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A primeira característica que pensamos para descrever crianças mais novas é mimada. Muitas crianças mais novas são mimadas tanto pelos pais quanto pelos irmãos. Isso facilita que elas adotem a interpretação equivocada de que devem manipular os outros em seu favor para que sejam importantes. Filhos mais novos, geralmente, são habilidosos em usar seu charme para inspirar os outros a fazer algo por eles. Muitas vezes também são criativos e divertidos. Muito de sua criatividade, energia e inteligência pode ser canalizado para se sentirem importantes por meio de charme e manipulação.

Geralmente, filhos mais novos são colocados na confusa posição de serem os preferidos dos pais e rejeitados pelos irmãos. O maior perigo para crianças que foram mimadas é que elas normalmente interpretam a vida como

injusta sempre que não estão sendo cuidadas ou quando não dão o que elas querem. Frequentemente, elas se sentem magoadas por essas condições injustas e pensam que têm o direito de ter ataques de birra, sentir pena de si mesmas ou buscar vingança de alguma maneira que machuque ou seja destrutiva para os outros. Elas podem desenvolver a crença “Eu me sinto amada quando os outros cuidam de mim.”

Filhos mais novos podem ter dificuldade de se ajustar na escola. Eles podem sentir que a professora não apenas deve lhes dar a mesma atenção que recebem em casa, mas também que ela deve aprender por eles. Conscientemente, eles dizem: “Professora, por favor, amarre os meus sapatos pra mim.” Subconscientemente, e por suas ações, estão dizendo: “E enquanto você está fazendo isso, por favor, aprenda por mim.” “Eu não consigo” e “Me mostra” com frequência são simples exigências que significam: “Faça isso por mim.”

Como conselheira de ensino básico, falei com muitas crianças que tinham dificuldade de se ajustar ao ambiente escolar. Eu sempre perguntava a essas crianças: “Quem veste você de manhã?” Como você pode adivinhar, sempre há alguém que assume a responsabilidade de vesti-los. Se não é a mãe ou o pai, pode ser um irmão mais velho.

Como instrutora de desenvolvimento infantil em uma universidade comunitária, tive muitos alunos que trabalhavam em pré-escolas e creches. Por dez anos, aqueles alunos fizeram pesquisas com os alunos com os quais trabalhavam. Raramente eles encontravam uma criança que se vestia sozinha pela manhã.

Crianças podem se vestir sozinhas desde os 2 ou 3 anos, se elas tiverem roupas fáceis de vestir e se forem ensinadas a fazer isso. Quando os pais continuam a vestir seus filhos depois dos 3 anos, estão tirando deles a oportunidade de desenvolver um senso de responsabilidade, autossuficiência e autoconfiança. Eles são menos propensos a desenvolver a crença de que são capazes. Em vez de sentirem um senso de aceitação quando os outros fazem as

coisas por eles. Sem acreditar em sua própria capacidade, eles têm menos chance de serem bons alunos na escola e podem não desenvolver as habilidades necessárias para ter sucesso na vida.

Já que mimar é tão prejudicial à criança, por que os pais fazem isso? Muitos pais realmente pensam que é a melhor maneira de demonstrar amor pelo filho. Tenho ouvido o argumento de que as crianças têm muito tempo para se adaptar ao mundo frio e cruel, então por que não deixá-las aproveitar do jeito fácil e prazeroso pelo maior tempo possível? Esses pais não estão atentos à dificuldade que é mudar crenças, hábitos e características uma vez que já estejam estabelecidos. As crenças que desenvolvemos quando crianças tornam-se nosso “modelo para a vida” como adultos, até mesmo quando aquelas crenças não fazem mais sentido.

Outras razões para que os pais mimem as crianças são: por ser mais fácil, por preencher sua necessidade de serem necessários, por pensarem que é o que os “bons” pais devem fazer, por quererem garantir que seus filhos não passem pela infância difícil que eles sentem que passaram, ou por sentirem pressão por parte da família e dos amigos. Os pais não estão realmente pensando nos efeitos em longo prazo quando tiram de seus filhos a oportunidade de praticar valiosas habilidades de vida só porque eles, pais, podem fazê-lo melhor e com mais facilidade e rapidez. Nunca deixo de me surpreender quando os pais me dizem que “eles simplesmente não têm tempo” de deixar as crianças fazerem as coisas sozinhas. Esses mesmos pais, mais tarde, ficarão desapontados e frustrados quando descobrirem que seus filhos nunca desenvolveram melhores habilidades e atitudes. Será que eles pensam que habilidades são desenvolvidas automaticamente? Pais que querem o melhor para seus filhos serão mais efetivos se reavaliarem suas prioridades de tempo.

Precisamos entender que “supermães” não são boas para as crianças. É importante educar os pais sobre o grande desserviço que prestam aos filhos quando os mimam. É por isso, como mencionado no Capítulo 2, que Dreikurs

disse: “Nunca faça algo por uma criança que ela possa fazer sozinha.” Isso não significa que você nunca possa fazer nada por uma criança. Mas sim que crianças estão sendo enganadas quando não aprendem o quão capazes elas podem ser quando não são mimadas.

Crianças aprendem valiosas habilidades de vida quando os pais dedicam um tempo para treinamento e depois permitem que elas desenvolvam responsabilidade e autoconfiança por meio da prática dessas habilidades. É um erro pensar que as crianças sempre poderão aprender a cuidar de si mesmas mais tarde. Quanto mais elas esperarem, maiores as dificuldades para mudar suas interpretações sobre o que precisam fazer para sentirem que são aceitas e importantes.

Alguns filhos mais novos escolhem uma interpretação completamente diferente da vida e se tornam velocistas. Eles frequentemente adotam a interpretação equivocada de que devem alcançar e superar todos à frente deles, a fim de serem importantes. Tornam-se adultos com alto desempenho que ainda precisam provar a sua importância.