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Os caminhos da investigação

Condição 2: encontros “cara a cara” em um local combinado entre o pesquisador e o participante

3.2 Considerações éticas

Esta pesquisa, submetida e aprovada pelo Comitê de Ética do Instituto de Humanidades da UnB (CAAE: 22540413.2.0000.5540), foi realizada em conformidade com os princípios éticos e condições para pesquisas envolvendo seres humanos estabelecidos nas resoluções brasileiras (Resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e Resolução CFP nº 016/2000).

Todos os participantes foram solicitados a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para pesquisa com seres humanos. É no mínimo estranho, como registrei em pesquisa anterior (Sonoda, 2012b), que a pesquisadora garanta sigilo e anonimato e, ao mesmo tempo, solicite que o informante assine um documento que pode identificá-lo24.

23 A pesquisa campo foi aprovada e desenvolvida antes da aprovação de uma nova Resolução do Conselho Nacional de Saúde que, em sua Quinquagésima Nona Reunião Extraordinária, realizada nos dias 06 e 07 de abril de 2016, aprovou a Resolução Nº 510. Nesta Tese, foram seguidos os preceitos éticos adotados na regulação anterior.

24 Em minha pesquisa com líderes comunitários vítimas de violência urbana em favelas cariocas (2007-2010) tive meu projeto reprovado no Comitê de Ética do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ). Motivo oficial: pesquisa envolve riscos. Motivo dos bastidores: “Você é branca demais para subir favela”. Aqui eu não tive possibilidade de solicitar a assinatura de um Termo de Consentimento porque esses líderes estavam em constante risco de serem mortos por traficantes locais e pela própria polícia. Pedir para esses sujeitos assinarem um papel inviabilizaria a pesquisa. O consentimento, nesse caso, foi oral e a pesquisa foi desenvolvida e concluída na Faculdade de Geografia da mesma Universidade. É preciso registrar aqui a

134 A história de vida, principal instrumento de coleta de dados utilizada nesta pesquisa, pressupõe dos sujeitos recursos psíquicos, elaborativos e mesmo perlaborativos para contar sua própria vida. Mais importante do que cumprir a burocracia dos Comitês de Ética ou solicitar assinatura do TCLE, é ter cuidado (quase um “carinho”) com as pessoas que estão participando da pesquisa. É ter respeito por suas histórias, alegrias e sofrimentos.

Riscos

Não houve riscos relacionados à participação dos sujeitos na pesquisa. Ao contrário, as informações puderam contribuir para a compreensão do fenômeno da violência e seus efeitos na saúde e subjetividade dos participantes. O que costuma ocorrer é um desconforto que as pessoas naturalmente podem sentir em uma situação formal de entrevista ou quando temas delicados demandam alguma resposta dolorosa de ser evocada.

É preciso destacar que trabalho há alguns anos com vítimas de violência, já tendo realizado dezenas de entrevistas com esse público específico. Nesta pesquisa trabalhei com vítimas indiretas. Ainda assim, acredito que as experiências anteriores contribuíram para um melhor manejo das eventualidades ou situações não previstas durante a condução do trabalho de campo.

Por precaução, não fez parte da amostra pacientes considerados graves pela equipe técnica da instituição Pró-Vítima, que me indicou os primeiros entrevistados.

incongruência gerada por esse Termo, pois, ao mesmo tempo que ‘protege’ o entrevistado – na medida que é uma garantia formal de anonimato e um meio de prestar esclarecimentos da pesquisa –, pode criar uma situação de constrangimento nos informantes, sobretudo em Pesquisas com vítimas diretas de violência, muitas vezes ameaçadas e, não sem motivos, desconfiadas.

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Benefícios

Nenhuma intervenção ou tratamento específico foi oferecido nesse estudo. Contudo, me coloquei à disposição dos participantes, caso ocorresse, durante ou depois das entrevistas, qualquer tipo de desconforto que demandasse suporte psicológico.

Pretendo divulgar os resultados para todos os participantes, através da disponibilização da tese (ou de resultados desta).

Não há benefícios diretos em participar desse estudo. Indiretamente, posso presumir que falar de suas vivências de violência pode se configurar em uma tentativa de ressignificação destas experiências.

Confidencialidade e anonimato das informações

→ As informações obtidas através desta pesquisa são confidenciais, estando assegurado o sigilo sobre a participação.

→ As entrevistas gravadas foram apagadas no término da pesquisa e apenas eu tive acesso ao material gravado e transcrito.

→ Os processos de digitação e análise dos dados também foram de minha responsabilidade25.

→Os dados coletados nesta pesquisa serão publicados na forma de Tese e artigo científico. → Não houve a participação de colaboradores externos em nenhuma etapa da pesquisa de campo.

→ Todos os participantes tiveram sua identidade preservada.

25Omiti menções a nomes e lugares que pudessem permitir a identificaçãodos entrevistados. Contudo, em alguns casos, pelo número reduzido de entrevistas e pela exposição pública de algumas das pessoas entrevistadas, sua identificação na pesquisa talvez seja possível. Essa situação foi abertamente exposta para os participantes, e nenhum deles se opôs.

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Cuidados éticos pré-entrevista

Tive o cuidado de deixar muito claro o tipo de participação para a qual estavam sendo convidados a contribuir na pesquisa, sendo agendado o melhor horário para os participantes. Esclareci que a participação não era obrigatória e que os participantes poderiam desistir a qualquer momento e retirar seu consentimento.

Cuidados éticos durante a entrevista

As entrevistas foram realizadas em local escolhido pelo participante. Todos foram informados sobre a possibilidade de interromper sua participação na pesquisa a qualquer momento, sem nenhum prejuízo no que se refere ao atendimento recebido no Pró-Vítima (quando aplicável). Disponibilizei-me e deixei contatos de e-mail e telefone para eventuais dúvidas, curiosidades ou questões relacionadas com a participação dos sujeitos na pesquisa.

Cuidados éticos pós-entrevista

A saída do campo também envolveu questões éticas. Deixei marcado o compromisso de retomar o contato com cada um dos participantes para informar sobre o uso dos dados primários recolhidos e prometi a cada um deles um exemplar da tese (impressa ou por via eletrônica, entregue pessoalmente ou via Correios ou e-mail, a escolha de cada participante).