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Considerações Finais do Capítulo

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Capítulo II – A importância da fumicultura no Brasil A Convenção Quadro para o

2.6. Considerações Finais do Capítulo

Com o presente capítulo buscamos evidenciar a importância assumida pela fumicultura para o Brasil, para as regiões fumicultoras e para os agricultores familiares produtores de tabaco. Além disso, situamos a discussão da CQCT no Brasil. Por último, abordamos a formação do Programa Nacional de Diversificação de Áreas Cultivadas com Tabaco e as modificações de prioridades, por parte do governo, ocorridas entre o período da ratificação da CQCT e o período inicial de vigência do programa.

A abordagem da história da fumicultura é importante para que se compreenda o quão enraizada esta atividade produtiva está em algumas regiões do país, principalmente nos Estados do Sul do Brasil. Com este breve histórico é fundamental que se esclareça que o cultivo do tabaco não surgiu naturalmente nas regiões produtoras. Foi sim, obra de incentivo estatal, desde o século XIX e que em meados do século XX, por intermédio de incentivos à entrada do capital internacional, possibilitou a entrada das grandes multinacionais tabagistas e de suas tecnologias.

Não podemos deixar de ressaltar a má distribuição dos recursos provenientes da produção do tabaco, tendo em vista que tal fato faz com que as empresas fumageiras tenham maiores recursos para a disputa pela hegemonia da atividade, frente aos demais atores e assim maior facilidade para impor seus interesses. Ademais, é importante mencionar, mais uma vez, a importância da atividade produtiva para a arrecadação de impostos, sendo que tal fato faz com que a fumicultura seja vista com bons olhos por alguns setores do governo, principalmente os setores econômicos.

tentamos dar uma ideia dos problemas existentes nas regiões fumicultora. Buscamos sair do falso consenso que trata a fumicultura como uma atividade geradora altamente rentável para os agricultores e trazer os dados dos baixos indicadores socioeconômicos da principal região fumicultora do país. Com estes dados associados aos dados da distribuição dos recursos gerados na atividade fica claro que a mesma é sim altamente rentável, porém somente o governo que se apropria de cerca de 50% dos recursos gerados e para as indústrias que se apropriam de cerca de 30% dos recursos. Já as famílias de agricultores fumicultores, permanecem em sua grande maioria, com baixo nível de escolaridade, nível de renda também baixo, com um volume de terras insuficiente para um manejo de solo adequado e com vários outros problemas a estes associados.

Vimos que as contradições surgidas com produção do tabaco têm gerado vários questionamentos que são expressos desde a década de 1980 nas regiões fumicultoras. Também vimos que tais questionamentos não foram capazes de diminuir a produção de tabaco. No entanto, colocamos a CQCT como um novo elemento conjuntural capaz de alterar estes conflitos em prol daqueles contrários a maneira com que a cadeia produtiva está estruturada.

Este novo elemento conjuntural foi criticado enormemente em nível internacional pelo setor pró-tabaco. Já em nível nacional, devido à importância da atividade, as críticas ao tratado também foram incisivas, como veremos no próximo capítulo. Inicialmente o discurso dos atores favoráveis ao modelo atual de produção fumageira afirmavam que a CQCT não contemplava os interesses brasileiros e que se tal tratado fosse aprovado o cultivo de tabaco seria proibido36, também falava da importância da atividade para os agricultores e regiões fumicultoras e da impossibilidade de atividades produtivas alternativas. Já os atores da cadeia produtiva do tabaco favoráveis à ratificação, aproveitaram o novo elemento conjuntural para buscar maiores recursos, tanto financeiros como de legitimidade para fortalecer sua categoria social.

O que queremos ressaltar é que os atores da cadeia produtiva do tabaco, fossem eles favoráveis ou não à CQCT, contribuíram sobremaneira para a adoção da cláusula interpretativa aos artigos 17 e 18. Da mesma maneira foram muito importantes para a

36Veremos os elementos dos discursos da rede articulada pelas grandes transnacionais tabagistas no capítulo III.

criação do Programa Nacional de Diversificação de Áreas Cultivadas com Tabaco.

Para nós, foram os próprios atores da cadeia produtiva do tabaco e suas disputas que direcionaram a forma com que os parágrafos referentes a produção fumageira deveriam ser interpretados pelo Brasil. Nesse sentido, foram as disputas da Cadeia Produtiva do Tabaco que deram o norte à aprovação da cláusula interpretativa à ratificação da CQCT pelo Brasil. No mesmo sentido, a criação e no mínimo a fase inicial do processo de implementação da política de diversificação produtiva refletem as disputas e interesses da cadeia produtiva do tabaco. Da mesma maneira, a aproximação, por parte do Ministério do Desenvolvimento Agrário, de determinados atores, em detrimento à outros, reflete a identificação do mesmo no processo de disputas, como veremos no capítulo III e na conclusão da dissertação.

Por último, gostaríamos de ressaltar a existência de uma variação considerável entre os eixos de atuação propostos no documento interministerial ao qual o governo se compromete em desenvolver o programa de diversificação e as atividades realmente desenvolvidas. Ao considerarmos as quatro linhas às quais o governo se compromete em desenvolver com o programa de diversificação, vimos que somente as atividades previstas no segundo eixo, referente ao acesso à tecnologia e à assistência técnica vem sendo desenvolvidas. Notamos que, contrariamente ao compromisso inicial, o governo não conseguiu, até o momento, ter ações de financiamento, agregação de valor à produção local e comercialização, voltadas para a diversificação de áreas cultivadas com tabaco. Além disso, o MDA ainda não tem recursos específicos do PRONAF e do PAA voltados ao programa, compromisso assumido inicialmente pelo governo. Ademais, o MDA não conseguiu articular tais políticas com a diversificação de áreas cultivadas com tabaco, e, nem mesmo, tem o controle dos recursos que, por meio do PRONAF e o PAA contribuem para a diversificação produtiva de áreas cultivadas com tabaco.

Considerando tais elementos, no terceiro capítulo, abordaremos um breve histórico dos atores da Cadeia Produtiva do Tabaco e de suas disputas, posteriormente abordaremos os posicionamentos que os mesmos têm à respeito da CQCT, de seu processo de aprovação e da construção do Programa Nacional de Diversificação de Áreas Cultivadas com Tabaco. Com isto poderemos perceber as associações históricas entre os atores relacionados à produção de tabaco. Da mesma forma, poderemos perceber como se

deram as associações com o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Para além, ainda poderemos fazer uma reflexão a respeito da relação entre o posicionamento das diferentes associações de atores e do posicionamento de diferentes ministérios do governo. Por último, poderemos discernir sobre como a distribuição de recursos da política de diversificação produtiva influenciou os diferentes atores da cadeia produtiva, até mesmo, de diferentes associações de atores.

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