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5.1 AS PERGUNTAS DE PESQUISA

5.1.1 Quais características encontram-se presentes no ciclo autorregulatório das participantes?

A análise possibilitou identificar que a percepção da autoeficácia é, conforme Bandura (1998) já estabelecia, a variável que mais impacta em todo processo de aprendizagem das participantes. A percepção de autoeficácia mostrou-se importante tanto para o abandono ou quase abandono do curso/aprendizagem de espanhol quanto para o regresso e permanência nele.

É interessante destacar que essa variável também foi importante para o desenvolvimento de outra que também influencia as crenças automotivacionais: o interesse/ valor pela tarefa. A partir da percepção de que realmente estavam progredindo em seu aprendizado de espanhol, ao menos Andreia e Luísa desenvolveram um interesse pela língua a ponto de fazê-las voltarem ao processo de formação docente. A expectativa de resultado também se mostra como uma variável importante para as participantes, ainda que com menor destaque.

No entanto, dado o dinamismo inerente a elas, as crenças automotivacionais resultantes das variáveis acima citadas encontram como um ponto fraco um planejamento estratégico pouco eficiente.

As análises revelaram indícios que as participantes possuem uma noção vaga a respeito das estratégias de aprendizagem. Em todos os casos, elas apresentam uma boa noção a respeito do que fazem para aprender, mas em nenhum dos casos existe um processo de auto-observação que as permitam refletir a respeito da efetividade dessas práticas. Pela mesma razão, não procuram buscar outras estratégias, ainda que as conheçam.

O resultado da não auto-observação é um julgamento de seu progresso a partir de fatores exclusivamente socioambientais, como o feedback dos professores ou comparação com os colegas. Isso gera nas participantes uma autorreação que oscila entre adaptação e defesa, que por sua vez, traz impactos nas crenças automotivacionais que coloca em dúvida sua capacidade de aprender, conforme visto no IPAAr.

5.1.2 Em que nível autorregulatório se encontram as participantes?

A resposta para esta pergunta precisa levar em consideração os dois lados da dodiscência começando pelo lado aluno, as participantes que, de modo global, encontram-se no nível de

autocontrole. Nesse nível, os alunos empregam ativamente habilidades para reproduzir os comportamentos observados de acordo com sua própria competência e habilidade. O que possivelmente dificulta a ascensão para o nível de autorregulação é o fato de Andreia, Luísa e Renata não realizarem um monitoramento metacognitivo sistemático. Elas confiam muito nas estratégias que estão acostumadas a utilizar, o que as impede de realizar adaptações e transferências de habilidades recém aprendidas para diferentes configurações e condições. Entretanto, isso não significa que, dentro deste nível, todas estejam equivalentes. Andreia, possivelmente devido a um maior contato com o espanhol, apresenta maiores indícios de desenvolvimento autorregulatório.

Por outro lado, quando se trata de aprender a ser professor de espanhol, os indícios apontam para um nível emulativo de autorregulação. As participantes demonstraram por meio das informações coletadas, a dependência de um modelo, o professor para a reprodução de comportamentos, imitação e simulação das habilidades, estratégias e métodos. Na possível ausência deste, as participantes recorrem a modelos trazidos nos manuais de língua e gramáticas.

As informações obtidas permitem inferir que as participantes podem evoluir nos processos autorregulatórios mesmo sem a necessidade de uma intervenção acadêmica visto que a autorregulação se faz não apenas no contexto da educação formal, mas ao longo de toda a história de vida da pessoa.

Entretanto, acredita-se que, a partir de um trabalho de formação direcionado ao pleno conhecimento dos processos autorregulatórios, a ascensão ao nível mais alto de autorregulação possa ser acelerada. Para tanto deve-se fazer mais presentes a percepção da aprendizagem e a consciência de que, mais que alunos, os licenciandos em letras espanhol são, também, docentes em formação.

5.1.3 Quais estratégias autorregulatórias utilizam em sua prática docente?

Na condição de professoras, observaram-se indícios da presença de estratégias autorregulatórias relacionadas ao maior domínio delas como aprendizes. Entretanto, não se percebeu intencionalidade de transferência dessas estratégias a seus alunos. O tipo de atividades trazidos pelas docentes aparentemente trouxe impacto nessa questão. A maioria delas eram atividades controladas de perfil estruturalista, que permitem pouca participação ativa dos alunos na aprendizagem.

Acredita-se que a maior barreira ao progresso das participantes vem do fato de não conhecerem ou não usarem estratégias autorregulatórias, isso pode representar uma barreira às futuras intervenções na escola, na medida em que poderá dificultar o ensino dessas estratégias aos alunos.

Sendo assim, para que se possa alcançar as metas educacionais vigentes, precisa-se investir na formação dos professores. Os docentes precisam ser formados para, ao mesmo tempo em que refletem sobre o seu processo de aprendizagem, aprendam a transpor esses conhecimentos para o processo de ensino dos conteúdos de sua disciplina, de forma a proporcionar uma aprendizagem mais significativa a seus alunos.

5.2 Contribuições sociais desta pesquisa

Acredita-se que este trabalho possa contribuir com uma reflexão sobre os caminhos da formação do professor de espanhol no que tange à questão do desenvolvimento autônomo do aprendizado da língua espanhola. Uma vez que se deseja que o aluno de línguas possa aprender a partir de suas necessidades e que possa no processo ser capaz de continuar aprendendo mesmo sem o professor, compreender a dinâmica dos processos de aprendizagem a partir da ótica do principal agente da produção do conhecimento, o aluno oportuniza o desenvolvimento de um plano de ação que procure preencher os vazios deixados por um ensino que, por muitas vezes, não leva em conta aspectos individuais.

Da mesma forma, acredita-se, também, que os resultados aqui demonstrados possam contribuir para a melhora da qualidade da formação dos professores de espanhol do Instituto Federal de Brasília, a partir da percepção da necessidade de conhecer melhor os seus professores em formação inicial, bem como das possíveis falhas relativas à questão das estratégias de aprendizagem, assim como aspectos relacionados à auto-observação e autorreflexão.

5.3 Reflexões sobre os entraves encontrados no decorrer desta pesquisa

Realizar uma pesquisa em nível de mestrado tendo como tema a autorregulação da aprendizagem do professor de espanhol representou para este pesquisador um grande desafio acadêmico por diversas razões, dentre as quais destacam-se quatro.

Primeiramente, pela pouca diversidade de referencial teórico em língua vernácula. Como a maioria dos textos que tratam da autorregulação da aprendizagem encontra-se em

língua inglesa, houve a necessidade de disponibilização de um tempo considerável para a composição teórica sobre a qual se baseou este estudo.

Segundo, pela complexidade do tema da autorregulação da aprendizagem, que abarca conceitos como crenças automotivacionais, metacognição e avaliação que, por si só, já são suficientes para a realização de várias pesquisas acadêmicas de mesmo nível. Como consequência, ao final deste estudo percebe-se que os instrumentos de coleta de informações utilizados podem não ter sido suficientes para uma compreensão mais concreta do fenômeno da autorregulação. Em todo caso, pesquisas futuras podem ter esses instrumentos ajustados a partir da experiência aqui obtida.

O terceiro grande desafio trazido pela pesquisa foi justamente por tratar-se de um tema que envolve a própria autopercepção e autorreflexão, visto que o pesquisador também é um profissional que experimenta o desafio da dodiscência. O aprofundamento no percurso formativo das participantes trouxe a este investigador um reflexo da própria formação e atuação docente, ao mesmo tempo em que despertou ainda mais a consciência sobre a responsabilidade que é ser um professor formador.

Por fim, destaca-se também a dificuldade na conciliação do cronograma estabelecido para a realização da etapa de coleta dos dados e o início das aulas ministradas pelas participantes da pesquisa. Por razões alheias a este estudo, o início do programa Residência Pedagógica, no qual se encontravam as participantes ocorreu mais tarde que o previsto, atrasando também o período de coleta das informações necessárias a este trabalho.

5.4 A autorregulação e o ensino de espanhol: possíveis caminhos

Este trabalho buscou compreender, de forma panorâmica, o processo formativo dos professores de espanhol em formação inicial. Nesse sentido, acredita-se que seja possível a ampliação da compreensão dos processos autorregulatórios sob diversas frentes, as quais são citadas algumas, a seguir.

Ainda no âmbito da formação inicial, sugere-se a ampliação da compreensão dos elementos pertencentes a cada fase do processo autorregulatório dos aprendizes de espanhol. Assim, é pertinente o aprofundamento de pesquisas que tratem das variáveis que compõem as crenças automotivacionais e as demais fases do processo de autorregulação.

Outro aspecto que merece maior atenção é a compreensão mais ampliada da capacidade autorreflexiva dos professores em formação, tanto em relação a seus processos de aprendizagem quanto a sua percepção como professor em formação. Neste estudo, percebeu-se que as

participantes pouco compreendem a respeito de como aprendem; percebeu-se, também, que elas tardam em enxergar-se como futuras professoras de fato. Acredita-se que quanto mais cedo o professor em formação contemplar-se na condição de profissional do ensino de línguas, maior será sua capacidade de auto-observação acerca de como aprende e, com isso, melhora-se também sua atuação como docente.

Esta pesquisa optou pela compreensão da autorregulação a partir de três casos concretos que apresentaram características comuns, mas também diferenciações. Acredita-se ser necessário um estudo mais abrangente que estabeleça que variáveis se mostram mais presentes nos professores de espanhol em formação de modo a se aprofundar-se na transmissão de estratégias mais eficientes a sua formação profissional, de modo direcionado às quatro habilidades gerais da comunicação: falar, ouvir, ler e escrever.

Outro possível caminho a ser trilhado nas pesquisas em autorregulação e ensino de línguas é o aprofundamento da compreensão da conexão entre as práticas de ensino dos professores e o desenvolvimento nos níveis autorregulatórios. Conforme percebeu-se neste estudo, aparentemente, atividades controladas dificultam a participação ativa do aluno na aprendizagem. Assim sugere-se a aplicação de pesquisas interventivas que demonstrem a efetividade da mudança nas características das atividades propostas pelos docentes.

Também é interessante identificar nos professores em formação altamente autorregulados as características que permitem classificá-los como tal, de modo que esses docentes sirvam de modelo ao desenvolvimento das estratégias necessárias para tanto.