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8 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo dos anos o professor ensina a seus alunos por meio de uma pedagogia da reprodução, na qual os alunos são treinados a copiar/transcrever e na qual o parâmetro de avaliação de um bom aprendizado é a capacidade do aluno reproduzir ipsis litteris o que o professor também reproduziu. É necessário romper com o paradigma da pedagogia da reprodução diante do contexto das interfaces da internet, tendo em vista os inúmeros problemas já evidentes de ordem ética, emocional e comportamental que se manifestam a partir da emergência do ciberespaço. Entretanto, favorecer a Pedagogia da Autoria requer um esforço não apenas por parte do professor, mas uma consciência e uma vontade política por parte dos institutos formadores de professores em assumir a responsabilidade de formar os professores autores que irão atuar na formação da sociedade para além da geração atual.

As interfaces da internet tem evoluído muito rapidamente e se tornam mais fáceis de se utilizar ao mesmo tempo que convidam os sujeitos a produzir e publicar conteúdos, estimulando o contato destes com os mais diferentes formatos e gêneros midiáticos. Enquanto a escola se nega a explorar a possibilidades didáticas com autoria a partir das interfaces da internet, o aluno continua descobrindo suas facetas sozinho e de fato agindo sem direção preferencial do modo como lhe convém, o que desencadeia problemas como a publicação de fotos sensuais nas interfaces, exposição pública e a criação de comunidades virtuais empenhadas em ameaçar professores. Cabe considerar as condições físicas e de tempo dos professores para se dedicar aos estudos e às reflexões acerca da prática, bem como para criar e dar asas a autoria de suas propostas didáticas. A constituição do autor não se dá numa atividade pontual. O processo deve ser contínuo e as etapas da Pedagogia da Autoria não se encerram na avaliação dos produtos pois esta nada mais é do que uma exploração e uma análise de determinado conteúdo ou arquivo.

Trata-se de um ciclo que recomeça no fim e não finaliza no começo. Não existe preocupação em concluir as etapas, mas em vivenciar a experiência, em fomentar a criação de comunidades de aprendizagem e de prática em suas salas de aula, em dar prosseguimento ao seu processo de formação continuada na escola. Em todos os casos analisados, percebeu-se que atividades de produção e de estímulo à autoria dos alunos, favoreceram o controle da indisciplina, a motivação e a quebra da timidez dos alunos. Evidenciamos nas atividades em que produções a dimensão estética e a exposição da imagem pessoa e do som da voz, se

sobressaíam as demais, a qualidade no equipamento e o ambiente influenciaram na autoavaliação dos alunos e na avaliação do produtos. Em todos os casos analisados, mesmo tendo sido realizados em períodos diferentes, sempre haverá a alegação na fala dos sujeitos de que o tempo foi curto para a realização das atividades propostas. Tal fenômeno aponta para um novo problema a ser investigado, qual é o tempo mínimo para que tais atividades de produção com autoria possam ser realizadas?

Percebemosnas atividades que, ao contrário das práticas de produção baseadas na Pedagogia da Reprodução, as atividade de produção com autoria favorecem a transposição do paradigma da produção a partir da cooperação para o paradigma da produção a partir da colaboração, evolvendo os partícipes uma ação conjunta em e de fato em autoria coletiva. No caso das atividades desenvolvidas em grupo, a colaboração entre os sujeitos, favoreceu em maior grau a motivação e harmonia nos grupos, mas também se constituiu em ambiente propício para destruição de laços sociais como evidenciamos na experiência de produção de vídeo, na qual um dos grupos que estavam produzindo um vídeo apontou a falta de harmonia no grupo como um fator que desfavoreceu o processo de produção com autoria. No que concerne às interfaces utilizadas, todas foram apontadas como adequadas à realização das atividades. O primeiro ponto positivo que é destacado para a escolha destas é que não é necessário o ônus financeiro para que se possa utilizá-las. No geral, a utilização das TIC e a apropriação de suas potencialidades, favoreceram a percepção das mesmas não apenas como adereços de uma escola, mas como necessidades pedagógicas dos alunos e da sociedade.

A partir destas, o recurso da edição, peculiar dos processos de produção com autoria, torna-se ação constante e necessária, podendo o autor retomar sua produção e lançá-la a outros indivíduos para que esta possa ser editada e ampliada por ele ou pelos outros. Para além dessas duas dimensões, o paradigma da Pedagogia da Reprodução representa não somente uma vertente da didática, mas um fenômeno histórico e cultural que se perpetua na sociedade. Constatou-se na análise da experiência com a produção de radionovelas, que mesmo os sujeitos tendo experienciado a Pedagogia da Autoria e tendo reconhecido seu potencial para a formação dos alunos, constantemente recaiam em falas que denunciavam a presença dos ranços de sua formação pautada na racionalidade técnica. Já existe a consciência da importância de romper com a lógica da transmissão da informação em favor de uma formação com autoria.

Pedagogia da Autoria em detrimento da Pedagogia da Reprodução. A Pedagogia da Autoria na Internet com as TIC favorece aos alunos e professores a desmistificação, planificação e apropriação destas pelos sujeitos do processo ensino/aprendizagem, apontando desta forma, alternativas de formação para o desenvolvimento de habilidades consoantes ao cenário contemporâneo, tais como domínio das TIC, curiosidade, criatividade, reflexão e a autoria. Na fala dos sujeitos entrevistados, a afirmativa de que as estratégias aqui apresentadas favorecem mudanças de comportamento tais como a quebra da timidez, indisciplina ou a motivação dos alunos e professores, por se tratar de um fenômeno de ordem psicológica e não tendo sido este o enfoque deste estudo, merece ser mais profundamente investigado.

Percebeu-se que entre os fatores limitadores da realização das atividades que tomam por base a pedagogia da autoria na internet com as TIC, destacam-se a qualidade do recurso utilizado como mídia ou tecnologia de captação ou edição, a velocidade de conexão com a internet, o ambiente no qual a atividade acontece, o tempo despedido para a realização das etapas da atividade, a inexperiência dos alunos para com a realização da atividade bem como a sintonia do grupo. Entre as possibilidades didáticas destas experiências, destacamos para a autoavaliação, a reflexão na e sobre a prática, a apropriação das TIC e a percepção da importância da inserção destas no currículo escolar e nas práticas pedagógicas.

Novas autorias serão buscadas em prol do desenvolvimento da autonomia e esta por sua vez conduzirá o sujeito a buscar novas formas e desafios de aprender a ser autor. A relação entre a Pedagogia da Autoria e a pedagogia de projetos, assim como as questões de gênero apresentadas na coleta das imagens a serem postadas no Youtube também merecem ser investigadas. Ao professor, cabe a condução das etapas da pedagogia da autoria. Ele não terá como prever o que será apresentado como resultados ou as conclusões que os alunos irão apresentar. É possível que numa mesma turma seja proposta uma mesma atividade e os resultados sejam completamente diferentes e nem por isto estarão errados.

REFERÊNCIAS

ALAVA, Serafim (org). Ciberespaço e formações abertas: rumo a novas práticas educacionais? Porto Alegre: Artmed, 2002.

BLIKSTEIN, Paulo; ZUFFO, Marcelo K. As sereias do ensino eletrônico. In. SILVA, Marco.

Educação online: teorias, práticas, legislação, formação corporativa. 2ª ed. São Paulo:

Loyola, 2006. p. 25-40.

COLL. César. MONEREO, Carles. Psicologia da educação virtual: aprender e ensinar com as tecnologias da informação e da comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2010.

CRUZ, Sonia. Blogue, Youtube. In. CARVALHO, Ana A. (org.) Manual de ferramentas da