final dos nomes ainda seria da Presidência da República, que poderia acatar, ou não, os nomes referendados pelo Conselho Curador a partir da seleção via Consulta Pública. Esta análise será feita em sub-capítulo adiante.

47 A análise jurídica foi feita durante a 12ª Reunião Ordinária do Conselho Curador e pode ser vista nas páginas 6,

7, 8 e 9 da Nota Taquigráfica disponível em:

<http://www.ebc.com.br/institucional/sites/_institucional/files/atoms/files/nt_12_reuniao_cc.pdf>. Acesso em 10 dez 2019.

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A Lei da EBC em 2008 definiu ao final cinco instâncias internas de gestão na EBC: A Assembleia Geral, o Conselho de Administração, o Conselho Fiscal, o Conselho Curador e a Diretoria-Executiva. Além de prever como estrutura de apoio aos seus órgãos administrativos uma Ouvidoria.

A Assembleia Geral, composta pelos acionistas com direito a voto, é o órgão máximo da EBC, com poderes para deliberar sobre todos os negócios relativos ao seu objeto. O principal acionista da EBC é o Tesouro Nacional, com 100% das ações e direito a voto nas deliberações da Assembleia Geral de acionistas composta pelos membros dos Órgãos de Administração e do Conselho Fiscal.

O Conselho de Administração é na prática o órgão de orientação e direção superior da EBC. O Conselho se reúne ordinariamente a cada mês e extraordinariamente sempre que convocado pelo seu presidente, ou por dois terços dos seus membros. Tem como missão zelar pela continuidade dos serviços, observados os índices de confiabilidade, qualidade, eficiência, pela transparência, eficácia e legalidade da gestão; pela proteção e valorização do patrimônio da EBC tomando por base os valores e a função social da Empresa. Entre suas competências estão a fixação de diretrizes gerais para o negócio, aprovação do plano estratégico da EBC, bem como dos respectivos planos plurianuais e programas anuais de dispêndios e de investimentos propostos pela Diretoria Executiva e a avaliação dos resultados. No ano de 201948, este Conselho é composto por nove membros:

I - Ministro de Estado Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, que será o Presidente do Colegiado;

II - pelo Diretor-Presidente da Diretoria Executiva;

III - um membro indicado pelo Ministro de Estado da Educação; IV - um membro indicado pelo Ministro de Estado da Cultura; V - um membro indicado pelo Ministro de Estado do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão;

48 Em 2008, ano de promulgação da Lei 11.652, que criou a EBC, o Conselho de Administração era formado por 5 membros, nomeados pelo Presidente da República, e constituído da seguinte forma: I - de 1 (um) Presidente, indicado pelo Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República; II - do Diretor-Presidente da Diretoria Executiva; III - de 1 (um) Conselheiro, indicado pelo Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão; IV - de 1 (um) Conselheiro, indicado pelo Ministro de Estado das Comunicações; e V - de 1 (um) Conselheiro, indicado conforme o Estatuto. As alterações foram decorrentes da nova Lei 13.417 de 2007.

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VI - um membro indicado pelo Ministro de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações; e

VII - um membro representante dos empregados da EBC, escolhido na forma estabelecida pela Lei nº 12.353, de 28 de dezembro de 2010.

VIII - dois membros independentes que são indicados pela Secretaria-Geral da Presidência da República.49

Importante ressaltar que o Conselho de Administração sempre teve sua maioria formada por indicações do Governo Federal. A opção jurídica tomada pelo governo, em 2007, de construção da EBC como uma empresa, fez com que ela tivesse que obedecer às regras da Lei 6.404 de 1976, que rege as normas para formação de Conselho de Administração (que depois viria a ser alterada pela Lei 13.303 de 2016). Dentre as regras, não está incluída a participação social ou a indicação de membros por meio de Consultas Públicas para o colegiado. Isso marca um limite da participação social dentro da EBC: a sociedade podia interferir na linha editorial, nos conteúdos produzidos pela empresa e na observância do cumprimento dos princípios e diretrizes da Lei da EBC por meio do Conselho Curador, mas, não poderia ditar os rumos administrativos, de visão de negócios e até mesmo agir em votações sobre deliberações da formação da própria diretoria-executiva.

O Conselho Fiscal é órgão permanente de fiscalização e se reúne ordinariamente a cada dois meses e, extraordinariamente, sempre que convocado pelo seu Presidente, pela maioria de seus membros ou pelo Conselho de Administração. É responsável por fiscalizar os atos dos administradores e verificar o cumprimento dos seus deveres legais e estatutários; acompanhar a gestão financeira e patrimonial da EBC e fiscalizar a execução orçamentária; opinar sobre o relatório anual da administração; analisar, ao menos trimestralmente, o balancete e demais demonstrações financeiras elaboradas periodicamente pela EBC; examinar as demonstrações financeiras do exercício social e sobre elas opinar. O Conselho é composto por três membros:

I - um indicado pelo Ministério da Fazenda, como representante do Tesouro Nacional, que deverá ser servidor público com vínculo permanente com a Administração Pública;

II - dois membros indicados pela Secretaria-Geral da Presidência da República. (Idem)

49 Estatuto Social da EBC de 2018. Acessível em:

<http://www.ebc.com.br/institucional/sites/_institucional/files/atoms/files/estatuto_social_ebc_publica r.pdf> Acesso em 25 out 2019

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A Diretoria Executiva é responsável pela administração e gestão da EBC. Dentre as suas atribuições estão avaliar o planejamento anual da programação e a linha editorial dos canais públicos geridos pela Empresa; propor o Regimento Interno da EBC e encaminhar o documento para aprovação do Conselho de Administração; aprovar as propostas de política geral de pessoal, de planos de cargos, carreiras e salários; e zelar pela autonomia da Empresa para que nenhum órgão ou entidade pública ou privada possa condicionar ou impor a difusão de qualquer informação ou programação nas emissoras e veículos da EBC. Em 2019, a Direção da EBC é composta por seis diretorias: Diretoria-Presidência; Diretoria-Geral; Diretoria de Jornalismo; Diretoria de Conteúdo e Programação; Diretoria de Administração, Finanças e Pessoas; e Diretoria de Operações, Engenharia e Tecnologia.50

A Ouvidoria tem como objetivo receber as manifestações do público e mediar o diálogo deste com a empresa, além de fazer análises sobre os conteúdos produzidos pela EBC. A Ouvidoria da EBC incorporou atividades já realizadas anteriormente pela sua antecessora na Radiobrás, que havia criado este departamento em 2004. A(o) Ouvidora-Geral ou Ouvidor- Geral da EBC tem um mandato de dois anos, prorrogável por igual período.

Uma norma interna da EBC de 2008 (NOR 104 - Norma de Ouvidoria de 07/05/2008) definiu que os objetivos da Ouvidoria passam por representar os interesses dos cidadãos perante a empresa, garantir o seu direito à informação e contribuir para a sua formação crítica e participativa, além de determinar que a Ouvidoria deveria realizar a crítica interna da programação por meio de boletins semanais de avaliação dos conteúdos, e a condução de no mínimo 15 minutos de programação semanal (nas emissoras de rádio e televisão da Empresa), em horário compreendido entre 6 horas da manhã e meia-noite. E cria, por fim, o cargo de três ouvidores-adjuntos, um para cada segmento de veículo da empresa (rádio, televisão e agência de notícias), responsáveis por auxiliar o(a) Ouvidor-Geral ou Ouvidora-Geral.

A Norma de Ouvidoria foi atualizada em dezembro de 2018, dez anos após a sua criação. O novo regulamento (Norma 104 da EBC de 27/12/2018) modifica sua estrutura e atualiza pontos relativos a obrigações trazidas pela promulgação da Lei n. 13.460, de 26 de junho de 50 Até 2011, a Diretoria-Executiva da EBC já havia sido formada pelas seguintes diretorias, não concomitantes (no máximo 6 diretorias eram permitidas por gestão, mas é possível alterar nomes e funções das mesmas por meio da alteração do Estatuto Social da empresa): Diretoria da Presidência; Diretoria Geral; Diretoria de Produção; Diretoria de Jornalismo; Diretoria Jurídica; Diretoria de Serviço; Diretoria de Suporte e Operações; Diretoria de Relacionamento e Rede; Diretoria de Administração e Finanças; Diretoria de Programação e Conteúdo. Até 2015, a Diretoria-Executiva era formada pelas respectivas diretorias: Diretoria da Presidência; Diretoria Geral; Diretoria de Produção Artística; Diretoria de Jornalismo; Diretoria de Serviços; Diretoria da Vice-Presidência, Gestão e Relacionamento; Diretoria de Administração, Finanças e Pessoas; Diretoria de Conteúdo e Programação.

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2017, que regula as Ouvidorias Públicas no Brasil (COELHO, 2019). A alteração principal é a mudança nas Ouvidorias Adjuntas da EBC, transformando-as em somente duas: uma de Conteúdo e outra de Conformidade. Outro ponto que chama a atenção no documento atualizado é a menção explícita a que a Ouvidoria “é órgão de assessoramento, vinculado ao Conselho de Administração”. Essa observância aparece de maneira menos óbvia na norma aprovada em 2008 (Idem, p. 112).

Importante ressaltar que apesar de existir uma continuidade do trabalho da Ouvidoria após as mudanças legais sofridas pela EBC em 2017, o órgão sofreu uma alteração crucial em sua relação com a sociedade com a extinção do parágrafo da Lei da EBC que obrigava ao Ouvidor-Geral a encaminhar relatórios bimestrais sobre os conteúdos da EBC para um colegiado de participação social, no caso, o Conselho Curador. Com a vigência da Lei n. 13.417/2017, os relatórios passaram a ter que ser enviados ao futuro Comitê Editorial e de Programação, que até novembro de 2019, ainda não havia sido implementado.

Nota-se, portanto, que apesar de a Ouvidoria continuar a existir ela não tem mais a quem se dirigir senão a própria Diretoria-Executiva da EBC, reduzindo assim o poder de participação da sociedade por meio deste mecanismo para somente a realização de críticas e sugestões, uma vez que à atual Ouvidora-geral não compete o poder de sanção à Diretoria da EBC pelo não cumprimento das sugestões e recomendações disponibilizada nos relatórios bimestrais. Para Tereza Cruvinel, primeira diretora-presidenta da empresa, após as alterações legais a Ouvidoria da EBC perdeu força de atuação junto a melhoria dos conteúdos da empresa:

A Ouvidoria nas condições atuais ela se torna um órgão inócuo, mesmo que não tenha sofrida nenhuma alteração legal. O que importa é: a quem a Ouvidoria está se reportando neste momento? Sem Conselho Curador ela está se reportando à Diretoria- Executiva. E a Diretoria-Executiva da EBC neste momento está interessada em ouvir queixas da sociedade, ou elogios, ou sugestões? Não sei. Mas ela poderá fazer o que quiser: atender a Ouvidoria ou ignorá-la. Era o Conselho que recebia as críticas recebidas, ou produzidas pela Ouvidoria, e agia junto à Diretoria-Executiva para que fossem tomadas as providências, ou fosse adotada alguma sanção. (CRUVINEL, 2019, informação oral obtida em entrevista para esta pesquisa)

O Conselho Curador, portanto, teria condições de ser uma resposta a demanda da sociedade no debate da democratização da comunicação no país, como um mecanismo capaz de trazer a sociedade civil para participar da gestão da empresa nacional de comunicação pública. Entende-se que o modelo institucional que prevê a participação da sociedade na EBC está inserido em um amplo movimento que confere uma série de conquistas democráticas

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inseridas no Estado brasileiro, além de sintonizar-se com novas dinâmicas de uma sociedade com facilitações de conexão cada vez maiores (SILVA e SOARES, 2013).

A ação do Conselho Curador visava garantir que fossem tomadas decisões em nome do interesse público, e por isso o colegiado foi composto em sua maior por representantes da sociedade civil. Para Heloiza Matos (2009) a comunicação pública é um processo instaurado na “esfera pública (...), um espaço de debate, negociação, e tomada de decisões relativas à vida pública do país” (MATOS, 2009, p.49).

Se historicamente este ou aquele agente possa ter se confundido com o processo mesmo da comunicação pública, como foi e continua sendo o caso do governo e das mídias, é preciso superar este estágio, propondo um novo paradigma: a comunicação pública exige a participação da sociedade e seus segmentos. Não apenas como receptores da comunicação do governo e seus poderes, mas também como produtores ativos do processo (MATOS, 2007, p.52)

A institucionalização da participação da sociedade nos moldes do Conselho Curador da EBC é um caso minoritário, mas não único em se tratando de empresas de comunicação no país. Formado em sua maioria por representantes da sociedade civil, o colegiado fez com que se tornasse realidade parte dos anseios dos movimentos sociais que lutam pela democratização da comunicação brasileira e que trabalham pela implantação de conselhos de comunicação social, com participação da sociedade, antes mesmo da Constituição de 1988 (LIMA, 2013).

Importante destacar que existem outras experiências de conselhos com participação da sociedade em emissoras de comunicação públicas estaduais do país, como é o caso do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta51, que gere a TV Cultura do Estado de São Paulo. O colegiado desta fundação conta com um colegiado composto por 47 membros, sendo: três vitalícios, vinte natos, vinte e três eletivos, um representante dos empregados da Fundação, todos indicados pelo Governo Estadual. A Empresa Mineira de Comunicação, empresa criada em 2016 para abarcar a emissora de TV pública do Estado, Rede Minas e a Rádio Inconfidência, também possui um Conselho Curador52, mas este é responsável apenas para deliberar sobre a proposta de política geral da emissora de televisão, ficando a emissora de rádio ausente de qualquer participação da sociedade em suas diretrizes. Os conselheiros são todos indicados pelo

51 Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta – São Paulo. Disponível em: <https://fpa.com.br/conselho/>. Acesso em 17 nov 2019.

52 Conselho Curador da Fundação TV Minas Cultural e Educativa – FTVM. Disponível em: <http://redeminas.tv/conselho/>. Acesso em 17 nov 2019.

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governador, que recebe de entidades da sociedade ligadas ao ramo empresarial e aos sindicatos das áreas correlatas da empresa uma lista tríplice com sugestões de nomes. A Empresa Pernambuco de Comunicação (EPC) possui um Conselho Administrativo53, formado por 13 membros: seis integrantes do governo, um representante da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), formada por ex-prefeitos das cidades pernambucanas, e seis da sociedade civil, eleitos por diversos segmentos.

O Conselho Curador da EBC, porém, foi uma experiência paradigmática na participação da sociedade, prevendo uma participação social de nível nacional e com poder de deliberação direta sobre a linha de produção de conteúdo da Empresa. Sua composição reuniu obrigatoriamente representantes das cinco regiões do país, em um órgão ligado a uma Empresa de comunicação pública também de abrangência nacional. Era composto por 22 membros:

15 (quinze) representantes da sociedade civil, obrigatoriamente com ao menos um representante de cada uma das cinco regiões do país;

1 (um) representante indicado pelo Senado Federal; 1 (um) representante indicado pela Câmara dos Deputados;

4 (quatro) Ministros de Estado, respectivamente nas seguintes áreas: da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, da Cultura, da Ciência e Tecnologia e da Educação;

1 (um) representante eleito pelos empregados da EBC.

Todos os representantes da sociedade civil (quinze membros) e os dois representantes do Congresso Nacional, recebiam o pagamento de um pro-labore por cada reunião ordinária