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Planejamento: elementos conceituais

No documento CARMEN LÍGIA CALDAS HAIDUCK (páginas 45-48)

CAPÍTULO 1 O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL NO CONTEXTO

1.1 Planejamento: elementos conceituais

O planejamento, como forma de intervenção estatal, remonta suas origens ao processo de estatização da economia, iniciado na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), na década de 1920, denominados de “planos quinquenais”6.

No capitalismo, o modelo de Estado intervencionista tende a atuar com reduzida intervenção em relação aos direitos sociais e ampliada intervenção na garantia de lucro para o mercado.

Esse tipo de intervenção do Estado, ao objetivar amenizar os problemas que estão afetando ou impedindo o desenvolvimento econômico do capitalismo, utiliza a planificação para organizar o modo de produzir e acumular, planejando conforme as tendências econômicas e sociais em voga, utilizando diversas estratégias para a manutenção o sistema de

6 Os planos quinquenais foram uma forma de planificação da economia implantada por Stalin na Antiga União Soviética, com o objetivo de estabelecer propriedades para a produção industrial e agrícola do país para períodos de cinco anos, visando tornar a URSS autossuficiente, neles se determinavam as metas, por setor econômico, do que seria investido e produzido (MALGUEIRA, 2015).

capital e as relações sociais nele expressas. Como assevera Baia Horta (1994, p. 207) “[...] o Estado sempre deteve nas mãos um papel econômico primordial, e a sua presença sempre foi de vital importância nas atividades do capitalismo”, estabelecendo por meio dos planos como se dará essa intervenção.

De acordo com Ianni (1977, p. 310), o planejamento fundamenta-se na estrutura econômica e na estrutura do poder, sendo os processos e relações políticas aliados à estrutura econômica. Segundo o autor, “[...] em última instância, o planejamento é um processo que começa e termina no âmbito das relações e estruturas de poder”, pois todo planejamento está interligado ao contexto político-econômico e geralmente “[...] implica na transformação ou consolidação de uma estrutura de poder” (IANNI, 1977, p. 310).

Ferreira e Fonseca (2011, p. 70) afirmam que o planejamento “[...] é uma das estratégias utilizadas para imprimir racionalidade ao papel do Estado e institucionalizar ‘as regras do jogo’ na administração das políticas governamentais”. As regras são estabelecidas a partir da organização do Estado, seu sistema econômico, regime político e forma de governo, conjunto que expressa a relação de poder na totalidade dessa dinâmica. No contexto da democracia moderna, apesar de incorporar a ação coletiva, as formas de poder institucionalizadas continuam “[...] atuando e orientando padrões de regulação de acordo com os interesses hegemônicos” (FERREIRA, 2016, p. 47).

Porém, no contexto de tensões em que se encontra o Estado, o planejamento apresenta-se como elemento racional para organizar a política econômica governamental. A prática de planejamento se impõe “[...] como meio de proporcionar as ações para atender às necessidades essenciais da população e prover o País de uma estruturação econômica e social”, como analisa Ferreira (2013, p. 66).

O ato de planejar é intencional, consiste em escolher ações conscientes, atividade que se faz presente na organização da vida cotidiana. Em âmbito governamental, planejar tem um sentido institucional e político. No espaço institucional, planejar tem o significado de ações coletivas, como instrumento destinado ao alcance de objetivos comuns, que transcendem os indivíduos (SAVIANI, 2013). É política a decisão de planejar, uma vez que com a definição de planos se instituem valores, objetivos e alocam recursos financeiros, assim como “[...] se redefinem as formas como esses valores e objetivos são propostos e distribuídos” (FERREIRA, 2013, p. 63-67). Como função política, ergue-se como “[...] meio para organizar a política econômica e social de cada gestão governamental” (FONSECA, 2016, p. 26).

O planejamento tem sentido ideológico7, uma vez que não há neutralidade na planificação8, há, sim, um conjunto de intenções que expressam interesses e necessidades individuais e coletivas e suas contradições.

Um plano, enquanto expressão do planejamento, constitui o instrumento utilizado pelo governo na condução de políticas públicas, uma ferramenta usada para atingir as metas estabelecidas para a organização e desenvolvimento da sociedade. O planejamento governamental é composto da planificação do conjunto de setores da sociedade como o setor (ou campo) da educação, sendo os planos, os programas e os projetos, as formas para a materialização dessa planificação (AZEVEDO, 2014).

No processo de planejamento governamental, a educação é concebida e priorizada, levando-se em conta as relações contraditórias que incidem na proposta para a área. O planejamento educacional tem a função de intervir “[...] como produto e processo de trabalho e como elemento fundamental de mediação da política estatal” (SILVA, 2016, p. 66), pois como instrumento mediador dos processos educacionais visa “[...] a implantação de uma determinada política educacional do Estado, estabelecida com a finalidade de levar o sistema educacional a cumprir as funções que lhe são atribuídas enquanto instrumento deste mesmo Estado” (BAIA HORTA, 1994, p. 195).

De acordo com Saviani (1999), há uma íntima relação entre sistema de ensino e plano de educação, considerando que “[...] sistema resulta da atividade sistematizada; e ação sistematizada é aquela que busca intencionalmente realizar determinadas finalidades. É, pois, uma ação planejada”. Acrescenta que “[...] Sistema de Ensino significa, assim, uma ordenação articulada dos vários elementos necessários à consecução dos objetivos educacionais preconizados para a população à qual se destina. Supõe, portanto, o planejamento” (SAVIANI, 1999, p.120).

No movimento histórico da sociedade capitalista, a planificação estatal e as tendências econômicas direcionam as regras para o planejamento educacional, pois esse “[...] expressa relações orgânicas com o modelo de Estado e, consequentemente, com o modo de produção hegemônico” (SILVA, 2016, p. 67). Nessas relações “[...] o governo constrói a ordem de cada dia, assegurando e legalizando a dominação. No cotidiano das lutas políticas, o

7 Entende-se, de acordo com Gramsci, que ideologia é “uma concepção de mundo que se manifesta implicitamente na arte, no direito, nas atividades econômicas e em todas as manifestações de vida individuais e coletivas” (GRAMSCI, 1986, p. 16).

8 Segundo Vieira (1992, p. 24), “a planificação representa comumente a expressão quantificada de determinada política econômica e social, estabelecendo, ainda, os objetivos da ação governamental”. Ela, portanto, indica a principal forma de sistematização da política econômica e social.

governo vai fixando a orientação da política econômica e da política social”, segundo Vieira (1992, p. 20-21).

Cabe considerar, conforme Dourado (2011, p. 18), que “[...] a história da educação brasileira é marcada por disputas distintas do papel do Estado e do planejamento, da relação entre os entes federados e da lógica da gestão e da organização”. Assim, o processo de planejamento em educação tem sido delineado pela engenharia dessas disputas e relações que ensejem o Estado a assumir o seu papel intervencionista ou não.

O planejamento educacional, enquanto o conjunto de ações que expressa a forma de o Estado intervir na educação (BAIA HORTA, 1994), visa a um projeto de sociedade, intervenção que se manifesta, por meio de forças e estratégias no âmbito do processo global.

A compreensão de um plano, enquanto instrumento político de intervenção do Estado na sociedade, implica apreender “[...] como essa intervenção se dá dentro do jogo das forças sociais e dos constrangimentos financeiros próprios dos direitos sociais, os planos supõem o conhecimento dos limites e das possibilidades”, conforme ressalta Cury (2011, p.17).

O olhar sobre o movimento do planejamento no Brasil “[...] abre espaço para compreender sua função na dinâmica institucional do Estado”, considerando que “[...] no decorrer do período republicano, o Estado oscilou entre diferentes direções políticas”, como discutem Ferreira e Fonseca (2011, p. 72), decorrendo em diferentes posicionamentos com relação ao papel da União nas políticas educacionais, em que, entre outros, a “[...] centralização e a descentralização constituem um movimento pendular inerente a todo e qualquer tipo de Estado” (SAVIANI, 2011, p. 76). Nesse movimento, figura o planejamento educacional atrelado ao planejamento governamental com diferentes pautas nos governos.

No documento CARMEN LÍGIA CALDAS HAIDUCK (páginas 45-48)