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Consequências lógicas são diferentes das consequências naturais porque exigem a intervenção de um adulto – ou de outras crianças em uma reunião de família ou de classe. É importante decidir que tipo de consequência geraria uma experiência de aprendizagem útil, que pudesse encorajar as crianças a

escolherem a cooperação responsável.

Por exemplo, Linda gostava de bater o lápis na carteira enquanto fazia sua tarefa. Isso incomodava as outras crianças. A professora deu-lhe a opção de parar de bater o lápis ou terminar sua tarefa mais tarde. (Geralmente é uma boa ideia dar às crianças a escolha de parar seu mau comportamento ou experimentar uma consequência lógica.) Claro que existem outras soluções. Muitas vezes, as crianças não se dão conta de que o seu comportamento incomoda os outros. A professora poderia simplesmente pedir para Linda parar de bater o lápis. Ou a professora poderia buscar uma solução com Linda, ou poderiam decidir pedir ajuda durante uma reunião de classe. Se uma consequência se assemelha à punição, ainda que muito pouco, escolha outra ferramenta da Disciplina Positiva.

Dan trouxe um carrinho para a escola. Sua professora o chamou de lado e perguntou se ele gostaria de deixá-lo com ela ou com o diretor até o final da aula. Dan preferiu deixá-lo com a professora. (É uma boa ideia falar sobre uma consequência com as crianças em particular, quando possível, para que elas não se sintam envergonhadas perante os colegas.)

Dar uma escolha às crianças e falar em particular sobre as consequências não são as únicas orientações para a aplicação eficaz das consequências lógicas. Se fosse assim, seria sensato dar a uma criança a escolha de parar o mau comportamento ou apanhar. Os Quatro R das Consequências Lógicas constituem uma fórmula que identifica os critérios para ajudar a garantir que as soluções sejam as consequências lógicas, e não a punição.

O

S

Q

UATRO

R

DAS

C

ONSEQUÊNCIAS

L

ÓGICAS

1. Relacionada 2. Respeitosa 3. Razoável

4. Revelada com antecedência

Relacionada significa que a consequência deve estar ligada ao

comportamento. Respeitosa significa que a consequência não deve envolver culpa, vergonha ou dor e deve ser aplicada gentil e firmemente. Também deve ser respeitosa para todos os envolvidos. Razoável significa que a consequência não inclui tirar vantagem e que ela é razoável do ponto de vista tanto da criança como do adulto. Revelada com antecedência significa apenas que devemos permitir que a criança saiba o que vai acontecer (ou o que você vai fazer) se ela escolher um determinado comportamento. Se um dos Quatro R estiver faltando, já não se pode chamar de uma consequência lógica.

Quando uma criança escreve em uma carteira, é fácil concluir que a consequência relacionada seria pedir que a criança limpasse a carteira. Mas o que acontece se algum dos outros Quatro R estiver faltando?

Se um professor não é respeitoso e acrescenta humilhação ao pedido, já não é uma consequência lógica. O sr. Martin achou que ele estava usando uma consequência lógica quando disse à Maria, na frente de toda a classe: “Maria, estou surpreso que você tenha feito algo tão idiota. Agora limpe a carteira ou eu vou ter de contar aos seus pais como estou decepcionado com você.” Nesse exemplo, o respeito foi eliminado e o professor tirou proveito indevido usando humilhação.

Se um professor não é razoável e solicita que o aluno limpe todas as carteiras da sala para garantir que aprenda a lição, já não é uma consequência lógica. A razoabilidade foi eliminada e deu lugar ao poder de causar sofrimento. Isso geralmente decorre da crença equivocada de que as crianças aprendem somente quando sofrem.

Se a consequência não é revelada com antecedência, é mais fácil de ser interpretada como punição. Revelar com antecedência, quando possível, acrescenta uma dimensão de respeito e de escolha.

Quando uma criança derrama leite, a consequência relacionada é ter de limpar. Não é respeitoso se você diz: “Como pode você ser tão desajeitado? Essa foi a última vez que eu deixo você servir o leite.” Um comentário mais

respeitoso seria: “Ops, o que você precisa fazer agora?” (É incrível como

muitas vezes a criança sabe qual seria a consequência lógica [solução] e quão disposta ela está em praticá-la, quando perguntamos respeitosamente.) Se a criança não sabe o que fazer, pode ser porque você não tirou um tempo para treiná-la – assim essa expectativa ou pedido se torna não razoável. Ao lidar com essas situações respeitosamente também demonstramos que os erros são ótimas oportunidades para aprender. Não seria razoável se assegurar de que as crianças sofram por seus erros, dizendo: “Para ter certeza de que vai aprender, quero que você esfregue todo o chão.” O quarto R, revelar com

antecedência, não se aplica a esse exemplo.

Na verdade, se os adultos eliminam um dos Quatro R das Consequências Lógicas, fazendo com que as consequências não sejam relacionadas, respeitosas, razoáveis e reveladas com antecedência (quando apropriado), as crianças podem experimentar os Quatro R da Punição, abordados no Capítulo 1. Aqui estão eles novamente para que você possa ver como se relacionam com o uso indevido de consequências.

O

S

Q

UATRO

R

DA

P

UNIÇÃO

1. Ressentimento – “Isso não é justo. Eu não posso confiar nos adultos.”

2. Retaliação – “Eles estão ganhando agora, mas eu vou me vingar depois.”

3. Rebeldia – “Eu vou mostrar a eles que eu posso fazer o que eu quero.”

próxima vez.” – ou de diminuição da autoestima: “Eu sou uma pessoa ruim.”

Pais e professores não gostam de admitir, mas muitas vezes a principal razão pela qual eles gostam de usar a punição é para demonstrar o seu poder de conquistar a criança, ou para “se vingar” fazendo o filho sofrer. O pensamento subconsciente por trás dessa ideia é “eu sou o adulto e você é a criança”, “você vai fazer o que eu digo ou então vai sofrer as consequências”. Esse conceito foi capturado em uma charge, que mostrava uma mãe assistindo seu marido perseguir o filho com uma vara. Na legenda, a mãe diz: “Espere, dê-lhe outra chance.” O pai responde: “Mas ele pode nunca fazê-lo novamente.” Obviamente, é mais importante para esse pai (e para muitos adultos) fazer a criança sofrer por seu mau comportamento do que ajudá-la a mudar esse comportamento.

O sofrimento não é um requisito das consequências lógicas. Por exemplo, uma criança pode se divertir ao limpar sua carteira. (Isso é bom, uma vez que a finalidade de uma consequência lógica é interromper o mau comportamento e encontrar uma solução, e não se vingar causando sofrimento.)

Outro nome para as consequências lógicas é redirecionamento.

Redirecionamento

Uma consequência lógica é eficaz quando redireciona a criança a um comportamento útil (colaborativo).

Mark era muito desrespeitoso e bagunceiro na sala de aula por ficar conversando quando o professor tentava dar a aula. O sr. Smith, seu professor, castigou-o, dizendo-lhe que ele tinha que escrever 30 vezes: “Eu vou ter boas maneiras e não serei desrespeitoso enquanto estiver na sala de aula.” Mark, claro, não respondeu favoravelmente pensando: “Ah, legal! Eu realmente mereço, e isso vai me ensinar a não falar mais em classe.” Em vez disso, ele

ficou rebelde e ressentido, e não escreveu as frases. O sr. Smith é um dos muitos adultos que acha que, se a punição não funcionou, é apenas porque não foi suficientemente severa – então o sr. Smith dobrou a punição para sessenta vezes.

Mark ficou ainda mais ressentido e rebelde e se recusou a fazê-lo. Sua mãe salientou que, se ele não o fizesse, a punição provavelmente seria dobrada novamente (sendo justa ou não) e que ele provavelmente seria suspenso. Mark disse: “Eu não me importo. Eu não vou fazer isso.” A punição foi dobrada de novo, para 120, e a mãe de Mark foi chamada para uma reunião. Muitos professores também acreditam que, se a punição não está funcionando, é porque os pais não estão apoiando a punição. Neste caso, o professor estava certo. A mãe de Mark não acreditava na eficácia da punição.

Na reunião, ela esclareceu que certamente concordava que Mark tinha sido desrespeitoso e bagunceiro e que isso deveria ser corrigido. Ela pensava que uma consequência lógica poderia ser mais eficaz, e sugeriu: “Já que Mark tornou seu trabalho desagradável, que tal ele ter de fazer algo para compensá- lo, tornando o seu trabalho mais agradável?”

O sr. Smith disse: “O que, por exemplo?”

Ela sugeriu a limpeza dos quadros, esvaziar a lixeira, ou ensinar parte de uma lição.

Mark estava realmente interessado nessa sugestão e acrescentou: “Sim, eu poderia ensinar sobre verbos transitivos e intransitivos.”

O sr. Smith disse: “Sim, você realmente compreendeu essa matéria, e muitos dos alunos ainda não.” Ele então olhou para a mãe de Mark e disse: “Mas ele iria gostar disso.”

O sr. Smith não estava disposto a seguir a sugestão de redirecionar o mau comportamento para um comportamento colaborativo porque tinha medo de que essa atitude significasse premiar o mau comportamento e que inspirasse Mark a continuá-lo.

melhores, primeiro temos que fazê-las se sentir pior. Pode ser que o sr. Smith também represente aqueles que acham que é mais importante para as crianças pagar pelo que fizeram do que aprender com o que fizeram. Vou dizê-lo novamente: o oposto é o verdadeiro. As crianças fazem melhor quando se sentem melhor. Muitos professores, como você verá nos exemplos adiante, descobriram que redirecionar o mau comportamento para um comportamento colaborativo tem funcionado para encorajar as crianças a interromper ou diminuir significativamente o mau comportamento.

Uma outra razão pela qual as consequências lógicas podem ser difíceis de usar é que elas exigem raciocínio, paciência e autocontrole. Significa agir em vez de reagir. Muitos adultos acham mais fácil pedir autocontrole das crianças do que de si mesmos.

Consequências lógicas e objetivos equivocados de