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Anexo VII – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

1- A RELAÇÃO DO HUMANO COM O ÁLCOOL: DA RELIGIÃO À MORAL, DA

3.7 Procedimentos de construção da informação

Todas as pessoas que chegam neste CAPS ad II são dirigidas para a recepção local no qual recebem as informações solicitadas e onde obtêm os primeiros contatos com o serviço. Nos casos de acolhimento, na recepção é feito um cadastramento em uma ficha conhecida como “Ficha de Acolhimento Caps ad II” (anexo 2), no qual são inseridos os dados relativos à identificação desses sujeitos.

Com dois técnicos de enfermagem, que comumente eram escalados para estarem neste setor do serviço, foi acordada uma parceria para a pesquisa. Como eram eles que preenchiam a parte da identificação, foi solicitado que eles pedissem para os ingressos

recém-chegados assinalassem, caso desejassem, na ficha de acolhimento o tipo de substância psicoativa que resumia o motivo principal de estarem ali.

O procedimento supracitado sempre foi feito em um espaço mais reservado possível no ambiente da recepção para se evitar, ao máximo, constrangimentos ou uma desnecessária exposição dos potenciais participantes da pesquisa. Cabe destacar que com os dois técnicos de enfermagem foram feitos três simulações nos dias em que ocorriam as reuniões administrativa para prepará-los para possíveis intercorrências. Embora estas não tenham ocorrido, sempre mantivemo-nos à disposição dos técnicos de enfermagem para auxiliá-los em qualquer situação que demandassem no período da apreensão das informações.

Os casos que assinalavam apenas a opção álcool eram separados e posteriormente conduzidos à sala na qual eu estava, onde imediatamente se fazia o acolhimento caso não estivesse com outra pessoa. Nos casos em que me encontrava ocupado, eles deixavam esses casos separados por um tempo máximo de 40 minutos. Caso terminado este tempo ainda estivesse em outro acolhimento, foi combinado que eles passassem o acolhimento para outro profissional, para evitar que as pessoas esperassem em demasiado na recepção.

Desde a recepção, procuramos estar o mais amistoso e disponível, sempre cumprimentando e tratando a todos com a máxima consideração, independentemente da situação da pesquisa. Nos primeiros momentos, após entrarmos na sala, sempre foi perguntado onde gostariam de se sentar e, como de costume, sempre sentei de frente aos colaboradores e nunca atrás da mesa. Iniciei as conversações perguntando e explorando como estavam se sentindo. Em síntese, procuramos por em prática aquilo que Bonnefoy (2007) chamou de escuta sensível e multirreferencial e descrita como:

A escuta sensível apóia-se na empatia. O pesquisador deve saber sentir o universo afetivo, imaginário e cognitivo do outro para “compreender do interior” as atitudes e os comportamentos, o sistema de idéias, de valores, de símbolos e de mitos (ou a “existencialidade interna”, na minha linguagem) (...) reconhece a aceitação incondicional do outro. Ela não julga, não mede, não compara. Ela compreende sem, entretanto, aderir às opiniões ou se identificar com o outro, com o que é enunciado ou praticado (...) não é a projeção de nossas angústias ou de nossos desejos (...) se apóia sobre a totalidade complexa da pessoa: os cinco sentidos. (p. 94-98)

Esta postura visou criar um clima de proximidade mais sólido, considerando-se que, como destacaram González Rey (2002/2005), quando alguém se defronta com a pesquisa, encontra-se em uma situação nova e geradora de múltiplos estados emocionais. Estes podem se expressar por uma simples curiosidade ou uma expressiva ansiedade, o que exige a primazia do estabelecimento de uma relação que permita um maior bem estar e motivação para o trabalho.

Após o logro de uma conversação mais relaxada, introduzimos a existência do projeto de pesquisa sendo executado no serviço, explicando-lhes como este estava sendo feito e que visava obter informações que ajudasse o serviço a melhor cumprir com suas funções. Em seguida, eram convidados a participar, sempre sendo frisado que a recusa não traria prejuízos no acolhimento e tampouco ao percurso dos mesmos na proposta de atenção no serviço. Também nos disponibilizamos para responder a todas as questões e dirimir todas as dúvidas prévias à assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Apenas posterior à assinatura do TCLE (anexo 7) a gravação se iniciava e a conversação era retomada. Deste momento, procuramos sempre introduzir perguntas aquecedoras de acordo com a situação como se fora difícil chegar no CAPS ad II, se ele já

conhecia a região administrativa onde se localizava o serviço ou outros assuntos mais superficiais. Este procedimento era feito para minimizarmos as possíveis tensões, mesmo que não fossem por nós percebidas.

Não nos eximimos, contudo, de considerar a posição de Britten (2006/2009) que alerta sobre os usuários de um serviço ou os potenciais ingressos do mesmo. Tem-se destacado que esses sujeitos em posição de participantes de uma pesquisa podem tentar responder de acordo com aquilo que acreditam ser a expectativa do pesquisador, que também é profissional do serviço.

Como forma de sugestão para diminuir este tipo de possibilidade, frisamos que os colaboradores da pesquisa tinham a permissão de dizer o que realmente pensavam. Em concordância com o posicionamento de Britten (2006/2009), em nenhum momento eles foram corrigidos em seus posicionamentos, mesmo quando evidenciavam posições contrárias às nossas.

Ao todo, foram feitas 18 (dezoito) entrevistas em um espaço de aproximadamente dois meses (de 03/12/2008 a 30/01/2009). Desse total, apenas 9 (nove) foram aproveitadas, uma vez que não nos atentáramos para os problemas referentes à interferência dos ruídos externos que dificultaram a compreensão das primeiras entrevistas degravadas. A detecção deste problema nos auxiliou a sermos mais rigorosos na escolha da melhor sala para execução da entrevista semi-estruturada.

Em nenhum dos potenciais participantes ocorreu recusa em participar da entrevista, exceto em um dos casos, que autorizou a gravação apenas a partir de em um segundo encontro. Cabe salientar também, que buscamos cumprir rigorosamente a orientação de Szymanski (2004/2008) sobre a importância da entrevista semi-estruturada acontecer em no mínimo em dois encontros. Deste modo, todas as nove entrevistas aconteceram em dois momentos. A adoção deste procedimento nos auxiliou a aprofundar alguns elementos que se

revelaram nos primeiros diálogos, sendo fundamentais para a apreensão de informações importantes.

Na sequência, feita as entrevistas, as mesmas eram degravadas, situação esta que nos ajudou a perceber algumas falhas na execução da pesquisa, conforme fora destacado em relação ao problema dos ruídos. Também proporcionou um diálogo inicial com o empírico promotor de análises enriquecedoras para a construção de indicadores de sentido e emersão das zonas de sentido, como veremos mais adiante.

Salientamos que todas as entrevistas feitas foram degravadas pelo pesquisador, totalizando 323 páginas digitadas cujo conteúdo subsidiou o posterior trabalho de análise das informações. Não desconsideramos que a riqueza do material poderia direcionar diversos tipos de possíveis caminhos interpretativos, mas fizemos opções concernentes àquilo que se evidenciou do encontro dialogado e reiterado entre pesquisador e empírico.