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O sistema educativo guineense e os projetos de cooperação portugueses

3.1 Descrição do sistema educativo guineense e os entraves ao seu bom funcionamento

3.2.1 Programa de Apoio ao Sistema Educativo Guineense (PASEG)

O Programa de Apoio ao Sistema Educativo na Guiné-Bissau é o projeto de cooperação mais importante implementado pelo Estado português, no sector da educação, financiado a 100% pelo IPAD e com o apoio científico-pedagógico da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (ESE-IPVC). Fundado desde 2000/2001, foi alvo de alguns ajustamentos no percorrer dos anos até à atualidade, devido a avaliações que foram feitas, tendo sido reestruturado a partir de 2009. Assim, podemos falar em PASEG I (2000/01 – 2008) e PASEG II (2009/10 - até ao presente).

Inicialmente, na primeira fase, o PASEG visava minimizar as carências do sistema educativo guineense, principalmente ao nível de recursos humanos, através do envio e colocação de professores portugueses nas escolas, uma vez que o número de docentes guineenses qualificados era (e ainda é) bastante reduzido. Estes professores desenvolviam atividades de docência no Ensino Básico e Secundário (português, matemática, filosofia, físico-química, biologia), prestando, simultaneamente, apoio na administração e gestão escolar. Para além de fortalecer o ensino da língua portuguesa,

117 esta fase incluiu o apoio ao nível de material bibliográfico e didático, a reestruturação curricular, a reabilitação de infra-estruturas e alguma formação de professores do ensino básico por meio de cursos intensivos ou de longa duração. Os centros de recursos criados em 2001/02, mais especificamente as oficinas de língua portuguesa (OfLP), foram outras das atividades desenvolvidas – trata-se de espaços físicos cedidos pelos estabelecimentos de ensino que, através de uma recuperação física com o apoio do PASEG, foram apetrechados por uma variedade de equipamentos, como computadores e livros e são utilizados para o desenvolvimento de atividades extra-curriculares e para fortalecer o português.249

Estes primeiros anos de atuação do programa revelaram-se pouco frutuosos, com escassos impactos no sistema educativo guineense, não se tendo registado uma melhoria significativa tanto ao nível das competências linguísticas (aperfeiçoamento da língua portuguesa), como ao nível da atualização pedagógica dos professores guineenses. Neste sentido, e de modo a otimizar o apoio pedagógico aos professores, foram desenvolvidos, em 2006/2007, os Grupos de Acompanhamento Pedagógico (GAP) e os Cursos de Aperfeiçoamento do Português (CAP), com metodologia de formação nas escolas e desenvolvimento profissional através da partilha e discussão de experiências entre pares250. O número de professores portugueses presentes no terreno foi aumentando desde o início do programa, em que foram recrutados 10 professores, até 2007, que contava já com a presença de 39. Neste mesmo ano letivo, 2007/08, procedeu-se à revisão do quadro de objetos e metodologias utilizadas, que obrigou a realização de alterações no funcionamento do programa e que deu origem à criação da 2ª fase do mesmo – o PASEG II.

A grande mudança registada nesta nova fase relacionou-se com o abandono do método da lecionação direta nas escolas guineenses por parte de professores portugueses e na aposta na formação de quadros docentes guineenses em parceria com o MEN. Por outro lado, o PASEG II expandiu o seu campo de intervenção para outras zonas do país para além de Bissau, passando a abranger também Bolama, Gabú, Cacheu e Bafatá. De referir, ainda, que o programa opera apenas nas escolas públicas.

249

IPAD, Cooperação Portuguesa – Uma leitura dos últimos quinze anos de cooperação para o

desenvolvimento (1996-2010), op. cit., p. 326. 250

118 A metodologia de formação contínua dos GAP e CAP foi mantida e melhorada pela introdução da observação de aulas e supervisão pedagógica sistemática251. O ensino pré-escolar e o ensino básico são os níveis prioritários, tendo em conta que concentram mais recursos em assistência técnica e formação, com o intuito de apoiar uma estratégia de acesso rápido à língua de ensino que possa melhorar o desempenho dos professores e alunos no processo ensino-aprendizagem ao longo do sistema de ensino252.

Com base no quadro lógico do PASEG II (ver Anexo II253), e através do Quadro 9, podemos verificar que os objetivos gerais e específicos do programa são:

Quadro 9 Objetivos do PASEG II

Objetivos Gerais

Contribuir para a qualidade e relevância da educação na Guiné-Bissau, no quadro do plano sectorial e das políticas de desenvolvimento.

Promover o acesso e o uso da língua portuguesa pela comunidade educativa.

Objetivos Específicos

Melhorar a qualidade da formação inicial de professores nas quatro unidades que integram a Escola Superior de Educação.

Melhorar a cobertura e qualidade da Educação de Infância e do Ensino Pré- Escolar.

Melhorar a qualidade do Ensino Básico e do Ensino Secundário através da formação contínua de professores.

Promover e apoiar os processos de revisão curricular para a relevância da educação no contexto das políticas de desenvolvimento nacionais.

Reforçar o papel das Direções de Escola na promoção da qualidade da escola e da educação.

Melhorar a capacidade dos Núcleos de Alfabetização e promover a Pós- Alfabetização.

Promover a Educação para a Cidadania e a integração sistemática no sistema educativo dos temas de impacto transversal no desenvolvimento.

Promover e apoiar a implantação de reformas no contexto do planeamento sectorial da Educação.

Apoiar a coordenação da cooperação portuguesa no sector da educação e potenciar a integração de outros parceiros no programa.

Fonte: Adaptado a partir do Quadro Lógico do PASEG II (Anexo II)

Como podemos concluir através da análise do Quadro 9, o campo de intervenção do PASEG é extremamente abrangente, tanto no que corresponde aos níveis de ensino que engloba, como nas atividades implementadas. Deste modo, e como não é possível analisar ao pormenor todos os campos de ação do programa devido à sua extensão, 251 Idem, p. 328. 252 Idem, p. 329. 253

119 aconselhamos a observação do quadro lógico do mesmo, disponível no Anexo II, já que proporciona uma visão mais detalhada acerca das atividades desenvolvidas, dos resultados esperados, bem como de outros indicadores.

No entanto, sob um ponto de vista geral, é possível enumerar resumidamente algumas das principais atividades:

 Formação inicial e contínua de professores do Ensino Básico e do Secundário;

 Desenvolvimento da Educação Pré-escolar, incluindo formação de auxiliares e educadores, para o reforço do acesso precoce à língua veicular de ensino;

 Desenvolvimento de capacidades nas direções de escola – administração e gestão escolar - para melhorar a qualidade e inovação na educação;  Integração de conteúdos de Educação para a Cidadania e reforço dos

princípios de igualdade de género e outros direitos individuais e coletivos, nos valores veiculados pelo sistema educativo;

 Desenvolvimento de capacidades para a reforma educativa com vista a uma melhor adequação às necessidades do desenvolvimento254;

Atualmente, estão presentes no território guineense a exercer funções na área da formação, 29 agentes de cooperação portugueses – uma coordenadora geral; duas coordenadoras pedagógicas, uma para o Ensino Básico e outra para o Ensino Secundário; e os agentes de cooperação que, como já foi referido, não lecionam diretamente nas escolas, sendo as suas funções direcionadas para a capacitação dos professores guineenses.

Quanto aos beneficiários deste programa, destacamos, de uma forma direta, os professores e formadores do ensino básico e secundário, educadores de infância, direções de escola, alfabetizadores e outros formadores. O programa abrange cerca de 1000 agentes educativos em formação inicial e contínua em cada ano letivo, assegurando, ao mesmo tempo, a formação de pares de formadores guineenses, dos quadros das escolas beneficiárias255. De um modo indireto salientam-se os alunos e o sistema educativo guineense em geral.

254

Idem, p. 328.

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