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Na região norte situa-se o distrito de Barão Geraldo. Neste estão localizadas a UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) e PUCC (Pontifícia Universidade Católica de Campinas), com grande potencial de crescimento, com áreas em processo de valorização imobiliária, atraindo a população de renda alta e média, apesar de existir grandes áreas ocupadas por favelas e ocupação.

Na região Leste, que compreende a APA-Campinas, existem grandes áreas desocupadas, que são áreas verdes, e que são motivos de especulação imobiliária, para empreendimentos de condomínios residenciais.

Sendo assim, Campinas recebeu dois tipos de população que foram significativas no seu crescimento econômico e populacional:

“...uma migração da classe média composta por técnicos e cientistas de elevada qualificação – empregados nas indústrias de alta tecnologia, nos Centros de Pesquisas da UNICAMP, PUCC, TELEBRÁS, Instituto Agronômico, entre outros- com uma migração da população de baixa renda, geralmente absorvida pelas atividades da indústria da construção civil e pelo setor terciário, impulsionou o dinamismo e a integração das atividades econômicas regionais”(BAENINGER,2001,p.338).

Os intensos fluxos migratórios, acrescidos do empobrecimento da população evidenciado pela deterioração do poder de compra fazem com que haja uma intensificação do processo de “periferização”.

Conseqüentemente, são intensificados os problemas como violência, fome, saneamento básico, e ambientais decorrentes dos contornos estabelecidos naquele momento.

Segundo BAENINGER (2001, p. 341), esse fenômeno “(...) foi devido à “expulsão”

da população de baixo rendimento, incluindo tanto os migrantes mais pobres como os naturais do município, para as áreas de mais baixo valor do solo urbano”.

Em 24/ 05/ 2000, a Assembléia Legislativa do Estado oficializa a criação da Região Metropolitana de Campinas7, composta por 19 municípios. Por sua localização, Campinas

7 A Região Metropolitana de Campinas (RMC), formada por 19 municípios, nasceu oficialmente com a Lei Complementar Estadual 870, de 19 de junho de 2000. O objetivo da RMC é discutir vários assuntos importantes como Transporte e Saúde, considerando que Campinas e as cidades próximas formam uma grande metrópole. Os

reforça o papel de centralidade em estabelecer escritórios, em implantar unidades de comércio e serviços ligados à agricultura e à indústria.

Campinas chega aos anos 2000 com quase um milhão de habitantes composta por migrantes de várias regiões do país, trazendo diferentes culturas, modo de vida e, com sérias conseqüências sociais e ambientais, provenientes dos contornos estabelecidos pelas aglomerações em seu território.

Como toda grande cidade e área metropolitana, essas aglomerações contribuem para a deterioração do ambiente, seja pelo alto consumo de água e energia, seja pelo acondicionamento inadequado dos lixos, seja pela contaminação e impermeabilização do solo. Somando-se a isso, a distribuição populacional de baixa renda nas áreas de risco, faz agravar o problema ambiental e, coloca Campinas com alto potencial de vulnerabilidade sócio- econômico e ambiental.“Entendendo a vulnerabilidade como um processo que envolve tanto a

dinâmica social quanto as condições ambientais” (HOGAN, CUNHA, CARMO e

OLIVEIRA, A., 2001, p. 398).

HOGAN, CUNHA, CARMO e OLIVEIRA (2001, p.403) destacam três problemas ambientais decorrentes do processo de industrialização e urbanização no município: a coleta de lixo deficiente e seu tratamento quase inexistente; a impermeabilização de grandes áreas e o não cuidado com as matas ciliares diminuindo as terras agricultáveis, ocasionando constantes inundações; e a intensificação do uso de automóveis e ônibus contribuindo com a poluição do ar.

Com esse tipo de desenvolvimento e urbanização as áreas verdes estão sofrendo enormes pressões para a expansão urbana, por serem consideradas como espaços vazios ou reserva de áreas para a urbanização, sendo um grande potencial às especulações imobiliárias que interferem diretamente na composição da paisagem do município.

A partir de 2001, a administração municipal se posicionou frente ao tipo de desenvolvimento que o município vem realizando e estabeleceu diretriz quanto ao municípios que formam a RMC são: Americana, Artur Nogueira, Engenheiro Coelho, Campinas, Cosmópolis, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara D’Oeste, Santo Antônio da Posse, Sumaré, Vinhedo e Valinhos. Ao todo são mais de 2,4 milhões de moradores. As decisões na RMC são tomadas no Conselho de Desenvolvimento Metropolitano, formado por representantes dos 19 municípios do governo estadual e de organizações de sociedades civis. MARTINS (2004, p. 110 -111)

desenvolvimento rural e urbano. Destacam-se duas ações que estão relacionadas diretamente com o desenvolvimento desta pesquisa e serão descritas ao longo do capítulo:

1- a criação do Grupo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Segurança Alimentar de Campinas (GDR), através do decreto nº 13.603 de 25 de abril de 2001;

2- a criação da Área de Proteção Ambiental (APA) de Campinas, através da Lei nº 10.850 de 07 de junho de 2001.

b.O Planejamento da Cidade contemplando as áreas rurais

O Grupo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Segurança Alimentar surge como uma Política Pública para planejar e desenvolver projetos específicos na área rural da cidade.

“(..).é um programa para integrar o rural na vida da cidade, valorizando os produtores rurais em sua missão do cumprimento da função social da propriedade da terra, na produção de alimentos e na preservação do meio ambiente em Campinas” (CAMPINAS-Programa Municipal de

Valorização da Zona Rural de Campinas, 2004, p. 01).

Como pôde ser visto anteriormente, as áreas rurais do município não possuíam uma política de valorização de seus espaços senão para reserva de ampliação dos espaços urbanos, sendo desconsideradas as atividades agrícolas como importantes para o desenvolvimento da Região Metropolitana de Campinas.

O Programa estabelece as seguintes justificativas:

“articulação do planejamento urbano, com o uso e ocupação da

zona rural do município, de forma a atingir o desenvolvimento das atividades urbanas e rurais de forma sustentável;

preservação da qualidade de vida e do patrimônio produtivo e ambiental da cidade, decorrente do equilíbrio, da regulamentação e da complementaridade do uso racional de seu território como um todo;

ações abrangentes em toda a cadeia produtiva do município, voltadas à inclusão social, à geração de trabalho e renda, à oferta de alimentos, ao combate à fome e à desnutrição, de modo a garantir o abastecimento alimentar qualitativo a toda população de Campinas”

(CAMPINAS-Programa Municipal de Valorização da Zona Rural de Campinas, 2004, p. 01 e 02).

O Programa, como um canal de interlocução entre os outros órgãos da administração municipal e, principalmente, os produtores rurais delineiam uma metodologia de trabalho visando à articulação de políticas públicas desenvolvidas a partir de consulta sobre as reivindicações dos agricultores, seja através das associações rurais, seja através das

organizações municipais como a OP8 (Orçamento Participativo) e os encontros de Produtores Rurais de Campinas.

A forma de dialogar com os principais envolvidos na produção agrícola é um diferencial de outras formas de planejar as Políticas Públicas. Ouvir os problemas reais e vivenciados pelos agricultores, bem como suas necessidades e interesses tornam-se de fundamental importância para o Poder Público poder intervir e investir, efetivamente e coerentemente, nos espaços do município.

No 1º Encontro de Produtores Rurais de Campinas (set/ 2002), estabeleceram-se as principais reivindicações que nortearam a consolidação do planejamento rural de Campinas, e que poderão ser utilizadas como indicadores para os próximos planejamentos. São elas: solicitação de estradas com condições de tráfego; criação de postos de Guarda Municipal; estudo sobre o uso e ocupação do solo rural como maneira de prevenir as especulações imobiliárias; criação de programas de assistência técnica e administrativas para os produtores rurais; apoio para a comercialização dos produtos agropecuários da região no comércio interno e externo, e criação de um serviço de inspeção sanitária. Além disso, foram medidas reivindicadas:

“Ordenamento da legislação ambiental municipal, planejamento de políticas de gestão de resíduos sólidos e embalagens de agrotóxicos, ações para se compatibilizar as atividades da população rural às normas e aplicação da legislação ambiental, conservação e recuperação do solo deficiente e política de saneamento visando a proteção à quantidade e à qualidade da água para a agricultura em Campinas” (CAMPINAS-

Programa Municipal de Valorização da Zona Rural de Campinas, 2004, p. 09).

Pensar a Política Pública para a produção agrícola do município perpassa o conhecimento técnico sobre as diferentes regiões agrícolas com suas produções e potencial, bem como os interesses e dificuldades vividas pelos agricultores.

8 O Orçamento Participativo representa um importante espaço de debate e definição dos destinos da Cidade. Nele, a população decide as prioridades de investimentos em obras e serviços a serem realizadas a cada ano, com os recursos do Orçamento da Prefeitura. Mas o OP vai além da escolha de obras. Ele estimula o exercício da cidadania, o compromisso com o bem público, a co-responsabilização entre governo e sociedade sobre a gestão da Cidade.

c.Área de Proteção Ambiental (APA) de Campinas.

“A mudança do sistema rural começa na relação com a natureza e não com a Agricultura”. (depoimento do Sr. David)