• Nenhum resultado encontrado

Anexo VII – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

1- A RELAÇÃO DO HUMANO COM O ÁLCOOL: DA RELIGIÃO À MORAL, DA

3.4 Aproximação do pesquisador ao campo e aos colaboradores da pesquisa

3.4.1 Trajetória profissional do pesquisador

Para González Rey (2002/2005), a pesquisa se caracteriza pela representação de um processo contínuo de produção de ideias que se constitui no palco onde ocorre o diálogo do pesquisador com o momento empírico. De acordo com a proposta de pesquisa qualitativa do citado autor, as subjetividades do pesquisador e dos participantes da pesquisa estão implicadas no processo de construção e interpretação da informação.

Deste modo, tem-se que:

As categorias são instrumentos do pensamento que expressam não só um momento do objeto estudado, mas o contexto histórico-cultural em que esse momento surge como significado e, com ele, a história do pesquisador, que é elemento relevante na explicação de sua sensibilidade criativa. (p. 60)

Nestes termos, revela-se pertinente conhecer quem é o pesquisador, uma vez que este se encontra intimamente implicado, juntamente com o colaborador da pesquisa, no processo de construção da informação.

Após minha graduação em Psicologia, paralelo ao trabalho desenvolvido em consultório clínico particular e outro voluntário em uma cooperativa de atendimento psicológico comunitário, tive a oportunidade de trabalhar em um programa instituído pelo Governo Federal, entre 2003 e 2004, denominado Núcleo de Apoio à Família (NAF), como psicólogo. Este programa governamental tinha como objetivo o desenvolvimento de ações de apoio a famílias, em situações de risco social, que impulsionassem o processo de inclusão

social, por meio da disponibilidade de novas aprendizagens e pelo favorecimento do desenvolvimento pessoal, familiar e social.

A citada experiência profissional deu-se no município de Cidade Ocidental, localizado na região do entorno do Distrito Federal. Como parceira de trabalho diário, tive a grata felicidade de ter conhecido uma assistente social38 aposentada da extinta Fundação Hospitalar do Distrito Federal39

Com os homens, acompanhei a organização dos mesmos ao ponto de criarem hortas comunitárias e espaços legalizados na feira no centro do município, onde a comunidade vendia seus produtos. Vi profissionais de outras Secretarias, como os da Secretaria Municipal de Agricultura

, que se via em uma missão comunitária. Ela viajava de município em município e construía verdadeiros milagres nas comunidades, tecendo e retecendo redes familiares e comunitárias, onde todos aprendiam a cuidar de todos e exigir, de forma organizada, benfeitorias para seus bairros junto aos gestores municipais competentes.

Testemunhei mulheres dispersas na comunidade se juntando em grupos de mulheres, que mais tarde enxergavam competências entre as participantes, que, por sua vez, eram incentivadas nas trocas de experiências e de saberes. Esses encontros grupais, não raramente, evoluíam para os denominados “Grupos de Mães” que discutiam diversos assuntos como criação de filhos, conjugalidade, exercício do controle social, etc; “Grupos de Homens”, que discutiam questões sobre masculinidade, ser pai, ser marido; grupos mistos, onde questões da comunidade, do bairro eram discutidas. Disso, vi surgirem cooperativas de “amarradinho”, de “pintura em panos de prato”, de “macramê” e tantas outras atividades artesanais, que diminuíram situações de vulnerabilidade social de muitas pessoas, que além do ganho de uma rede protetiva, conseguiam uma fonte de renda auxiliar.

40

38 O nome desse ser humano fantástico é Ana Maria Barbosa.

39

Hoje denominada Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal.

40 Este senhor tinha aprendido muitas coisas sobre plantas medicinais com uma avó que era índia.

uso de ervas medicinais, enriquecimento nutricional a partir de plantas cultivadas no quintal, noções de empreendedorismo, saúde bucal, higiene no cotidiano, etc.

Em síntese, vi que aquela senhora jovial era uma facilitadora de processos de empoderamento da comunidade. Ela fazia na prática o que, muito mais tarde vim a compreender nas leituras de Sluzki, Dabas, Elkaïm e tantos outros. Infelizmente, por questões políticas, o programa foi encerrado e não tive mais notícias daquela fabulosa mestra.

Mais adiante, fui nomeado para um cargo administrativo na SES/DF, onde trabalhei na execução e prestação de contas de convênios públicos. Neste período, tive condições financeiras mais estáveis para iniciar uma especialização, considerando-se que com o advento do término do NAF, tive que interromper uma pós-graduação lato sensu iniciada que versava sobre terapia infantil. Considerando-se minhas leituras sobre a Psicologia Analítica, resolvi ingressar em um programa de especialização em Teoria e Prática Junguiana coordenado pela Dra. Profª. Elizabeth Cristina Cotta Mello e pelo Dr. Profº. Maddi Damião Júnior41

Adicionalmente, tanto o citado professor quanto sua esposa incentivaram-me a ingressar no mestrado

e constituída por uma plêiade de professores de diversas instituições de ensino superior do estado do Rio de Janeiro. Foi um período muito estimulante intelectualmente e fecundo, o que rendeu o convite do professor Maddi, para que o acompanhasse a apresentar um trabalho por mim desenvolvido em uma mesa por ele organizada sobre Epistemologia e Psicopatologia Junguiana, no II Congresso Brasileiro: Pesquisa e Profissão.

42

41

Este professor foi estagiário e, depois, trabalhou diretamente com a Dra. Nise da Silveira, que esteve em Zurique com o próprio Jung e foi quem praticamente trouxe o pensamento junguiano para o Brasil.

42

Faço justiça em mencionar que a primeira pessoa a me incentivar a iniciar um mestrado foi a Dra. Profª. Albertina Mítjans Martines, querida mestra a quem tive como orientadora na monografia de final de curso, hoje conhecido como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

para aprimorar algumas ideias apresentadas a eles por meio de trabalhos escritos ou em conversas informais. Fiquei entusiasmado com a possibilidade, mas preferi adiar o sonho de fazer um mestrado e poder lecionar para depois. Precisava alcançar uma condição financeira melhor, em virtude de questões de foro íntimo. Passei um considerável período afastado da realidade acadêmica e imerso no mundo dos concursos,

apenas preservando a atividade no consultório particular e meu vínculo como servidor público.

No final de 2006 fui nomeado para um cargo de Psicólogo e tive a chance de escolher onde gostaria de trabalhar na saúde mental. Escolhi um CAPS ad, inicialmente, pela maior proximidade de minha residência, mas hoje percebo que não poderia estar em lugar de maior complexidade e de maior aprendizagem. Se a saúde mental no Distrito Federal ainda é um lugar que necessita de muitos avanços em termos de Políticas Públicas eficientes e eficazes, também enxergo que a questão dos problemas associados ao consumo de álcool e da dependência de drogas ilícitas revelam-se segmentos da saúde mental quase que completamente esquecido pela sociedade e pelos gestores públicos.

Por acreditar que cada um de nós tem uma parcela de contribuição para uma realidade mais digna, relembrei da frase que fundou minha escolha pela Psicologia como caminho a trilhar nesta minha trajetória terrestre. Sua autoria é desconhecida, mas trata-se de um diálogo, onde uma das pessoas pergunta à outra: “O que é a felicidade?”. Após longa reflexão o interpelado responde: “Acredito que a verdadeira felicidade está na certeza de que alguém respirou melhor, pelo simples fato de eu ter participando, mesmo que em breve instante, de sua existência, em um ato de doação, e ter sido presenteado, por esse alguém, com a oportunidade de acessar aquilo de melhor que possuo em mim, que até então, estava adormecido.”

Acredito que os encontros humanos estão implicados em complexidades que desafiam nossa limitada sapiência. Acredito que a vida me convida a dar o meu melhor no meu serviço, da mesma forma que este serviço tem me dado as aprendizagens mais necessárias para meu desenvolvimento pessoal e profissional.

A busca pelo mestrado se funda em um momento de busca de maior amadurecimento intelectual e profissional para que desse ganho de robustez possa sentir-me

mais útil e apto para contribuir com meu serviço. Também se funda no desejo de poder lecionar, sonho antigo e adiado por motivos que não pude evitar, mas que se revelam mais próximos de concretizar-se nos dias atuais.

Para subsidiar a feitura deste relatório e auxiliar na análise das informações, o pequisador ingressou, em 2008, no curso de Terapia Familiar e de Casais na abordagem sistêmica, promovida pela parceria existente entre o Intituto de Pesquisa e Intervenção Psicossocial LTDA (INTERPSI) e a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO).