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Anexo VII – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

1- A RELAÇÃO DO HUMANO COM O ÁLCOOL: DA RELIGIÃO À MORAL, DA

3.1 Considerações epistemológicas

O objetivo deste capítulo se orienta pela descrição do processo de construção da informação disponível neste relatório de pesquisa. Para tanto, revela-se pertinente a descrição das orientações epistemológicas em torno da construção de nosso objeto de pesquisa e como o mesmo foi abordado.

Fundamentalmente, nos apoiamos na Epistemologia Qualitativa (EQ) defendida por González Rey (2002/2005). Nossa opção se deu em virtude da natureza qualitativa de nosso objeto de estudo, mas também por ter neste autor, a preocupação epistemológica e metodológica de pensar a pesquisa qualitativa em Psicologia.

Segundo o autor supracitado, a EQ se fundamenta em torno de três princípios basilares. O primeiro deles destaca que o conhecimento é uma produção construtivo-

interpretativa, o que significa afirmar que o conhecimento não traduz a somatória de fatos

definidos por constatações imediatas do momento empírico.

Como destacou o autor, a interpretação se caracteriza enquanto um processo no qual o pesquisador integra, reconstrói e apresenta em construções interpretativas, indicadores obtidos no decorrer da pesquisa, que não possuiriam sentido se fossem tomados isoladamente, como constatações empíricas.

Enquanto processo, a interpretação não possui característica de redução da riqueza e diversidade do objeto estudado a categorias pré-estabelecidas, uma vez que é um processo constante de complexidade progressiva, que se desenvolve mediante a atribuição de significados e formas diferentes do objeto estudado.

Nestes termos, a teoria encontra-se presente como instrumento a serviço do pesquisador em todo o processo de interpretação, mas não como conjunto de categorias a

priori capazes de dar conta dos processos únicos e imprevistos da pesquisa. Como destacou o

autor, a “teoria (...) só influi no curso das construções teóricas do pesquisador sobre o objeto. A teoria constitui um dos sentidos do processo de produção teórica, não o esquema geral ao qual se deve subordinar esse processo” (González Rey, 2002/2005, p. 33).

O pesquisador, enquanto sujeito, produz ideias no decorrer da pesquisa, em um processo caracterizado por momentos de integração e continuidade de seu próprio pensamento, sem referências identificáveis no momento empírico. Além disso, “o pesquisador não se divide para participar nos diferentes domínios do exercício da profissão” (González Rey, 2002/2005, p. 102) o que implica dizer, conforme destaque do autor, que a pesquisa não se separa da prática profissional, ainda que essa separação tenha sido pretendida no domínio positivista.

O segundo princípio da EQ revela-se no caráter interativo do processo de

produção do conhecimento. Isto significa que as relações pesquisador-pesquisado são uma

condição para o desenvolvimento das pesquisas nas ciências humanas. A dimensão interativa é essencial no processo de produção de conhecimentos, revelando-se as relações entre os envolvidos no processo de construção da informação o principal cenário da pesquisa (González Rey, 2002/2005).

A consideração interativa do processo de produção do conhecimento pressupõe a inclusão dos elementos imprevistos de todo sistema de comunicação humana. Também são

contemplados os momentos informais que surgem durante a comunicação, como produtores de informação relevante para a produção teórica. Além disso, o contexto das relações entre os sujeitos que intervêm na pesquisa (a do pesquisador e do pesquisado, por exemplo) se destaca em importância.

Nestes termos, González Rey (2002/2005) destaca que os diálogos no processo da pesquisa são muitos importantes. Essa afirmação se fundamenta em torno de serem nessas interações dialogadas que a emocionalidade dos sujeitos pode comparecer de maneira a comprometer sua reflexão em um processo em que produzem informações de grande significado para a pesquisa.

Como terceiro princípio basilar da EQ, tem-se a significação da singularidade

como nível legítimo da produção do conhecimento. Este aspecto ressalta um resgate da

singularidade enquanto fonte legítima de conhecimento científico. Dessa maneira, o conhecimento científico, diante da perspectiva qualitativa, não se destaca pela quantidade de sujeitos a serem estudados, mas pela qualidade de sua expressão.

A informação expressa por um sujeito concreto pode adquirir natureza significativa para a produção do conhecimento, não se fazendo necessariamente uma replicação em outros sujeitos daquilo que fora constituído enquanto informação (González Rey, 2002/2005). Isto decorre de ter-se na proposta de construção qualitativa o foco na intensidade e não na extensão do fenômeno estudado, o que significa dizer que o direcionamento não está na freqüência e quantidade das ocorrências pesquisadas, mas na natureza e qualidade desta (Demo, 2001/2006).

Outro aspecto digno de nota, concernente aos pressupostos gerais do desenvolvimento da pesquisa qualitativa em psicologia, refere-se à natureza diferenciada do objeto de pesquisa das ciências naturais e humanas. Este é “um sujeito interativo, motivado e intencional, que adota uma posição em face das tarefas que enfrenta. Além dessa realidade

não poder ser ignorada, tem-se que ela aponta para o fato da investigação ser um processo de comunicação entre pesquisador e pesquisado, constituindo-se em um diálogo permanente que toma diferentes formas.

Dessa maneira, o processo de construção da informação se desenvolve no curso da pesquisa. Os assuntos que recorrem a expressão do sujeito se reproduzem de diferente formas nas técnicas e momentos de uma pesquisa, cenário este facilitado pela comunicação entre pesquisador e pesquisado. O diálogo adquire importância vital neste processo, conforme afirma González Rey (2002/2005):

O diálogo não representa só um processo que favorece o bem-estar emocional dos sujeitos que participam na pesquisa, mas é fonte essencial para o pensamento e, portanto, elemento imprescindível para a qualidade da informação produzida na pesquisa (p. 55).