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Capítulo I: A evolução do estoque de emprego formal no Brasil

1.3 O emprego formal segundo os setores de atividade e o tamanho dos estabelecimentos

1.3.2 Os setores de atividade

Com relação à composição setorial do emprego formal, percebe-se que a retomada do crescimento econômico beneficiou praticamente todos os setores de atividade, muito embora de forma bastante desigual. Já em 2006, Chahad apontava para a tendência que já se desenvolvia desde os anos 1990 de concentração do emprego nos setores de Comércio e Serviços, especialmente Serviços, em detrimento da Indústria de Transformação, o que para ele “(...) tem implicações importantes para a dinâmica do mercado de trabalho brasileiro (...) isto representa uma alteração na participação relativa dos setores no total do emprego, com aumentos dos ocupados nos serviços em geral, e declínio na indústria e agropecuária” (CHAHAD, 2006: p.51). Isto significaria, para este autor, um crescimento da precariedade, mesmo entre o setor formal. Segundo Chahad (2006: p.52):

Dentro de uma perspectiva mais qualitativa voltada para o funcionamento do mercado de trabalho, a expansão do terciário, mesmo sob a forma de emprego formal, com proteção social, aumenta o contingente de trabalhadores colocados em condições de maiores taxas de rotatividade da mão de obra, mais sujeitos a processos de ‘terceirização’, subcontratação, menos expostos a políticas de formação profissional, ao menos nos atuais padrões de funcionamento do mercado de trabalho, e das instituições trabalhistas brasileiras.

De fato, segundo Claudio Roberto Amitrano (AMITRANO, 2013), as atividades econômicas mais beneficiadas pelo crescimento econômico registrado no período 2003-2013 teriam sido as atividades ligadas aos Serviços e ao Comércio (especialmente o comércio varejista), mas também as atividades industriais (não somente aquelas ligadas à produção e exportação de commodities, como aquelas que atenderam a expansão do consumo e do investimento) e aquelas ligadas ao mercado imobiliário (como Construção Civil e serviços imobiliários).

No entanto, apesar do crescimento econômico ter beneficiado estes setores e contribuído para o crescimento da ocupação em praticamente todos eles e de forma bastante intensa, dentre eles teriam contribuído mais fortemente para a retomada do emprego formal em geral os setores de Comércio e os Serviços, setores protegidos da competição internacional, que têm intenso uso de mão de obra e que foram beneficiados pelo aumento do poder de compra dos trabalhadores e pelo aumento da demanda das empresas por serviços de apoio à atividade econômica com crescente uso de terceiros. Assim, de acordo com Amitrano (2013, p.166-168):

Embora o desempenho do emprego na agropecuária e na indústria tenha sido positivo, suas taxas médias anuais de crescimento oscilaram significativamente com o ciclo econômico. No caso do setor agropecuário a expansão é contínua e em aceleração desde 1996 e, em particular, entre 2003 e 2010. Tal fato esteve associado à expansão do comércio mundial de commodities agrícolas que observou aumentos de preço e quantum ao longo desse último período, mas também foi resultado da ampliação da demanda doméstica, tendo em vista o crescimento da renda, sobretudo, nos decis mais baixos da distribuição. Entretanto, a expansão dos empregos na agropecuária desacelerou fortemente entre 2011 e 2012 em decorrência da deterioração da economia mundial e da desaceleração do consumo doméstico. Já a indústria teve seu melhor momento entre 2003 e 2006. A partir de 2007, mas, em especial, após a eclosão da crise financeira internacional, as taxas médias anuais de crescimento do emprego formal desaceleraram fortemente. Por sua vez, e novamente no extremo oposto, está o setor de serviços, cuja taxa de crescimento foi significativamente elevada e bastante estável ao longo de todo o período analisado. Por fim, cabe destacar o extraordinário desempenho da construção civil a partir de 2003, com taxas médias anuais elevadíssimas e que se mantiveram em aceleração até 2010, a partir de quando se observa uma modesta desaceleração do crescimento do emprego formal, mas ainda em um patamar muito elevado.

Não obstante a geração de empregos formais que resultou desta retomada do crescimento econômico ter se dado, segundo Amitrano, de forma desigual entre os setores de atividade, não se alterou de forma drástica a composição setorial do emprego formal, muito embora tenha havido sim uma mudança de importância relativa entre os setores. Em 2003, segundo os dados da RAIS, os setores que mais concentravam os empregos formais eram, em ordem de importância, o setor de Serviços (notadamente os subsetores de Administração Técnica Profissional e Alojamento/Alimentação), a Administração Pública, a Indústria de Transformação e o Comércio (notadamente o Comércio Varejista). Juntos, em 2003, estes setores concentravam 90,8% do emprego formal. Em 2013, estes continuaram sendo os setores que mais empregavam; no entanto, em função do crescimento abaixo da média da Indústria de Transformação e principalmente Administração Pública, estes perdem importância na estrutura ocupacional, especialmente para o Comércio, que passa a empregar uma proporção do total de empregados formais um pouco maior do que a da Administração Pública (ver Tabela 4, a seguir).

Entre 2003 e 2013, os setores de atividade onde o emprego formal mais cresceu foram os setores de Extrativa Mineral, Construção Civil e, subsidiariamente, os setores de Comércio e Serviços. No entanto, apesar do forte crescimento do emprego nos setores de Extração Mineral e Construção Civil ter mais que dobrado os seus estoques de vínculos de emprego, sua contribuição na ampliação do estoque de empregos formais acabou por ser inferior à contribuição dos setores de Comércio e Serviços, em função de sua baixa representatividade na estrutura de empregos, especialmente a Extrativa Mineral. O setor de Extrativa Mineral, que respondia por apenas 0,4% do total de empregos formais em 2003,

apesar de registrar um crescimento no seu estoque de vínculos de empregos formais de 112,8%, contribui com apenas 0,7% do crescimento total entre 2003 e 2013, resultando em aumento da sua participação total nos empregos de não mais que 0,1 ponto percentual. Já a contribuição do setor de Construção Civil foi mais significativa pois, apesar de empregar 3,5% do total de empregos formais em 2003, seu estoque de vínculos de empregos formais cresce 175% entre 2003 e 2013, o maior aumento de todos os setores de atividade, acabando por contribuir com 9,5% do crescimento total e resultando em um aumento da sua participação em 2,4 pontos percentuais no total do emprego formal de 2013.

Tabela 4: Proporção de Estabelecimentos, de Vínculos de Emprego Formal, Variação dos Vínculos e Tamanho Médio dos Estabelecimentos por Setor de Atividade

Estabelecimentos (%) Vínculos (%) Variação dos Vínculos Tamanho Médio Estabelecimentos¹ Setor de Atividade (IBGE) 2003 2013 2003 2013 Δ% Peso na Δ (%) 2003 2013 Δ% Extrativa Mineral 0,3 0,2 0,4 0,5 112,8 0,7 19,7 32,9 67,1 Indústria de Transformação 10,7 10,1 18,1 16,9 54,8 15,1 22,5 24,1 6,9

Prod. Mineral não

Metálico 0,8 0,8 0,9 0,9 64,3 0,9 15,3 17,7 15,9 Indústria Metalúrgica 1,3 1,3 1,8 1,7 52,7 1,4 18,8 18,2 -3,4 Indústria Mecânica 0,5 0,7 1,1 1,3 108,7 1,8 28,7 26,8 -6,5 Elétrico e de Comunicação 0,2 0,2 0,6 0,6 66,0 0,6 38,6 43,2 12,1 Material Transporte 0,2 0,2 1,1 1,3 90,3 1,5 70,2 83,0 18,2 Madeira e Mobiliário 1,3 1,0 1,4 1,0 17,6 0,4 14,6 13,6 -7,2 Papel e Gráfica 0,8 0,7 1,0 0,8 32,2 0,5 17,1 16,3 -4,4 Borracha, Fumo e Couros 0,5 0,5 0,8 0,7 37,9 0,5 21,3 18,6 -12,6 Indústria Química 0,9 0,7 1,9 1,9 68,9 2,0 28,2 38,6 36,9 Indústria Têxtil 2,0 1,9 2,5 2,1 39,4 1,5 16,6 15,9 -4,2 Indústria Calçados 0,3 0,3 0,9 0,7 20,5 0,3 39,7 35,7 -10,1 Alimentos e Bebidas 1,9 1,7 4,0 3,9 60,7 3,7 27,8 32,5 17,2 Serviços Ind. de Utilidade Pública 0,3 0,3 1,1 0,9 39,4 0,6 51,2 51,6 0,8 Construção Civil 3,1 4,6 3,5 5,9 175,9 9,5 15,2 18,3 19,8 Comércio 38,6 39,5 17,3 19,4 85,8 22,6 6,0 7,0 18,2 Comércio Varejista 34,8 35,8 14,6 16,2 83,9 18,6 5,6 6,5 16,5 Comércio Atacadista 3,8 3,7 2,7 3,2 96,1 4,0 9,6 12,5 29,9 Serviços 35,3 36,5 31,7 34,2 78,3 37,9 11,9 13,4 12,5 Instituição Financeira 1,5 1,4 2,0 1,7 47,4 1,4 17,4 17,3 -0,5 Administração² 12,1 12,0 9,4 11,0 93,9 13,5 10,3 13,1 27,0 Transporte e Comunicações 3,8 4,8 4,9 5,6 87,2 6,5 17,4 16,5 -4,9 Continua

Continuação Alojamento e Alimentação 11,0 11,5 8,8 8,5 59,8 8,0 10,6 10,6 -0,8 Saúde³ 5,2 4,6 3,5 3,7 75,2 4,0 8,9 11,5 28,5 Ensino 1,8 2,0 3,2 3,7 92,4 4,4 23,4 25,6 9,7 Administração Pública 0,6 0,5 23,7 19,1 33,6 12,1 488,2 565,4 15,8 Agricultura⁴ 11,1 8,4 4,1 3,0 22,5 1,4 4,9 5,2 6,0 Total 100 100 100 100 65,7 100 13,3 14,3 7,9

Fonte: RAIS-MTE (Elaboração própria)

¹ Não foram contabilizados estabelecimentos declarantes da RAIS com 0 (zero) empregados ² Administração Técnica Profissional

³ Serviços Médicos, Odontológicos e Veterinários ⁴ Agropecuária, Extração Vegetal, Caça e Pesca

Já os setores de Comércio e Serviços, apesar de não terem crescido tanto quanto os setores de Extrativa Mineral e Construção Civil, registraram contribuições consideráveis para o crescimento do emprego formal entre 2003 e 2013. Juntos, Comércio e Serviços contribuíram com 60,5% do crescimento do emprego formal entre 2003 e 2013, ao passo que Extrativa Mineral e Construção Civil, juntos, contribuíram com 10,2%. Este fato se explica pela importância que estes setores têm na estrutura setorial do emprego formal: em 2003 ocupavam quase metade do estoque de emprego formal (49%), ao passo que em 2013 passaram a ocupar 53,6%. Assim, em função de já representarem expressivas proporções do emprego formal em 2003, seu crescimento acima da média permitiu não apenas que os Serviços se mantivessem como o principal setor gerador de empregos formais no país, como permitiram ao Comércio galgar importância na estrutura de empregos formais, especialmente o Comércio Varejista.

Uma análise mais cuidadosa da evolução do setor de Serviços nos mostra, como já salientado anteriormente, que o crescimento econômico beneficiou mais intensamente não apenas os setores tipicamente ligados à demanda das famílias, mas também aqueles ligados à demanda das empresas por serviços de apoio à atividade econômica. O emprego formal nos subsetores de Saúde e Ensino13, tipicamente ligados à demanda por serviços pelas famílias, cresceu respectivamente 75,2% e 92,4% entre 2003 e 2013. Assim, muito embora representassem juntos 6,7% do emprego formal em 2003, contribuíram com 8,4% do crescimento do emprego formal entre 2003 e 2013, porcentagem próxima a do setor de Construção Civil. Por outro lado, o emprego formal no subsetor de Administração Técnica

13 Na classificação setorial utilizada na Tabela 4, o subsetor de Saúde (Serviços Médicos, Odontológicos e Veterinários) e o subsetor de Ensino fazem referência ao atendimento privado destes serviços, ao passo que o atendimento público destes enquadra-se no setor de Administração Pública.

Profissional, tipicamente ligado à demanda por serviços de apoio às empresas, cresceu mais do que nos subsetores de Saúde e Ensino, registrando um crescimento de 93,9% e contribuindo com 13,5% do crescimento do estoque de emprego formal entre 2003 e 2013.

Estes dados ajudam a mostrar o papel que os setores de non tradables tiveram no crescimento do emprego formal entre 2003 e 2013. A forte expansão da demanda chinesa por commodities ajuda a explicar, por exemplo, a forte expansão do emprego formal no setor de Extrativa Mineral, mas foram nos setores que não competem com a produção de outros países e que dependem mais diretamente da demanda interna, como Comércio, Serviços e Construção Civil, onde o emprego formal mais cresceu (destacando-se, no comércio, o Comércio Varejista, e nos Serviços, os serviços ligados à demanda das famílias e ao apoio às empresas beneficiadas pelo crescimento econômico). Assim, o crescimento econômico beneficiado pela exportação de produtos básicos gerou muitos empregos apesar da pouca geração de empregos pelos setores diretamente ligados à exportação de produtos básicos14.

Apesar de não terem crescido tanto quanto os Serviços e o Comércio, os setores da Indústria de Transformação e da Administração Pública também tiveram importante contribuição para o crescimento geral do emprego formal. No entanto, estes setores perderam importância relativa na estrutura de emprego em 2013 com relação a 2003, pois o crescimento do emprego formal nestes setores, como já dito, foi inferior à média geral do crescimento geral do emprego formal. Mesmo assim, o crescimento do emprego formal na Administração Pública e na Indústria de Transformação foi expressivo, registrando crescimentos de 33,6% e 54,8% entre 2003 e 2013, respectivamente. Além disso, dada a significativa participação que estes setores têm na estrutura ocupacional, eles tiveram importante contribuição na expansão do emprego formal em geral, especialmente a Administração Pública. Apesar do crescimento abaixo da média geral e da perda de importância na estrutura setorial do emprego formal, o crescimento dos estoques de emprego formal dos setores de Administração Pública e Indústria de Transformação contribuíram, juntos, com 27,2% do crescimento geral do emprego formal entre 2003 e 2013.

A expansão do setor de Administração Pública pode ser explicada pela expansão dos serviços sociais, especialmente saúde e educação públicas. Já no caso da Indústria de Transformação, muito embora todos os subsetores tenham registrado taxas significativas de crescimento nos seus estoques de emprego formal, é necessário destacar alguns subsetores

14

O trabalho de David Kupfer et al. mostra como a expansão das exportações contribuiu para o fomento da demanda interna e para a geração de empregos em setores não diretamente ligados à exportação de commodities, como comércio e, mais especificamente, serviços. Segundo este trabalho, o montante de empregos gerados diretamente pelo aumento das exportações seria equivalente a apenas 15% do montante daqueles gerados pelo aumento da demanda interna e pelo consumo das famílias (KUPFER et al., 2013).

que, apesar da perda relativa de importância dos empregos industriais no estoque total de emprego formal, contribuíram para que essa queda não fosse tão grande.

As atividades industriais que mais geraram empregos formais foram aquelas ligadas à demanda por bens duráveis. Entre 2003 e 2013, os subsetores da Indústria de Transformação que mais se destacaram foram os subsetores da Indústria Mecânica, de Material de Transporte (que praticamente dobraram seus estoques de emprego formal, com crescimentos de 108,7% e 90,3%, respectivamente) e, em menor grau, os subsetores de Indústria Química e de Material Elétrico e Comunicação (com crescimentos muito próximos à média geral, 68,9% e 66%, respectivamente). Estes subsetores foram fortemente beneficiados pelo crescimento do investimento, do consumo e das exportações.

Deve-se ainda chamar a atenção dos subsetores de Produção Mineral Não Metálica e do subsetor de Alimentos e Bebidas, cujos estoques de emprego formal também registraram crescimentos próximos à da média geral – seus estoques de emprego formal cresceram 64,3% e 60,7% entre 2003 e 2013 respectivamente – sendo que o subsetor de Alimentos e Bebidas foi o que mais contribuiu com o crescimento geral do emprego formal dentre os subsetores da Indústria de Transformação, contribuindo com 3,7% do crescimento do estoque total de emprego formal. O subsetor de Produção de Minerais Não-Metálicos foi fortemente beneficiado pela demanda da Construção Civil por insumos, que por sua vez foi beneficiado, como já dito, pelo crescimento do mercado imobiliário e pela retomada das obras públicas, ao passo que o subsetor de Alimentos e Bebidas foi fortemente beneficiado pelo aumento dos salários e da renda das famílias que acompanhou o próprio crescimento econômico e pela exportação.

Em suma, embora com muita importação, a produção industrial ampliou-se e gerou muitos empregos formais, demonstrando a força que teve a ampliação da demanda por bens de consumo, mas especialmente a retomada do investimento. O setor industrial também foi fortemente beneficiado, especialmente no subperíodo 2003-2010, pela demanda de bens elaborados de consumo e insumos industrializados pelos parceiros sul-americanos do Brasil, pois também tinham sido fortemente beneficiados pelo ciclo de alta do preço internacional das commodities e pela forte demanda chinesa e, assim, puderam importar estes bens produzidos pela indústria brasileira. Já a expansão do emprego formal na Administração Pública mostra a importância que teve o papel do Estado, não apenas na indução do investimento industrial privado, como também e especialmente na expansão dos gastos com serviços sociais e administração pública, muito embora estes dados mostrem que foi o setor privado, e não o

setor público, que mais gerou empregos formais desde 2003, a despeito do investimento público em infraestrutura e da expansão dos serviços sociais, como educação e saúde.

Observa-se, portanto, que apesar de todos os setores de atividade terem contribuído positivamente para o crescimento geral do emprego formal, alguns deles registraram contribuições superiores para este crescimento, fazendo com que a sua importância relativa fosse alterada. Muito embora o crescimento da demanda por commodities no mercado internacional tenha beneficiado, por exemplo, o setor de Extrativa Mineral, e este ter registrado a maior taxa de crescimento de empregos formais entre todos os setores, sua contribuição ao crescimento geral do emprego formal foi muito pequena. O principal impulso ao crescimento do emprego formal teria sido, portanto, o crescimento econômico motivado pela retomada da demanda doméstica, especialmente nos setores non-tradables que foram mais fortemente beneficiados pelo crescimento da renda e do próprio emprego. Ainda que a retomada do investimento e a expansão dos serviços sociais públicos por parte do Estado tenham contribuído fortemente para o crescimento do emprego formal, foram nos setores de Construção Civil, Comércio e Serviços, especialmente aqueles serviços fortemente ligados à demanda doméstica tanto das famílias como de empresas por serviços de apoio à atividade econômica, onde se verificou a maior contribuição ao crescimento geral do emprego formal.

Além disso, ainda com dados da Tabela 4, podemos perceber que na maior parte dos setores o crescimento do emprego formal esteve muito mais relacionado com a expansão do número de estabelecimentos do que com a ampliação do tamanho dos estabelecimentos. Não obstante, a ampliação do tamanho médio dos estabelecimentos foi um fator importante para o crescimento do emprego formal em alguns setores, o que expressa não apenas a importância do crescimento dos non tradables para o crescimento do emprego formal, como também do ritmo de crescimento em geral.

No caso de setores expostos à concorrência internacional, como Material Elétrico e de Comunicação e Material de Transporte, o aumento do tamanho médio pode estar indicando a crescente importância relativa das atividades de montagem de seus produtos (expansão do número de linhas de montagem, novos produtos produzidos etc.), mas também pode ter ocorrido avanço na estruturação empresarial nos setores fornecedores de partes e componentes com a entrada de grandes produtores internacionais, que passaram a demandar os produtos intermediários das empresas destes setores (o atendimento a grandes clientes corporativos demanda maior estruturação empresarial, o que demanda a contratação de profissionais e maior formalização).

Já em setores protegidos da competição internacional, o forte aumento da demanda por seus produtos levou a um avanço na estruturação empresarial que resultou em intensa ampliação dos empregos formais. É o caso da Construção Civil, Comércio e Serviços de Administração Técnica Profissional, Saúde e Ensino privados. Nestes setores o aumento do tamanho médio indica avanço na estruturação empresarial, ou seja, maior formalização e a contratação de profissionais especializados, maior número de profissionais de administração e mais qualificados.

De modo geral, o fator tamanho médio dos estabelecimentos teve seu papel no crescimento do emprego formal, e só não foi tão significativo quanto o crescimento do número de estabelecimentos em função da pequena participação de alguns setores na estrutura setorial do emprego formal (Extrativa Mineral, Indústria Química, Comércio Atacadista etc.), assim como do baixo crescimento do tamanho médio dos estabelecimentos de alguns setores (Agropecuária, Extração Vegetal, Caça e Pesca e Serviços Industriais de Utilidade Pública), ou mesmo a diminuição do tamanho médio (Borracha, Fumo, Couros; Indústria de Calçados, Madeira e Mobiliário). Estes dados contribuem para explicar o fato de que o emprego formal tenha aumentado 65,7% entre 2003 e 2013, ao passo que o tamanho médio geral dos estabelecimentos tenha aumentado apenas 7,9% no mesmo período.