PARTE 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA
D. NORMATIZAÇÃO E DETERMINAÇÃO DE GASTO ENERGÉTICO
demandas de mercado, desde 1946, a International Organization of Standardization - ISO elabora e publica normas internacionais de padronização (ISO, 2019). Apesar da lógica predominantemente mercadológica da razão de existir da ISO de “reduzir custos minimizando desperdícios e erros e aumentando a produtividade” (ISO, 2019), várias normas relacionadas ao trabalho humano foram propostas pela organização, principalmente relacionadas à segurança ocupacional.
Apesar da norma ISO 8669:2004 tratar especificamente da determinação da taxa metabólica, outras normas do sistema ISO mencionam gasto energético ou taxa metabólica em outros contextos. Elas estão relacionadas, por exemplo, ao design do ambiente construído, ergonomia do ambiente físico, ergonomia do ambiente térmico, equipamentos de proteção respiratória, aspectos do trabalho de combatentes ao fogo, posturas estáticas de trabalho, transporte manual de cargas, dentre outros temas. Apresenta-se algumas dessas normas na Tabela 2, a seguir.
Tabela 2: Normas ISO que mencionam gasto energético ou taxa metabólica por número, título e tema.
Norma ISO Título da Norma Tema da Norma
11855:2012
Building environment design — Design, dimensioning, installation and control of embedded radiant heating and
cooling systems
Design do Ambiente construído
28802:2012
Ergonomics of the physical environment — Assessment of environments by means of an environmental survey involving
physical measurements of the environment and subjective responses of people
Ergonomia do ambiente físico
28803:2012 Ergonomics of the physical environment — Application of
International Standards to people with special requirements Ergonomia do ambiente físico 7243:1989 Hot environments — Estimation of the heat stress on working
man, based on the WBGT-index (wet bulb globe temperature) Ambientes quentes de trabalho
7730:2005
Ergonomics of the thermal environment — Analytical determination and interpretation of thermal comfort using calculation of the PMV and PPD indices and local thermal
comfort criteria
Ergonomia do ambiente térmico
7933:2004
Ergonomics of the thermal environment — Analytical determination and interpretation of heat stress using
calculation of the predicted heat strain
Ergonomia do ambiente térmico
8996:2004 Ergonomics of the thermal environment — Determination
of metabolic rate Ergonomia do ambiente térmico
9920:2007
Ergonomics of the thermal environment — Estimation of thermal insulation and water vapour resistance of a clothing
ensemble
Ergonomia do ambiente térmico
11079:2007
Ergonomics of the thermal environment — Determination and interpretation of cold stress when using required clothing
insulation (IREQ) and local cooling effects
Ergonomia do ambiente térmico
15743:2008 Ergonomics of the thermal environment — Cold
workplaces — Risk assessment and management Ergonomia do ambiente térmico 12894:2001
Ergonomics of the thermal environment — Medical supervision of individuals exposed to extreme hot or cold
environments
Ergonomia do ambiente térmico
TS 14505:2007 Ergonomics of the thermal environment — Evaluation of
Programa Doutoral em Segurança e Saúde Ocupacionais
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D. NORMATIZAÇÃO E DETERMINAÇÃO DE GASTO ENERGÉTICO
continuação
Norma ISO Título da Norma Tema da Norma
15265:2004
Ergonomics of the thermal environment — Risk assessment strategy for the prevention of stress or discomfort in thermal
working conditions
Ergonomia do ambiente térmico
9886:2004 Ergonomics — Evaluation of thermal strain by physiological
measurements Estresse térmico e mensuração fisiológica DIS 18639 PPE for firefighters undertaking specific rescue activities Combatentes de fogo
DIS 18640 Protective clothing for firefighters — Physiological impact Roupas de proteção de combatentes de fogo
TS 16976 Respiratory protective devices — Human factors Dispositivos de proteção respiratória
ISO 13073:2016 Ships and marine technology — Risk assessment on anti-
fouling systems on ships Tecnologia marinha
ISO/DIS 16157
Space systems — Human-life activity support systems and equipment integration in space flight — Techno-medical requirements for space vehicle human habitation environments
Sistemas espaciais
ISO 11226 Evaluation of static working postures Posturas estáticas de trabalho
ISO 11228 International Standards on manual handling Transporte manual de cargas TS = Technical Specification; DIS = Draft International Standard
Fonte: ISO (2018)
Apesar da existência de várias normas, a ISO 8996:2004 é provavelmente a norma mais relevante para o contexto desse trabalho uma vez que trata, especificamente, a mensuração da taxa metabólica e é a partir dela que é feito o recorte normativo de fundamentação desse trabalho. A norma ISO 8996:2004 também especifica diferentes métodos para a determinação da taxa metabólica no contexto da ergonomia do ambiente de trabalho. Seguindo a mesma filosofia e abordagem apresentadas na norma ISO 15.265 sobre a avaliação da exposição em ambientes térmicos, os métodos para a determinação e medição da taxa de calor metabólico apresentados e hierarquizados na norma ISO 8996:2004 são estruturados em quatro níveis. Para cada nível, recomendam-se alguns dos métodos já apresentados no item C, conforme se ilustra a Tabela 3.
Tabela 3: Métodos de cálculo de gasto energético de acordo com o nível de abordagem
Nível Método
1 - Triagem Classificação por ocupação Classificação por tipo de atividade
2 - Observação Somatório das taxas metabólicas (Basal + postural + atividade + movimentos) Consulta a tabelas por atividades
3 - Análise Relação do consumo de oxigénio com a frequência cardíaca 4 - Expertise
Relação com consumo de oxigênio Água duplamente marcada Calorimetria direta
Sendo um documento de referência, os métodos de medição de gasto energético indicados na norma ISO 8996:2004 apresentam inconveniências para certos casos, principalmente para os estudos de campo. Os métodos dos níveis de abordagem de observação e triagem estão sujeitos a variações grosseiras entre os valores das tabelas e os valores reais. Os valores estimados e tabelados são próprios para médias humanas, sendo, para homens com 30 anos de idade, 70 kg de massa corpórea, 1,75m de altura e área da superfície do corpo de 1,80 m²; enquanto para uma média de mulheres de 30 anos de idade, massa corpórea de 60 kg, 1,70m de altura e área da superfície do corpo de 1,6 m². É mencionado na norma a devida correção de valores para casos como os de crianças, idosos e pessoas com deficiências, mas sem especificar ou indicar como são feitas tais correções. Os erros para o uso de tabelas são grandes, sendo mencionado na norma a expectativa de margens variando entre 5% a 20%. Tais erros têm relação atribuída pela norma a variáveis como temperatura ambiente, altura das pessoas, peso e gênero. Para situações de calor e frio correções são necessárias e deve-se considerar também as vestes do indivíduo para correções.
Além disso, a própria norma prevê situações onde é necessário utilizar valores de médias ponderadas e interpolações quando se executa atividades com descanso combinadas com atividades intensas numa distribuição assimétrica. As interpolações também são necessárias em casos de aplicação dos valores de frequência cardíaca para determinação da taxa metabólica. A frequência cardíaca está sujeita a outros fatores além da atividade física, podendo facilmente fornecer resultados com viés. Outra limitação do método da norma baseado na frequência cardíaca são os limites mínimos de 50kg e 20 anos de idade, e máximos de 90 kg e 60 anos de idade, excluindo pessoas enquadradas na população laboral fora desse intervalo, ou seja, abaixo dos 50kg e dos 20 anos de idade ou acima de 90kg e dos 60 anos de idade.
Já os métodos propostos na abordagem de expertise são mais precisos, mas não são práticos nem muito adequados para estudos de campo, além de apresentarem custo elevado para determinadas situações. No caso do método de água duplamente marcada a norma apresenta apenas o princípio do método. O tempo de execução mínimo recomendado para mensuração em crianças é de 6 dias, para adultos normais de 12 a 14 dias, e para idosos a norma indica que pode ser um período maior, sem o especificar, nem o estimar. A norma também admite que, no caso do método de água duplamente marcada, o conceito é simples, mas há inúmeros detalhes complexos que o usuário necessita ter ciência. Entretanto, esses detalhes não são mencionados. No caso de calorimetria direta um dos principais inconvenientes é a dificuldade ou impossibilidade de portabilidade dos equipamentos para estudos de campo, além do alto custo.
Diante disso, mesmo não sendo mencionados na referida norma, os métodos de medição de gasto energético por actigrafia podem ser uma alternativa mais fiável e viável para tais condições, e apontam algumas vantagens práticas sobre os outros métodos.
A história mostra que a percepção sobre a energia humana varia de acordo com o tempo e lugar, e que isso somado às tecnologias disponíveis influencia a forma de mensurá-la. Também mostra que os estudos e as principais contribuições sobre o tema são provenientes de pessoas que atuaram e atuam em diversas áreas do conhecimento. Diante disso, acredita-se que na interface de áreas diferentes estão os novos desafios e as oportunidades de contribuição para inovação e geração de conhecimento atual relevante, considerando o conhecimento e as abordagens atualmente aceitas sobre qualquer tema, inclusive sobre a determinação de gasto energético humano em situações ocupacionais.
Programa Doutoral em Segurança e Saúde Ocupacionais
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D. NORMATIZAÇÃO E DETERMINAÇÃO DE GASTO ENERGÉTICO
Apesar do conjunto de normas apresentarem tanto os métodos de determinação de gasto energético como a utilização dessas estimativas relacionadas a situações ocupacionais, estando a actigrafia ausente das normas, é relevante explorá-la melhor como alternativa para determinação do gasto energético, considerando o que já se faz e as potencialidades de uso em contextos ocupacionais.