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Conselhos Municipais de Educação no Brasil

No documento CARMEN LÍGIA CALDAS HAIDUCK (páginas 110-114)

CAPÍTULO 2 O CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO NO ÂMBITO DO

2.4 Conselhos Municipais de Educação no Brasil

O primeiro CME no Brasil foi criado no estado do Rio Grande do Sul, no município de Candelária em 1936. Em maio de 1958 o município de Novo Hamburgo criou também seu CME. Nas décadas de 1970 e 1980 vários outros municípios criaram CME, sobretudo no estado do Rio Grande do Sul (BORDIGNON, 2013).

A pesquisa de Santos (2014) revelou que, nas capitais brasileiras, nas décadas de 1960 a 1980, foram criados nove Conselhos Municipais de Educação, em Vitória (1965), São Luís (1966), Recife (1971), João Pessoa (1974), Salvador (1981), Curitiba (1985), Rio de Janeiro (1986), São Paulo (1988) e Aracaju (1988).

A criação de Conselhos Municipais de Educação no Brasil intensificou-se após a Constituição Federal de 1988, que permitiu a criação de Sistemas de Ensino ao considerar os municípios como entes federados e autônomos, amparados, para tanto, “em dois planos: descentralização político-administrativo e democratização do Estado” (SANTOS, 2014, p. 103).

Assim, “no processo de redemocratização, os Conselhos Municipais de Educação inseridos na estrutura dos sistemas municipais de ensino, passaram a representar uma das estratégias para democratizar as ações do Estado” (SANTOS, 2014, p. 61), exigindo dos Conselhos de Educação, na gestão pública, uma “nova configuração em sua natureza: a passagem de órgãos técnicos de governo para o exercício de funções de Estado” (BORDIGNON, 2017, p. 25).

Conforme dados do IBGE (2015), dos 5.570 municípios brasileiros, 4.878 possuem CMEs, representando 84,8% de municípios com CME instituídos. Em publicação na edição “Perfil dos Conselhos Municipais de Educação 2007”90, com base em dados do IBGE e do SICME, havia no Brasil 5.563 municípios e 2.548 CME instituídos, representando 45,8%. Em sete anos (2007-2014) foram criados sete novos municípios e 2.330 novos CME, uma demonstração que tem havido progressão na instituição de CME.

Oliveira e Haiduck (2018, p. 476) analisam que, apesar da importância dos CMEs, enquanto órgão de Estado, “o processo de criação foi lento em algumas regiões do país”.

A partir do final da primeira década do século XXI, conforme a Pesquisa de Informações Básicas Estaduais e Municipais 2014 do IBGE, houve crescimento sistemático no número de Conselhos Municipais de Educação nos estados brasileiros no período de 2009 a 2014, como demonstra o Gráfico 1.

Gráfico 1 - Percentual de Municípios com Conselho Municipal de Educação e com Conselho

Paritário por Unidade da Federação - 2014

Fonte: IBGE-Pesquisa de Informações Básicas Estaduais e Municipais (2015)91.

Observa-se no Gráfico 1 que dos 26 estados da federação onze estão com quase todos os municípios com CME instituídos, sendo que em dois estados, Santa Catarina e Rio de Janeiro, todos os municípios possuem CME. No entanto, nem todos os municípios com CME estão com seu Sistema de Ensino próprio instituído. Na pesquisa do IBGE, publicada no “Perfil dos Municípios Brasileiros 2009”, sobre Sistemas de Ensino, os dados indicaram que no Brasil apenas 52,1% dos municípios possuíam SME, o que assinala a lentidão na construção da autonomia nas questões educacionais em âmbito municipal. Em outras palavras,

[...] nas localidades sem sistema de ensino próprio a atuação dos CMEs acaba-se bastante restringida. A regulação institucional do sistema educacional brasileiro não lhes atribui qualquer competência privativa de ação. Sua existência em muitas cidades brasileiras nessa situação é sugestiva de lógicas de ação voltadas para a construção de relações neopatrimonialistas92 (SOUZA; DUARTE; OLIVEIRA, 2013, p. 29).

Apesar da observação das autoras, não é possível atribuir diretamente a criação de SME à autonomia dos municípios, assim como do CME à gestão democrática. A presença do CME, com suas contradições intrínsecas, pode resultar em avanços em relação às práticas de gestão democrática, mas também pode manter as práticas centralizadoras.

Como se vê no Gráfico 1, há estados com 100%, outros com 99,4% de CME, enquanto o estado de Rondônia com 48,1% e 51,9%, como é o caso de Mato Grosso do Sul. Os dados expressam o cenário federativo de diversidade e desigualdade regional, na considerável diferença de percentuais.

Pode-se recordar em relação à desigualdade regional que,

Em 1970, alguns poucos municípios do Sul e Sudeste apresentavam os mais altos valores de PIB per capita, ao passo que os mais pobres estavam concentrados na região Nordeste. Em 1980, expandiu-se o número de municípios que nas regiões Sul e Sudeste apresentavam as mais altas taxas de riqueza, tendo ocorrido também alguma expansão da riqueza na região Centro-Oeste [...]. As regiões Sul e Sudeste abrigam os municípios mais ricos, as regiões Centro-Oeste e Norte têm ilhas de riqueza cercadas por municípios com riqueza de nível intermediário. Os municípios da região Nordeste permanecem de modo geral com um padrão estável, sendo os mais pobres quando comparados os demais. Assim, ainda que os valores per capita tenham aumentado devido ao crescimento econômico, a desigualdade permanece praticamente inalterada (ARRETCHE, 2015, p. 198-199).

La Valle e Barone (2015) no estudo sobre “Conselhos, associações e desigualdade” atribuem a expansão dos Conselhos e associações, por exemplo, ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o efeito da indução federal nas políticas sociais. No período de estudo delimitado nesta tese, pode-se dizer que o PAR foi grande indutor de políticas educacionais nos municípios brasileiros.

O percentual de CME com paridade na sua representação também chama a atenção, pois nenhum dos estados possuem CME totalmente paritários, apenas aproximam-se com considerável variação. A paridade constitui uma das formas do perfil democrático do Conselho e a garantia de representatividade da sociedade civil e do governo na sua

92 Relações em que o a gestão do Conselho parece ter uma autonomia mínima por estarem atrelados de formas diversas ao poder Executivo local ((SOUZA; DUARTE; OLIVEIRA, 2013).

composição. A paridade implica “aceitar as diferenças, trabalhar no e com o contraditório, fazendo fluir ambas as vozes” (BORDIGNON, 2017, p.26).

No documento CARMEN LÍGIA CALDAS HAIDUCK (páginas 110-114)