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FAMÍLIA

6. CONSIDERAÇÕES E APONTAMENTOS PARA POLÍTICAS PÚBLICAS.

A experiência do CEMEI Alexandre Sartori Faria, localizado no Distrito de Joaquim Egídio, detém a maior área territorial da APA municipal e também a maior área do território campineiro, e pode contribuir com sua prática pedagógica para o desenvolvimento dessa almejada sociedade sustentável, assumindo o enfoque mais abrangente do termo.

O trabalho pedagógico realizado com crianças de zero a seis anos, alicerçado na Memória, Cultura Popular e Meio Ambiente, testemunha a possibilidade de participação do cotidiano da região como base para a sustentabilidade local.

As práticas realizadas com as crianças demonstram que seu desenvolvimento está diretamente relacionado às possibilidades de acesso aos conhecimentos científicos e locais, desmistificando a sua incapacidade de aprendizagem dos conhecimentos científicos construídos no decorrer da história humana.

E, é na inserção da criança no mundo dos adultos que se articulam as informações necessárias para serem processadas em novos conhecimentos. As experiências com os velhos, além de eles serem identificados pelas crianças, como senhores com idade maior, eles os colocam, enquanto referência de cultura e conhecimento, que pode não estar sistematizado cientificamente, mas que agrega valores sociais e necessários à formação de pessoas críticas, sensíveis à vida em sociedade e capazes de planejarem seus futuros considerando o lugar onde vivem.

As parcerias realizadas pela escola foram possíveis, a partir do momento em que essa se reconhece enquanto instituição pública, representante do Poder Público, que busca um atendimento com qualidade para a população. Devido à dificuldade em gerenciar a infra- estrutura interna da escola ela pôde avançar nas parcerias locais e de assessoria de formação externas ao âmbito Público.

As práticas pedagógicas, dessa forma, transcendem o planejamento oficial e burocrático solicitado pelo órgão público. Os conteúdos deixam de ser pensados, exclusivamente, e estruturados para o ensino escolar, passando a incorporar aqueles que são construídos nas relações com diferentes pessoas da sociedade, que propõem socializar seus conhecimentos. Os documentos oficiais não são referências únicas e exclusivas, para qualquer estudo que pretenda entender as relações de ensino-aprendizagem.Também são referências as

comunidades locais, havendo necessidade de um diálogo de fontes para uma retomada do cotidiano escolar.

Ao pensar o desenvolvimento local, a partir do conhecimento local, em hipótese alguma se pretende reduzir os conhecimentos sistematizados pela humanidade em detrimento aos de uma localidade e, nem tão pouco, submetê-los a um reducionismo de conteúdos locais. É exatamente no sentido oposto a esse pensamento que o CEMEI contribui com sua prática quando consegue unir os conhecimentos sistematizados com os conhecimentos da comunidade local, dando pistas de como realizar as articulações necessárias para a sustentabilidade local.

Essa forma de articulação eleva o potencial das pessoas da comunidade local, não importando o sexo, raça, status social e religioso, cultural e educacional, colocando-as como detentoras de conhecimentos necessários para a renovação de informações, delineando uma capacidade de auto-sustentação dessa comunidade.

Nesse sentido, a pesquisa vem demonstrar que a sustentabilidade local passa pelo reconhecimento das pessoas que detêm história e cultura, e que precisa ser compreendido para que as novas visões possam somar-se aos interesses locais, agregando conhecimentos condizentes à cultura local.

Tendo a cultura como Patrimônio pertencente à humanidade, o desenvolvimento do Distrito de Joaquim Egídio merece um olhar mais apurado que extrapole a ótica de uma estética bonita e exótica do local, para uma ótica de preservação de sua história e cultura, que foi e está presente na história do desenvolvimento de Campinas, do Estado de São Paulo e do Brasil.

Os depoimentos dos entrevistados, através de entrevistas baseadas em sua história, abrem a possibilidade de realizar Políticas Públicas voltadas não somente à comunidade local, mas a toda a cidade de Campinas. Nos relatos encontramos as explicações sobre a região, sua história, a cultura e o modo de vida de cada comunidade. Essas devem ser respeitadas e consideradas como propulsoras de qualquer Política Pública efetiva. Dessa forma a soma dos conhecimentos e as modificações no ambiente serão menos traumáticas para todos os envolvidos.

Nos depoimentos encontramos também as sugestões que podem ajudar no planejamento da cidade e da região. A metodologia para o planejamento que prevê a participação da comunidade, passa pelo simples fato de ouvir os diferentes atores sociais. E,

através de depoimentos orais, é possível compreender melhor o modo de vida, o modo de agir e de pensar, levando em conta a história e a cultura inserida na história local. Além de tudo, ao considerar a História Oral enquanto elemento necessário para o desenvolvimento da metodologia de análise para planejamento local, esta toma uma dimensão relevante, identificando e reconhecendo os moradores como pessoas que pertencem à comunidade, que a conhecem e têm autoridade enquanto indicadores de Políticas Públicas.

O sentimento de pertencimento é uma marca que difere qualquer cidadão que possui um vínculo afetivo e histórico com a região. Através dele, é possível determinar o seu agir, sua forma de pensar, e o possível desenvolvimento para a comunidade, de uma forma e não outra. A identidade que o sujeito desenvolve em seu meio contribui para o gerenciamento de problemas relacionados ao desenvolvimento local, bem como na percepção de práticas culturais que possam gerenciar e regular ações, colocando o desenvolvimento em constante situação de vulnerabilidade.

As demais áreas urbanas de Campinas, que absorveram grande fluxo de migrações, não possuem o grau de envolvimento e pertencimento com o desenvolvimento local. Muitas vezes, essas regiões são apenas dormitórios, ocasionando outro tipo de sentimento que não o de pertencimento. Esse sentimento não envolve a identidade da pessoa com o local, induzindo a uma participação menos ativa, o que pode dificultar as articulações das Políticas Públicas, e colocar a população em constante estado de vulnerabilidades sociais, econômicas, ambientais, culturais, políticas e educacionais.

Apesar dessa pesquisa não ter usado toda a grandeza e riqueza das falas dos entrevistados, estas ficam como possibilidade para novos estudos que pretendam planejar o desenvolvimento local a partir dos indicativos de ações dos principais atores da comunidade de Joaquim Egídio em busca da sustentabilidade local e global.

Apontamentos para as Políticas Públicas

Como já foi mencionada anteriormente, a experiência do CEMEI Alexandre Sartori Faria e os relatos das entrevistas apontam sugestões que podem ser pertinentes aos planejamentos de Políticas Públicas para a região.

dados da pesquisa:

Imaginário Rural e Urbano

A área rural é representada como um lugar bonito, exótico e com qualidades propícias para a vida humana, sendo a urbanização uma possível ameaça para essa área. Porém, se há um planejamento envolvendo o Poder Público e a comunidade local, torna-se possível manter a qualidade de vida na cidade.

Os depoimentos e as fontes consultadas apontaram sugestões visando conciliar a urbanização do Distrito com as suas práticas culturais.

São elas:

• Estruturação de cursos para crianças e jovens sobre técnicas agropecuárias, doma de animais e cuidados com o meio ambiente;

• Estruturação de cursos para agricultores, proprietários, moradores e comerciantes sobre a APA de Campinas, contendo as suas divisões, orientações sobre o uso do solo, bem como seus aspectos legais com os objetivos de orientação para ações na região;

• Desenvolvimento de atividades na escola vinculadas ao cotidiano do Distrito;

• Estruturação de cursos específicos de agropecuária para os trabalhadores rurais, administradores e proprietários.

Relação Escola-Comunidade

A relação escola-comunidade mostra-se possível quando a escola assume seu papel de construção de conhecimento inserida no cotidiano da comunidade. Além da estruturação do conteúdo sobre outro prisma, vislumbra as possibilidades pedagógicas condizentes com as práticas no cotidiano escolar. Assume-se que o CEMEI, enquanto constitutivo do Poder Público, tem um papel fundamental enquanto desencadeador de ações voltadas ao desenvolvimento/ sustentabilidade local, através das seguintes ações apontadas nesse trabalho:

• Desenvolvimento de atividades pedagógicas contemplando os velhos que residem na região, bem como outros moradores como comerciantes, agricultores e familiares;

• Desenvolvimento de atividades pedagógicas relacionadas ao cotidiano do Distrito;

• Busca de parcerias para o desenvolvimento do Projeto Pedagógico da escola, e para os projetos do Distrito juntamente com outros atores da comunidade local;

• Reconhecimento de que a escola pública pode ser a proponente da articulação da comunidade em um projeto maior para o Distrito;

• Sensibilização da sub-prefeitura enquanto parceira nas ações das Políticas Públicas locais pela contribuição através de recursos humanos e materiais.

Parceria entre Poder Público e Privado

As parcerias podem acontecer com qualquer segmento da sociedade, porém, se houver representantes do comércio, das escolas, dos agricultores e da comunidade local, estas se fortalecem e contribuem com a qualidade de vida das pessoas.

Os dados apontaram que:

• A sub-prefeitura tem o papel de proponente de Políticas Públicas, e os demais órgãos públicos da região são os atores das Políticas Públicas;

• O comércio é um parceiro que, além de contribuir com recursos financeiros para os projetos locais, também o faz de forma eficaz nas atividades planejadas;

• O comércio tem o papel de preservar a história e cultura local através da restauração e preservação dos edifícios que ocupa, bem como do ambiente externo;

• Os agricultores e proprietários rurais podem contribuir com a abertura das propriedades, para atividades planejadas com a escola e comunidade em geral;

• Os agricultores e proprietários rurais podem contribuir com os cursos agropecuários e ambientais destinados à região, cedendo seu espaço para eles ocorrerem em suas dependências.

No presente caso, facilitariam a aprendizagem, pois, têm condições de oferecer o ensino teórico vinculado às práticas cotidianas.

Conceito de Educação Ambiental

A Educação Ambiental, com todo o seu percurso turbulento na educação, ora entendida enquanto conteúdo das disciplinas de ciências, geografia e história, ora entendida enquanto conteúdo de todas as áreas de conhecimento, passando por um enfoque interdisciplinar e por temas transversais, configura-se confusa com concepções que se revelam em práticas pedagógicas inadequadas para a construção do conhecimento. Entretanto, quando a escola assume a construção desses conhecimentos junto à comunidade em que está situada, esse conceito assume outras conotações, para ela e para toda a comunidade do entorno. Dessa forma:

-A Educação Ambiental se desenvolve através da inserção da escola na comunidade local, realizando estudos, desenvolvendo atividades para o conhecimento da comunidade local, tendo como referência a história do distrito da cidade, do estado, do país e do mundo.

-A Educação Ambiental é inerente aos conteúdos escolares, bem como da sociedade em geral, cabendo a cada segmento desenvolver ações planejadas para a preservação e recuperação do ambiente. A Educação Ambiental não está apenas vinculada às questões relativas à área biológica, ela está vinculada a questões sociais, econômicas, e acima de tudo diz respeito à política e à cultura da população.

-A contribuição da Educação Infantil para a Educação Ambiental pode ser viável e extrapolar as atividades pontuais como as comemorações em eventos ambientais. O CEMEI Alexandre Sartori Faria demonstra que, quanto mais se realizam parcerias entre diversos órgãos da comunidade local, mais o Projeto Pedagógico ganha maior dinâmica pedagógica, mais a escola se insere realmente na comunidade, e a sustentabilidade local pode ser realizada a partir do diálogo estabelecido nas parcerias veiculando informações e conhecimentos necessários para a manutenção das redes de conhecimento criadas nessas relações. Estas, por sua vez, inovam os conhecimentos locais que certamente estarão condizentes com os interesses de desenvolvimento local.

-Práticas como as atividades entre velhos, adultos e crianças demonstram ser o suporte da sustentabilidade local, uma vez que preservam os valores históricos, culturais e ambientais da comunidade. Além disso, o encontro das gerações possibilita a permanência do sentimento de pertencimento, contribuindo com o desenvolvimento local de maneira a ter

melhor controle sobre a vulnerabilidade social. O desenvolvimento do Distrito de Joaquim Egídio ainda se diferencia das demais áreas de Campinas não somente pelo aspecto ambiental, mas, sobretudo pela preocupação da comunidade em preservar e conservar aspectos históricos e culturais dessa região.Sendo assim, a sustentabilidade de qualquer lugar pode ser alcançada se estiver alicerçada nos aspectos econômicos, sociais, ambientais, históricos, culturais, e principalmente pela Ética e Política. O planejamento do município em busca da sustentabilidade perpassa pela escolha metodológica que contemple instrumentos de coleta de informações escritas e, principalmente oral, por permitir o compartilhamento entre os pensamentos da comunidade e dos órgãos públicos, definindo assim as Políticas Públicas para a região.