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No primeiro capítulo, intitulado “Processo de formação da militância do PCB em Santa Catarina”, demonstrou-se que a Revolução Russa e os movimentos grevistas desencadeados no Rio de Janeiro e São Paulo em 1917 contribuíram para que ideias revolucionárias encontrassem espaço entre a classe operária catarinense em formação. Entre os anos 1917 e 1920, os catarinenses também vivenciaram intensos movimentos grevistas, principalmente nas cidades de Joinville, Criciúma e Blumenau. Em Florianópolis, sobretudo, a construção da Ponte Hercílio Luz contribui para que operários oriundos de diversos recantos se encontrassem e trocassem experiências e difundissem ideais revolucionários.

Nos movimentos de 1930 e 1935, os futuros fundadores do PCB-SC não passam incólumes aos fatos. Como exemplo cita-se o operário eletricista Manoel Alves Ribeiro e o estivador Álvaro Ventura. Aliás, Álvaro Ventura é o primeiro catarinense que se proclama “comunista” e alcança reconhecimento nacional quando em 1934 torna- se um Deputado Classista.

O PCB-SC inicia suas atividades oficialmente em 1939, em meio ao Estado Novo e ao início da Segunda Guerra Mundial. O primeiro comitê estadual é formado em Florianópolis e, nos primeiros anos, seus militantes lutam, principalmente, em favor da anistia aos presos políticos do Estado Novo e, também, para que o Brasil entrasse na Segunda Guerra contra o eixo nazifascista.

Após a Conferência da Mantiqueira – Rio de Janeiro, em 1943, Álvaro Ventura, na oportunidade membro do Comitê Central do PCB e representante da seção catarinense do Partido, retorna para Santa Catarina com a missão de fomentar a formação de diversos comitês municipais do PCB-SC. Os primeiros tempos de organização no interior do estado não foram fáceis, pois a coordenação entre o Comitê estadual e os Comitês municipais era esporádica e, no interior, especialmente, nas áreas de industrialização e de influência alemã (Blumenau, Brusque e Joinville), o Integralismo era muito forte.

Paralelamente ao término da Segunda Guerra Mundial, à vitória dos aliados e à queda do Estado Novo surgem os “novos” partidos políticos, entre eles, os principais foram: o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido Social Democrático (PSD); a União Democrática Nacional (UDN). Outro fato marcante é o efêmero período de legalidade para o PCB (1945-1947). Nas eleições de 1945, o PCB apresenta

candidato próprio à Presidência, Yedo Fiúza que alcança 9% dos votos em todo o território nacional. Em Santa Catarina, Fiúza recebe apenas 0,8% dos votos e, tanto nas eleições de 1945 quanto nas eleições de 1947, nenhum membro do PCB catarinense é eleito. Muitos comunistas “migram” para outras legendas como forma de encontrarem as vitórias nos pleitos, mas também não tiveram sucesso, pois o único candidato comunista eleito por outro partido, Hamilton Ferreira, vereador em Florianópolis, eleito em 1947, não suporta a pressão dentro do PSD por suas ligações com o PCB e acaba renunciando ao cargo.

O início dos anos 1950 marca um “novo tempo” para o PCB- SC. Momento em que novas lideranças começam a surgir, entre elas, Aldo Pedro Dittrich. Além disso, o Partido se fortalece no interior do estado, principalmente, em Criciúma. Com isso, Aldo Pedro Dittrich que, desde 1956, era diretor-proprietário do jornal comunista “Unidade”, publicação que chega a ter uma circulação quinzenal no Estado de 5.000 exemplares, é enviado pelo PCB para o território do carvão com a missão de como advogado do Sindicato dos Mineiros de Criciúma atuar em defesa da classe operária do sul catarinense.

No segundo capítulo, “Aldo Pedro Dittrich no tempo do jornal Unidade”, o enfoque foi a formação profissional e partidária de Dittrich. De maneira especial, buscou-se fixar o período da sua vida profissional e política ao qual pertence o jornal “Unidade” (1956-1959), como também as principais representações do contexto em que Dittrich esteve inserido, fundamentadas nos escritos do referido jornal. Nesse segundo capítulo, também se evidenciou que, com o fim da Segunda Guerra Mundial e com a Guerra Fria, desencadeada a partir de 1947, o anticomunismo passa a ser um espectro que rondava “corações e mentes”. Em Santa Catarina, sobretudo, os meios de comunicação, entre eles, os jornais “O Estado”. “A Gazeta” e “A Notícia” são os principais difusores das doutrinas anticomunistas. Em contraponto a esses jornais, os comunistas catarinenses fundam boletins, revistas e jornais – o principal jornal tanto em tiragem quanto em tempo de duração, até o presente trabalho desconhecido por muitos, é o jornal “Unidade”. Ao analisar os escritos no jornal “Unidade”, observou-se que alguns assuntos são recorrentes, tais como: as querelas com Nereu Ramos; o nacionalismo e o nacional desenvolvimentismo; a carestia; as denúncias de desrespeito aos direitos trabalhistas dos operários e das operárias catarinenses; os conflitos internacionais; as querelas político-partidárias e sindicais locais; as questões sobre literatura e a luta de classes; a ações

do Partido Comunista e apologia, sobretudo, a Aldo Pedro Dittrich, que em 1958 tenta sem sucesso tornar-se Deputado Estadual pelo PTB.

No terceiro capítulo, “Os caminhos do comunista Dittrich em meio à repressão”, demonstrou-se a trajetória profissional e política de Aldo Pedro Dittrich dentro do Sindicato dos Mineiros de Criciúma; a sua atuação na importante greve de 1960, quando os mineiros, entre outras coisas, exigem o pagamento da taxa de insalubridade, um direito conquistado com muita luta, demissões e conflitos dentro e fora do Sindicato dos Mineiros de Criciúma e ainda, a tentativa frustrada de Dittrich tornar-se vereador em Criciúma pelo PSP.

Também no terceiro capítulo, evidenciou-se o processo de deflagração do Golpe Civil Militar de 1964, o fato de Dittrich torna-se um alvo principal da repressão desencadeada em Criciúma em razão de sua histórica participação no ilegal PCB; dos seus escritos no jornal “Unidade” e de suas ações tanto no Sindicato dos Mineiros de Criciúma quanto em sua residência – conhecida em Criciúma por ser um local de reuniões de cunho político e sindical.

Outro ponto fundamental retratado no terceiro capítulo foi o contexto de fuga e clandestinidade depois de 1964, bem como os principais IPM’s sofridos por Dittrich; a continuidade da militância; a clandestinidade; o processo de desmonte do PCB; a conjuntura em que se deu a sua prisão em 1975. Por fim, as adversidades enfrentadas por Dittrich ao tentar reconstruir sua vida profissional depois da prisão e do afastamento do PCB no fim dos anos 1970.

Aldo Pedro Dittrich, assim como muitos outros, dedica um considerável período de sua vida na luta contra a exploração dos trabalhadores e contra o regime ditatorial instaurado pelo Golpe de 1964 no país. Regime pautado na cassação de direitos civis e políticos e, em especial, no medo e na violência como forma de repressão. Muitos foram mortos, outros tantos, como Dittrich, sobreviveram, apesar de nunca se livrarem das inúmeras sequelas físicas e/ou psicológicas que guardaram consigo.

Neste trabalho procurou-se contribuir para uma historiografia que entende o partido e seus militantes em razão de suas singularidades tanto pessoais quanto locais e não como meros artífices de um projeto político ordenado por uma organização de caráter nacional, homogêneo e de direção verticalizada. Nessa perspectiva, espera-se ter contribuído, principalmente, com questionamentos e arrolamentos de fontes para futuros trabalhos.