• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO VI CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

VI. 6.0 Considerações Finais

Os microrganismos cada vez mais vêm sendo utilizados na área da biotecnologia industrial. Os processos de biodegradação, em particular a biorremediação, integrados à microbiologia e aplicados à biotecnologia provavelmente serão um dos grandes progressos de pesquisas nos próximos anos, principalmente quando aliados aos bioestimuladores naturais.

São de grande interesse da indústria do petróleo o desenvolvimento de técnicas e bioprodutos que ajudem na recuperação de áreas afetadas pelos danos causados por esse combustível fóssil.

Buscando conhecer a eficiência de microrganismos e aditivos naturais como estimulantes na aceleração da degradação do óleo total em sedimento de manguezal, esta pesquisa baseada em estudos já realizados internacionalmente, obteve resultados satisfatórios e promissores, os quais provavelmente melhorarão as técnicas aplicadas na recuperação de áreas contaminadas com óleo.

O sedimento utilizado no presente experimento, coletado nas proximidades do rio São Paulo, São Francisco do Conde-Bahia, apresentou características com predominância de areia muito fina, do tipo polimodal e moderadamente selecionada, com textura classificada como areia lamosa. Em relação aos parâmetros biogeoquímicos, os resultados se encontraram dentro dos padrões necessários para os processos de biorremediação.

A metodologia desenvolvida para fracionamento do óleo da bacia do Recôncavo e bacia de Campos se mostrou bastante eficiente na separação das principais frações do óleo (saturados, aromáticos e NSO). O método a vácuo em coluna cromatográfica aberta nos permitiu que fossem obtidas frações puras com maior eficiência e rapidez.

No presente trabalho foram realizados 3 experimentos. Em relação aos resultados obtidos no experimento 1, o monitoramento geoquímico mostrou que ao longo de 30 dias houve degradação dos n-alcanos o que não pôde ser observado nas demais frações do óleo da bacia do Recôncavo. Os parâmetros físico-químicos e químicos foram favoráveis para o processo de biodegradação. Os dados toxicológicos mostraram que a contaminação do

sedimento com cerca de 1% das frações de óleo (saturados, aromáticos e NSO) da BC e BR, não apresentaram efeitos letais ao copépodo T. biminiensis.

Os resultados microbiológicos demonstraram que os fungos estão presentes no sedimento e que provavelmente se adaptaram mais rapidamente à fração de saturados, já que a maior quantidade de UFC foi encontrada na unidade de simulação contaminada com esses hidrocarbonetos mais leves.

Em relação aos resultados obtidos com o isolamento dos fungos, foi possível observar que no total foram isoladas 72 fungos, sendo que a menor quantidade de isolados foi obtida da unidade de simulação contaminada com fração de saturados. Integrando os dados de quantificação com o de isolamento foi possível concluir que apesar da unidade de simulação com saturados ter apresentado maior quantidade de células, apresentou também menor diversidade de fungos.

Com os dois testes de oxidação, utilizando o indicador DCPIP, foi possível selecionar fungos com potencialidade para degradar as três principais frações do óleo da bacia do Recôncavo e do óleo da bacia de Campos. Foi possível observar que fungos isolados do sedimento limpo foram capazes de oxidar as três frações dos dois tipos de óleo. Também foi possível concluir que alguns isolados oxidam mais rapidamente e com maior eficiência do que outros.

Os resultados do crescimento radial dos fungos selecionados demonstrou que os fungos são classificados como de crescimento lento, médio e rápido, e que a depender do tipo do meio de cultivo, a velocidade do seu crescimento pode variar. A velocidade do crescimento das colônias não está atrelado à rapidez na oxidação dos compostos orgânicos. As maiores médias de crescimento radial ocorreram quando cultivados com o meio 2. Os fungos cultivados no meio 1 mais fração apresentaram variação maior entre valores máximos e mínimos para crescimento e maior velocidade de crescimento radial (VCRs).

O teste de antagonismo mostrou que alguns fungos podem conviver de forma harmônica e que outros podem inibir o crescimento, gerando assim uma forma de competição. Para os fungos isolados e selecionados com potencialidade em degradar o óleo da bacia do Recôncavo, dos 16 isolados capazes de degradar a fração de saturados apenas 1 apresentou ação

antagônica. Para a fração de aromáticos, cinco apresentaram ação similar e nove cresceram de forma harmônica. Já para a fração de NSO foram 16 isolados, onde três apresentaram ação antagônica, enquanto 13 não apresentaram atividade antagônica entre si.

No teste de confrontação direta para as frações do óleo da bacia de Campos, dos fungos isolados e selecionados com potencialidade em degradar fração de saturados, 3 fungos apresentaram atividade antagônica. Para a fração de aromáticos, seis apresentaram ação antagônica e oito cresceram de forma harmônica. E para a fração de NSO seis apresentaram ação antagônica enquanto 17 não apresentaram atividades antagônicas entre si. De forma geral, a maioria dos fungos, é capaz de viver de forma harmônica.

O consórcio 1 (com potencialidade para degradar o óleo da bacia do Recôncavo) foi composto por 29 fungos; e o consórcio 2 (com potencialidade para degradar o óleo da bacia de Campos), por 28 fungos. Os consórcios são compostos por fungos que apresentaram teste de oxidação das frações dos óleos estudados acima de 50%, teste de antagonismo negativo e por fungos que têm os três tipos de velocidade de crescimento radial (lento, médio e rápido). Quanto à imobilização dos consórcios, visivelmente a imobilização a base de fibra de coco se mostrou mais eficaz que a imobilização a base de folha.

Com os resultados do microcultivo, foi possível observar que entre os isolados alguns apresentam estruturas potencialmente similares, e típicas de gêneros dos fungos Aspergillus e Penicillium, já conhecidos por suas potencialidades em degradar hidrocarbonetos do petróleo, e que ainda são largamente utilizados em processos de biorremediação.

A aplicação dos consórcios imobilizados com potencialidade em degradar os dois tipos de óleo estudados (experimento 2) em condições laboratoriais, apresentou resultados promissores para o entendimento do processo de biorremediação em sedimentos de manguezal.

Os resultados do monitoramento químico e físico-químico se mostraram dentro dos padrões necessários para a ocorrência do processo de biorremediação. Em relação ao processo de bioestimulação utilizando a fibra de coco e folha de manguezal em pó imobilizada, não foi possível observar uma diferença significativa na eficiência em relação à liberação de nutrientes.

Em contrapartida, pôde ser observado que de alguma forma foram mantidos os teores de nutrientes adequados ao longo de 90 dias de experimento, o que não ocorreria se não tivesse sido adicionado nenhum tipo de aditivo nutricional.

Em relação ao bioaumento foi possível observar aceleração na biodegradação em relação ao controle, no qual foi observada a atenuação natural. Os microrganismos provavelmente seguem a mesma rota metabólica, mesmo que em unidades de simulação diferentes.

A partir da visualização dos cromatogramas referentes ao óleo total, foi possível observar que o óleo da bacia do Recôncavo sofreu uma modificação no perfil ao longo dos 90 dias. Houve redução dos n-alcanos mais leves com aumento da linha de base, mostrando que também ocorreu degradação das frações mais pesadas.

Os cromatogramas que mostram a modificação do perfil do óleo da bacia de Campos levam à conclusão que os fungos contidos no consórcio têm a habilidade de reduzir os hidrocarbonetos saturados (n-alcanos), mas parecem ter maior habilidade em degradar os compostos aromáticos e NSO.

Em relação à razão Pristano/Fitano, pôde ser observado que houve uma diminuição ao longo de 90 dias. Isso comprova a degradação nos dois tipos de

óleo. O aumento da razão P/nC17 e F/nC18 e a diminuição na razão HTP/UCM

também foram uma indicação da ação de microrganismos no petróleo.

Os dados obtidos para o experimento em um protótipo de biorreator apresentou melhores resultados quando comparado ao experimento 2. A redução de n-alcanos do óleo da bacia do Recôncavo foi bem mais expressiva.

As razões Pristano/Fitano, P/nC17, F/nC18 e HTP/UCM também foram indicações

da ação de microrganismos no petróleo. Isso mostra que sedimentos

contaminados, quando tratados em locais confinados, os resultados tendem a

ser melhores. Os parâmetros químicos se encontraram dentro do padrão. Em

relação ao parâmetro microbiológico, apesar de ter ocorrido contaminação por bactérias, foi possível observar que nos protótipos de biorreatores a presença de bactérias foi mais bem controlada quando comparada aos resultados encontrados no experimento 2.

Os resultados, no geral, apontam que os consórcios fúngicos são promissores para o processo de biorremediação, sendo necessário ainda uma maior atenção para a interação entre os fungos.