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Capítulo I: A evolução do estoque de emprego formal no Brasil

1.5 Considerações Finais

Muito embora as políticas de fomento à atividade econômica e de incentivo à formalização possam ter tido relevância para o fenômeno do crescimento do emprego formal, os dados da RAIS demonstram que este intenso crescimento não se deu por mero aumento da fiscalização ou por formalização de MPEs, mas sim em função do crescimento da atividade econômica que ocorreu no período. Corroboram para esta afirmação o intenso crescimento do número de estabelecimentos declarantes da RAIS, especialmente entre os muito grandes, indicando muito mais a abertura de novos negócios e expansão das atividades, decorrente de novas oportunidades frente o crescimento da demanda doméstica, do que a simples formalização de pequenas empresas anteriormente existentes e informais. Muitas dessas políticas de fiscalização e formalização já existiam nos anos 1990, e não surtiram tanto efeito quanto no período pós-2003, quando o emprego formal realmente atingiu taxas elevadas de crescimento.

Não se pode, no entanto, menosprezar o papel que as políticas de incentivo à formalização tiveram no crescimento do emprego formal, pois o crescimento da atividade econômica nas grandes empresas também contribuiu, mesmo que indiretamente, para o crescimento do emprego formal entre os pequenos negócios, pois aumentou muito a demanda das empresas por serviços de terceiros, muitas vezes prestados por empresas de pequeno e médio porte. Estes serviços promoveram tanto a geração de empregos de baixa qualificação (manutenção, limpeza, segurança etc.), como empregos de alta qualificação (técnicos, cientistas, consultores etc.). O emprego formal cresceu muito entre as empresas de pequeno a médio porte, o que demonstrou o impulso que o crescimento econômico teve entre as MPEs. Ainda assim, segundo dados da PNAD, ainda há cerca de 15 milhões de trabalhadores informais nos pequenos negócios, sem carteira de trabalho assinada ou sob relação de trabalho dissimulada, o que demonstra que ainda há muito espaço para expansão do emprego formal entre os pequenos negócios.

O forte crescimento do emprego formal pode ser justificado por uma conjunção de fatores que perpassam as hipóteses anteriormente enumeradas. As políticas públicas e a ação do Estado foram fundamentais para que o crescimento econômico se traduzisse em empregos formais, ao passo que sem o crescimento econômico sustentado sob a retomada do consumo e do investimento, estas políticas teriam pouco ou nenhum efeito sob o mercado de trabalho. Além disso, o caráter deste crescimento econômico foi fundamental para que a geração de empregos formais fosse tão acentuada entre 2003 e 2013, uma vez que mesmo quando as

condições externas que permitiram o início deste ciclo de crescimento arrefeceram, em 2008, o governo ainda foi capaz de sustentar o crescimento por mais alguns anos, mesmo que a um ritmo inferior, permitindo ainda mais alguns anos de crescimento do emprego formal.

Embora o crescimento econômico, inicialmente puxado pelo ciclo das commodities, tenha beneficiado os setores diretamente ligados às exportações deste tipo de produto (especialmente a extração mineral e a agropecuária) e favorecido a retomada do investimento na indústria em geral (o que ajuda, em um primeiro momento, a demonstrar a importância dos setores tradables para o crescimento do emprego formal), a expansão da atividade econômica se refletiu principalmente em expressivo crescimento do emprego formal nos setores produtores de bens e serviços non tradables (especialmente comércio, serviços e construção civil) a partir de intensivo crescimento da demanda doméstica. É verdade que, por parte do Estado, a ampliação dos serviços sociais públicos e a promoção de investimentos em infraestrutura também tiveram um importante papel no crescimento do emprego formal, mas foi no setor privado onde este crescimento foi mais forte. O crescimento do emprego em setores que atendem à demanda das famílias por bens e serviços esteve diretamente ligado ao crescimento da renda dos trabalhadores e acesso ao crédito para consumo, enquanto que o crescente uso de serviços de terceiros (terceirização) contribuiu para o crescimento do emprego nos setores de serviços de apoio à atividade econômica.

Por fim, embora o crescimento econômico tenha promovido o crescimento do emprego em todos os tipos de ocupação, as categorias ocupacionais mais beneficiadas foram justamente aquelas que tinham forte sobreposição com os setores de non tradables. Primeiramente, aquelas menos qualificadas, como prestadores de serviços, vendedores do comércio, trabalhadores de serviços administrativos e produtores de bens discretos (especialmente ligados à construção civil) e, subsidiariamente, aqueles de maior qualificação, como profissionais de nível superior e dirigentes de empresas. Estas categorias ocupacionais, especialmente as menos valorizadas e de baixa qualificação, não apenas estavam fortemente ligadas ao crescimento dos setores de non tradables, como também se destacaram entre os grandes estabelecimentos que ao crescerem geram muitos empregos, embora também tenham se destacado no crescimento dos pequenos e médios estabelecimentos.

Se deve destacar, no entanto, que a contribuição de alguns setores tradables, especialmente na Indústria de Transformação, também foi significativa para o crescimento do emprego formal, pois não apenas geraram empregos ao expandir suas atividades no atendimento da demanda doméstica, como também acabaram por contribuir com a demanda por serviços de outras empresas, prestadoras de serviços, que também contribuíram

fortemente para o crescimento do emprego formal, muito embora este crescimento tenha tido forte impacto no aumento da terceirização e da proliferação de postos de trabalho precários e de baixa qualificação e remuneração.

Como veremos a seguir, este caráter do crescimento do emprego formal descrito no presente capítulo teve impactos na estrutura salarial, de modo que não apenas cresceram os empregos formais, como também elevou-se o nível salarial dos empregados formais no país, além da relativa diminuição das desigualdades salariais entre eles. Este movimento será estudado no capítulo a seguir.