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Estranhamente lamentando um fato auspicioso para todos os verdadeiros democratas (qual seja a ampliação e reforçamento democrático do país), um punhado de arcebispos e bispos, capitaneados pelo Cardeal Dom Jaime

ocupa vários cargos administrativos e técnicos e mandatos legislativos como Vereador e Deputado, tendo sido um dos fundadores do Partido Democrata Cristão em 1947. Nereu do

Vale Pereira. Disponível em:

http://www.alquimidia.org/fcc4/index.php?mod=pagina&id=5356. Acesso em: 13 de março de 2011.

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MARTINS, Celso. 1995. Op. cit. p. 177-178.

263UNIDADE: em defesa dos interesses do povo. Florianópolis, 13 a 20 de setembro de 1958. p. 5. Acervo digitalizado pela autora.

Câmara deitou sofregamente um manifesto no qual aberta e indisfarçadamente prega a adoção de medidas de exceção. Medidas fascistas de cerceamento à liberdade. Aspiram os homens de saias negras, o estabelecimento de uma nova inquisição, sem dúvida acompanhada das fogueiras e caldeirinhas...

O manifesto tão açodadamente dado à luz refere-se ao aparecimento de Luiz Carlos Prestes como sendo “a libertação do líder comunista brasileiro”. Não tomamos conhecimento de “libertação” alguma. “Libertação” dá-se quando alguém está preso. No caso não havia prisão (apesar das orações de muita gente tida como “boa”). Havia um mandado de prisão que nunca pode ser cumprido. Esse mandado foi revogado por julgar o juiz que não havia mais motivos para o mesmo. Tenta, pois, o manifesto do Cardeal, torcer a verdade desde as primeiras linhas. Torcer a verdade e mentir são sinônimos... e, achamos, não fica bem aos “mentores espirituais” mentir, nem ao menos um pouquinho...

Prossegue o apascível cardeal lamentando a “suavidade” das declarações do líder popular brasileiro. Ora bolas! Quanto os comunistas brasileiros, analisando erroneamente as condições da nação brasileira, achavam que o único caminho para a solução dos problemas brasileiros era o caminho das soluções revolucionárias violentas, o dulcíssimo cardeal protestava contra as “intenções revolucionárias” dos comunistas.

Agora que, analisando com mais profundidade a realidade, os comunistas, reconhecendo abertamente seus erros, pregam o caminho pacífico para a solução dos problemas brasileiros, devido ao alto nível de esclarecimento de nosso povo, o ilustre prelado josefense resolveu “lamentar” esse fato...Será que nunca se contentará?

Depois de reconhecer que, nos dias que correm, as soluções propostas por Luiz Carlos Prestes e pelos seus companheiros são, cada vez mais, aceitas pelo povo e pelas demais forças políticas, inclusive por “representantes das forças conservadoras” o irrequieto cardeal propõe ao governo, a adoção leis de repressão. Sugere, porém “regulamentação criteriosa que livre, de vez, inocentes, de vingança e perseguições e exija que denúncias sejam baseadas em fatos e não apenas no impressionismo de acusadores, mesmo qualificados”.

[...] O “manto diáfano da fantasia” que o prestimoso Cardeal tenta lançar sobre a “nudez crua da verdade” da inquisiçãozinha que pretende para o Brasil de 1958 (e não de 1598!) não chega e nem poderia chegar, para escondê-la. Parece até, que o espírito do saudoso Senador MacArtthy baixou no “aparelho” do inefável Cardeal de São José... O homem que, envolto seu corpo em negras fazendas, passeia, seu pobre espírito envolto em negras idéias a bordo de um luxuosíssimo automóvel, zombando a alta

velocidade da miséria e fome que devoram grande parte de “seu rebanho”, esquece os ensinamentos de seu Mestre: “Amai ao próximo como a vós mesmos!”

O. C. Malheiros Júnior.

Na época, muitos membros da Igreja Católica foram responsáveis pela realização de intensa campanha contra os petebistas, mais precisamente contra aqueles candidatos que, se não fosse pela interdição do PCB, certamente seriam concorrentes por esse partido, entre eles, Aldo Pedro Dittrich.

A reportagem a seguir trata sobre a campanha eleitoral dentro das Igrejas, assim como do apoio dos sacerdotes aos patrões. Como exemplo, cita o Padre da Capital Francisco Salles Bianchini264, que acompanhava os patrões até a Junta de Conciliação e Julgamento de Florianópolis com a finalidade de “atestar” a idoneidade do réu, colocando-se notoriamente contra as reivindicações dos trabalhadores.

VOTO DE BATINA Por: Peri Pitombo

Quem compra voto rouba ao povo o exercício do seu mais elementar direito. Quem coage o eleitor com deturpações e mentiras o que é?

Aqueles que têm ido à Igreja nesses últimos dias ouvem prédicas odiosas contra os candidatos do Partido Trabalhista Brasileiro. Dizem os sacerdotes que os candidatos do PTB são comunistas. Como tal: inimigos da religião, da família, da Pátria, do direito e da justiça (?!?). Dizem que a Igreja nada tem com a política, mas que, no próximo domingo (dia 28) terá uma mesa no adro para distribuir cédulas dos candidatos que ela julga bons.

Amigos Leitores!

Os Srs. Sacerdotes estão sendo insinceros, estão faltando com a verdade.

Não há no PTB candidatos do Partido Comunista. Há – isto sim – candidatos que defendem o nacionalismo, a Petrobras, melhores níveis de salário mínimo, mais dignas condições de vida para o trabalhador, quer dizer,

264Nascido em 29 de janeiro de 1925. Padre desde 8 de dezembro de 1950. É um dos fundadores da Universidade Federal de Santa Catarina, onde leciona durante décadas na Faculdade de Filosofia. Foi Cura da Catedral Metropolitana. Falece em outubro de 2010. Disponível em: http://www.adjorisc.com.br/jornais/opopular/on-line/geral/florianopolis- comunidade-despede-se-do-monsenhor-bianchini-1.363154. Acesso em: 28 de março 2011.

candidatos, que defendem as verdadeiras reivindicações do povo catarinense. E, procedem sem temer os arreganhos da polícia, as deturpações do clero, a corrupção dos ricos. Os candidatos do PTB, em particular, nosso Diretor, Aldo Dittrich, que é provado na luta em benefício dos humildes, merecem o voto de todos os catarinenses.

São lutadores destemidos e conseqüentes; não se vendem; não têm medo das intrigas; lutarão até o fim, pelo cumprimento da legislação do trabalho, por salário mínimo [...] emancipação econômica do país, por uma verdadeira justiça social, pelo progresso, bem estar e conforto do povo. Quem, porém, merecerá o apoio das mesinhas que vão ser colocadas no adro da Igreja? Sem dúvida, serão os patrões, os que descumprem a Consolidação das Leis do Trabalho, os que não pagam salário mínimo, os que postergam os direitos e as conquistas dos trabalhadores. Por isso merecem o repúdio do povo. O voto das mesinhas é um voto que prejudica os trabalhadores. Por exemplo: o repórter presenciou na Junta de Conciliação e Julgamento, uma seção, onde, no lado do empregador estava sentado o Padre Bianchini, do outro lado um trabalhador. Este reclamava pagamento de salário mínimo, porque só ganhava Cr$ 600,00 por mês, reclama o pagamento de horas extras extraordinárias, porque trabalhava doze horas por dia, reclamava folgas semanais, porque não as tinha. A Digna Junta de Conciliação e Julgamentos deu pela procedência da Reclamação. Acusaram-na de “burra”, “comunista”, “facciosa”.

Ai está o paralelo. Os candidatos das mesas que estarão no adro da Igreja, no próximo domingo, vão defender aquele patrão que o repórter viu sentado na Justiça, procurando provar que, por doze horas de trabalho diário, sem folga semanal, devia pagar-lhe Cr$ 600,00 por mês. Os candidatos do PTB defenderam aqueles pontos acima enumerados.

Comparem e votem.265

Na edição do período de 29 de setembro a 4 de outubro de 1958, há uma matéria denominada “Carta aberta ao Bispo de Joinville” escrita por Walter Gualberto de Sá ao Bispo Dom Gregório Warmeling. O autor expõe que assistiu a uma missa em que o Bispo afirmara que somente Deus poderia ajudar os trabalhadores a ter uma vida melhor em meio a tanta miséria. Por isso, resolve escrever tal carta publicada no jornal “Unidade” para convidá-lo a se juntar aos trabalhadores para lutar contra a miséria imposta por seus patrões, que não respeitam nem o pagamento do salário mínimo, pois “ninguém o poderia acusar de

265UNIDADE: em defesa dos interesses do povo. Florianópolis, 29 de setembro a 4 de outubro de 1958. p. 1 e 4. Acervo digitalizado pela autora.

comunista. Faltaria coragem para isso. Um Bispo comunista, só se for piada”.266

2.4.9 Biografia de Dittrich segundo o jornal “Unidade” e o desfecho das eleições de 1958

Na edição de 13 a 20 de setembro de 1958, o jornal “Unidade” reproduz uma biografia, não assinada, de seu diretor proprietário – Aldo Pedro Dittrich, agora, oficialmente, candidato a Deputado Estadual pelo PTB.