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O Descarte de Medicamentos no Brasil: um olhar socioeconômico e ambiental do lixo farmacêutico

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Frente aos aspectos apresentados, está plenamente evidenciado que, a sociedade não pode acreditar que a natureza, por si mesma, se arranjará frente a todas as degradações às quais o homem a impõe, cabendo a cada um o dever de atuar de forma a minimizar os danos ao meio ambiente.

No Brasil, todos os anos o mercado de medicamentos movimenta bilhões de reais, contu-do, essa produção de medicamentos muitas vezes provoca um grande acúmulo de resídu-os sólidresídu-os, ocasionadresídu-os pelo descarte incorreto dresídu-os medicamentresídu-os, que permanecem no ambiente por longos períodos, acarretando sérios riscos socioeconômicos e ambientais. Dentre os riscos apresentados pelo descarte incorreto de medicamentos, destacam-se: a contaminação dos recursos hídricos, do solo e do ar, fatores que condicionam a mortan-dade de animais e plantas, bem como a proliferação de doenças e da diminuição da qualidade de vida da população.

A Constituição Federal e a Lei n.º 8.080/90 dispõem acerca da necessidade de formula-ção de políticas públicas relativas à matéria. As políticas públicas têm como fundamento a necessidade de concretização de direitos por meio de prestações positivas do Estado, devendo toda a sociedade participar de forma ativa na tomada de decisões públicas, e consequentemente, na formulação de Políticas Públicas.

Em se tratando da destinação final desses resíduos sólidos tanto a Resolução da Diretoria Colegiada - RDC n.º 306/04 como a Resolução CONAMA n.º 358/05 e a Lei n.º 12.305/ 10 estabelecem critérios para o gerenciamento de resíduos sólidos. A Lei, em nível global, relacionando todos os tipos de resíduos e as resoluções com relação aos Resíduos de Serviços de Saúde (RSS), existindo, portanto, múltiplas legislações acerca da mesma matéria.

Mesmo diante de várias normatizações sobre a matéria, todas convergem no sentido de que o gerenciamento completo dos RSS deve passar pelo Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS), que exige as seguintes etapas: segregação; acondicionamento; transporte interno; armazenamento interno; armazenamento externo; transporte externo; tratamento e disposição final dos RSS.

Portanto, está plenamente evidenciado que toda a legislação existente atribui obrigação apenas aos responsáveis pela fabricação e distribuição à destinação final correta dos produtos existentes dentro do seu estabelecimento, não apresentando qualquer obrigação

legal ao recolhimento de fármacos que sobram dos produtos que vendem, nascendo, portanto, um grande problema, o descarte incorreto de medicamentos pela população. Para evitar a ocorrência desses problemas em virtude do descarte casual de medicamen-tos, a população e os governantes devem atuar de forma conjunta para a solução desse grave problema ambiental, através da criação de pontos para coleta dos remédios para serem encaminhados ao descarte adequado, passando, assim, a ser responsabilidade das farmácias e drogarias a destinação também desses medicamentos.

A parte educacional também deve ser incentivada, devendo toda a população se mobili-zar para a redução da quantidade de medicamentos descartados, através da compra apenas dos medicamentos necessários ao tratamento, utilizando, para esse fim, a compra fracionada do medicamento, permitida para muitos remédios. Esse também é o papel do farmacêutico que deve prestar orientações em relação ao descarte correto de medica-mentos e incentivar a redução desse descarte.

Porém, somente com a elaboração de uma eficiente e coercitiva que apresente alterna-tivas concretas para esse problema socioeconômico e ambiental que o descarte correto de medicamentos poderá ser uma realidade no nosso país.

REFERÊNCIAS

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RICHARDSON XAVIER BRANT1

Direito ao Meio Ambiente Ecologicamente