• Nenhum resultado encontrado

A cooperação para o desenvolvimento tem-se revelado uma área fundamental para o estabelecimento de relações entre o Norte e o Sul, numa perspetiva global direcionada para a redução da pobreza e das desigualdades entre povos. Prova disso foi a assinatura, em Setembro de 2000 pelos membros das Nações Unidas, da Declaração do Milénio no qual foi acordado o compromisso de alcançar os objetivos de desenvolvimento internacional até 2015. Apesar de terem merecido real destaque, essencialmente na viragem do século, as questões da cooperação e do desenvolvimento já têm indícios, de certa forma, remotos, principalmente no que remete a este último, como nos foi possível constatar no I Capítulo desta investigação, apesar das diferenças de abordagem a que foi sendo sujeito no percorrer dos anos.

Em Portugal, a cooperação para o desenvolvimento tem merecido um lugar de destaque, uma vez que se enquadra nas prioridades da política externa portuguesa que, não obstante as dificuldades sentidas, mais concretamente ao nível económico- financeiro, tem tentado reunir esforços numa ótica direcionada para o cumprimento dos compromissos assumidos internacionalmente. No entanto, esta tarefa não se tem revelado fácil, havendo ainda um longo caminho a percorrer para os alcançar.

Neste âmbito, o IPAD tem assumido um papel fulcral no sentido em que acompanha e assegura a articulação da posição portuguesa no campo internacional, procedendo à supervisão, direção e coordenação da política de cooperação e da APD, com o objetivo de fortalecer as relações externas de Portugal, de promover o desenvolvimento económico, social e cultural dos países beneficiários da ajuda, com especial realce para os PALOP, bem como melhorar das condições de vida das populações. Efetua, ainda, o planeamento, programação e acompanhamento da execução, avaliando os resultados dos programas e projetos de cooperação e da APD realizados pelos vários organismos do Estado implicados. Assim, a atuação da cooperação portuguesa para o desenvolvimento tem-se concentrado, maioritariamente nos países mais pobres, sendo as Infra-Estruturas e Serviços Sociais, os sectores que têm recebido uma percentagem mais elevada de APD bilateral: 66,2%, na qual se inclui a educação, com um apoio de cerca de 28%.

A educação constitui, sem dúvida, uma prioridade da cooperação portuguesa, uma vez que é encarada como uma área estratégica para se alcançar o desenvolvimento

151 dos países beneficiários. Tal é comprovado pela implementação dos projetos de cooperação que foram alvo de análise no nosso estudo: o PASEG, a FEC, a FDB e o IC, no contexto da Guiné-Bissau.

Através da investigação realizada, foi possível concluir que os esforços da cooperação do Estado português, no que tange ao sector da educação, no território guineense, têm sido significativos e têm contribuído para a melhoria da qualidade do sistema educativo guineense. No entanto, os resultados obtidos permitem constatar a permanência de muitas lacunas que têm colocado em causa o verdadeiro sucesso da cooperação. Essas lacunas relacionam-se, essencialmente, com os problemas existentes ao nível da própria situação interna do país, bem como na forma como é efetuado o desempenho dos projetos da cooperação portuguesa no terreno.

Quanto ao primeiro, salienta-se o nível de instabilidade política presente na Guiné-Bissau, que acaba por interferir com todos os outros domínios, como o económico, social e cultural. Este fator tem um peso elevado quando se tem em conta a concretização dos projetos – o projeto do PASEG acabou por se retirar da Guiné-Bissau no decorrer da nossa investigação, no final deste ano 2012, devido aos acontecimento de 12 de Abril, e na consequência da não legitimação do Governo vigente. Para além disso, em consequência do percurso histórico guineense, marcado pela existência de alguns conflitos, nomeadamente a guerra de libertação nacional e, mais recentemente, o conflito político-militar de 1998/99, a Guiné-Bissau encontra-se numa situação muito frágil relativamente à existência de infra-estruturas capazes de assegurar o bom funcionamento das instituições, no caso particular, dos estabelecimentos de ensino. A escassez de meios materiais e humanos tem afetado duramente o sector educativo guineense.

Relativamente ao segundo, importante será mencionar a variedade de natureza dos projetos implementados. Tal significa que não podem ser analisados de um modo comum, uma vez que os meios e áreas de intervenção, bem como o público-alvo são distintos entre si. Apesar de se ter procedido, através do método de recolha de informação de inquérito por questionário, a uma análise geral acerca da opinião dos beneficiários da cooperação portuguesa, temos consciência que a informação recolhida é extremamente abstrata, na medida em que não nos proporciona a visão específica dos beneficiários relativamente a um projeto em concreto. Contudo, contribuiu para que se esclarecesse um pouco as perceções e perspetiva dos mesmos no que se refere ao trabalho geral desenvolvido pela cooperação na RGB. Neste sentido, após a análise dos

152 resultados obtidos dos inquéritos, concluiu-se que a esmagadora maioria dos inquiridos considera o trabalho da cooperação portuguesa positivo e importante para o sistema educativo guineense. No entanto, depreendeu-se que, no que se refere ao contributo da mesma para o desenvolvimento do sistema educativo, é necessário haver um empenhamento maior no terreno, uma vez que os inquiridos caracterizam o trabalho desenvolvido como razoável. Para além disso, foram apontadas algumas críticas à cooperação portuguesa, nomeadamente na última questão colocada, em que são apresentados os fatores de sucesso e insucesso a atuação portuguesa.

Já no que toca ao outro método de recolha de informação utilizado, o inquérito por entrevista, pudemos concluir que este contribuiu para a compreensão da atuação específica de cada um dos projetos, graças aos testemunhos cedidos pelas entidades responsáveis pelos mesmos, no terreno, possibilitando um conhecimento mais próximo do seu trabalho na realidade na qual intervêm. Através deles, foi possível perceber os seus objetivos concretos, as dificuldades sentidas aquando da atuação dos projetos e os principais resultados atingidos até ao momento.

De um modo geral, poder-se-á dizer que os esforços realizados pela política de cooperação para o desenvolvimento do Estado Português, na área da educação, no contexto da Guiné-Bissau, têm sido positivos e têm trazido benefícios para o sistema educativo guineense. No entanto, prevalecem, ainda, muitas dificuldades em obter resultados visíveis para o desenvolvimento geral da Guiné-Bissau. O sistema educativo tem vindo a ser melhorado, nomeadamente através da formação que é dada aos professores guineenses e o respetivo cuidado em criar sustentabilidade nas ações, como é o caso, por exemplo do PASEG, que tem apostado na formação de formadores, de modo a criar um efeito multiplicador. O projeto da Faculdade de Direito de Bissau tem demonstrado ser, também, um projeto bastante gratificante, na medida em que investe na criação de quadros-chave para a RGB. A FEC, empenhada na integração de recursos humanos guineenses nos processos desenvolvidos, tem, igualmente, mostrado ser capaz de contribuir para a melhoria das condições, ao nível educativo, na Guiné-Bissau. O mesmo poderia ser dito do IC, relativamente, por exemplo, ao contributo que este tem dado ao Ensino Superior guineense.

Não obstante, subsistem problemas relacionados com forma como a cooperação é efetuada. A questão da língua tem sido um dos maiores problemas no ensino guineense, uma vez que o escasso uso da língua portuguesa tem representado obstáculos, principalmente nas instituições de ensino e nas questões de

153 ensino/aprendizagem. O que se verifica, é que não tem havido um cuidado especial por parte da cooperação portuguesa em compreender melhor o contexto social guineense, dando a sensação, por vezes, que se dá mais atenção ao reforço da Língua Portuguesa, em detrimento da cooperação. A verdade é que o sistema educativo guineense ainda se encontra muito debilitado, mesmo com o apoio dos projetos de cooperação postos em prática durante a última década. Muito tem sido feito no sentido de melhorar a sua qualidade, mas há, ainda, muito mais para fazer.

A cooperação é uma área sensível que requer a acumulação de esforços tanto da parte dos doadores como dos beneficiários, com o objetivo de ambos poderem caminhar juntos no sentido do desenvolvimento.

154

Fontes

BANCO MUNDIAL, Relatório sobre o desenvolvimento mundial, 1991. FDB, Guia da Faculdade de Direito de Bissau, 2ª ed. Bissau, 2006. FEC, Plano Estratégico 2010-2015. Moscavide: FEC, 2010.

FEC, Projeto Bambaram di Mindjer – Resumo do Relatório de Avaliação (Ano 1- 2009- 2010). Bissau: FEC, 2010.

FEC, Projeto +Escola (2007-2009) - Relatório de Avaliação Final. Bissau: FEC, 2009. FEC, Projeto Djunta Mon - Relatório de Avaliação Intercalar – Ano 2 (2010/1011). Bissau: FEC, 2011.

FEC, Relatório de atividades 2011. Moscavide: FEC, 2011.

FMI, Guiné-Bissau – Segundo Documento de Estratégia Nacional de Redução da Pobreza (DENARP II 2011-2015). Bissau: 2011.

Instituto Camões, Relatório de Atividades do IC, IP, 2011. Lisboa: MNE/IC,IP, 2011. IPAD, A cooperação portuguesa 2005-2010. Lisboa: IPAD, 2011.

IPAD, Estratégia Portuguesa de Cooperação Multilateral, [s. l.], [s. d.].

IPAD, Programa Indicativo de Cooperação (PIC) – Guiné-Bissau (2008-2010). Lisboa: IPAD, 2008.

IPAD, Uma leitura dos últimos quinze anos de cooperação para o desenvolvimento (1996-2010). Lisboa: IPAD, 2011.

IPAD, Uma visão estratégica para a cooperação portuguesa. Lisboa: IPAD, 2006. MEN, Plano Nacional de Ação - Educação para Todos (EPT). Bissau: MEN, 2003. MENCCJD, “Lei de Bases do Sistema Educativo”, in Suplemento ao Boletim Oficial da República da Guiné-Bissau, nº13, capítulo I, artigo 1º, Março de 2011.

155