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Este estudo teve por finalidade traçar algumas considerações teóricas acerca dos efeitos subjetivos que o câncer de mama provoca na mulher, efeitos esses ocasionados tanto pela patologia quanto pelo tratamento em si. A partir disso, se fez necessário um recorte nos escritos da medicina com o objetivo de entender o que é o câncer, como surge e se desenvolve, para a seguir falarmos do câncer de mama em si, e então buscar as variadas adversidades psíquicas que a mulher encontra ao lutar por sua vida frente a esta neoplasia maligna.

O câncer nasce da mesma forma que o ser humano, a partir de uma multiplicação de células, com a diferença de que nele o crescimento é desordenado e essas células - malignas no caso do câncer - também buscam por vida. Dentro de si, o sujeito afetado pelo câncer encontra um embate, onde células benignas e malignas lutam por sobrevivência.

Em um dos atendimentos no HCI, a fala de uma das pacientes chamou atenção: “Eu não quero ficar como as pessoas que vi aqui. Prefiro que essa doença me mate logo a ter que viver sem um peito, tem uma mulher ali que está sem um pedaço do rosto”. Sobre isso, pode-se refletir sobre a importância do seio para a mulher. O seio nessa fala pode ser pensado como o centro da vida dessa mulher. Mas que centro é esse? É o centro da sexualidade? Centro da maternagem? Viver sem esse seio é viver sem o centro, seja ele qual for.

Surgindo no seio feminino, o câncer é avassalador. Tendo em vista os aspectos discutidos no decorrer do trabalho, entendeu-se o porquê de ser o tipo cancerígeno mais temido pelas mulheres. Os recortes históricos acerca do câncer de mama mostraram a vergonha que a mulher sempre teve de ser acometida por essa doença, buscando muitas vezes se proteger do olhar do outro.

O ditado popular diz “a prevenção é o melhor remédio”, mas apesar dos esforços públicos pela divulgação da prevenção, o mês dedicado a isto é o mês onde menos são realizados os exames que podem detectar a doença, e sobre isso questionou-se a eficácia das políticas públicas e também se o medo de um possível diagnóstico positivo seria o fator que impediria as mulheres de se prevenirem.

Sobre a hipótese de que a maioria das mulheres com câncer de mama, em geral, seriam muito ligadas a seus empregos, não se permitindo aos prazeres da vida, voltando toda sua libido para seus ofícios, isso se faz pertinente, uma vez que grande parte destas mulheres exercem funções que demandam muita energia e dedicação: são em sua maioria donas de casa e professoras.

Foi tecida uma conceituação do corpo, e da relação do sujeito com seu adoecimento, a partir de uma leitura psicanalítica, com as quais compreende-se que as alterações corporais advindas do câncer e seu tratamento, têm diversos efeitos subjetivos.

Constatou-se a permeabilidade da imagem que o sujeito tem de si, e como os espelhos através dos quais ele se reconhece, se alteram ao longo da vida. A mulher ficará com a imagem distorcida? Ou conseguirá se olhar novamente no espelho e gostar do vê? A resposta encontrada para essas perguntas depende dos recursos subjetivos de cada mulher, do que ela fará com essa experiência de adoecer de câncer de mama, e já que isso promoverá mudanças em diversos aspectos de sua vida, é algo de um estatuto muito singular.

Entendeu-se que, a constituição psíquica se dá através do Outro e jamais deixa-se de ser atrelado ao outro. Estar-se-á destinado a essa condição de assujeitamento: deixa-se de ser assujeito da mãe para ser assujeito das vicissitudes da vida

Viu-se que, as mulheres que fazem parte do Grupo Renascer têm a possibilidade de reconstruir sua imagem, o próprio grupo faz semblante, devolve uma imagem através da palavra, das trocas de experiências, começa a dar um lugar para o momento em que aquela participante do grupo se encontra, possibilitando um renascimento. Alinhado a isso, dependendo dos recursos psíquicos que possui, cada mulher sairá de uma forma deste grupo.

Percebeu-se também que é de suma importância dar um outro lugar para o seio, para além de nutridor. Freud concebeu o seio como objeto de prazer da criança, deixando de lado a função dinâmica psíquica da mulher portadora deste seio. Constatou-se que qualquer fator que ponha em risco a integridade do seio, representa uma ameaça as referências identificatórias da mulher. Exemplo disso, em tempos

atuais, os seios são referência para a mulher: quando deseja realçar sua feminilidade, os expõe e/ou os aumenta. Ao mudar sua posição sexual, os esconde ou os retira.

Por fim, considerou-se que este trabalho contribui de forma significativa para um trabalho clínico com mulheres afetadas pelo câncer mamário, tendo em vista os aspectos discutidos ao longo do mesmo. Enquanto psicólogos, cede-se a escuta, acolhe-se esse sujeito que tanto sofre diante de uma doença que causa vasto sofrimento, portanto, entender e considerar as dinâmicas que envolvem a identidade feminina se faz pertinente, e vendo o seio de outros ângulos para a mulher, favorece uma escuta mais humana, sem preconceitos, gerando uma maior compreensão acerca das angústias e conflitos promovidos pelo câncer de mama.

Dar esse trabalho como finalizado, não significa encerrar este percurso: ao longo da escrita, nasceram questionamentos diversos que apenas um trabalho mais aprofundado poderia responder.

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