• Nenhum resultado encontrado

Reapresenta-se na conclusão desse trabalho o foco da pesquisa que é o álbum fotográfico como um produto de Design baseado nos fundamentos do Design Emocional ditos por Donald Norman.

“Nosso apego não é realmente com a coisa, é com o relacionamento, com os significados e sentimentos que a coisa representa.” (NORMAN, 2008, P.68) Isto é, damos valor ao que os álbuns fotográficos provocam, aos sentimentos que ele provoca e não ao produto ou resultado em si. Isso é comprovado com vários depoimentos, porém o de R.S. é o mais, contundente quando diz: “(...) ai eu venho

aqui, e vejo o álbum da gente, eu mudo de humor na hora (...)“.

As pessoas procuram se relacionar com coisas que proporcionam afetividade positiva. Os álbuns estão totalmente ligados a isso, eles são caracterizados por união de fotografias pessoais aos quais contam e guardam histórias individualmente importantes de determinados momentos que não querem ser esquecidos pela pessoa que as guardam. Essas histórias são lembranças que renovam momentos felizes, aos quais, muitas estão dispostas a fazer de tudo para não esquecer. O depoimento de W.R. explica bem essa questão:

“(...) esse aqui é no Mirabilândia12

e todo ano eu vou para o lá, porque sempre é uma turma diferente e eu gosto de registrar isso, mas esses dois aqui sempre estão comigo, mas eu gosto de registrar, até porque tá todo mundo com um corte de cabelo diferente e todo mundo mudou de alguma forma, ai eu gosto de registrar esses momentos, até para ficar rindo depois (...)” (W.R.)

É inevitável não comentar que hoje temos a possibilidade da rápida visualização das imagens fotográficas, diretamente na câmera ou em outro receptor com possibilidade de visualização da imagem (computador, televisão, tablet etc...) e

12

isso proporciona melhor seleção das fotos desejadas antes de revela-las. Concomitante a isso, permite que se registrem muito mais fotografias pela facilidade de simplesmente apagar aquelas que são consideradas como ruins.

Durante a pesquisa de campo, percebeu-se que o ato de fotografar momentos vividos pode ser realizado de forma inconsciente, porém, a decisão de transformar o momento em um álbum de fotografias, é uma decisão de extrema importância atribuída ao momento. E.R. denuncia claramente isso, quando fala:

“(...) Adoro tirar fotos, mas álbum, álbum mesmo, só fiz um, para Diego, fiz porque queria que tivéssemos recordações de todos os momentos. Significa muito pra mim, sei que toda vez que ele olhar aquele álbum vai abrir e cada foto que vê vai lembrar de um bom momento. E como eu vou ficar feliz por poder continuar o álbum com mais fotos e mais recordações para um futuro (...)” (E.R.)

Outra situação interessante se encontra no depoimento de W.R., pois ela declara a importância dada a seus álbuns, mas confessa que a realização do álbum está relacionada à questão financeira:

“(...) adoro fotos e, por isso, eu tenho muita foto e, para revelar todas... é muito dinheiro... então eu prefiro fazer montagem (...), coloco várias fotos dentro desse tamanho, e assim eu tenho a maioria das preferidas (risos)”.

O tamanho que W.R. se refere seria o tamanho 10x15 cm, um dos padrões mais baratos em empresas de revelação da cidade.

Para dedicar tempo e dinheiro em revelar ou montar um álbum, requer um grau de importância dada ao momento vivido. As que são importantes, porém, com algumas restrições, permanecem no digital, provavelmente compartilhadas em redes sociais para que várias outras pessoas possam comentar sobre a fotografia divulgada. A maior parte dessas fotos fica guardada em uma mídia digital ou na própria câmera que a registrou.

“Atualmente eu confesso que diminui muito a quantidade de fotografias reveladas, porque hoje temos o facebook e querendo ou não, você acaba se acomodando por saber que as fotos estão lá e depois eu posso pegá-las e revela- las, só que no final, eu acabo esquecendo, e algumas vezes deixando para lá. Mas

mesmo assim minha preferência são sempre revelar algumas fotos, porque o prazer de revelar é uma questão pessoal, eu gosto do “pegar”, de sentir e olhar as fotografias”. (W.R.)

A partir do exposto, pode-se observar que durante as conversas com as entrevistadas que a “importância do momento” pode ser classificada, de forma a definir o tipo de álbum fotográfico, que inclui a escolha de seu preço. Para isso, foi identificada durante a pesquisa três tipos de álbum: os com bolsas de plástico dados pela empresa de revelação, os com bolsas de plástico e capa rígida personalizada de forma industrial, e por fim, os com fotos impressas diretamente no papel chamado fotoálbuns.

Sendo assim, segue as observações de forma detalhada sobre a “Importância do Momento”, identificada durante todo o processo da pesquisa. Assim, podemos conferir os tipos de álbuns comentados e escolhidos de forma inconsciente pelas entrevistadas, pois essas observações estão atreladas à “Importância do Momento”.

Refletindo sobre o que foi supracitado, quantas pessoas se conhece que revelam todas as fotos de sua câmera digital sem nem sequer selecioná-las? Quantas pessoas contratam um fotógrafo para registrar um casamento ou uma festa de aniversário e sempre pedem um álbum como resultado? E quantas pessoas contratam um profissional para transformar em álbum o dia do churrasco na frente de casa?

Todas têm uma justificativa simples do porque preferir um álbum de fotografias ou não. A existência do álbum só acontece quando o sujeito rotula como

momentos importantes e dignos de uma revelação e/ou montagem13. O fato de ainda existirem pessoas que revelem fotografias e as transformem em álbuns ou em fotoálbuns, se dá muito mais pelas expectativas emocionais com a devida importância atribuída por essas pessoas ao relembrar momentos vividos.

Verifica-se em depoimentos a afirmação desse fato:

“(...) eu tinha um mural de fotos que eu achava importante, a maioria eu e Elvis, e precisei me mudar, mas não queria me desfazer das fotos, mas também,

13

Montagem: No sentido de revelação de fotos e depois organizá-las em álbum, ou no sentido de montagem virtual para tê-las impressa em fotoálbuns.

não queria mais um mural. Então, foi ai que decidi pegar todas essas fotos e transformá-las em álbum, na verdade, eu chamo de scrapbook14 (...)Eu adoro fotos e tudo quero tirar fotos, mas como não posso revelar todas eu escolho aquelas que vale muito a pena e coloco aqui (...) quando decidi montar esse álbum eu pensei, ‘não quero essas fotos naqueles álbuns de plástico’, achava que as fotos iriam ficar feias lá, sei lá. A foto cola no plástico, o plástico amassa, sei lá, não gosto (...)”.

(N.V.)

É clara a Importância do Momento dito por N.V. e a preocupação com o Tipo

de Álbum escolhido por ela para organizar essas fotografias, no caso dela é um livro

com páginas em branco, onde ela pode colar as fotos descartando o uso de bolsinhas de plásticos.

No depoimento de M.S. também se percebe este investimento:

“(...) Aai! esse aqui é a fase Emili e o outro fase Edimar, as fotos dos meus filhos têm que ser em um álbum todo enfeitado do jeito que eu te falei né? Com florzinha, com carrinho, rosinha, azulzinho! Olha aqui olha, com foto na frente... do jeito que eu gosto (...) aí tem esse aqui com fotos do Dada (...) ai esse aqui eu deixo para comprar um álbum depois (...) esse aqui é fase casamento, fase amor junto com fase minha, tipo topmodel (risos) (...)”

14 Scrapbook: termo da íngua inglesa significa “recados”. Hoje em dia os Scrapbook são conhecidos por montagens manuais de álbuns fotográficos, com uso de pedaços de tecido, botões, fitas entre outros utensílios, essas montagens são, principalmente realizadas para customizar a capa desses álbuns.

Imagem 17 – Tipos de Álbum. De cima para baixo, da esquerda para direita, a primeira e a segunda foto são álbuns dos filhos dela Emili e Edimar. A terceira e a quarta, do esposo, Dada. A quinta e sexta são respectivamente da “fase casamento” e “fase amor” ao qual ela se referiu em seu depoimento. Fonte: M.S.

Observa-se também que os dois depoimentos apresentados têm ligação com os níveis de Norman (2008). N.V. deixa claro o nível comportamental ao descartar os álbuns de plástico para suas fotografias. E M.S. mostra o nível visceral, onde a única preocupação dela é se o desenho da capa é agradável visualmente e atende ao gosto visual. Ela não se preocupa se o plástico vai amassar ou colar nas fotografias como resaltou N.V..

Conclui-se então que as reflexões feitas a partir dos fundamentos do Design Emocional de Donald Norman são válidas para álbuns fotográficos e fotoálbuns, mas reforça-se que a intensidade de cada nível (visceral, comportamental e reflexivo) é

particular. Quando as entrevistadas são questionadas quanto a existência do próprio álbum, dizem que esse artefato existe porque gostam de pensar que elas podem olhar novamente momentos do passado futuramente, relembrando o que aconteceu. A Importância de Momentos unidos em um ou mais Álbuns Fotográficos, também está atrelado a essas particularidades emocionais ao qual define a intensidade de cada nível supracitado por Norman (2008). Por exemplo, se M.S. faz questão de uma boa aparência na capa e sempre procura isso quando vai comprar um álbum, ela apenas enfatiza, inconscientemente, seu desejo pela “capa mais linda” dando preferência ao nível visceral, mas, por outro lado, se ela compra um álbum fotográfico ela, sem dúvida, pensou em unir fotografias especiais para ela, prevalecendo o nível reflexivo, já que as fotos são guardadas para o futuro. Outro exemplo pode ser apreciado quando N.V. preferiu usar um livro (união de várias folhas encadernadas) com folhas em branco para colar suas fotos e não um álbum feito com bolsas de plástico, porque não gosta da ideia do plástico para pôr suas fotos, nesse instante ela privilegia o design comportamental. Mas se N.V. tem um “livro com páginas em branco” e resolve organizar suas fotografias nele, então também pensa em rever esses momentos posteriormente, e assim atende ao nível reflexivo. Isso acontecerá constantemente, com mais ou menos intensidade nos níveis descritos por Norman (2008).

Esta pesquisa, por fim, atesta que os níveis apontados por Norman (2008) podem ser analisados em artefatos ligados à memória afetiva como, por exemplo, o álbum fotográfico e pretende trazer contribuições introdutórias a escassa bibliografia sobre Design Emocional que ainda é uma área pouco explorada em termos acadêmicos.

Documentos relacionados