• Nenhum resultado encontrado

O sistema educativo guineense e os projetos de cooperação portugueses

3.1 Descrição do sistema educativo guineense e os entraves ao seu bom funcionamento

3.2.4 Instituto Camões (IC, IP)

O Instituto Camões, IP caracteriza-se por ser um instituto público integrado na administração indireta do Estado, dotado de autonomia administrativa e financeira e património próprio, conforme a sua Lei Orgânica, do nº 1 do artº 1º do Decreto-Lei nº 119/2007 de 27 de Abril. A sua missão fundamental é propor e executar a política de ensino e divulgação da língua e cultura portuguesas no estrangeiro, por intermédio da “rede externa do Ministério dos Negócios Estrangeiros, dos centros culturais portugueses e da rede de ensino português no estrangeiro, em coordenação com outros departamentos governamentais (…) tendo ainda como missão promover o português como língua internacional bem como valorizar o posicionamento de Portugal no mundo, através da negociação de acordos culturais e programas de cooperação.”269 Quanto à sua rede externa, o IC, IP gere uma rede de 62 Centros de Língua Portuguesa (CLP), 32 Cátedras, 10 Estruturas de Coordenação de Ensino e 19 Centros e Pólos Culturais, assegurando o ensino da língua portuguesa em 69 países.

No que se refere ao contexto guineense, que é o que tem relevância para esta investigação, salienta-se o Centro de Língua Portuguesa-Instituto Camões (CLP-IC). Este encontra-se inserido na Escola Superior de Educação (ESE) – Unidade Tchico-Té, em Bissau, inaugurado a 8 de Fevereiro de 2002, e resulta do Protocolo de Cooperação realizado entre o Instituto Camões e o Ministério da Educação Nacional da RGB, que define como objetivos centrais “a consolidação das relações existentes entre as duas entidades, o reforço do Departamento de Língua Portuguesa da ESE – Unidade Tchico- Té, a criação da Licenciatura em Língua Portuguesa e a promoção de condições

267

FDB, Guia da Faculdade de Direito de Bissau, 2ª ed. Bissau, 2006, p. 25.

268

Anexo IV – Protocolo entre o IPAD e a FDUL para o financiamento do projeto de cooperação com a FDB.

269

128 conducentes ao reforço da formação científica e pedagógica do quadro de docentes dos ensinos secundário e superior.”270

Neste sentido, o CLP-IC atua em duas áreas essenciais: a formação inicial de professores de língua portuguesa e a formação contínua, também de professores de língua portuguesa. No que respeita à formação inicial, esta relaciona-se com a licenciatura em LP, criada na Escola Normal Superior Tchico-Té (ver Anexo V271) e que recebe o apoio do IC. Convém reforçar a ideia de que a licenciatura não é uma criação do IC, mas sim da Tchico-Té, pois esta situação é confundida pela comunidade académica guineense que, em muitos casos, fomenta a ideia de que a licenciatura é do IC. Na verdade, o IC apenas exerce apoio sobre a mesma a diversos níveis, nomeadamente na atribuição de um subsídio aos professores que lecionam nessa licenciatura, com o intuito de promover motivação e exigência nos docentes. Tal, faz com que os professores, em caso de existência de greves no ensino, não participem nelas, já que não têm motivos para reivindicar as condições da sua atividade, principalmente no que toca às questões dos salários, que são pagos atempadamente.

Relativamente à formação contínua, destinada a professores do Ensino Básico e Secundário, enquadra-se no Programa de Formação Contínua que conta com a coordenação, pela parte do IC, da docente Dr.ª Maria Leonor Santos e, pela parte do Ministério da Educação da Guiné-Bissau, do docente Dr. Domingos Gomes. Trata-se de um projeto que oferece um curso de língua portuguesa que é desenvolvido em 3 anos (composto por 10 módulos, em que cada um é lecionado num mês, o que perfaz um total de 10 meses). Para além de contar com a coordenação dos dois docentes referidos, conta também com a colaboração de doze formadores que se encontram distribuídos pelas várias Unidades de Apoio pedagógico/Pólos de Língua Portuguesa: Bissau, Catió, Bafatá, Gabú, Bolama, Quinhamel, Canchungo, Mansoa, Ingoré, Bubaque, Quinara e Buba. Este projeto destina-se, fundamentalmente a professores que não tinham/têm formação suficiente, ou mesmo nenhuma, pelo que dele beneficiam cerca de 1768 professores do Ensino Básico. Importante é realçar que a maioria dos formadores, à exceção da Drª Leonor Santos, são todos de nacionalidade guineense, que recebem, anualmente, uma formação no âmbito da supervisão pedagógica.

270

Camões – Instituto da cooperação e da Língua, Centro de Língua Portuguesa em Bissau. Texto disponível em

URL:WWW .http://www.instituto-camoes.pt/lingua-e-ensino/2012-09-07-15-36-13/centros-de-lingua- portuguesa/guine-bissau. Consultado a: 28-07-12.

271

Anexo V – Plano de estudos e objetivos da Licenciatura em Língua Portuguesa (Departamento de Língua Portuguesa da ESE – Unidade Tchico-Té).

129 Através do CLP-IC são também ministrados cursos de Português Língua Estrangeira (PLE) e Cursos de Português por Objetivos Específicos que têm como destinatários técnicos e funcionários de instituições e organismos guineenses.

Para além destas atividades, o CLP-IC de Bissau dispõe de um Centro de Recursos e Oficina de Trabalho destinados aos docentes e alunos dos cursos de língua portuguesa, que é composto por instrumentos básicos para o conhecimento e prática comunicativa da língua e de material bibliográfico especializado nas áreas da Linguística e da Didática da Língua, a par de obras marcantes de História, Cultura e Literatura Lusófonas.

E assim concluímos a apresentação dos projetos de cooperação para o desenvolvimento implementados pelo Estado português, na área da educação, na Guiné- Bissau. Apesar de não se ter procedido a uma análise exaustiva dos mesmos, foram apresentadas as principais linhas de atuação que os definem, com o intuito de dar a conhecer a influência de cada um no sistema educativo guineense. Como foi possível observar, são projetos que se caracterizam por serem distintos entre si no que respeita aos objetivos, às prioridades, aos públicos-alvo, entre outros indicadores. Assim, podemos concluir que o PASEG e a FEC se encontram, de certa forma, na mesma linha de atuação, na medida em que colocam a tónica das suas intervenções na área da formação, embora o façam em contextos diferentes: enquanto o PASEG se direciona para o Pré-Escolar, Ensino Básico, Secundário e Superior (com enfoque para o Básico e o Secundário) das escolas públicas e das regiões mais urbanas, nomeadamente Bissau (apesar de ter passado a atuar, na 2ª fase do programa, também as regiões de Bolama, Gabú, Cacheu e Bafatá); a FEC dirige-se essencialmente para o Pré-Escolar e Educação Básica, das escolas comunitárias, privadas e de auto-gestão, e das regiões do interior da Guiné-Bissau.

Numa outra perspetiva enquadra-se a cooperação da FDUL com a FDB, desde logo porque se trata de uma cooperação apenas ao nível do Ensino Superior. Para além disso, a intervenção é efetuada com base na atribuição de bolsas aos docentes que exercem a sua profissão na FDB, bem como na atribuição de bolsas de estudo para que estes possam aprofundar os seus conhecimentos académicos, melhorando, por conseguinte, a qualidade dos quadros docentes e o ensino da própria faculdade.

130 Finalmente, o IC, IP, estabelece uma cooperação mais concretamente direcionada para a vertente da divulgação e promoção da língua portuguesa no sistema educativo guineense, fundamentalmente através do apoio que fornece na licenciatura em L. P. da Escola Normal Superior Tchico-Té.