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PARTE 4. CONCLUSÕES DA TESE

B. CONSIDERAÇÕES E REFLEXÕES

Esse tópico apresenta algumas considerações sobre o trabalho e sobre desafios para estudos na área de estudo de determinação de gasto energético por actigrafia que foram identificados. Além disso, são apresentadas algumas reflexões e possibilidades sobre a ferramenta desenvolvida no âmbito da engenharia do trabalho.

A determinação de gasto energético enquanto área de estudo apresenta vários desafios. Diante do rápido desenvolvimento das tecnologias relacionadas à computação e tratamento de dados, um desafio para a área de gasto energético é o aperfeiçoamento de dispositivos e métodos de modelação de modo que acompanhem as novas demandas, e as novas técnicas disponíveis, seja pelo aperfeiçoamento dos dispositivos e métodos que já existem, tornando-os mais flexíveis, como pela combinação com novos sensores. Isso também é fato para os softwares dos actígrafos.

Em relação às técnicas de modelação há uma variedade de métodos de aprendizagem de máquina que podem ser melhor explorados e avaliados em relação a sua eficácia para essa aplicação. Pelo que a literatura aponta, é possível que técnicas de aproximação implementadas por meio computacional sejam eficazes para análises de atividades em vida livre, onde a variabilidade é aleatória e depende de um conjunto de fatores muitas vezes desconhecidos. Entretanto, a minimização de erros mediante a aleatoriedade de atividades livres e a variabilidade das características das pessoas continua sendo um desafio para estudos na área.

Outro desafio identificado nesse trabalho é a verificação da relação de variáveis não exploradas adequadamente no trabalho como aspectos do sono, estado emocional, etnia, diferenças de movimentos relacionados ao sexo e à idade. Além dessas variáveis o transporte e levantamento de cargas também são uma oportunidade de trabalhos futuros, explorando-os com abordagens mais adequadas.

Uma consideração a ser feita sobre as modelagens nesse trabalho é sobre a escolha de utilizar as contagens dos acelerômetros ao invés de utilizar as características da aceleração. Essa escolha se deu com a inteção de simplificar o processamento dos dados, seguindo a ideia de que as contagens podem ser um bom indicador da quantidade de movimentos, sendo suficiente para estimativas coerentes e com erro comparável ao de métodos da norma.

Em relação ao número e posição ótima de actígrafos não há consenso sobre isso na literatura. Experimentalmente também não obteve-se nenhuma indício de resposta a essa questão. Mas há de se convir, pelo bom senso, de que a alocação vai depender do tipo de atividade a ser executada. Para atividades variadas, como no caso aqui apresentado, é interessante que se monitore minimamente membros inferiores, membros superiores e tronco. Consequentemente, os métodos e modelos de avaliação devem contemplar tal disposição de actígrafos.

Partindo para uma perspectiva mais reflexiva, a ferramenta proposta neste trabalho pode ter utilidade em contexto ocupacional e organizacional. Considerando uma abordagem baseada na engenharia do trabalho, há uma componente histórica que deixou heranças de uma visão restrita sobre o trabalho como sinônimo de execução de movimentos e tarefas. Essa herança exerce influência na engenharia do trabalho desde a revolução industrial, tendo o capitalismo como plano de fundo e embutida nos contributos de ícones, tais como Adam Smith, Frederick W. Taylor, Henry Ford, Henri Fayol, Frank e

Programa Doutoral em Segurança e Saúde Ocupacionais

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B. DISCUSSÃO E REFLEXÕES

Lillian Gilbreth, da filosofia Toyota, entre outros proponenestes de pensamentos e práticas que tornaram- se paradigmas básicos da engenharia do trabalho.

Essa herança do trabalho relativamente desumanizado ainda se manifesta implícita ou explicitamente em práticas como as que apresentam Guérin et al., (2001). Eles colocam que, em geral, na maioria das situações de adaptação, transformação ou concepção de sistemas de produção a predominância dos aspectos financeiros, técnicos ou organizacionais não favorece a reflexão sobre o lugar incontornável do homem no sistema de produção. Segundo os autores, na maioria dos casos prioriza-se orçamentos, objetivos quantitativos e qualitativos de produção, as escolhas tecnológicas, opções de aquisição de máquinas, equipamentos e matéria-prima, fluxos de produção, distribuição de espaços e instalação de máquinas, níveis hierárquicos e organização do tempo de trabalho. Só depois se pensa no trabalho humano e nas tarefas dos assalariados, considerando quantidade de pessoas, formação, idade, estado de saúde, entre outros aspectos. Essa ordem que prioriza os recursos financeiros no projeto e na avaliação do trabalho anteriormente e com maior primazia sobre os aspectos humanos está presente em vários manuais de administração da produção utilizados, inclusive, nas escolas de engenharia.

Equilibrar a concepção de processos produtivos que favoreçam a saúde integral do trabalhador, que lhes permitam exercer suas competências com possibilidades de valorização; ao mesmo tempo em que contribua para que o sistema produtivo alcance seus objetivos é um desafio aos envolvidos na engenharia do trabalho. Acredita-se que o método aqui proposto de determinação de gasto energético para situações ocupacionais possibilite considerar a variável do gasto energético no planejamento e projeto do trabalho, bem como na avaliação do trabalho e na futura identificação de atividades.

No planejamento e projeto do trabalho a ferramenta pode ser útil para melhorar a mensuração de equipes, a alocação de pessoas e no estabelecimento mais adequado de metas. Também permite identificar a quantidade de energia humana disponível no sistema produtivo possibilitando balancear a produção considerando tal variável, como apresenta em outro formato Battini et al., (2015). A ferramenta proposta também permitirá considerar avaliar valores máximos e, consequentemente, monitorar valores aceitáveis de gasto energético para diferentes configurações pessoais e atividades distintas.

Em relação a avaliação do trabalho, a ferramenta pode ser agregada a outros métodos de avaliação já consolidados, tais como Avaliação Ergonômica do Trabalho – AET, Rula, Reba, Ocra, de acordo com a conveniência e devida adaptação. Também pode ser útil, a partir da complementação do algoritmo para identificação de atividades, avaliar as respectivas quantidades de energia gastas por unidade de tempo, auxiliando ou substituindo estudos de amostragem, registro e análise de execução de processo produtivo; e, ser integrada complementarmente a outros estudos, tais como estudos de nexo causal, erro e confiabilidade humana, produtividade, fadiga e carga de trabalho.

Além disso, pode auxiliar na gestão de gasto energético de equipes de trabalho ou desporto, auxiliar na adequeção alimentar de trabalhadores, e na análise de atividades de difícil registro como na agricultura, atividades informais e trabalhos sob projetos únicos. Ainda pode ser complementar às normas trabalhistas, uma vez que preveem, majoritariamente, limites aceitáveis para biotipos medianos, e pode ser utilizada em contextos de saúde/bem-estar, desportos, atividades militares, ou outras que demandem movimentos corporais.