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O emprego formal no Brasil dos anos 2000 : um estudo da Relação Anual de Informações Sociais (2003-2013)

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

GUILHERME CALDAS DE SOUZA CAMPOS

O EMPREGO FORMAL NO BRASIL DOS ANOS 2000: Um

estudo da Relação Anual de Informações Sociais

(2003-2013)

CAMPINAS

2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

GUILHERME CALDAS DE SOUZA CAMPOS

O EMPREGO FORMAL NO BRASIL DOS ANOS 2000: Um

estudo da Relação Anual de Informações Sociais

(2003-2013)

Prof. Dr. Paulo Eduardo de Andrade Baltar - orientador

Dissertação apresentada ao Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento econômico, na área de Economia Social e do Trabalho.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO

ALUNO GUILHERME CALDAS DE SOUZA

CAMPOS E ORIENTADA PELO PROF. DR. PAULO EDUARDO DE ANDRADE BALTAR.

CAMPINAS 2016

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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

GUILHERME CALDAS DE SOUZA CAMPOS

O EMPREGO FORMAL NO BRASIL DOS ANOS 2000:

um estudo da Relação Anual de Informações Sociais

(2003-2013)

Defendida em 17/02/2016

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Dedico este trabalho ao meu avô, professor Waldner de Menezes Caldas, que não teve a oportunidade de apreciá-lo em vida.

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Escrever uma dissertação não é uma tarefa fácil, ainda mais quando não se tem formação específica na área. Foi o que aconteceu comigo, quando vim das Ciências Sociais para fazer o mestrado em Desenvolvimento Econômico, no Instituto de Economia, e me submeti a desenvolver um trabalho sobre um tema que não conhecia e que ainda não tinha domínio. Acrescente-se a este fato as dificuldades econômicas, inerentes àqueles que não podem deixar de vender sua força de trabalho e ainda assim encaram a exigência da dedicação exclusiva que o trabalho acadêmico reclama. No entanto, mesmo com estas grandes dificuldades, pude contar, direta ou indiretamente, com várias pessoas que fizeram desta tarefa um pouco menos árdua, e são estas pessoas a quem eu devo agradecer.

Em primeiro lugar, agradeço ao meu orientador, professor Paulo Eduardo de Andrade Baltar, que me aceitou como orientando e me auxiliou profundamente na elaboração deste trabalho. Sem ele, este trabalho não seria possível. Aos professores Anselmo Luis dos Santos, José Dari Krein e Darcilene Cláudio Gomes, que me deram ótimas sugestões para o fechamento deste trabalho, em diferentes oportunidades. Agradeço também aos professores com as quais eu tive a oportunidade de trabalhar, como a professora Eugenia Troncoso Leone, com quem pude trabalhar junto aos alunos da Global Labor University e que me permitiu conhecer a possibilidade de cursar uma pós-graduação na área de economia; os professores José Dari Krein, Mariana Fix e Hugo Dias pela oportunidade e experiência de trabalhar diretamente com ensino e com alunos de graduação em uma atividade instigante como o estágio docente; e a todos os professores com as quais eu tive a oportunidade de cursar disciplinas na pós-graduação e com quem tive o privilégio de aprender um pouco mais sobre economia. Agradeço ainda aos funcionários da secretaria de pós-graduação do Instituto de Economia pelo profissionalismo, atenção e paciência com que sempre me auxiliaram em todas as minhas demandas acadêmicas, em especial à funcionária Andréa Fernanda Tonhatti, que realizou um esforço admirável, além de suas atribuições cotidianas, para que este trabalho pudesse ser devidamente finalizado e defendido.

Agradeço aos amigos e colegas que tive a sorte de conhecer durante a elaboração deste trabalho. Aos meus colegas de turma, Luciana Bernardes, Taciana Santos de Souza, Delaíde Passos, Beatriz Passarelli Gomes, Joana Cabete Biava e Gustavo Monteiro, agradeço pelo companheirismo durante as disciplinas que cursamos juntos. Aos colegas da revista Leituras de Economia Política, agradeço pela oportunidade de compartilhar uma experiência

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(compartilhado) de pesquisa, como também por compartilhar comigo dúvidas, anseios e preocupações, de modo que pudéssemos apoiar um ao outro em seus respectivos trabalhos e trajetórias. À minha amiga Lilian da Rosa, com as quais compartilhei disciplinas e trabalhos, mas em especial boas conversas e ótimos debates. Em especial, agradeço ao meu amigo Ricardo Soldera, não apenas pela amizade, pelas caronas no “carro mais vendido do Brasil” e pelos longos debates (bem longos mesmo) sobre as diferenças entre as teorias marxista e weberiana, mas principalmente pela ajuda financeira que me prestou quando me vi obrigado a seguir um ano a mais de curso, sem bolsa.

Agradeço ainda à algumas instituições, sem as quais esta pesquisa não seria possível, como o Instituto de Economia e o Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, da UNICAMP, que me forneceram a infraestrutura necessária à continuidade dos meus estudos, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, que me concedeu uma bolsa de mestrado pelos primeiros dois anos de curso, e o Ministério do Trabalho e Emprego, que disponibilizou online a base de dados da Relação Anual de Informações Sociais em um sistema de consulta bastante acessível, onde busco quase todos os dados para a elaboração desta pesquisa.

Por fim, mas não menos importante, agradeço à minha companheira Denise Hirose pelo amor, carinho, apoio e, especialmente, compreensão e paciência. Sem ela, não apenas este trabalho não existiria, como sequer eu teria chegado até onde cheguei.

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Com a abertura comercial e financeira dos anos 1990, o mercado de trabalho no Brasil foi profundamente desestruturado. O período foi marcado pelo baixo crescimento econômico, pela estagnação dos salários e pelo aumento do desemprego e da informalidade. No entanto, a partir da crise cambial em 1999 e, mais especificamente, após 2003, com o crescimento do preço e demanda internacional das commodities, a economia brasileira voltou a crescer com maior intensidade, e o mercado de trabalho no Brasil assumiu uma tendência de reestruturação, com a volta do crescimento do emprego e dos salários. Uma das principais marcas desta reestruturação foi o intenso crescimento do emprego formal, bem como o crescimento do seu salário médio e diminuição das desigualdades salariais entre os trabalhadores formais. Este crescimento do emprego formal e de seu nível salarial seria praticamente contínuo no período compreendido entre 2003 e 2013, resultando em um crescimento do estoque de vínculos de emprego formal em 65,7% e um crescimento de 30,6% do seu salário médio (descontada a inflação), além de forte diminuição da dispersão relativa e da assimetria salarial. Mesmo após a crise financeira mundial de 2008, não apenas a economia brasileira continuaria crescendo, após um breve período de estagnação, como também continuaria o forte crescimento do emprego formal e de seus salários, apontando para a importância da continuidade do processo de reestruturação do mercado de trabalho no Brasil. Várias hipóteses foram levantadas para explicar o intenso crescimento do emprego formal, passando desde as transformações da conjuntura econômica até políticas públicas especialmente voltadas à regulação e fiscalização do trabalho no Brasil. Utilizando os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), esta dissertação faz uma análise do fenômeno do crescimento do emprego formal e de seus salários no período 2003-2013. Ela aponta para as principais hipóteses explicativas para este fenômeno e analisa em que setores, tamanhos de estabelecimento e tipos de ocupação ocorreu este crescimento do emprego formal e de seus salários. A análise aponta para um forte processo de reestruturação do mercado de trabalho que ocorre em ritmo superior ao do crescimento econômico. Este crescimento foi generalizado e beneficiou todos setores de atividade, embora tenha sido fortemente concentrado nos setores non-tradables, e gerou empregos em praticamente todos os tipos de ocupação, embora tenha sido mais intenso entre os trabalhadores de média e baixa remuneração. Além disso, a análise aponta que o crescimento do emprego formal foi intenso entre os pequenos negócios, mas que também foi expressivo nas grandes empresas, que aproveitaram o crescimento da demanda para fazer investimentos e expandir suas atividades. Conclui-se que apesar de ter se iniciado com o impulso econômico originado no setor externo, o crescimento do emprego formal encontrou na demanda doméstica a sustentação de seu crescimento por mais de uma década, e que graças à ação do Estado se traduziu em crescimento formal do emprego, demonstrando a importância que teve a inclusão social para a promoção e manutenção do crescimento econômico no Brasil.

Palavras chave: emprego formal, estrutura salarial, estrutura ocupacional, mercado de trabalho, economia brasileira, crescimento econômico

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With the commercial and financial liberalization of the 1990s, the labor market in Brazil was deeply disorganized. The period was marked by low economic growth, by stagnating wages and rising unemployment and informality. However, from the currency crisis in 1999 and, more specifically, after 2003, with the growth of prices and international demand for commodities, the Brazilian economy returned to growth more intensively, and Brazil's labor market turned to restructure, with the return of growth in employment and wages. A major feature of this restructuring was the intense growth of formal employment and the growth of their average salary and reduction of wage inequalities between formal workers. This growth in formal employment and their salary level would be practically continuous in the period between 2003 and 2013, resulting in a stock growth of formal employment of 65.7% and a growth of 30.6% of their average salary (adjusted for inflation), and a strong decrease in relative dispersion and wage asymmetry. Even after the global financial crisis of 2008, not only the Brazilian economy would continue to grow after a short period of stagnation, as well as would continue to the strong growth of formal employment and their wages, pointing to the importance of continuity of labor market restructuring in Brazil. Several hypotheses was proposed to explain the strong growth of formal employment, passing from the changes in the economic scenario to public policies especially directed to regulation and labor inspection in Brazil. Using data from the Annual Report of Social Information (RAIS), of the Ministry of Labor and Employment (MTE), this dissertation analyzes the phenomenon of the formal employment and their wages growth in the period 2003-2013. It points to the main explanatory hypotheses for this phenomenon and analyzes to which sectors, company sizes and types of occupation occurred this growth in formal employment and their wages. The analysis points to a strong process of labor market reorganization that occurs faster than economic growth. This growth was widespread and benefited all sectors of activity, although it has been heavily concentrated in non-tradable sectors, and has created jobs in almost all types of occupation, although it has been stronger among middle and low-paid workers. In addition, the analysis indicates that the growth of formal employment was intense among small businesses, but that was also significant in large companies, which took advantage of the growing demand to make investments and expand its activities. The conclusion is that, despite it had started with the originated economic boom in the external sector, the growth of formal employment found in domestic demand support for its growth for over a decade. Thanks to the action by the State, it has resulted in formal growth of employment, demonstrating the importance that had the social inclusion in promoting and maintaining economic growth in Brazil.

Keywords: formal employment, wages structure, occupational structure, labor market, Brazilian economy, economic growth

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BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CBO – Classificação Brasileira de Ocupações

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas CNPJ – Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica

DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador

FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor MPE – Micro e Pequena Empresa

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego PAC – Programa de Aceleração do Crescimento

PASEP – Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público PEA – População Economicamente Ativa

PIB – Produto Interno Bruto

PIS – Programa de Integração Social

PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar RAIS – Relação Anual de Informações Sociais

SAS – Sistema de Acompanhamento de Salários

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SIMPLES – Simples Nacional (Regime Tributário)

SIT – Secretaria de Inspeção do Trabalho

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Tabela 1: Tipo de vínculo de emprego e contratos de trabalho segundo a RAIS – 2013 ... 11

Tabela 2: Evolução do Emprego Formal segundo a RAIS e a PNAD ... 12

Tabela 3: Proporção de Estabelecimentos e de Vínculos de Emprego Formal por Tamanho de Estabelecimento (em número de empregados) ... 30

Tabela 4: Proporção de Estabelecimentos, de Vínculos de Emprego Formal, Variação dos Vínculos e Tamanho Médio dos Estabelecimentos por Setor de Atividade... 34

Tabela 5: Proporção de Vínculos por Setor de Atividade e Tamanho de Estabelecimento ... 40

Tabela 6: Proporção de Vínculos de Emprego Formal por Grupo Ocupacional ... 47

Tabela 7: Proporção de Vínculos por Grupos Ocupacionais e Setor de Atividade em 2003 ... 49

Tabela 8: Proporção de Vínculos por Grupos Ocupacionais e Setor de Atividade em 2013 ... 51

Tabela 9: Distribuições de Vínculos por Faixas de Tamanho de Estabelecimento em cada Categoria Ocupacional em 2003 ... 53

Tabela 10: Distribuições de Vínculos por Faixas de Tamanho de Estabelecimento em Categorias Ocupacionais selecionadas ... 55

Tabela 11: Distribuições de Vínculos por Faixas de Tamanho de Estabelecimento em Categorias Ocupacionais selecionadas ... 56

Tabela 12: Composição da Variância dos Salários Médios do Emprego Formal entre Categorias Ocupacionais, Setores de Atividade e Tamanhos de Estabelecimento ... 65

Tabela 13: Distribuição dos vínculos de emprego formal entre categorias ocupacionais classificadas por faixas de salário médio a preços de Dez/2013 (INPC-IBGE) no ano de 2003 .. 68

Tabela 14: Distribuição dos vínculos de emprego formal entre faixas de salário médio das categorias ocupacionais por intervalos de salários mínimos no ano de 2003 ... 72

Tabela 15: Evolução do PIB e dos vínculos de emprego formal no Brasil por faixas de salários médio de categorias ocupacionais em subperíodos selecionados ... 74

Tabela 16: Evolução do salário mínimo e do nível salarial do emprego formal no Brasil medido pelo salário mediano por faixas de salário médio de categorias ocupacionais em subperíodos selecionados ... 75

Tabela 17: Efeitos das mudanças na assimetria da distribuição das remunerações do emprego formal (Relação entre salário mediano e salário médio) ... 76

Tabela 18: Dispersão relativa dos salários do emprego formal por faixas de salário médio das categorias ocupacionais (coeficiente de variação)... 77

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Tabela 20: Distribuição dos vínculos de emprego formal entre categorias ocupacionais classificadas por faixas de salário médio a preços de Dez/2013 (INPC-IBGE) no ano de 2013 .. 78 Tabela 21: Distribuição dos vínculos de emprego formal em intervalos de salário mínimo por faixas de salário médio de categorias ocupacionais ... 81 Tabela 22: Distribuição dos vínculos de emprego formal entre subsetores de atividade e faixas de salário médio no ano de 2003 ... 86 Tabela 23: Distribuição dos vínculos de emprego formal entre subsetores de atividade e faixas de salário médio no ano de 2013 e sua variação entre 2003 e 2013 ... 91

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Figura 1: Evolução do estoque anual de vínculos de emprego formal no Brasil. ... 10 Figura 2: Evolução do salário médio do emprego formal, nominal e real ... 61 Figura 3: Balanço das negociações coletivas – reajustes salariais entre 1998 e 2013 ... 63

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Introdução ... 1

Capítulo I: A evolução do estoque de emprego formal no Brasil ... 7

1.1 A RAIS e o emprego formal no Brasil... 7

1.2 Crescimento econômico, políticas públicas e a ação do Estado ... 14

1.2.1 Crescimento econômico no Brasil... 14

1.2.2 Políticas públicas e regulação do Estado... 21

1.3 O emprego formal segundo os setores de atividade e o tamanho dos estabelecimentos 29 1.3.1 O tamanho dos estabelecimentos ... 29

1.3.2 Os setores de atividade ... 32

1.3.3 O tamanho dos estabelecimentos nos setores de atividade ... 39

1.4 O emprego formal segundo os tipos de ocupação ... 46

1.5 Considerações Finais ... 57

Capítulo II: A evolução dos salários do emprego formal no Brasil ... 61

2.1 O crescimento dos salários do emprego formal ... 61

2.2 A composição da dispersão dos salários do emprego formal ... 64

2.3 As diferenças salariais por tipo de ocupação e a definição das faixas de salário médio 67 2.4 A evolução do emprego formal e do nível salarial entre as faixas de salário médio ... 73

2.5 O papel do salário mínimo e dos reajustes salariais das categorias profissionais ... 79

2.6 Distribuição setorial do emprego formal entre as faixas de salário médio ... 85

2.7 Considerações Finais ... 97

Conclusão ... 101

Referências Bibliográficas ... 107

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Introdução

No Brasil, onde vigorou o modelo de regulação estatal da relação trabalhista, o emprego formal é aquela relação econômica entre empregador e empregado formalmente reconhecida e regulada pelo Estado, caracterizada pela garantia dos direitos trabalhistas pela legislação (como salário mínimo, jornada regular, férias, seguro-desemprego, 13º salário etc.) e pela cobertura previdenciária. Inicialmente garantido aos trabalhadores urbanos e em apenas alguns setores de atividade1, o direito aos benefícios derivados da relação formalizada de emprego foi paulatinamente estendido ao restante dos trabalhadores, inclusive à população rural (excluída dos direitos trabalhistas e sociais até muito recentemente, até a Constituição de 1988), de modo que a universalização dos direitos e garantias vinculados à relação de emprego formalizada configuram um ideal a ser política e economicamente alcançado. Deste modo, o emprego formal pode ser considerado como aquele que confere melhor estrutura ao mercado de trabalho, onde seu crescimento e generalização corresponderiam a uma situação favorável para o conjunto da sociedade, especialmente aos trabalhadores, uma vez que se trata de uma configuração onde seus direitos são formalmente defendidos e regulados pelo poder público.

No entanto, apesar da relativa2 universalização dos direitos trabalhistas ligados à condição de formalidade do emprego, os níveis de desemprego aberto e de informalidade no mercado de trabalho brasileiro nos anos 1990 tornaram-se um sério problema social e econômico no país. Em função de um cenário macroeconômico adverso, marcado pela abertura indiscriminada da economia ao capital estrangeiro, por políticas econômicas de corte neoliberal e por reestruturação produtiva, o nível do emprego formal caiu drasticamente. Neste sentido, o mercado de trabalho sofreu um profundo processo de desregulamentação, que associado a uma conjuntura de baixo crescimento e estagnação econômica, promoveu a sua desestruturação (BALTAR, 2003). Com o crescente processo de terceirização, de transformações produtivas associadas à “terceira revolução industrial” e o processo de fusões e aquisições que se iniciou com a abertura financeira e comercial (processo conhecido por reestruturação produtiva), aumentou drasticamente o número de trabalhadores

1

Os direitos trabalhistas, consolidados no Brasil na década de 1930, foram inicialmente concedidos aos trabalhadores urbanos, especialmente aos trabalhadores da indústria, comércio e administração pública, excluindo-se uma grande massa de trabalhadores rurais e urbanos marginalizados, grande parte da população brasileira de então.

2

Só recentemente, com a promulgação da PEC nº72 de 2013 à Constituição Federal, foram estendidos os direitos trabalhistas previstos pela mesma ao conjunto de uma parcela grande dos trabalhadores no país, os empregados domésticos.

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desempregados, que paulatinamente se encaminharam para os setores e ocupações menos regulamentadas, para o trabalho por conta própria e, especialmente, para o trabalho informal. Neste período, cresceram a pobreza e a miséria, além de se manter uma elevada desigualdade entre os trabalhadores.

O baixo crescimento econômico que caracterizou este período, associado ao ainda alto crescimento da PEA, em função da cada vez maior inserção das mulheres adultas que mais do que compensou o início da queda da participação dos jovens no mercado de trabalho, além do próprio crescimento da população com idade ativa, contribuiu para o agravamento da situação do mercado de trabalho no Brasil. Se por um lado a política econômica adotada no país reduziu os altos índices de inflação que caracterizavam a economia brasileira nos anos 1980 e início dos 1990 (através da chamada “âncora cambial” e de altas taxas de juros), por outro contribuiu para a desestruturação da indústria nacional, com graves efeitos para o mercado de trabalho brasileiro.

Outro fator que contribuiu para a desestruturação do mercado de trabalho e preservação da elevada desigualdade na década de 1990 foi o recuo dos sindicatos, que diante da desaceleração da atividade econômica, da reestruturação produtiva, da abertura indiscriminada da economia e do aumento do desemprego e da terceirização, viram seu poder de barganha seriamente comprometido. Com a ascensão do ideário neoliberal no Brasil em um quadro desfavorável do mercado de trabalho, os sindicatos ficaram reféns da necessidade de preservar empregos, ao invés de lutar por mais direitos, como haviam feito com tanto afinco nos anos 1980 (VÉRAS DE OLIVEIRA, 2011).

Com efeito, os altos índices de desemprego e informalidade em fins da década de 1990 tornaram-se um problema não apenas econômico, mas eminentemente político, traduzindo-se em um dos principais problemas a ocupar a agenda política e eleitoral no Brasil, especialmente após a desvalorização cambial de 1999, que colocou em cheque o modelo de estabilização econômica adotado em 1994. Assim, durante os anos 1990, como reflexo da abertura comercial e financeira e do seu impacto no mercado de trabalho no Brasil, a geração de empregos formais esteve em baixa, caracterizando o período pela exclusão social, aumento da pobreza e preservação da elevada desigualdade social.

Assim, o emprego formal em 1999 foi menor que o de 1989, de modo que todo o aumento da População Economicamente Ativa (PEA) ocorrido na década de 1990 ou não foi absorvido pelo mercado de trabalho, ampliando o desemprego aberto, ou foi ocupado em postos de trabalho que não tendo o estatuto da formalidade não podiam contar com os direitos trabalhistas inerentes a esta condição. A taxa de desemprego passou de menos de 5% da PEA

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em 1989 para mais de 10% em 1999 e cresceu muito a quantidade de empregados sem carteira assinada, de trabalhadores por conta própria, de membros de suas famílias que trabalham sem remuneração e de pequenos empregadores informais. Embora tenha havido algum crescimento do emprego formal entre os anos de 1999 e 2003, o mesmo foi insuficiente e incapaz de acompanhar o crescimento da PEA e houve forte queda no poder de compra da média e mediana da renda do trabalho, de modo que a situação do mercado de trabalho no Brasil se agravou neste período. Este período foi caracterizado pelo agravo do desemprego e da informalidade (que já eram altos nos anos 1990), pela diminuição da participação do emprego formal, aumento do trabalho doméstico, por conta própria e queda da renda média e mediana das pessoas ocupadas.

No entanto, no início dos anos 2000, mais especificamente após 2003, o mercado de trabalho no Brasil começou a passar por um processo de relativa reestruturação. Nos anos que se seguiram, a economia brasileira foi marcada não apenas pela retomada do crescimento econômico, mas especialmente pela retomada do crescimento do emprego formal e de seus salários, caracterizando o período pela diminuição do desemprego e da informalidade, além do aumento da média salarial e da diminuição da desigualdade entre os trabalhadores. Inicialmente motivado pelo crescimento das exportações, que foi reforçado pelo advento do ciclo das commodities, o crescimento econômico seria marcado pela retomada do consumo e aumento dos investimentos, não apenas nos setores exportadores de commodities, mas também na exportação de bens manufaturados para países que haviam sido beneficiados pelo crescimento internacional da demanda por commodities e principalmente nos setores produtores de bens de consumo para o mercado doméstico. Mesmo com a manutenção de políticas macroeconômicas restritivas ao crescimento do PIB, herdadas do período anterior, a moeda inicialmente desvalorizada, a inflação em baixa e a retomada do consumo e dos investimentos permitiram que o emprego voltasse a crescer, assim como os salários, criando um ambiente propício para o incremento continuado da demanda doméstica e o crescimento da economia.

Este movimento de reestruturação do mercado de trabalho no Brasil, que foi caracterizado especialmente pelo fenômeno do crescimento do emprego formal e de seus salários, seria um dos elementos que teriam criado as condições para que a economia brasileira pudesse seguir crescendo até anos recentes, mesmo após a crise financeira mundial de 2008 e o arrefecimento da demanda externa de commodities, resultando em um mercado de trabalho substancialmente diverso ao que havia sido nos anos 1990. Entre 2003 e 2013, o emprego formal não apenas cresceu, como cresceu em um ritmo superior ao do PIB,

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demonstrando a intensidade da reestruturação pelo qual passou o mercado de trabalho neste período. A estrutura resultante deste mercado de trabalho é um aspecto do processo de transformação pela qual passou a sociedade e a economia brasileiras nos últimos anos, de modo que, apesar dos ainda altos índices de desigualdade e de rotatividade dos trabalhadores no emprego, representou uma reversão da desestruturação pela qual passou a economia brasileira nos anos 1990, especialmente no que tange à diminuição do desemprego e da informalidade.

O desempenho econômico que ocorreu no Brasil nos anos 2000 foi, portanto, diferente do que se verificou nos anos 1990. Não apenas o crescimento do PIB foi mais intenso, como foi caracterizado por intensa inclusão social; ou seja, o crescimento econômico dos anos 2000 beneficiou uma proporção maior da população, especialmente aqueles que estavam fora do circuito da renda e do consumo, proporcionando emprego formal e renda crescente para muitos trabalhadores que antes estavam alocados em empregos informais ou em atividades por conta própria, ou mesmo àqueles que sequer estavam inseridos na atividade econômica. O crescimento do emprego formal e a evolução de seus salários foram apenas algumas das consequências deste novo arranjo econômico e social que vigorou neste período, cujo entendimento contribui para a compreensão dos mecanismos que permitiram esta reestruturação do mercado de trabalho brasileiro e a diminuição das desigualdades sociais.

Assim, o objetivo deste trabalho é contribuir com o entendimento do fenômeno do crescimento do emprego formal que ocorreu no Brasil durante o período 2003-2013 e sua relação com o crescimento econômico através do estudo do crescimento e evolução da estrutura do emprego formal e de seus salários. Para tanto, utilizaremos dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), sendo esta a base de dados que melhor refletiria a realidade do emprego formal no país, por se tratar de registro administrativo realizado pelos empregadores com um mínimo de organização.

No primeiro capítulo se analisa o crescimento do emprego formal pela RAIS, comparando-o com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), para depois procedermos com a exposição das hipóteses comumente aceitas para a explicação deste fenômeno. Após isso, ainda no primeiro capítulo, continuamos com a análise dos dados da RAIS para esclarecer como se deu o crescimento do emprego formal em termos de tamanho de estabelecimentos, setores de atividade e categorias ocupacionais. No segundo capítulo, ainda utilizando dados da RAIS, procedemos com a análise da evolução dos salários do emprego formal, seu nível, dispersão e assimetria, utilizando faixas de salário médio depois de uma análise da composição da variância dos salários individuais do emprego

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formal. Por fim, se resume os principais aspectos da reestruturação do mercado de trabalho durante o crescimento com inclusão social que ocorreu no Brasil no período 2003-2013. A continuação deste processo supõe manter o crescimento econômico e a atuação do poder público visando a regulamentação do trabalho.

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Capítulo I

A evolução do estoque de emprego formal no Brasil

1.1 A RAIS e o emprego formal no Brasil

O emprego formal é a modalidade de emprego cuja contratação atende os requisitos da legislação trabalhista em vigor no país, de modo que o trabalhador tenha garantidos os direitos trabalhistas previstos nesta legislação, como indenização em caso de demissão injustificada, salário mínimo, jornada máxima de trabalho, férias remuneradas, licenças (maternidade, paternidade, problemas de saúde), hora extra etc. São dois os principais conjuntos de leis que regulamentam as relações de trabalho no Brasil: a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)3 e os Estatutos dos Servidores Públicos (federais, estaduais e municipais). É chamado de celetista o empregado dos setores público e privado contratado segundo a CLT e de estatutário o empregado concursado do setor público contratado pelos respectivos estatutos. Todo empregado contratado pela CLT deve ter sua Carteira de Trabalho assinada pelo empregador, caracterizando assim a formalidade de seu contrato de trabalho. O setor público também pode ainda contratar empregados em conformidade com leis especiais, dependendo de situações específicas previstas em lei.

Nem todos os empregados são contratados de acordo com a legislação trabalhista. Existem contratos de trabalho que não atendem às leis da CLT ou dos Estatutos do Servidor Público, especialmente as da CLT no setor privado. No setor privado encontram-se famílias e estabelecimentos que contratam empregados para atividades domésticas e para atividades econômicas, respectivamente. Quanto às famílias, a maioria contrata empregados domésticos sem carteira, ao contrário do exigido na CLT, de modo que esta tem sido, historicamente, uma prática comum no Brasil. Dentre os estabelecimentos, muitos deles contratam empregados sem carteira ou sem qualquer cobertura previdenciária, ou seja, informalmente, e a maior parte deles realiza atividades econômicas sem cumprir as normas que as regulamentam. Muitos destes estabelecimentos, por exemplo, além de não cumprir com suas obrigações trabalhistas, não estão inscritos no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), não

3

A CLT, consolidação de leis trabalhistas em um único aparato jurídico, foi editada em 1943 pelo então presidente Getúlio Vargas. Os direitos trabalhistas foram inicialmente concedidos aos trabalhadores urbanos, especialmente aos trabalhadores da indústria, comércio e administração pública, excluindo-se uma grande massa de trabalhadores rurais e urbanos marginalizados, grande parte da população brasileira de então. Nos anos 1970, foi publicado o Estatuto do Trabalhador Rural, que regulamentou parcialmente o trabalho do trabalhador rural. Foi somente com a constituição de 1988 que se garantiu igualdade de direitos aos trabalhadores rurais e urbanos. Desde então, a CLT vem sendo modificada de acordo com as conquistas do movimento sindical e de acordo com a correlação de forças políticas e econômicas.

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cumprem com suas obrigações fiscais, não contribuem para a previdência social, ou sequer respeitam as normas de saneamento urbano, saúde pública etc.

Por este motivo, consideramos que um elemento importante na avaliação do desempenho do mercado de trabalho é a evolução da proporção de empregados que são contratados em conformidade com a legislação trabalhista existente. Chamaremos de emprego formal, portanto, os contratos de trabalho que estão de acordo com a CLT, com os Estatutos do Servidor Público e com as leis especiais que definem outras formas de contratação do setor público. Vamos distinguir os contratos domésticos formais (com carteira assinada) dos contratos formais dos estabelecimentos, de modo que esta dissertação focará exclusivamente no emprego formal contratado por estabelecimentos públicos e por estabelecimentos privados que realizam atividade econômica.

No entanto, a simples assinatura da carteira de trabalho pelo empregador, exigida pela CLT, não garante o cumprimento de todos os direitos estabelecidos na legislação, tampouco garante a qualidade da relação de trabalho, sendo que muitos postos de trabalho, mesmo que formais, possam ser qualificados como precários. O número de processos em curso na Justiça do Trabalho testemunha a frequência com que as leis são desrespeitadas, mesmo por empregadores que assinam a carteira dos empregados, e os altos índices de rotatividade testemunham a arbitrariedade no uso e remuneração do trabalho. Não obstante, as tendências de evolução da proporção de empregos celetistas e estatutários no total dos empregos assalariados ainda dão uma indicação importante para a avaliação do comportamento da economia e do mercado de trabalho em particular.

Considera-se, portanto, que o emprego formal, enquanto relação econômica regulamentada pelo Estado, é preferível à relação informal, criando vínculos econômicos e sociais importantes para a estruturação do mercado de trabalho e garantia dos direitos sociais assegurados pela legislação aos cidadãos. O emprego formal tem ainda reflexos importantes sobre a situação fiscal do Estado e o financiamento do sistema previdenciário, uma vez que é através de contribuições do emprego formal (empregados e empregadores) que se financia, por exemplo, a previdência pública e políticas sociais. Por fim, o emprego formal e a garantia e regularidade de renda que este proporciona garante ao trabalhador acesso ao crédito para consumo de bens duráveis e, em menor medida, de bens não-duráveis, o que ajuda a dinamizar a economia e a gerar demanda.

A Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), instituída pelo decreto nº 76.900 de 1975, tem se tornado a melhor fonte de informação sobre o emprego formal de estabelecimentos no país. Trata-se de registro administrativo, a qual os estabelecimentos são

(23)

obrigados a fazer a sua declaração anual, alimentando o banco de dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) com informações sobre contratações, demissões, escolaridade, horas trabalhadas, salários, tipos de ocupação etc. A declaração da RAIS configura-se, portanto, não apenas como um instrumento de coleta de informações por parte do Governo para fins de estudos estatísticos, mas especialmente como insumo para o controle da arrecadação e concessão de benefícios do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), da Previdência Social e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), com recursos dos Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/PASEP)4.

Desde a década de 1980, o MTE tem feito um grande esforço para aumentar a cobertura deste registro administrativo de emprego formal. O alcance desses registros tem aumentado não somente com o aumento da fiscalização, mas também com a formalização de pequenos negócios e a facilidade de prestação de informações via internet. No entanto, nos anos 1990, a geração de empregos formais esteve estagnada no Brasil, fato que associado ao aumento da PEA, resultou em aumento da informalidade e do desemprego. Por mais que houvessem facilidades para a criação e declaração de novos empregos formais ao MTE, as condições macroeconômicas não eram favoráveis, de modo que a criação de novos postos de trabalho formal permaneceu estagnada pelo menos até o início da década seguinte.

No entanto, um fenômeno distinto em termos de geração de emprego e renda passou a ocorrer a partir de 2003, fazendo com que o mercado de trabalho no Brasil ganhasse um novo impulso, a RAIS passou a registrar um ritmo maior de criação de postos de trabalho, e de 2003 a 2013 o estoque de empregos formais no Brasil obteve um enorme crescimento (ver Figura 1, abaixo). O crescimento do emprego formal, que já vinha se recuperando desde 1999, neste momento ganha novo fôlego e passa a ser acelerado5, o que contribuiu não apenas para diminuir o desemprego aberto que se verificara nos anos 1990, como também para diminuir a informalidade e o desemprego oculto. Além disso, verificou-se também um crescimento real continuado dos salários, que associado ao crescimento do emprego formal contribuiu para o crescimento da renda e do consumo, especialmente entre os trabalhadores com menor renda. Este processo de crescimento do estoque de empregos formais é comumente identificado com um processo de formalização dos postos de trabalho existentes,

4

Ministério do Trabalho e Emprego. O que é a RAIS. Em: <http://portal.mte.gov.br/rais/o-que-e-a-rais.htm>. Acesso em 12 de Agosto de 2014.

5 No período compreendido entre 1995 – 1999, o crescimento médio anual do emprego formal foi de 358 mil postos de trabalho, já entre 1999 – 2003 foi de 1,13 milhões e entre 2003 – 2007 foi de quase 2 milhões de postos por ano, em média (CORSEUIL, MOURA e RAMOS, 2011).

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mas também com uma expressiva criação de novos postos de trabalho (BALTAR et al., 2010).

Figura 1: Evolução do estoque anual de vínculos de emprego formal no Brasil, segundo a RAIS.

Fonte: RAIS-MTE (Elaboração própria)

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), executada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrou o mesmo fenômeno de crescimento do emprego formal. A PNAD proporciona um quadro geral do comportamento da ocupação no país, não somente o emprego formal de estabelecimentos, mas também o emprego doméstico formal, o emprego não-formal, o trabalho por conta própria, o trabalho não remunerado e o desemprego. Apesar de não se tratar de uma fonte específica sobre o emprego formal, apresenta grandes vantagens com relação à RAIS, especialmente no que tange à mensuração do desemprego, do trabalho por conta própria e no trabalho para autoconsumo e autoconstrução6. Além disso, a PNAD distingue o emprego doméstico, com e sem carteira, categoria que não é devidamente registrada na RAIS, justamente por se tratar de emprego contratado por famílias, e não por estabelecimentos de atividade econômica.

6 Segundo João Alberto de Negri et al., “As informações agregadas parecem indicar que há convergência quanto à cobertura nas duas bases de dados. Segundo a RAIS, havia em 31 de Dezembro de 1998, 23,8 milhões de trabalhadores no mercado formal brasileiro (...). Para a PNAD, o contingente de trabalhadores com carteira assinada no trabalho principal na semana de referência (setembro), nesse período, era de 20,8 milhões” (DE NEGRI et al., 2001). Segundo os autores, esta diferença pode ser creditada à sazonalidade econômica e por outros fatores, como diversidade de informantes, erros e omissões, muito embora estas características não resultem em significativa divergência entre as duas bases de dados, o que permitiria metodologicamente a sua comparação.

0 10.000.000 20.000.000 30.000.000 40.000.000 50.000.000 60.000.000 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Q u an ti d ad e d e V ín cu lo s

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Tabela 1: Tipo de vínculo* de emprego e contratos de trabalho segundo a RAIS – 2013

Tipo de Vínculo Total Proporção (%)

Trabalhador urbano vinculado a empregador pessoa jurídica por contrato de trabalho

regido pela CLT, por prazo indeterminado 37.097.883 75,79

Trabalhador urbano vinculado a empregador pessoa física por contrato de trabalho regido

pela CLT, por prazo indeterminado 393.848 0,80

Trabalhador rural vinculado a empregador pessoa jurídica por contrato de trabalho regido

pela Lei n° 5.889/73, por prazo indeterminado 394.115 0,81 Trabalhador rural vinculado a empregador pessoa física por contrato de trabalho regido

pela Lei n° 5.889/73, por prazo indeterminado 758.988 1,55 Servidor regido pelo Regime Jurídico Único (federal, estadual e municipal) e militar,

vinculado a Regime Próprio de Previdência 6.685.757 13,66

Servidor regido pelo Regime Jurídico Único (federal, estadual e municipal) e militar,

vinculado ao Regime Geral de Previdência Social 937.704 1,92 Servidor público não efetivo (demissível ad nutum ou admitido por legislação especial),

não-regido pela CLT 1.343.159 2,74

Trabalhador avulso (trabalho administrado pelo sindicato da categoria ou pelo órgão

gestor de mão-de-obra) para o qual é devido depósito de FGTS - CF 88, art. 7°, inciso III 77.208 0,16 Trabalhador temporário, regido pela Lei n° 6.019, de 3 de janeiro de 1974 189.176 0,39

Trabalhador aprendiz contratado, menor de idade 327.054 0,67 Trabalhador urbano vinculado a empregador pessoa jurídica por contrato de trabalho

regido pela CLT, por tempo determinado ou obra certa 308.705 0,63 Trabalhador urbano vinculado a empregador pessoa física por contrato de trabalho regido

pela CLT, por tempo determinado ou obra certa 4.393 0,01

Trabalhador rural regido pela CLT vinculado a pessoa jurídica por contrato de trabalho

regido pela CLT, por tempo determinado ou obra certa 39.852 0,08 Trabalhador rural regido pela CLT vinculado a pessoa física por contrato de trabalho

regido pela CLT, por tempo determinado ou obra certa 25.508 0,05 Diretor sem vínculo empregatício para o qual a empresa/entidade tenha optado por

recolhimento ao FGTS ou Dirigente Sindical 23.573 0,05

Trabalhador com contrato de trabalho por prazo determinado, regido pela lei n° 9.601, de

21 de janeiro de 1998 72.692 0,15

Trabalhador com contrato de trabalho por tempo determinado 31.583 0,06

Trabalhador com Contrato de Trabalho por Prazo Determinado, regido por Lei Estadual 61.320 0,13

Trabalhador com Contrato de Trabalho por Prazo Determinado, regido por Lei Municipal 175.915 0,36

Total 48.948.433 100

* Vínculos em 31 de Dezembro Fonte: RAIS-MTE (Elaboração própria)

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Algumas diferenças entre a RAIS e PNAD devem ser ressaltadas, como o período de referência de cada uma, que é na data de 31 de Dezembro para a RAIS e o mês de Setembro para a PNAD. Embora a RAIS e a PNAD tenham registrado o mesmo fenômeno de crescimento do emprego formal, podemos observar que há crescentes diferenças entre o emprego formal apontados pela RAIS e pela PNAD. Na PNAD, consideramos o emprego formal como a soma dos empregados com carteira, dos militares e dos estatutários. Já o emprego nos estabelecimentos que respondem o questionário da RAIS contém uma diversidade maior de formas de contratação de mão de obra (ver Tabela 1, acima). Por isso, é possível que as outras formas de contrato, acima citadas, sejam captadas pela PNAD como empregados sem carteira. Neste caso o crescimento do emprego formal realmente teria sido, como indicado na RAIS, maior que o acusado pela PNAD.

Tabela 2: Evolução do Emprego Formal segundo a RAIS* e a PNAD

Ano RAIS Variação (%) PNAD Variação (%) Diferença entre

RAIS e PNAD (%) 2003 29.544.927 - 29.175.293 - 1,3 2004 31.407.576 6,3 31.093.447 6,6 1,0 2005 33.238.617 5,8 32.315.361 3,9 2,9 2006 35.155.249 5,8 33.860.439 4,8 3,8 2007 37.607.430 7,0 35.866.327 5,9 4,9 2008 39.441.566 4,9 38.242.547 6,6 3,1 2009 41.207.546 4,5 38.949.064 1,8 5,8 2010 44.068.355 6,9 - - - 2011 46.310.631 5,1 42.923.215 - 7,9 2012 47.458.712 2,5 44.116.510 2,8 7,6 2013 48.948.433 3,1 45.651.164 3,5 7,2

Fonte: RAIS-MTE e PNAD-IBGE (Elaboração própria) * Vínculos em 31 de Dezembro

Em 2003, se verificava uma diferença de 1,3% em favor da RAIS, enquanto que, em 2009, a diferença chegava a 5,8%, e em 2011 e 2012, a diferença entre os dois indicadores ultrapassava a casa dos 7%. No entanto, de 2003 a 2007, notamos um padrão semelhante do comportamento do emprego formal pela RAIS e pela PNAD, apenas as taxas de crescimento do emprego formal sendo sempre maiores na RAIS, enquanto que os comportamentos do emprego formal pela RAIS e PNAD são completamente diferentes em 2008 e 2009, mostrando uma quebra no padrão que se acompanhava desde 2003 (ver Tabela 2, acima).

Como a crise financeira mundial afetou o Brasil no 4º trimestre de 2008 e a PNAD mede o emprego formal antes da crise (com semana de referência no mês de

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Setembro), ainda se pode registrar um intenso crescimento do emprego formal pela PNAD de 2008 (6,6%), o que já não se pode afirmar para a RAIS do mesmo ano que mede o emprego formal em 31 de Dezembro7. A atividade econômica só volta a se recuperar no 4º trimestre de 2009. Neste sentido, a RAIS acusa aumento do emprego maior que a PNAD (4,5% na RAIS, contra 1,8% na PNAD), justamente por referir-se a 31 de Dezembro, e não ao mês de Setembro.

Outra possibilidade de explicação da diferença entre a RAIS e a PNAD pode ser o surgimento de formas atípicas de contratação formal nas empresas e órgãos do setor público, o que pode ter levado a RAIS a indicar um emprego formal maior que a PNAD. Mas também é possível que a ampliação da diferença esteja relacionada com o aumento de cobertura da RAIS. Neste caso, a RAIS estaria exagerando o aumento do emprego formal, configurando-se não como geração de novos postos de trabalho em estabelecimentos já existentes (aumento de capacidade produtiva) ou abertura de novas firmas, mas como formalização de postos informais de trabalho já existentes e/ou ampliação dos casos passíveis de registro junto a RAIS como emprego formal.

Assim, no ano de 2007, comparado com 2003, o aumento de emprego formal foi de 27,3% ou 6,2% ao ano pela RAIS, e 22,9% ou 5,2% ao ano pela PNAD. Pela RAIS, o emprego formal em 2013 foi 18,8% maior que o de 2009, e comparando-se com 2003 foi 65,7% maior, o que equivale a um crescimento de 5,2% ao ano no período de uma década. Isto não foi só crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e geração de emprego, também foi formalização de contratos de trabalho já existentes, incluindo as formas atípicas de contratação de trabalho assalariado (leis especiais, prazo determinado, servidores não efetivos etc.). O PIB de 2013 foi 44,2% maior que o de 2003, equivalente a um crescimento médio anual de 3,7%, ou seja, os postos de trabalho formais da RAIS cresceram mais do que o PIB no mesmo período.

As taxas de crescimento do emprego formal da RAIS e da PNAD voltam a convergir de 2011 para 2012 (2,5% para a RAIS e 2,8% para a PNAD), indicando um possível esgotamento do processo de expansão da RAIS via registro de formas atípicas de contratação. No entanto, se mantém a diferença no número de vínculos entre as duas pesquisas, acumulada acima dos 7% tanto em 2011, quanto em 2012 (7,9% e 7,6%, respectivamente). Segundo dados atualizados da RAIS, o emprego formal no Brasil teria

7

Todos os dados sobre vínculos de emprego na RAIS referir-se-ão, daqui em diante, a vínculos em 31 de Dezembro, salvo indicação em contrário.

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crescido 60,6% entre 2003 e 2012, ou uma taxa de 5,4% ao ano, já para a PNAD, o emprego formal teria crescido 51,2% entre 2003 e 2012, ou a uma taxa de 4,7% ao ano.

Apesar das diferenças entre a RAIS e a PNAD, ambas indicam um movimento intenso e contínuo de crescimento do emprego formal entre 2003 e 2013, mesmo após a crise financeira mundial de 2008. A explicação deste fenômeno que caracterizou o mercado de trabalho no Brasil nos últimos anos, e que vinha acontecendo apesar da manutenção de algumas políticas macroeconômicas restritivas, tem levantado diversas hipóteses acerca do comportamento do mercado de trabalho, da conjuntura econômica e da atuação do Estado na configuração deste fenômeno.

1.2 Crescimento econômico, políticas públicas e a ação do Estado

Na literatura que trata do fenômeno do crescimento do emprego formal, destacam-se dois conjuntos de explicações. O primeiro conjunto de hipótedestacam-ses chama a atenção para um novo ciclo de crescimento da economia brasileira que teria se iniciado em 2003 em virtude da melhora do setor externo e que teria sido sustentado nos anos seguintes graças ao movimento de crescimento da demanda e do investimento domésticos (especialmente o investimento público), possibilitando a criação de empregos e o crescimento dos salários. O outro conjunto de hipóteses chama a atenção para uma série de políticas públicas que teriam sido executadas pelo Estado, especialmente no âmbito federal, como a intensificação da fiscalização do trabalho, a simplificação da formalização de empresas e pequenos negócios, a redução de impostos e contribuições sociais das pequenas empresas e a expansão do crédito doméstico, especialmente do crédito voltado para o consumo e do crédito subsidiado para pequenos negócios.

1.2.1 Crescimento econômico no Brasil

O primeiro conjunto de hipóteses explicativas do crescimento do emprego formal destaca as condições criadas pela desvalorização cambial ocorrida em 1999 e, posteriormente, a retomada do comércio internacional a partir de 2003. Diferentemente dos anos 1990, a economia brasileira, especialmente após 2003, foi marcada por uma elevada taxa de crescimento das exportações, o que favoreceu o balanço de pagamentos do país. Este fato teria levado a uma nova condição macroeconômica e a um novo ciclo de crescimento, o que favoreceu a geração de empregos formais ao favorecer as exportações brasileiras e encarecer os bens importados frente aos produtos nacionais.

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Segundo Claudio Dedecca e Eliane Rosandiski, “a própria desvalorização cambial criou barreiras naturais à competição externa, reduzindo a dimensão de bens importados no mercado nacional, estimulando que empresas (...) retomassem planos de produção e mesmo de investimento (...)” (DEDECCA e ROSANDISKI, 2006: p.172). Assim, na opinião destes autores, apesar dos efeitos das crises da Ásia e da Rússia, que haviam provocado fuga de capitais do Brasil e a desvalorização do Real em 1999, a economia brasileira não apresentou queda do PIB, e criou a condição necessária para que os estabelecimentos, especialmente aqueles voltados à exportação, mas também aqueles que concorrem com produtos importados no mercado nacional, mantivessem e até mesmo retomassem os níveis de emprego. Segundo José Paulo Zeetano Chahad, a desvalorização cambial também teria beneficiado o setor industrial, setor produtor de bens tipicamente tradables e cuja produção é fortemente influenciada pela taxa de câmbio. Assim, segundo este autor, “(...) com a desvalorização cambial devolveu-se o poder de competição ao setor (Indústria de Transformação) que mais havia eliminado empregos formais, que passou a cria-los novamente, especialmente voltando sua produção para as exportações” (CHAHAD, 2006: p.66). Assim, de acordo com Baltar et al. (2006: p.34):

A partir da desvalorização cambial de 1999, o quadro que caracterizou uma forte elevação do desemprego e uma profunda desestruturação do mercado de trabalho brasileiro vem se modificando. A desvalorização cambial, em 1999, e o excepcional desempenho do comércio mundial, desde 2003, colaboraram para ampliar substancialmente as exportações brasileiras. No entanto, a política macroeconômica continuou com a prioridade de manter baixa a inflação, e o Poder Público manteve a passividade, sem agir para melhorar a qualidade da inserção internacional do País. A inflação e o crescimento do produto foram contidos, mas melhoraram bastante os resultados da balança comercial, com as exportações crescendo mais fortemente e as importações aumentando num ritmo menor do que nos anos 1990.

Assim, diferentemente dos anos 1990, a economia brasileira, especialmente após 2003, seria marcada por elevadas taxas de crescimento. Entre 2003 e 2011, o PIB brasileiro chegou a registrar taxas de crescimento que oscilaram entre 3% e 6%. Mesmo com a breve recessão de 2009, ocasionada pela crise financeira mundial deflagrada no 4º trimestre de 2008, a economia brasileira ainda registraria, por exemplo, crescimento médio de 5% ao ano no período compreendido entre 2003 e 2011. O crescimento médio do PIB, entretanto, ficou menor do que o incremento da PEA no período entre 1999 e 2003, o que por si só já seria um fator de deterioração do mercado de trabalho, manifesto no aumento da taxa de desemprego. Apesar do crescimento da PEA ter sido maior do que o crescimento da população ocupada no período entre 1999 e 2003, o mercado de trabalho mostrou, desde 1999, uma tendência de

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crescimento do emprego formal. No entanto, somente a partir de 2003 é que teria havido uma recuperação do crescimento da ocupação não agrícola, condizente com a retomada do crescimento do PIB (BALTAR et al., 2006).

Segundo Dedecca e Rosandiski, a recuperação do setor externo, tanto o aumento da exportação como a redução da importação, criaram as condições necessárias para que as empresas mantivessem seu nível de atividade (e consequentemente os empregos gerados), tendo em vista especialmente os efeitos da recuperação do comércio externo sobre o setor industrial8. Segundo este argumento, o PIB só não teria crescido mais em função da política macroeconômica restritiva adotada pelo governo, que tinha como objetivo manter a abertura comercial e conter a inflação, restringindo o consumo e a atividade econômica no país.

O crescimento da demanda externa por commodities, especialmente a demanda chinesa, e o aumento de seus preços no mercado internacional contribuíram significativamente para melhorar o balanço de pagamentos no Brasil, contribuindo assim para reduzir a inflação e sustentar a demanda, possibilitando o início de um novo ciclo de crescimento da economia brasileira. Este ciclo das commodities (aumento da demanda e dos preços no mercado internacional), que teve seu início em entre 2002 e 2003, não apenas contribuiu para o aumento de suas exportações no Brasil, como contribuiu também para fomentar a exportação de bens de consumo aos seus parceiros internacionais (especialmente os latino-americanos), destino de boa parte das exportações deste tipo de bem produzido pela indústria brasileira, uma vez que estes países também foram fortemente beneficiados pela alta dos preços das commodities (BALTAR, 2014). Desta maneira, a retomada do crescimento pela via das exportações teria então contribuído para fomentar o mercado doméstico e, por extensão, o investimento privado. Assim, a expansão do mercado doméstico teria acelerado o crescimento do emprego depois de 2003, contribuindo ainda para a diminuição da taxa de desemprego. Segundo José Dari Krein e Marcelo Manzano (2014: p.07):

No contexto externo, a partir de 2002 o Brasil passou a beneficiar-se do ciclo de valorização dos preços das commodities, resultado da crescente demanda chinesa por insumos e bens intermediários. A partir desse impulso foi possível equacionar as contas externas do país, eliminando um dos entraves estruturais que, ao longo da história brasileira, recorrentemente abortava os ciclos de crescimento da economia. Entre 2003 e a crise de 2008, o superávit comercial cresceu de forma acelerada, permitindo que o país não só liquidasse sua histórica dívida externa, mas também conseguisse acumular expressivo volume de reservas internacionais.

8

A mudança de tendência no comportamento do emprego formal é também analisada por Marcio Pochmann, que destaca igualmente os efeitos da recuperação do nível de atividade industrial sobre a evolução do emprego formal, depois da desvalorização do real em 1999. Assim como Dedecca e Rosandiski, Pochmann também reconhece a importância da retomada do comércio internacional a partir de 2003 como causa da retomada do crescimento da atividade econômica no Brasil (POCHMANN, 2010).

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Muito embora o ciclo das commodities tivesse contribuído para a retomada do mercado doméstico e para a recuperação do emprego e da renda, a política econômica vigente à época continuou muito restritiva com relação à atividade econômica, mas a queda no preço do dólar teria ajudado a diminuir a inflação, criando as condições para que houvesse uma atividade econômica mais elevada desde 2004 e permitindo uma geração mais expressiva de empregos e a expansão dos setores organizados do mercado de trabalho, refletindo-se assim em crescimento do emprego formal. Assim, apesar da política macroeconômica restritiva, houve um crescimento expressivo do PIB, o que teria contribuído para acelerar o crescimento do emprego formal a partir de 2004 e teria ajudado a consolidar a reversão da tendência observada ao longo da década de 1990. Neste sentido, segundo Baltar et al. (2010: p.6-7):

(...) ampliou-se o consumo de bens duráveis (...), as empresas aumentaram o investimento na ampliação da capacidade de produção, o Estado retomou o investimento em infraestrutura. Apesar de a atuação do Banco Central do Brasil, visando conter a inflação – com seus impactos negativos sobre o ritmo de crescimento econômico –, ter dificultado a concessão de empréstimos em moeda nacional e mantido elevado o nível das taxas de juros, a taxa média de crescimento da economia brasileira elevou-se expressivamente.

Ou seja, o aumento da exportação, que levou a um sistemático superávit da balança de pagamentos, teria dado início a uma recuperação da atividade econômica no Brasil depois de 2003, mas logo em seguida teria sido a ampliação do consumo e do investimento que permitiu que o país retomasse o crescimento econômico sustentado por mais de uma década. Em outras palavras, o eixo do crescimento econômico logo foi passando da absorção externa (exportação menos importação) para a absorção interna (consumo mais investimento) (BALTAR, 2014). O próprio crescimento da ocupação e recuperação dos salários que teria advindo do ciclo das commodities já seria um fator de recuperação do consumo dos trabalhadores por um lado, e motor de recuperação do investimento privado por outro.

A valorização do Real frente ao Dólar que foi ocorrendo entre os anos de 2004 e 2005 logo foi contribuindo para o encarecimento dos bens e serviços nacionais frente os ofertados no exterior e a balança de pagamentos só não se tornou deficitária em função da manutenção da demanda externa e da alta dos preços das commodities. No entanto, o impulso que havia sido dado nos primeiros anos após 2003 havia contribuído para a retomada do emprego, dos salários e principalmente do investimento, embora em patamares ainda muito baixos, o que contribuiu para a manutenção da demanda doméstica, ainda que a política

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econômica à época ainda fosse muito restritiva, pois ainda priorizava o controle da inflação em oposição ao crescimento econômico. Assim, segundo Baltar (2014: p.435):

Em síntese, o boom internacional de commodities, a política macroeconômica priorizando o controle da inflação por meio da contenção monetária e das altas taxas de juros e a liberdade de movimento de capital e a liberdade para desenvolver e operar o mercado de derivativos de câmbio marcaram tanto a retomada de crescimento da economia em 2004-2008 quanto o mercado de trabalho que este crescimento comportou. Inicialmente, predominou a absorção externa na

determinação do crescimento do PIB, e foi muito elevada a elasticidade do emprego. A moeda nacional valorizou-se, e houve aceleração da absorção interna e desaceleração da absorção externa. O PIB intensificou seu crescimento,

mas o crescimento do emprego não acompanhou o ritmo do produto, e acelerou-se o aumento do PIB por pessoa ocupada. Tudo isto com uma taxa de investimento que embora aumentando, manteve-se em um patamar relativamente baixo para as circunstâncias de um auge de atividade da economia. (Grifo nosso)

A retomada do crescimento econômico, do consumo e dos empregos formais contribuíram para um aumento da arrecadação de impostos e de contribuições sociais, de modo que, mesmo com uma elevada meta de superávit primário, os gastos públicos ainda puderam dispor de forte crescimento. Este crescimento da capacidade de gasto do Estado permitiu ao governo federal expandir não apenas os gastos sociais – importantes para a manutenção da demanda interna por bens e serviços e para a diminuição da desigualdade – mas também elevar o investimento público, diminuir os juros (que mesmo assim ainda permaneceram muito altos), garantir o atendimento da demanda por crédito pela via dos bancos públicos e praticar renúncia fiscal sob produtos industrializados, políticas que teriam possibilitado a manutenção da demanda doméstica, mesmo após os efeitos deletérios da crise financeira mundial de 2008. Assim, teria sido possível evitar uma recessão mais acentuada em 2009, onde o PIB registrou uma queda de 0,3% (a economia já começara a se recuperar no quarto trimestre de 2009, suavizando o resultado geral daquele ano), e garantir um forte crescimento de 7,5% no ano seguinte. Assim, segundo Baltar (2014: p.445):

De particular importância para sustentar a atividade da economia foi a atuação do governo no sentido de garantir o atendimento da demanda de crédito, usando, de um lado, as reservas internacionais para financiar a exportação e, do outro lado, os bancos públicos para compensar a redução dos empréstimos dos bancos privados. Além disso, a redução provisória de uma série de impostos que afetam o preço de bens duráveis de consumo foi também importante para que o consumo continuasse crescendo num ritmo expressivo em 2009, contribuindo para que a queda do PIB neste ano fosse de apenas 0,3%, bem menos que as diminuições observadas no investimento e na exportação.

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Assim, possibilitado pelo aumento da arrecadação de impostos gerada pelo próprio crescimento econômico do período anterior, foi possível ao governo brasileiro, especialmente após a crise financeira mundial de 2008, expandir os gastos públicos não apenas com os benefícios sociais e previdenciários, com desonerações fiscais e aumento da oferta de crédito pelos bancos públicos, que teriam garantido a sustentação da demanda, mas também com investimentos em infraestrutura, especialmente sob a forma do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)9, além de prestar apoio às empresas através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para que se pudessem enfrentar a crise. Segundo Claudio Dedecca e Francisco Lopreato (2013: p.12-13):

O Governo respondeu rapidamente à crise, ativando diversos instrumentos da política pública. No que diz respeito à política econômica, a linha básica de atuação não sofreu mudanças significativas. (...) No plano específico da política fiscal,

realizou a desoneração tributária de setores com alta articulação para frente e para trás na cadeia produtiva (linha branca, automobilístico e material de construção), com a intenção de evitar a desaceleração do consumo. Além disso,

o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) criou uma linha de crédito com taxas de juros subsidiadas (PSI), na tentativa de recuperar o ritmo de investimento depois do colapso do final de 2008. A atuação do BNDES também se

mostrou crucial para lidar com a situação de crise de grandes empresas: respondeu à demanda de capital e exerceu o papel de coordenador das soluções de socorro às companhias em dificuldade, evitando, assim, a ocorrência de falências e o desencadear de expectativas negativas. (...) os bancos públicos

assumiram a tarefa de sustentar a expansão do crédito, ocupando o lugar deixado pela retração das operações dos agentes privados. Simultaneamente, deram suporte às instituições com problemas de caixa, comprando carteiras de crédito ou participação no capital, de modo a evitar o contágio no sistema bancário. No que diz respeito às políticas sociais e de trabalho associadas à geração e proteção de renda corrente, o governo as manteve, bem como manifestou a importância das mesmas para a sustentação do mercado interno, em um momento de desaceleração da economia internacional. A resposta imediata à crise e o dinamismo anterior do mercado interno permitiram a retomada do crescimento em curto espaço de tempo.

(Grifo nosso)

Segundo este argumento, o investimento público em infraestrutura, juntamente com o investimento privado induzido pela ampliação do consumo e exportação, teria sido responsável pela manutenção do crescimento no período 2006-2010, especialmente no ano de 2010, após os efeitos da crise financeira mundial de 2008. Estes investimentos teriam se dado não apenas na forma de investimentos diretos da União, mas também sob a forma de investimentos das empresas estatais (especialmente da Petrobrás) e investimentos privados

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O PAC foi um programa de investimentos públicos lançado em 2007 e executado até 2010 pelo governo federal que visava a retomada do planejamento, da execução e da gestão de grandes obras públicas de “infraestrutura social, urbana, logística e energética” no país. Seu objetivo era fazer o “resgate do planejamento e de retomada dos investimentos em setores estruturantes do país”, de modo a superar a deficiência de grandes investimentos de infraestrutura, geralmente negligenciados pela iniciativa privada no Brasil (Disponível em Ministério do Planejamento. PAC. Sobre o PAC

Referências

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