• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO VI CONCLUSÕES

1. Considerações finais

Este estudo teve como objetivo principal apontar caminhos para uma maior autonomia das OES em Portugal, procurando-se aferir que condições de reforço dessa autonomia poderiam atenuar o risco de desvio da missão.

A investigação iniciou com uma pequena provocação, a de que as boas intenções já não seriam suficientes para assegurar a manutenção e sobrevivência de uma OES e procurou- se compreender, através da análise de quatro organizações portuguesas com modelos de gestão diferentes, se e como é que a sua missão foi preservada.

A opinião e experiência dos líderes de cada uma dessas organizações permitiu ilustrar a pertinência das hipóteses formuladas para levar a cabo este estudo e reforçar, assim, a questão de partida, na medida em que todos foram unânimes em considerar a diversificação de financiamentos uma prioridade incontornável para garantir a autonomia; todos concordaram que quanto maior o foco de atuação, maior a eficácia e a identificação com a missão, embora ressalvando que o âmbito da intervenção pode ser alargado ou adaptado se o contexto em que a organização atua mudar; todos demonstraram levar a cabo uma estratégia inovadora como forma de assegurar a concretização da missão. Foi, igualmente, possível verificar que, ao contrário do que sugeria a hipótese 432, não é o vínculo institucional dos colaboradores que influencia o risco de desvio da missão, de forma isolada, mas sim associado a determinadas características do modelo de gestão da organização, como o estilo de liderança, o foco de atuação ou a dimensão da organização. E a transparência e a comunicação foram identificadas como premissas fundamentais para garantir a credibilidade, uma boa reputação e uma maior proximidade das partes interessadas por parte da organização. No âmbito desta última premissa, confirmaram também todos os entrevistados a pertinência da existência em Portugal de uma organização como a Fundación Lealtad em Espanha.

A análise dessa organização permitiu concluir que faria sentido a replicação do modelo em Portugal, devidamente adaptado ao contexto nacional, uma vez que poderia contribuir para reforçar a autonomia das OES e preservar a sua missão.

As organizações analisadas revelaram, ainda, ter sido capazes de manter a fidelidade à sua missão, apesar dos desafios que foram surgindo ao longo da sua existência, e, para isso, contribuíram as condições de reforço da autonomia das OES contempladas nesta investigação.

32

Um exemplo de que o estudo de caso pode ser imparcial e desmantelar as noções pré-concebidas durante a investigação, tal como preconizado por Flyvbjerg. (Flyvbjerg, 2006, p. 237)

66

Acrescente-se, ainda, que o facto das quatro organizações terem em comum serem o resultado de um esforço de auto-organização da sociedade civil para dar resposta a um determinado problema, aparenta ter concorrido também para a manutenção da missão das mesmas.

Importa também referir que a autonomia das OES deverá ser uma preocupação e exigência constantes e não apenas em épocas de crise económica e financeira, pois a permanência da organização poderá ser colocada em causa, não só pela escassez de financiamento, mas também pela ausência de uma equipa competente, de uma missão clara, de uma atuação transparente, de envolvimento com as partes interessadas, de uma estratégia inteligente. Em suma, o risco de perderem autonomia e serem forçadas a desviar-se da missão é uma evidente ameaça à sobrevivência das OES.

Em jeito de conclusão, refira-se que foi possível aferir que nenhuma das dimensões do modelo de gestão consideradas neste estudo assume uma maior preponderância relativamente às outras, uma vez que se complementam, pois todas convergem para a autonomia do modelo. Ou seja, todas as dimensões contribuem para a preservação da missão das organizações, resultando na manutenção da confiança das partes interessadas, no reforço da credibilidade das instituições, no fortalecimento da eficácia e eficiência das organizações no desenvolvimento do seu trabalho, antecipação de dificuldades e desafios, e num maior envolvimento da sociedade civil na resolução de problemas que lhes são comuns.

Refira-se, ainda, que embora as conclusões específicas obtidas para os casos analisados neste estudo não possam ser generalizadas a todas as OES portuguesas, uma vez que seria necessário ter em conta variáveis como as características do modelo de gestão, o objetivo, o cenário em que foram criadas e o contexto em que atuam, será seguro afirmar que a análise das OES selecionadas constituiu uma verdadeira aprendizagem e que o seu exemplo permitiu reforçar e corroborar as hipóteses formuladas para responder à questão de partida. Confirma-se, assim, a boa escolha das organizações - pela sua tipologia heterogénea, pelas particularidades que caracterizam o seu modelo de gestão, pelo impacto da sua atuação - para a qual se considera ter concorrido, também, a experiência profissional da investigadora. Isto, porque, observa-se que esse percurso dotou-a de conhecimento e sensibilidade suficientes para compreender a razão pela qual as organizações selecionadas se destacam e o interesse em estudá-las de forma mais aprofundada, na certeza de que o exemplo das mesmas poderia ser um importante contributo para o universo da Economia Social em Portugal. Acredita-se, por isso, que essas organizações, bem como a vasta experiência dos entrevistados poderão

67

constituir verdadeiras fontes de conhecimento na área em que se inserem, tal como preconizado por Bent Flyvberg. Sobre isto, o autor acrescentou, ainda:

“That knowledge cannot be formally generalized does not mean that it cannot enter into the collective process of knowledge accumulation in a given field or in a society.” (Flyvbjerg, 2006, p. 227) Citado pelo mesmo autor, Hans Eysenck afirmou também que é necessário prestar atenção aos casos individuais, não com o objetivo de provar algo, mas de aprender alguma coisa. (Flyvbjerg, 2006, p. 224)

Nesse sentido, não se pode deixar de afirmar que este estudo foi, certamente, uma oportunidade de aprendizagem e que a perspetiva dos entrevistados, bem como a análise das organizações, permitiram, não só responder à questão de partida, mas também demonstrar que as boas intenções não são sempre suficientes, mas são fundamentais para alavancar e manter o projeto de uma OES ou não tivessem estas por base o princípio da reciprocidade.

Documentos relacionados